quinta-feira, 29 de março de 2012

Direitos homossexuais são direitos humanos? Russia diz que não.


Bryana Johnson
DALLAS, Texas, EUA, 18 de março de 2012 — São Petersburgo, na Rússia, adotou uma nova política pública designada a proteger jovens de exposição à propaganda de grupos homossexuais. A política tem criado polêmica entre grupos gays.
Em 7 de março de 2012, o governador Georgy Poltavchenko assinou a lei que multará indivíduos em até 170 dólares e empresas em até 17.000 por violarem a medida que proíbe “ações públicas com o objetivo de fazer propaganda da sodomia, lesbianismo, bissexualismo e transgenerismo entre menores de idade”.
A lei de São Petersburgo também inclui emendas que introduzem punições mais rigorosas para a pedofilia.
Aplaudindo a recente legislação, a Igreja Ortodoxa Russa está pedindo uma proibição semelhante na Rússia inteira. Dmitry Pershin, diretor do conselho juvenil da Igreja Ortodoxa Russa, diz: “temos de ajudar a proteger as crianças de manipulações de informações de minorias que promovem a sodomia”.
Foto: Policial russo detem um homem vestido de noiva
durante protesto gay em Moscou. Crédito: AP Images
Respondendo à intenção do ativista homossexual Nikolay Alexeyev de organizar comícios de protestos perto de estabelecimentos infantis, Pershin diz que “a persistência das minorias sexuais e sua intenção de fazer comícios perto de estabelecimentos de crianças indica que essa lei regional é muito necessária e tem de receber status federal com urgência”.
Os grupos gays estão descontentes e gritando por indenizações contra o governo de São Petersburgo. Em 2011 a organização militante LGBT AllOut conseguiu pressionar o site de serviços financeiros PayPal a fechar a conta do blogueiro cristão anti-agenda gay Julio Severo, suspendendo acesso aos fundos.
Agora, essa organização está protestando e chamando essa lei de “lei do silêncio” que “amordaça artistas, escritores, músicos, cidadãos e visitantes”, e eles dizem que não vão lá, ameaçando boicotar viagens à cidade russa.
Por estranho que pareça, outra instituição se uniu a eles expressando condenação: o Departamento de Estado dos EUA. “Direitos gays são direitos humanos e direitos humanos são direitos gays”, declara o site oficial do Departamento de Estado, citando a secretária Hillary Clinton.
“Estamos exortando as autoridades russas para protegerem essas liberdades, e para fomentarem um ambiente que promova respeito pelos direitos de todos os cidadãos. Temos também consultado nossos parceiros da União Europeia sobre essa questão. Eles têm as mesmas preocupações que temos e também estão abordando as autoridades russas nessa questão. Os Estados Unidos dão grande importância ao combate à discriminação contra a comunidade LGBT e todos os grupos minoritários”.  
A Rússia não gostou da interferência do governo dos EUA. “Vemos com espanto as tentativas dos EUA de interferir, e ainda por cima publicamente, no processo legislativo”, Konstantin Dolgov, representante de direitos humanos do ministério das relações exteriores, disse para a agência noticiosa Interfax, acrescentando que não há “absolutamente nenhuma discriminação na lei russa na aplicação de direitos humanos civis, políticos, sociais, econômicos e culturais, inclusive na base da orientação sexual”.
Dolgov explicou que “as iniciativas legislativas dos órgãos regionais de autoridade… têm o proposito de proteger os menores de idade da propaganda correspondente… Evidentemente, a decisão levou em consideração os valores culturais e morais tradicionais que prevalecem na sociedade russa, considerações da proteção da saúde e moralidade pública, e a inadmissibilidade da discriminação por meio do incentivo dos direitos e interesses de um grupo social sem a devida consideração pelos direitos e interesses dos outros”.
No final das contas, Dolgov estava muito bem informado. Por mais que possa parecer chocante para a secretária Clinton, os russos, em geral, não gostam de exibições públicas da homossexualidade e muitos acreditam que os atos homossexuais são imorais e prejudiciais à saúde.
Uma pesquisa de opinião pública do Centro Levada em Moscou revelou que 74 por cento dos russos consideram a homossexualidade como resultado de más escolhas morais. É certo o governo dos EUA pressionar o governo russo a ir contra a vontade de seu povo?
Se o governo russo estivesse, de fato, violando direitos humanos, a resposta certamente seria sim. Contudo, o ponto principal é que embora a liberdade de expressão, os direitos de propriedade, o direito a um julgamento justo, liberdade de violência injustificada, liberdade de servidão involuntária, etc., sejam direitos humanos, liberdade de expressão sexual em vias públicas e na presença de crianças não é, e categorizá-la como tal banaliza os reais abusos e injustiças de direitos humanos cometidos todos os dias no mundo inteiro.
“Mantenha o governo fora de seu quarto de dormir!” se tornou um lema de ativistas gays e abortistas, que se irritam com o que veem como excessiva legislação da atividade sexual. O governo russo tem se retirado do quarto de dormir.
Agora, porém, esses ativistas não mais estão satisfeitos em confinar suas polêmicas ao quarto de dormir, mas continuam insistindo em arrastá-las para fora, para exibição pública. A questão é que grande parte do que eles desejam ostentar não é nada apropriado para exibição pública em primeiro lugar.
Os direitos gays são direitos humanos? Apenas na medida em que esses direitos são os mesmos direitos concedidos a todas as outras pessoas. Portanto, embora os direitos dos gays de ter igual proteção da lei sejam direitos humanos, os “direitos” deles a paradas que simulam sexo explícito em lugares públicos ou de doutrinar crianças contra os desejos de seus pais não são absolutamente direito algum.
Traduzido por Julio Severo do artigo do jornal The Washington TimesSt. Petersburg Russia law questions if gay rights are human rights?

quarta-feira, 28 de março de 2012

Cuba. Homilia na Praça da Revolução. 28/03/12


SANTA MISSA
HOMILIA DO PAPA BENTO XVI
Havana, Praça da Revolução José Martí
Quarta-feira, 28 de Março de 2012

Amados irmãos e irmãs!

«Bendito sejais, Senhor, Deus dos nossos pais (...). Bendito o vosso nome glorioso e santo» (Dn 3, 52). Este hino de bênção do livro de Daniel ressoa hoje na nossa liturgia, convidando-nos repetidamente a bendizer e louvar a Deus. Somos parte da multidão daquele coro que celebra o Senhor sem cessar. Unimo-nos a este concerto de ação de graças, oferecendo a nossa voz jubilosa e confiante, que procura fundar no amor e na verdade o caminho da fé.

«Bendito seja Deus» que nos reúne nesta praça emblemática, para mergulharmos mais profundamente na sua vida. Sinto uma grande alegria por estar hoje no vosso meio e presidir a Santa Missa no coração deste Ano Jubilar dedicado à Virgem da Caridade do Cobre.

Saúdo cordialmente o Cardeal Jaime Ortega y Alamino, Arcebispo de Havana, e agradeço-lhe as amáveis palavras que me dirigiu em nome de todos. Estendo a minha saudação aos Senhores Cardeais, aos meus irmãos Bispos de Cuba e doutros países que quiseram participar nesta solene celebração. Saúdo também os sacerdotes, os seminaristas, os religiosos e todos os fiéis aqui reunidos, bem como as autoridades que nos acompanham.

