Interessante pensar
que a predestinação tem uma face também católica. Não se trata daquela
predestinação tão difundida pelos espíritas de todas as classes desde
kardecistas, passando por budistas até hindus e seguidores do candomblé. Trata-se
de outro tipo de predestinação que mais se assemelha com uma vontade divina.
A partir do momento
em que Deus tem a vontade de que todas as almas se salvem (1Tm 2,4), sendo Deus
perfeito e acima o tempo, Ele está predestinando todas as almas à salvação. O
destino querido por Deus é a salvação, e poderia Ele obrigar que todas as almas
cumprissem com essa vontade soberana. Não seria anormal sabendo que Deus tudo
pode. Contudo, Deus cria uma lei: o livre-arbítrio. Ao criar essa lei Ele,
sendo perfeito e, portanto, plenamente coerente, não obriga as criaturas, mas
as submete ao seu próprio livre-arbítrio, ou seja, às suas próprias escolhas.
Tal fato não muda a vontade divina de querer que todos sema salvos, ou seja,
não muda sua predestinação, mas entrega a decisão dessa sua salvação à própria
criatura através do exercício do livre-arbítrio.
Funciona como quando
a dona da casa compra uma peça de carne para ser cortada em bifes para ser
feito no almoço. A destinação daquela peça era ser cortada em bifes e feita
pela empregada da casa. A peça estava predestinada àquele fim. Ao chegar a dona
da casa entrega a peça de carne para a empregada e dá as instruções, contudo a
empregada, desobedecendo o caminho traçado pela dona da casa, assa a peça
inteira no forno.
Poderíamos nos
alongar aqui usando essa metáfora em cada detalhe. A dona de casa é a dona da
peça de carne assim como Deus é dono de nossas vidas. A dona de casa destina a
peça de carne para o caminho que melhor lhe parece, contudo a empregada, que
aqui somos nós, temos a liberdade de desobedecer, mesmo que consequências venham
em seguida. Outras explicações podem ser usadas com essa metáfora, contudo,
deixamos para a reflexão do leitor.
A vontade da dona da
casa era de a peça de carne ser feita em bifes, assim como a vontade do dono de
nossas vidas é que caminhemos para a salvação. Através da liberdade de fazer ou
não, embora sua obrigação fosse obedecer, a empregada faz diferente do que foi
designado assim como nós usamos nossa liberdade (livre-arbítrio) para obedecer
ou não, consequentemente sermos salvos ou não.
É nesse sentido que
devemos entender a predestinação dentro da visão cristã-católica. Estamos
predestinados para o bem, já que Deus quer nossa salvação e nos criou para isso
(1Tm 2,4). Não estamos predestinados para o mal já que não fomos feitos para
isso, mas o livre-arbítrio que é expressão da bondade divina e que tem o
intuito de nos dar liberdade de amar a Deus sem amarras, esse livre-arbítrio
pode nos levar à condenação (não-salvação) por livre escolha individual.
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