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Esses anos pulularam cursos e
palestras sobre o Concílio Vaticano II em virtude da comemoração de 50 anos do
Concílio. Pois é, em um deles fui obrigado a ouvir muita besteira de um bispo
emérito, que obviamente não vou citar o nome, mas que foi Bispo Conciliar.
Iniciou apresentando, como
quis, sua posição sobre o ecumenismo, hierarquia, infalibilidade, posição do
episcopado, perfeição da Igreja, fechamento da Igreja em si mesma e outros
temas semelhantes, tudo relativo ao Concílio. Bem típico mesmo!
Esse tipo de pensamento:
modernista e ligado à Teologia da Libertação virou bandeira depois do Concílio.
Ideologizaram o tema, fincaram mastros, escreveram livros, manipularam fatos e
opiniões. Fazem isso até hoje!
Pois bem, em um lado
diametralmente oposto, os chamados tradicionalistas radicais diriam, sem muito
pestanejar que o Concílio Vaticano II contradisse a Tradição da Igreja no que
se refere a seus ensinamentos, especialmente ecumenismo, doutrina social e
alguns outros temas.
Ora, nem tanto ao mar, nem
tanto a terra. O Vaticano II parece ter se tornado um amplo campo de disputas.
Os tradicionalistas radicais
não podem estar corretos porque se estiverem um grave problema deverá ser
resolvido: o Vaticano II não poderia ser considerado legítimo, uma vez que um
concílio ecumênico pode desenvolver, mas nunca poderá contradizer o ensinamento
dogmático anterior da Igreja. É uma sequência, não uma quebra.
Mas o argumento de quebra não
seria também um argumento pelo lado dos modernistas e TL? Sim. Seria. Eis um
ponto de convergência entre os que estão em alto mar e os que estão em terra
firme. Nem tanto ao mar, nem tanto à terra.
A diferença se dá apenas em ver
o lado positivo e o negativo. Para radicais tradicionalistas é ponto negativo
essa quebra que o Vaticano II teria imposto em vários temas, para os
modernistas, TL e afins, seria um ponto positivo. É como duas pessoas que veem
um peixe no fundo de um lago turvo. Cada uma está em um ângulo diferente, cada
uma tem uma iluminação diferente. Uma vê um peixe outra vê uma tartaruga. Na
verdade é uma pedra! Se tirassem a nebulosidade do rio e deixassem suas paixões
de lado para serem racionais, veriam que se trata de uma simples pedra:
estática, fixa, concisa e dura. Uma doutrina. Uma pedra que não varia conforme
as ondas, mas que fica firme, mesmo com as piores marés e tribulações.
A Igreja não pode simplesmente
se contradizer em questão de doutrina. Se assim o for, não poderemos dizer que
se trata da Igreja de Cristo. A Igreja de Cristo é a Igreja de Deus. A Igreja
de Deus não pode errar em determinadas matérias. Se a Igreja de Deus errar nas
matérias pré-estabelecidas significa que é imperfeita, se for imperfeita não é
de Deus, pois Deus é perfeito. E ai? Como fica?
Como fica o Espírito Santo que
guia a Igreja cuja cabeça é Cristo? Como fica a cabeça perfeita que é Cristo se
erra com tanta facilidade?
Os Concílios Ecumênicos estão
sob a égide de Pedro que é pedra e sob o qual a Igreja é edificada e que
recebeu de Deus as chaves do reino dos céus sendo possível a ele, Pedro/Papa,
ligar e desligar. (Mt. 16,18ss)
Errar em questões de fé e moral
não são possíveis porque a Igreja, e o Papa como seu porta-voz por aqui, são
guiados pelo Espírito Santo nessas questões.
Ademais, no discurso de
abertura do Concílio, o Papa João XXIII parecia já estar prevendo que essas
rupturas que poderiam via a acontecer e afirmou no que o Concílio queria:
“transmitir pura e
íntegra a doutrina, sem atenuações nem subterfúgios”, empenhando-se para que
“esta doutrina certa e imutável, que deve ser fielmente respeitada, seja
aprofundada e exposta de forma a responder às exigências do nosso tempo”.