Na primeira leitura que foi proclamada, os três jovens, perseguidos pelo soberano babilonense, antes preferem morrer queimados pelo fogo que trair a sua consciência e a sua fé. Eles encontraram a força de «louvar, glorificar e bendizer a Deus» na convicção de que o Senhor do universo e da história não os abandonaria à morte e ao nada. De fato, Deus nunca abandona os seus filhos, nunca os esquece. Está acima de nós e é capaz de nos salvar com o seu poder; ao mesmo tempo, está perto do seu povo e, por meio do seu Filho Jesus Cristo, quis habitar entre nós.

«Se permanecerdes na minha palavra, sereis verdadeiramente meus discípulos, conhecereis a verdade e a verdade vos libertará» (Jo 8, 31). No texto do Evangelho que foi proclamado, Jesus revela-Se como o Filho de Deus Pai, o Salvador, o único que pode mostrar a verdade e dar a verdadeira liberdade. Mas o seu ensinamento gera resistência e inquietação entre os seus interlocutores, e Ele acusa-os de procurarem a sua morte, aludindo ao supremo sacrifício da Cruz, já próximo. Ainda assim, exorta-os a acreditar, a permanecer na sua Palavra para conhecerem a verdade que redime e dignifica.

Com efeito, a verdade é um anseio do ser humano, e procurá-la supõe sempre um exercício de liberdade autêntica. Muitos, todavia, preferem os atalhos e procuram evitar essa tarefa. Alguns, como Pôncio Pilatos, ironizam sobre a possibilidade de conhecer a verdade (cf. Jo 18, 38), proclamando a incapacidade do homem de alcançá-la ou negando que exista uma verdade para todos. Esta atitude, como no caso do ceticismo e do relativismo, produz uma transformação no coração, tornando as pessoas frias, vacilantes, distantes dos demais e fechadas em si mesmas. São pessoas que lavam as mãos, como o governador romano, e deixam correr o rio da história sem se comprometer.

Entretanto há outros que interpretam mal esta busca da verdade, levando-os à irracionalidade e ao fanatismo, pelo que se fecham na «sua verdade» e tentam impô-la aos outros. São como aqueles legalistas obcecados que, ao verem Jesus ferido e ensanguentado, exclamam enfurecidos: «Crucifica-o!» (cf. Jo 19, 6). Na realidade, quem age irracionalmente não pode chegar a ser discípulo de Jesus. Fé e razão são necessárias e complementares na busca da verdade. Deus criou o homem com uma vocação inata para a verdade e, por isso, dotou-o de razão. Certamente não é a irracionalidade que promove a fé cristã, mas a ânsia da verdade. Todo o ser humano deve perscrutar a verdade e optar por ela quando a encontra, mesmo correndo o risco de enfrentar sacrifícios.

Além disso, a verdade sobre o homem é um pressuposto imprescindível para alcançar a liberdade, porque nela descobrimos os fundamentos duma ética com que todos se podem confrontar, e que contém formulações claras e precisas sobre a vida e a morte, os deveres e direitos, o matrimônio, a família e a sociedade, enfim sobre a dignidade inviolável do ser humano. É este patrimônio ético que pode aproximar todas as culturas, povos e religiões, as autoridades e os cidadãos, os cidadãos entre si, os crentes em Cristo com aqueles que não crêem n’Ele.

Ao ressaltar os valores que sustentam a ética, o cristianismo não impõe mas propõe o convite de Cristo para conhecer a verdade que nos torna livres. O fiel é chamado a dirigir este convite aos seus contemporâneos, como fez o Senhor, mesmo perante o sombrio presságio da rejeição e da Cruz. O encontro pessoal com Aquele que é a verdade em pessoa impele-nos a partilhar este tesouro com os outros, especialmente através do testemunho.

Queridos amigos, não hesiteis em seguir Jesus Cristo. N’Ele encontramos a verdade sobre Deus e sobre o homem. Ajuda-nos a superar os nossos egoísmos, a sair das nossas ambições e a vencer o que nos oprime. Aquele que pratica o mal, aquele que comete pecado é escravo do pecado e nunca alcançará a liberdade (cf. Jo 8, 34). Somente renunciando ao ódio e ao nosso coração endurecido e cego é que seremos livres, e uma vida nova germinará em nós.

Com a firme convicção de que a verdadeira medida do homem é Cristo e sabendo que n’Ele se encontra a força necessária para enfrentar toda a provação, desejo anunciar-vos abertamente o Senhor Jesus como Caminho, Verdade e Vida. N’Ele todos encontrarão a liberdade plena, a luz para compreender profundamente a realidade e transformá-la com o poder renovador do amor.

A Igreja vive para partilhar com os outros a única coisa que possui: o próprio Cristo, esperança da glória (cf. Col 1, 27). Para realizar esta tarefa, é essencial que ela possa contar com a liberdade religiosa, que consiste em poder proclamar e celebrar mesmo publicamente a fé, comunicando a mensagem de amor, reconciliação e paz que Jesus trouxe ao mundo. Há que reconhecer, com alegria, os passos que se têm realizado em Cuba para que a Igreja cumpra a sua irrenunciável missão de anunciar, publica e abertamente, a sua fé. Mas é preciso avançar ulteriormente. E desejo encorajar as instâncias governamentais da Nação a reforçarem aquilo que já foi alcançado e a prosseguirem por este caminho de genuíno serviço ao bem comum de toda a sociedade cubana.

O direito à liberdade religiosa, tanto na sua dimensão individual como comunitária, manifesta a unidade da pessoa humana, que é simultaneamente cidadão e crente, e legitima também que os crentes prestem a sua contribuição para a construção da sociedade. O seu reforço consolida a convivência, alimenta a esperança de um mundo melhor, cria condições favoráveis para a paz e o desenvolvimento harmonioso, e ao mesmo tempo estabelece bases firmes para garantir os direitos das gerações futuras.

Quando a Igreja põe em relevo este direito, não está a reclamar qualquer privilégio. Pretende apenas ser fiel ao mandato do seu Fundador divino, consciente de que, onde se torna presente Cristo, o homem cresce em humanidade e encontra a sua consistência. Por isso, a Igreja procura dar este testemunho na sua pregação e no seu ensino, tanto na catequese como nos ambientes formativos e universitários. Esperemos que também aqui chegue brevemente o momento em que a Igreja possa levar aos diversos campos do saber os benefícios da missão que o seu Senhor lhe confiou e que ela não pode jamais negligenciar.

Ínclito exemplo deste trabalho foi o insigne sacerdote Félix Varela, educador e professor, filho ilustre desta cidade de Havana, que passou à história de Cuba como o primeiro que ensinou o seu povo a pensar. O padre Varela indica-nos o caminho para uma verdadeira transformação social: formar homens virtuosos para forjar uma nação digna e livre, já que esta transformação dependerá da vida espiritual do homem; de fato, «não há pátria sem virtude» (Cartas a Elpídio, carta sexta, Madrid 1836, 220). Cuba e o mundo precisam de mudanças, mas estas só terão lugar se cada um estiver em condições de se interrogar acerca da verdade e se decidir a enveredar pelo caminho do amor, semeando reconciliação e fraternidade.

Invocando a proteção maternal de Maria Santíssima, peçamos que, participando regularmente na Eucaristia, nos tornemos também testemunhas da caridade que responde ao mal com o bem (cf.Rm 12, 21), oferecendo-nos como hóstia viva a Quem amorosamente Se entregou por nós. Caminhemos na luz de Cristo, que pode dissipar as trevas do erro. Supliquemos-Lhe que, com o valor e o vigor dos santos, cheguemos a dar uma resposta livre, generosa e coerente a Deus, sem medos nem rancores. Amém.

terça-feira, 27 de março de 2012

Recomendações da Pontifícia Comissão para América Latina sobre a formação sacerdotal nos seminários.


RECOMENDAÇÕES PASTORAIS DA ASSEMBLEIA PLENÁRIA
DA PONTIFÍCIA COMISSÃO PARA A AMÉRICA LATINA
A FORMAÇÃO SACERDOTAL NOS SEMINÁRIOS

Introdução

Nós, Membros e Conselheiros da Pontifícia Comissão para a América Latina, reunidos em Assembléia Plenária de 17 a 20 de fevereiro de 2009, refletimos sobre a situação atual da formação sacerdotal nos Seminários da América Latina e do Caribe. Antes de tudo queremos manifestar a nossa ação de graças porque o Senhor continua abençoando a nossa terra com novas vocações sacerdotais. Damos graças a Deus por essa fecundidade apostólica. Todavia, preocupa-nos as graves dificuldades que devem enfrentar os jovens chamados ao sacerdócio. Tais dificuldades são devidas à vulnerabilidade e ao enfraquecimento da identidade espiritual dos candidatos, como também ao impacto de alguns dos atuais modelos culturais e à frágil situação das famílias de origem, o que incide também na diminuição do número das vocações sacerdotais e religiosas.
Nosso povo fiel latino-americano e caribenho, tão rico em religiosidade nas suas diversas expressões, se caracteriza por um profundo amor e respeito para com a figura do sacerdote e espera a sua presença exemplar, piedosa e abnegada, que manifeste e torne presente Jesus, o Bom Pastor. Aparecida nos lembra "O Povo de Deus sente a necessidade de presbíteros discípulos: que tenham profunda experiência de Deus, configurados com o coração do Bom Pastor, dóceis às orientações do Espírito, que se nutram da Palavra de Deus, da Eucaristia e da oração; de presbíteros missionários: movidos pela caridade pastoral que os leve a cuidar do rebanho a eles confiado e a procurar os mais afastados pregando a Palavra de Deus, sempre em profunda comunhão com seu Bispo, com os presbíteros, diáconos, religiosos, religiosas e leigos; de presbíteros servidores da vida: que estejam atentos às necessidades dos mais pobres, comprometidos na defesa dos direitos dos mais fracos, e promotores da cultura da solidariedade. Também de presbíteros cheios de misericórdia, disponíveis para administrar o sacramento da reconciliação" [1].
No contexto atual, formar sacerdotes assim configurados em seu ser e seu agir, constitui um enorme desafio que exige nossa responsabilidade como Pastores. Um bom Seminário é a garantia de uma Igreja particular florescida e fecunda. Por isso, nas nossas reflexões, nos detivemos em considerar algumas linhas para um "projeto formativo do Seminário que proporcione aos seminaristas um autêntico e integral processo: humano, espiritual, intelectual e pastoral, centrado em Jesus Cristo o Bom Pastor" [2].
Ao apresentar algumas recomendações sobre o processo de formação sacerdotal, fruto das nossas reflexões, queremos oferecer uma contribuição para esta ampla e complexa tarefa da formação pastoral dos jovens seminaristas, sem nos deter nas questões de ordem doutrinal já abundantemente aprofundadas pelo Magistério da Igreja.

I. Dimensões da formação sacerdotal

Formação humana

1. Tomamos como ponto de partida aquilo que a Exortação pós Sinodal Pastores dabo vobisafirma: "Sem uma adequada formação humana, toda a formação sacerdotal estaria privada do seu necessário fundamento" [3]. A cultura atual incide tanto positiva como negativamente sobre muitos aspectos da maturidade humana dos candidatos ao sacerdócio, por isso se requer uma formação que os prepare a tomar decisões definitivas e a comprometer-se livremente com as exigências da opção pelo ministério sacerdotal.
2. É uma grave responsabilidade de toda a comunidade formativa conseguir que os futuros presbíteros cultivem uma série de qualidades humanas que lhes permitam chegar a personalidades maduras e livres, capazes de relacionar-se com harmonia e de suportar o peso da responsabilidade pastoral.
3. O sacerdócio é um chamado a seguir Cristo que "sendo rico, por nós se fez pobre para enriquecer-nos com sua pobreza" (2 Cor 8, 9). A fidelidade ao ministério requer aquelas virtudes que são mais altamente consideradas entre os homens, virtudes que educam o sacerdote para a renúncia e para a superação das ambições, de tal maneira que este não se afaste da imitação de Cristo, virtudes "como são a sinceridade de alma, o diligente cuidado pela justiça, a fidelidade às promessas, a polidez no agir e uma linguagem sóbria e pautada pela caridade" [4].
4. A formação humana requer um acompanhamento específico e um clima de confiança entre formadores e formandos, que favoreça a transparência para se conhecer e se resolver as dificuldades encontradas no processo de amadurecimento psicológico do seminarista.
5. O sacerdócio exige a educação para uma vida ascética que capacite para a disciplina, a renúncia, a mortificação e o domínio dos sentidos. A formação deve ajudar a alcançar uma liberdade interior que disponha os candidatos para o seguimento de total doação a Cristo e ao serviço dos homens.
6. É urgente educar os candidatos ao sacerdócio para uma afetividade madura que lhes consinta estabelecer relações humanas equilibradas e lograr contatos de cooperação apostólica com as mulheres, em consonância com a opção pelo celibato e pelo Reino dos Céus.
7. É de grande importância formar os aspirantes ao sacerdócio de maneira tal que saibam relacionar-se com respeito, afeto e proximidade com o bispo e com aqueles que exercem o múnus da autoridade.
8. Nos Seminários e nas casas de formação sacerdotal é importante fomentar as equipes de vida, como outras formas de integração comunitária, que favoreçam o amadurecimento para a solidariedade, a capacidade para dar e receber, a correção fraterna, e que seja estímulo para superar o individualismo e o isolamento.
9. Aformação comunitária deve promover um ambiente de fraternidade e amizade, serenidade e alegria, liberdade e confiança, mas também de elevados ideais e de normas claras e exigentes, que introduzam o candidato nas exigências próprias da vida sacerdotal e que o ajudem a crescer nas diversas virtudes segundo o modelo de Cristo.
10. No que diz respeito a problemas psicológicos, quando necessário, se haverá de contar com a ajuda especializada, levando em conta as indicações recentemente traçadas pela Congregação para a Educação Católica [5].
11. Os meios tecnológicos e sistemas atuais são ferramentas válidas no campo da informação e da comunicação. Todavia, se não se educam os jovens para sua reta utilização e não se disciplina o seu uso, tais meios modernos, como internet, telefones celulares e outros, podem também constituir-se em fatores negativos no campo da formação.