Não a toa que a Constituição
Apostólica Lumem Gentium, um dos
principais documentos do Concílio Vaticano II afirma categoricamente que:
“A luz dos povos é
Cristo: por isso, este sagrado Concílio, reunido no Espírito Santo, deseja
ardentemente iluminar com a Sua luz, que resplandece no rosto da Igreja, todos
os homens, anunciando o Evangelho a toda a criatura (cfr. Mc. 16,15)”
A pergunta que fica frente a
essa afirmação é: os grupos que disputam a intepretação do Concílio estão
levando em conta que a luz dos povos é Cristo? Entenderam que o Concílio se
reuniu à luz do Espírito Santo? Ou apenas atendem a disputas vaidosas do tipo:
aos vencedores as batatas?
Não é a toa que a Igreja nunca
foi destruída nesses mais de dois mil anos. Padres, diáconos, bispos, cardeais
e até Papas já tentaram consciente e inconscientemente destruí-la. Nunca
conseguiram! Pessoas de fora, não católicos e católicos de IBGE, nem se fala.
Ela resiste e resistirá até o fim dos tempos justamente porque é guiada pelo
Espírito Santo. Está aqui por um propósito e esse propósito não cessará até o
fim dos tempos, pois Ele estará conosco até a consumação dos séculos, ou seja,
o fim desse mundo. Foi o que nos foi prometido em Mt. 28,20b. Porque duvidar
disso? Até agora a promessa está sendo cumprida.
Será mesmo que a Igreja havia
de existir por dezenove séculos e meio e depois desse tempo haveria uma
ruptura? Seria necessária essa ruptura como querem os modernistas, TL e afins?
Ou seria essa ruptura desnecessária como pregam os radicais tradicionalistas?
Nenhum deles. Simplesmente não houve ruptura. O Concílio Vaticano II foi um
concílio plenamente válido como todos os vinte anteriores
2 comentários:
Os Tradicionalistas Radicais argumentam que o Vaticano II é Pastoral. Que sendo Pastoral, é passível de "erros". E que se é passível de "erros", pode ser rejeitado.
Bom, no meu humilde entendimento, rejeitar o Vaticano II por ser Pastoral é um "tiro no pé"...
Pois se foi Pastoral, como o próprio Papa João XXIII afirmou que seria, não é Dogmático. Se não é Dogmático, não contém NOVA DOUTRINA DEFINITIVA. Logo, não é preciso "aderir na obediência da fé a tais definições" (CIC, 891).
Ora, que o aceitem como Pastoral então, como ato não-definitivo, com "religioso obséquio da vontade e da inteligência" (CDF, Professio Fidei; CIC, 892).
No meu humilde entendimento, são justamente os Tradicionalistas Radicais que fazem do Vaticano II um "concílio dogmático", por fazerem dele um empecilho para a sua "plena comunhão" com a Igreja.
Se não há NOVO ATO DEFINITIVO, se é meramente Pastoral, se deve ser interpretado - naquilo em que não é definitivo - em continuidade com o Magistério precedente, não deveria ser empecilho.
Espero que voltem, que sejam oficialmente reconhecidos e que ajudem a Igreja "a responder às exigências do nosso tempo”.
OBS: o Vaticano II recorda várias doutrinas que foram propostas com ato definitivo pelo Magistério precedente. Estas exigem um pleno e definitivo assentimento de fé!
Monsenhor Gherardini foi explícito no seu livro "Concilio Vaticano II- Um debate a ser feito", diz que "O Concílio Vaticano II teve indubitavelmente ensinamentos específicos, que não estão privados de autoridade, mas, como escreve Gherardini, 'as suas doutrinas, quando não reconduzíveis a definições anteriores, não são, nem infalíveis nem irreformáveis, e, portanto, também não são vinculativas; quem as negar não será, por esse facto, formalmente herege. Assim, pois, quem as impusesse como infalíveis e irreformáveis iria contra o próprio Concílio'". Portanto, NÂO È TUDO QUE O PAPA DIZ É INFALÍVEL. Os católicos portanto devem obediência irrestrita ao papa, SOMENTE no que diz respeito à fé e á moral.
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