Formação espiritual

12. Atualmente um considerável número de jovens que aspiram ao sacerdócio carece de uma sólida formação cristã e de uma autêntica vivência de sua realidade batismal. É necessário, portanto, que o Seminário e as casas de formação religiosa, especialmente no período propedêutico, ofereça uma iniciação kerigmática, através da qual os candidatos ao sacerdócio possam viver com alegria o dom do encontro com Jesus Cristo e consigam converter-se em autênticos discípulos missionários, respondendo assim à vocação recebida. A este propósito, o Santo Padre nos lembrou que "não se começa a ser cristão por uma decisão ética ou uma grande idéia, mas sim por um encontro com um evento, com uma Pessoa, que dá um novo horizonte à vida e, com este, uma orientação decisiva" [6].
13. É de vital importância para a formação espiritual do candidato que se infunda nele, desde o início de seu caminho formativo, a clara consciência de que é ele mesmo o principal, ainda que não único, agente responsável por sua formação sacerdotal. A finalidade de tal processo consiste em conseguir abrir-se à ação do Espírito Santo para se chegar a uma adesão plena à pessoa de Jesus Cristo de tal modo a conformar-se com seus pensamentos, palavras e ações. O futuro sacerdote é chamado principalmente a ter, um coração misericordioso como o coração de Jesus, assumindo em sua própria vida aquilo que exprime o apóstolo São Paulo: ter os mesmos sentimentos de Cristo(cf. Fl 2, 5) para poder manifestar aquela mesma proximidade do Senhor aos pecadores, aos que sofrem, aos excluídos e aos necessitados.
14. A vida no Seminário deve ter como objetivo formar no futuro sacerdote um profundo amor pelo sacramento da Eucaristia, que há de constituir-se sempre o centro e o eixo de toda a sua vida e sua atividade sacerdotal, e a fonte da qual brota a sua força de discípulo missionário [7]. Por isso, o ambiente formativo deve fomentar no seminarista uma atitude de grande amor e reverência para com o Santíssimo Sacramento, que constitua um testemunho vivo da sua vida interior.
15. Conforme nos recomenda a Pastores dabo vobisvivendo "em uma cultura na qual, com novas e sutis formas de autojustificação, se corre o risco de perder o "sentido do pecado" e, em consequência a alegria consoladora do perdão (cf Sl 51, 14) e do encontro com Deus "rico em misericórdia" (Ef 2, 4), urge educar os futuros presbíteros para a virtude da penitência, alimentada com sabedoria pela Igreja em suas celebrações e nos tempos do ano litúrgico, e que encontra sua plenitude no sacramento da Reconciliação" [8].
16. De igual modo há que se suscitar em cada futuro sacerdote um profundo amor e uma experiência pessoal do mistério de Cristo celebrado nos diversos atos litúrgicos da Igreja. A Palavra de Deus lida, meditada e estudada, pessoal e comunitariamente, sobretudo através da"lectio divina", e da celebração devota da Liturgia da Horas deve constituir-se alimento fundamental da oração, da espiritualidade do futuro sacerdote e da sua prática pastoral. Também é necessário que na celebração dos mistérios se cultive o sentido do sagrado.
17. Guiada com o amor do Espírito Santo, a formação espiritual do seminarista há de levar em conta como um dos seus principais objetivos, de maneira concreta e direta, a vivência e a prática da caridade e o serviço ao próximo, suscitando nele a experiência da comunhão com Deus que se desdobra, naturalmente, na busca da comunhão com os irmãos.
18. Por isso, o ambiente que se respira e a vida comunitária no Seminário devem despertar no futuro sacerdote uma atitude de permanente contato e abertura à presença da Santíssima Trindade.
19. Para que o formando possa discernir com clareza a sua vocação ao sacerdócio ministerial, o Seminário e as casas religiosas de formação devem favorecer e exigir para todos uma segura e constante direção espiritual, fundada sobre a transparência e articulada com uma frequente celebração do sacramento da Reconciliação.
20. Ao mesmo tempo, na vida espiritual, o candidato há de adquirir a capacidade e o hábito de cultivar momentos de diálogo íntimo e pessoal com Deus sob o modelo de Jesus e sua relação filial com o Pai de modo que possa harmonizar de maneira fecunda a oração litúrgica ou comunitária com a vida pessoal de oração. Por isso, é conveniente, sobretudo no início, instruir o candidato em certas técnicas ou métodos de oração a que se possa seguir, até ir adquirindo, pouco a pouco, um estilo e método próprio em sua relação íntima com Deus.
21. Seguindo o chamado do Senhor a tomar a cruz todos os dias, a formação espiritual deve suscitar no seminarista una atitude de entrega generosa, de espírito de sacrifício, de capacidade de renúncia e de controle pessoal. Em conformidade com tal meta, o Seminário há de propiciar e obrar nos formandos o desenvolvimento de um senso de responsabilidade pessoal perante as tarefas exigidas, que esteja à altura daqueles que buscam configurar-se com Cristo em sua total obediência à vontade do Pai; se fomentará a disposição ao trabalho, a co-responsabilidade e a atitude de serviço, de acordo com o modelo de Jesus Cristo que não veio para ser servido mas para servir (cf. Mc 10, 45).
22. Contemplando Maria, a perfeita discípula que com um "sim" total a Deus em todo momento esteve disposta a cumprir a vontade divina, o Seminário deve impulsionar um amor profundo e uma devoção especial à Santíssima Virgem que conduza ao encontro vivo com o Senhor. Ela, a mãe de Jesus e nossa mãe, tutela a fidelidade à vocação sacerdotal. Por isso os seminaristas hão de aprender a invocar a proteção de Maria e de habituar-se a rezar o santo rosário.
23. Fomentar-se-á nos candidatos ao sacerdócio una natural disposição a adquirir uma boa "cultura espiritual", recorrendo à leitura guiada de obras da espiritualidade clássica ou manuais de teologia espiritual que possam ajudar a enriquecer a própria experiência de Deus e a adquirir uma estrutura interior com fundamentos sólidos. No mesmo sentido resulta muito enriquecedor o conhecimento da vida dos santos, e o fomento da devoção pessoal.
24. Os candidatos à vida sacerdotal hão de receber uma séria formação bíblica, teológica e espiritual para assumir e viver com fidelidade o celibato, testemunho do amor indiviso a Jesus Cristo, como um dom de Deus e como um sinal do Reino, do amor de Deus a este mundo e de sua própria entrega ao Povo de Deus [9]. Certamente se trata de uma graça que não dispensa a resposta consciente e livre por parte de quem a recebe, o qual deve abrir-se à ação do Espírito Santo para que lhe ajude a permanecer fiel durante toda a sua vida e a cumprir com generosidade e alegria os compromissos correspondentes. Portanto, o bispo, como também os formadores do Seminário, devem preocupar-se com a formação da castidade no celibato apresentando este último com clareza sem nenhuma ambiguidade e de forma positiva [10].
25. O Seminário fomentará nos formandos o desenvolvimento da espiritualidade da caridade pastoral própria do sacerdote diocesano cujas linhas fundamentais são:
a. A consciência de ter sido chamado pelo Pai e impulsionado pelo Espírito Santo para uma configuração com Cristo Bom Pastor, Sumo e Eterno Sacerdote.
b. Fazer do exercício fiel e cotidiano do tria munera do ministério sacerdotal o itinerário por excelência para a santificação pessoal como ensina o Concílio Vaticano II: "Pois, (os presbíteros) pelos próprios atos litúrgicos de cada dia, como também por todo seu ministério que exercem em comunhão com o Bispo e os Presbíteros"[11] e "estes, na sua tríplice função, alcançarão a santidade de maneira autêntica, se desempenharem suas tarefas de modo sincero e incansável no Espírito de Cristo"[12].
c. A vivência da caridade pastoral, "plasmada e definida por aquelas atitudes e comportamentos que são próprios de Jesus Cristo, Cabeça e Pastor" [13], colocada permanentemente ao serviço do povo de Deus.
d. A pertença e consagração à sua igreja particular, como membro de um presbitério, do qual se faz parte ao longo de toda a sua vida, como estreito cooperador do bispo e em comunhão com ele.

Formação intelectual

26. A formação intelectual dos jovens que aspiram ao sacerdócio visa oferecer sólidos fundamentos doutrinais, que capacitem o sacerdote para anunciar com competência o Evangelho e para responder aos grandes desafios que lhe apresenta o mundo atual. Por esta razão é necessário que os estudos do Seminário e dos centros de formação religiosa mirem oferecer bases firmes, a partir da Revelação e do magistério da Igreja, que devem ser acolhidos com a obediência da fé[14], de tal maneira que os sacerdotes quando ordenados possam imediatamente possuir critérios seguros na pregação e na ação evangelizadora.
27. Ao estruturar os estudos filosóficos e teológicos é necessário articular adequadamente estas duas disciplinas, as quais devem levar "a abrir, sempre mais, às mentes dos alunos o Mistério de Cristo, que afeta toda a história do gênero humano, influi continuamente na Igreja e opera sobretudo através do ministério sacerdotal" [15].
28. A formação teológica deve acontecer a partir "da doutrina e da experiência vivida no âmbito da Igreja, na qual o Magistério guarda e interpreta autenticamente o "depósito da fé" contido na Sagrada Escritura e na Tradição" [16], e não baseando-se em questões disputadas, as quais poderão ser consideradas como "scolia" de suas respectivas matérias.
29. Do mesmo modo, a formação filosófica deve ser sólida [17], centrando-se no mistério do ser e suas propriedades transcendentais, cultivando a vocação metafísica do filosofar. Desta maneira, os formandos se encontrarão com a verdade, o bem e a beleza em sua unidade, que estão sempre abertas à Verdade, ao Bem e à Beleza divinas.
30. Consequentemente, a Formação Acadêmica terá de ser gradual, fundada sobre o estudo da sagrada doutrina e da teologia [18], dando importância também às contribuições que podem ser recebidas das ciências humanas, que permitam uma visão histórica, simbólica e ética que enquadre as dimensões mais analíticas do saber científico. Deste modo os futuros pastores poderão entrar em contato com o coração da cultura dos povos aos quais vão servir e não com mera superficialidade ou com fragmentos de uma realidade vista, por exemplo, somente a partir das ciências positivas.
31. É necessário, portanto, assegurar-se que os seminaristas, ao iniciar seu processo de formação, contem com uma base científica e humanística suficiente que lhes capacite para enfrentar os estudos filosóficos e teológicos com uma fundamentação adequada e que lhes ajude a criar hábitos e métodos de estudo desde o início.
32. De acordo com quanto recomendou o Sínodo dedicado ao estudo sobre a "Formação dos sacerdotes no mundo atual", no período da preparação prévia, ou período propedêutico, é necessário ajudar os jovens em sua preparação humana, cristã, intelectual e espiritual para que vão crescendo com reta intenção e alcançando um grau suficiente de maturidade humana, um conhecimento bastante amplo da doutrina e da fé, alguma introdução aos métodos de oração e costumes conformes com a tradição cristã [19]. Neste sentido é recomendável que durante o período de formação os seminaristas estudem profundamente o Catecismo da Igreja Católica.
33. Posto que a formação intelectual tem como objetivo formar bons pastores que comuniquem a vida plena de Jesus Cristo aos nossos povos, é importante que os professores e formadores sejam modelos do que ensinam, e exerçam a sua função como quem pastoreia, ensinando de tal modo que selecionem o que alimenta os formandos e descarte aquilo que lhes é nocivo.
34. Ao cumprirem o dever de ensinar e formar, os professores e os formadores preocupem-se em iniciar os formandos na capacidade de discernir a verdade; assim que, malgrado a tentação do mundo atual de "sincretismo" generalizado, a formação dos pastores tenha como objetivo o discernimento que sabe julgar e separar o que é reto daquilo que é errôneo. Os formandos sejam, pois, introduzidos numa sadia capacidade crítica.
35. Posto que vivemos num mundo globalizado, é importante um conhecimento de diversos idiomas, seja de uma língua moderna que abra o horizonte cultural, seja daquelas línguas que ajudam a compreensão da Escritura e dos documentos eclesiásticos, (latim e grego). Também é importante, onde se requer, o conhecimento de alguma língua indígena.

Formação pastoral

36. Estamos conscientes de que na linguagem do Concílio Vaticano II e do documento de Aparecida, "pastoral" não se opõem a "doutrinal", senão que o inclui. Como a pastoral não é somente uma aplicação prática das verdades da fé, assim também toda a Revelação e portanto a teologia é pastoral, no sentido de que é Palavra de salvação, Palavra de Deus para a vida do mundo.
37. A formação pastoral é uma das dimensões fundamentais na formação dos candidatos ao sacerdócio, a qual deve se irradiar a todos os campos e atividades da vida do Seminário. Esta dimensão transversal é humanística, filosófica e teológica.
38. Para dar uma resposta à convocação feita pela Assembléia de Aparecida para que sejamos discípulos-missionários, os centros de formação ao sacerdócio hão de converter-se em "casa e escola" de discipulado, na qual a espiritualidade que se promove corresponda à identidade da própria vocação, seja diocesana que religiosa [20] e, ao mesmo tempo, conduza os formandos a um encontro permanente com Cristo vivo.
39. A formação deve implicar o estudo da pastoral como uma verdadeira disciplina teológica. Também é importante incluir nesta o estudo da situação sóciocultural e sua progressiva evolução nos últimos anos para poder partir de uma realidade situada e captar assim as aspirações dos nossos contemporâneos e as novas oportunidades e exigências da evangelização.
40. A formação pastoral deve educar os futuros sacerdotes para o exercício do ministério da Palavra, da santificação e da caridade. Particular atenção merece uma preparação conveniente no campo da homilética.
41. Formar-se-ão também os seminaristas para a solidariedade com os pobres, procurando que esta não fique somente no plano teórico ou meramente emotivo, sem uma verdadeira incidência nos seus comportamentos e nas suas decisões [21]. O formando deve adquirir um autêntico amor para com o homem, que deve nutrir-se sempre no encontro com Cristo [22]. Igualmente aprenderá a abrir-se com amor e respeito aos indígenas e afro-americanos, conhecendo as suas culturas, seus valores e suas identidades particulares [23].
42. De igual modo a formação pastoral há de ter muito em conta a exigência permanente da ação missionária da Igreja. Este foi o maior compromisso assumido pela Igreja em Aparecida, que nos convida todos a buscar o Senhor e, a partir de um encontro pessoal com Ele, participar como discípulos e missionários no cumprimento da sua tarefa fundamental [24].
43. As dioceses da América Latina e do Caribe comprometeram-se em realizar uma "missão continental" que torne realidade o chamado a uma "nova evangelização". É muito importante que os Seminários estejam comprometidos com esta missão e, para isso, os formadores tratarão de incluir dentro da experiência pastoral que oferecem, a inserção dos seminaristas nos programas planificados nas dioceses.
44. É muito importante dar particular atenção à programação e escolha da prática pastoral dos formandos, na qual deverão contar sempre com o acompanhamento de seus formadores.

II. A equipe de formadores

45. A equipe de formadores do Seminário constitui uma ajuda inestimável para os bispos na tarefa de acompanhar e obter uma reta e sólida formação para os candidatos ao sacerdócio. O seu trabalho em equipe, o seu testemunho de vida e seu espírito de comunhão com o bispo, "oferece aos futuros sacerdotes o exemplo significativo e o acesso àquela comunhão eclesial que constitui um valor fundamental da vida cristã e do ministério pastoral" [25]). A Pontifícia Comissão para a América Latina expressa a sua gratidão aos sacerdotes que com imensa generosidade trabalham nos Seminários e nas demais casas de formação sacerdotal pelo seu trabalho silencioso e abnegado e lhes anima a dar o melhor de si mesmos para viver exemplarmente de maneira evangélica a total entrega ao Senhor.
46. Os formadores são chamados pelo bispo a exercer, em espírito de unidade, co-responsabilidade e fraternidade, o sublime ministério pastoral de formar os futuros sacerdotes do Povo de Deus. Como se trata de uma tarefa que exige o acompanhamento permanente dos formandos, é oportuno que o exercício desta grande responsabilidade eclesial goze de uma certa estabilidade, que os membros da equipe residam habitualmente na comunidade do Seminário e que estejam intimamente unidos com o bispo, que é o primeiro responsável da formação dos sacerdotes.
47. Ser formador de futuros sacerdotes é um carisma que se descobre e se desenvolve no serviço abnegado de cada dia no Seminário. O padre reitor, os diretores espirituais e demais formadores vivam este carisma num contexto de formação permanente como fiéis discípulos e missionários.
48. Esta missão transcendental e insubstituível para toda a Igreja deve realizar-se com espírito de fé, de confiança plena no poder da graça e com uma alegria e entusiasmo quotidianos que sejam expressão sincera do grande amor a Jesus Cristo e à sua Igreja.
49. A eficácia e os frutos deste serviço pastoral estão vinculados à maneira como os próprios formadores vivem a sua vocação e ao modo como a manifestam no acompanhamento ao formando, no seu trabalho de equipe e no espírito de comunhão.
50. A vocação sacerdotal é um grande dom de Deus, ao qual se deve responder com muita generosidade e total entrega, tendo presente que o sacerdote há de configurar-se com Jesus Cristo Bom Pastor, cabeça e guia da Igreja. É necessário, por conseguinte, que os formadores recebam os seminaristas com a gratidão e alegria com que se acolhem os dons que Deus concede à diocese.
51. É um dever da equipe de formadores obedecer critérios muito claros tanto para a seleção como para a formação dos candidatos que ingressam no Seminário, aos quais se deve ajudar a crescer em retidão de intenção com a qual seguem o Senhor e a tomar consciência de que se preparam para ser "alter Christus" e cumprir com responsabilidade a missão que lhes pede a Igreja. Neste sentido é necessário reservar especial atenção para com os seminaristas egressos de outros Seminários ou comunidades religiosas, solicitando informações sérias e objetivas aos precedentes reitores ou superiores religiosos, que devem ser levadas em consideração [26].
52. Os formadores trabalhem para que os formandos vivam o Seminário e as demais casas de formação sacerdotal como espaços privilegiados para moldar a mente e o coração de acordo com a pessoa de Jesus Cristo.

Conclusão

53. Na América Latina há dioceses onde florescem abundantes vocações sacerdotais e religiosas. Sem dúvida, por causa do ambiente secularizado e da realidade familiar, em outras dioceses se nota uma diminuição sensível no campo vocacional. Constitui um dever prioritário para os bispos, promover e apoiar uma pastoral vocacional que desperte o interesse e o compromisso dos jovens para chegar a entregar a sua vida ao serviço ministerial. Por essa razão é urgente envolver todo o presbitério, os próprios seminaristas e a comunidade eclesial em geral neste campo da pastoral vocacional e rezar incessantemente ao Senhor, Dono da messe, para que suscite estas vocações ao serviço da Igreja.
54. Compete aos bispos cultivar com seus seminaristas e presbíteros um estilo de relação fundamentada na fé, na sinceridade, na proximidade, na abertura e em confiança, dentro de um espírito de paternidade e amizade, superando uma comunicação puramente funcional e esporádica. É, portanto, muito importante que o bispo tenha um conhecimento pessoal e profundo dos candidatos ao presbiterado na própria Igreja particular; "Baseado em tais contatos diretos se fará esforço para que nos Seminários se forme uma personalidade madura e equilibrada, capaz de estabelecer relações humanas e pastorais sólidas, teologicamente competentes, com profunda vida espiritual e amante da Igreja" [27].
55. Muitos documentos eclesiais recomendam vivamente e com grande insistência a urgência que deve ter o bispo de promover e organizar uma séria e profunda formação permanente para todos os seus presbíteros, de maneira que respondam com generosidade e fidelidade ao dom e ao ministério recebido e para que o entusiasmo pelo ministério não diminua, senão que, ao contrário, aumente e amadureça com o transcorrer dos anos, tornando ainda mais vivo e eficaz o sublime dom recebido (cf. 2 Tm 1, 6) [28]. Tal formação permanente, portanto, deve ser impulsionada já desde a vida de Seminário.
56. Já que o Seminário constitui o "coração da diocese" e que do percurso do Seminário depende que haja bons sacerdotes, é necessário que os bispos escolham os melhores membros do seu clero para a composição da equipe do Seminário.
57. Os bispos, em primeira pessoa, devem ser os primeiros a sentir a grave responsabilidade pela formação dos encarregados pela preparação dos futuros presbíteros [29], para que os formadores, como também os professores das distintas disciplinas, não somente as teológicas, se distingam por uma segura doutrina e tenham uma suficiente preparação acadêmica e capacidade pedagógica [30].
58. O bispo haverá de ter especial cuidado e acompanhamento de seus sacerdotes, particularmente daqueles mais jovens, para oferecer-lhes apoio e força no exercício do seu ministério sacerdotal. Assim como é necessário discernir com muita atenção a seleção dos párocos aos quais se confia a iniciação dos jovens presbíteros no trabalho pastoral.
Queremos compartilhar fraternalmente estas recomendações pastorais com os bispos da América Latina e do Caribe e, recomendá-las a Nossa Senhora de Guadalupe, e esperamos que sejam de utilidade na nossa comum missão de formadores.

Notas

[1] V Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano e do Caribe, Documento conclusivo,n. 199. Daqui por diante será citado como: Documento de Aparecida.
[2] Documento de Aparecida, n. 319.
[3] Exortação apostólica pós-sinodal Pastores dabo vobis, (Roma, 1992), n. 43.
[4] Decreto Conciliar Optatam totius11.
[5] Cf. Congregação para a Educação Católica, "Orientações para o uso das competências da psicologia na admissão e a formação dos candidatos ao sacerdócio(Cidade do Vaticano, 2008), especialmente no capítulo IV.
[6] Carta encíclica Deus caritas est, (Roma, 2005) n. 1.
[7] Cf. Constituição conciliar Sacrosanctum conciliumn. 10.
[8] Pastores dabo vobis, (Roma, 1992), n. 48.
[10] Cf . Pastores dabo vobisn. 50.
[11]. Decreto Conciliar Presbyterorum Ordinisn. 12.
[14] Cf. Constituição Conciliar Dei Verbum5.
[16] Congregação para a Educação Católica, "A formação teológica dos futuros sacerdotes"(Roma, 1976), n. 21.
[17] Congregação para a Educação Católica, "A formação da filosofia nos Seminários" (Roma, 1972), capítulo III.
[20] Cf. Documento de Aparecida, n. 319; Congregação para a Educação Católica, Carta circular sobre alguns aspectos mais urgentes da formação espiritual nos Seminários, (Roma, 1980) p. 23; id., O Período Propedêutico, (Roma, 1988) p. 14.
[21] Deus caritas est, (Roma, 2005) nn. 28, 31; Documento de Aparecida, n. 319.
[22] Deus caritas est, (Roma, 2005) n. 34.
[23] Cf. Documento de Aparecida, nn. 84-97.
[24] Cf. Documento de Aparecida, nn. 213; 278.
[26] Cf. Código de Direito Canônico, cân. 241 3; Congregação para Educação Católica,Instruções às Conferências Episcopais sobre a admissão ao Seminário de candidatos provenientes de outros Seminários ou Famílias religiosas (Roma, 9 de outubro de 1986 e 8 de março de 1996 respectivamente); id., Instrução sobre os critérios de discernimento vocacional em relação com as pessoas de tendências homossexuais antes de sua admissão ao Seminário e às Ordens Sagradas (Roma, 2005).
[27] Exortação apostólica pós-sinodal Pastores gregis(Roma 2003) n. 48.
[28] Cf. Pastores dabo vobis, n. 79; Pastores gregis, n. 47; Congregação para os Bispos,Diretório para o ministério pastoral dos bispos "Apostolorum successores" (Roma 2004), n. 83.
[29] Cf. Pastores dabo vobisn. 66.

Livro. Estudo da Liturgia das horas.

Abaixo anexo um livro, que pode ser lido aqui mesmo no blog que é uma monografia de final de curso de Teologia sobre a Liturgia das Horas. Faz um estudo inicial histórico para depois entrar no estudo da Liturgia das Horas especificamente nos dias atuais.

É um belo trabalho no qual identifiquei alguns pequeníssimos, talvez irrelevantes, erros advindos de achismos. O todo vale a pena. A Liturgia das Horas é uma devoção que, ao meu ver, deve ser cada vez mais incentivada. Se você ainda não conhece essa devoção, procure conhecer, é edificante ao extremo.

Abaixo o livro.

sexta-feira, 23 de março de 2012

Sessões III e IV do Concílio de Trento.



Continuando as postagens com os documentos do Concílio de Trento, colocamos abaixo o link das outras postagens:


1º PERÍODO: 1545 - 1547






Sessão XVI


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1º PERÍODO: 1545 - 1547

Sessão III

A PROFISSÃO DE FÉ

Decreto sobre o Símbolo da Fé

Em nome da Santa e Indivisível Trindade, Pai e Filho e Espírito Santo, considerando este sacrossanto geral e ecumênico Concílio de Trento, consagrado legitimamente no Espirito Santo e presidido pelos mesmos três Legados da Sé Apostólica, a grandeza dos assuntos que tem que tratar, em especial dos conteúdos dos capítulos, primeiro aquele da extirpação das heresias e outro da reforma dos costumes, por cuja causa principalmente foi congregado, e compreendendo também com o Apóstolo que não se tem que lutar contra a carne e sangue, senão contra os espíritos malignos nas coisas pertencentes à vida eterna, exorta primeiramente com o mesmo Apóstolo a todos e a cada um que se confortem no Senhor, e no poder da virtude, tomando escudo da fé, pois com ele poderão rechaçar todos os tiros do inimigo infernal, cobrindo-se com o manto da esperança e da salvação e armando-se com a espada da alma, que é a Palavra de Deus.

E para que este seu piedoso desejo tenha em conseqüência, com a graça divina, principio e perfeito andamento, estabelece e decreta que ante todas as coisas, deve principiar pelo símbolo ou confissão de fé, seguindo assim o exemplo dos Padres, os quais, nos mais sagrados concílios acostumaram agregar no princípio de suas sessões, este escudo contra todas as heresias, e somente com isso atraíram algumas vezes os infiéis à fé, venceram os hereges e confirmaram os fiéis.

Por esta causa foi determinado o dever de expressar com as mesmas palavras com que se lê em todas as igrejas o símbolo da fé que é usado pela santa Igreja Romana, como que é aquele princípio em que necessariamente convivem os que professam a fé de Jesus Cristo e o fundamento seguro e único de que contra ela jamais prevaleceriam as portas do inferno.

O mencionado símbolo diz assim:

Creio em um só Deus, Pai Todo-Poderoso, criador do céu e da terra, de todas as coisas visíveis e invisíveis, em um só Senhor Jesus Cristo, Filho Unigênito de Deus, e nascido do Pai antes de todos os séculos, Deus de Deus, luz de luz, Deus verdadeiro de Deus verdadeiro, gerado e não criado, consubstancial ao Pai, por Quem foram feitas todas as coisas, o mesmo que por nós, os homens, e por nossa salvação, desceu dos céus, se tornou carne pela Virgem Maria, por obra do Espírito Santo, se fez homem, foi crucificado por nós, padeceu sob o poder de Pôncio Pilatos, foi sepultado, ressuscitou ao terceiro dia como estava anunciado nas sagradas escrituras, subiu ao céu, e está sentado ao lado do Pai de onde há de vir pela Segunda vez, glorioso, para julgar os vivos e os mortos, e seu reino será eterno. Creio também no Espírito Santo, Senhor e Vivificador que procede do Pai e do Filho, com Quem é igualmente adorado e goza de toda glória juntamente com o Pai e o Filho, e foi Ele que falou pelos Profetas. Creio em uma única Santa Igreja Católica e apostólica. Creio em um só batismo para a remissão dos pecados e aguardo a ressurreição da carne e a vida eterna. Amém.

Determinação da Próxima Sessão

Tendo entendido que o mesmo Sacrossanto, Ecumênico e Geral Concílio de Trento, congregado legitimamente no Espírito Santo e presidido pelos mesmos três Legados da Sé Apostólica, que muitos dos Prelados de vários países estão dispostos a empreender viagem até o Concílio e que alguns já estão a caminho de Trento, e considerando também o quanto deve decretar o Sagrado Concílio, tanto maior será o crédito e respeito que terá entre todos, quanto maior o número de Padres participantes do pleno conselho, para as determinações e colaborações, resolveu e decretou que a próxima Sessão será celebrada na Quinta-feira seguinte à próxima Dominica Laetare, mas que entretanto não deixem de tratar e apresentar os pontos que pertençam ao Concílio, dignos de sua proposição e exame.

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Sessão IV


AS SAGRADAS ESCRITURAS

Decreto sobre as Escrituras Canônicas

O Sacrossanto, Ecumênico e Geral concílio de Trento, congregado legitimamente no Espírito Santo e presidido pelos três legados da Sé Apostólica, propondo-se sempre por objetivo que exterminados os erros se conserve na Igreja a mesma pureza do Evangelho, que prometido antes na Divina Escritura pelos Profetas, promulgou primeiramente por suas próprias palavras, Jesus Cristo, Filho de Deus e Nosso Senhor, e depois mandou que seus apóstolos a pregassem a toda criatura, como fonte de toda verdade que conduz à nossa salvação, e também é uma regra de costumes, considerando que esta verdade e disciplina estão contidas nos livros escritos e nas traduções não escritas, que recebidas na voz do mesmo Cristo pelos apóstolos ou ainda ensinadas pelos apóstolos, inspirados pelo Espírito Santo, chegaram de mão em mão até nós.

Seguindo o exemplo dos Padres católicos, recebe e venera com igual afeto de piedade e reverência, todos os livros do Velho e do Novo Testamento, pois Deus é o único autor de ambos assim como as mencionadas traduções pertencentes à fé e aos costumes, como as que foram ditadas verbalmente por Jesus Cristo ou pelo Espírito Santo, e conservadas perpetuamente sem interrupção pela Igreja Católica.

Resolveu também unir a este decreto o índice dos Livros Canônicos, para que ninguém possa duvidar quais são aqueles que são reconhecidos por este Sagrado Concílio. São então os seguintes:

Do antigo testamento: cinco de Moisés a saber: Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio. Ainda: Josué, Juízes, Rute, os quatro dos Reis, dois do Paralipômenos, o primeiro de Esdras, e o segundo que chamam de Neemias, o de Tobias, Judite, Ester, Jó, Salmos de Davi com 150 salmos, Provérbios, Eclesiastes, Cântico dos Cânticos, Sabedoria, Eclesiástico, Isaías, Jeremias com Baruc, Ezequiel, Daniel, o dos Doze Profetas menores que são: Oseias, Joel, Amós, Abdías, Jonas, Miquéias, Naum, Habacuc, Sofonías, Ageu, Zacarias e Malaquias, e os dois dos Macabeus, que são o primeiro e o segundo.

Do Novo Testamento: os quatro Evangelhos: Mateus, Marcos, Lucas e João, os Atos dos Apóstolos escritos por São Lucas Evangelista, catorze epístolas escritas por São Paulo Apóstolo: aos Romanos, duas aos Coríntios, aos Gálatas, aos Efésios, aos Filipenses, aos Colossenses, duas aos Tessalonicenses, duas a Timóteo, a Tito, a Filemon, aos Hebreus. Duas de São Pedro Apóstolo, três de São João Apóstolo, uma de São Tiago Apóstolo, uma de São Judas Apóstolo, e o Apocalipse do Apóstolo São João.

Se alguém então não reconhecer como sagrados e canônicos estes livros inteiros, com todas as suas partes, como é de costume desde antigamente na Igreja católica, e se acham na antiga versão latina chamada Vulgata, e os depreciar de pleno conhecimento, e com deliberada vontade as mencionadas traduções, seja excomungado.

Fiquem então todos conhecedores da ordem e método com o qual, depois de haver estabelecido a confissão de fé, há de proceder o Sagrado concílio e de que testemunhos e auxílios servirão principalmente para comprovar os dogmas e restabelecer os costumes da Igreja.

Decreto sobre a Edição e Uso da Sagrada Escritura

Considerando também que deste mesmo Sacrossanto Concílio, do qual se poderá tirar muita utilidade à Igreja de Deus, se declara que a edição da Sagrada Escritura deverá ser autêntica entre todas as edições latinas existentes, estabelece e declara que se tenha como tal, as exposições públicas, debates, sermões e declarações, esta mesma antiga edição da Vulgata, aprovada na Igreja pelo grande uso de tantos séculos, e que ninguém, por nenhum pretexto se atreva ou presuma desprezá-la.

Decreta também com a finalidade de conter os ingênuos insolentes, que ninguém, confiando em sua própria sabedoria, se atreva a interpretar a Sagrada Escritura em coisas pertencentes à fé e aos costumes que visam a propagação da doutrina Cristã, violando a Sagrada Escritura para apoiar suas opiniões, contra o sentido que lhe foi dado pela Santa Amada Igreja Católica, à qual é de exclusividade determinar o verdadeiro sentido e interpretação das Sagradas Letras; nem tampouco contra o unânime consentimento dos santos Padres, ainda que em nenhum tempo se venham dar ao conhecimento estas interpretações.

Aos medíocres, sejam declarados contraventores e castigados com as penas estabelecidas por direito. E querendo também, como é justo, colocar um freio nesta parte aos impressores que sem moderação alguma, e persuadidos de que lhes é permitido a quanto se lhes queira, imprimirem sem licença dos superiores eclesiásticos, a Sagrada Escritura, notas sobre ela, e exposições indiferentemente de qualquer autor, omitindo muitas vezes o lugar da impressão, ou muitas vezes falsificando, e o que é de maior conseqüência, sem nome de autor, e além disso tais livros impressos alhures, são vendidos sem discernimento e temerariamente, este Concílio decreta e estabelece que de ora em diante seja impressa, com a maior compreensão possível, a Sagrada Escritura principalmente a antiga edição da Vulgata, e que a ninguém seja lícito imprimir nem fazer com que seja impresso livro algum de coisas sagradas ou pertencentes à religião, sem o nome do autor da impressão, nem vende-los, nem ao menos tê-los em sua casa, sem que primeiro sejam examinados e aprovados pela Igreja, sob pena de excomunhão e de multa estabelecida no Canon do último Concílio de Latrão.

Se os autores forem [do clero] Regulares, deverão além do exame e aprovação mencionados, obter a licença de seus superiores, depois que estes tenham revisto seus livros segundo os estatutos prescritos em suas constituições. Aqueles que comunicam ou publicam manuscritos, sem que antes sejam examinados e aprovados, fiquem sujeitos às mesmas penas que os impressores. E os que os tiverem ou lerem, sejam tidos como autores, se não declararem quem o há sido. Seja dado também por escrito a aprovação desses livros, e que apareça essa autorização nas páginas iniciais, sejam manuscritos ou impressos, e tudo isto, a saber, o exame e a aprovação deverá ser feita gratuitamente, para que assim se aprove apenas o que seja digno de aprovação e se reprove o que não a mereça.

Além disso, querendo o Sagrado Concílio reprimir a temeridade com que se aplicam e distorcem qualquer assunto profano, as palavras e sentenças da Sagrada Escritura podem ser utilizadas para se escrever bobagens, fábulas, futilidades, adulações, murmúrios, superstições, ímpios e diabólicos encantos, adivinhações, sortes, libelos de infâmia, ordena e manda estripar esta irreverência e menosprezo, que ninguém daqui para frente se atreva a valer-se de modo algum de palavras da Sagrada Escritura para estes e nem outros semelhantes abusos que todas as pessoas que profanem e violem deste modo a Palavra Divina, sejam reprimidas pelos Bispos, com as penas de direito a sua atribuição.

Determinação da Próxima Sessão

A seguir estabelece este sacrossanto Concílio, que a próxima e futura Sessão seja feita e celebrada na Quinta-feira depois da próxima sacratíssima solenidade de Pentecostes.