terça-feira, 27 de julho de 2021

Apostolicam Actuositatem e o apostolado leigo nas famílias (parte 04)

Continuando no Decreto Apostolicam Actuositatem, temos ainda no número 11 o seguinte trecho:

No governo da sociedade, tenham-se em conta as necessidades familiares quanto à habitação, educação dos filhos, condições de trabalho, seguros sociais e impostos. Ao regulamentar a migração salve-se sempre a convivência doméstica.

O governo da sociedade não é função de clérigos, nunca foi e só pode acontecer em situações extremas e extraordinárias. O governo da sociedade é função de leigos. Nós não deixamos de ser católicos quando entramos nesse meio e não governamos a sociedade só quando temos cargos eletivos como vereadores, prefeitos, governadores, deputados... Não é preciso ter cargo eletivo, ser “político” para ter função de governo da sociedade. Todos os que interferem de uma forma ou de outra na sociedade fazem o governo dela.

Entendendo isso, todos os que trabalham, atuam e se manifestam na sociedade auxiliam no governo dessa mesma sociedade de alguma forma. A questão aqui está em como devemos atuar. Nós vamos esquecer nossos valores religiosos quando atuamos ou vamos inserir isso na sociedade? É justamente isso que a Igreja pede a todos nós que somos leigos. Precisamos atuar na sociedade sem esquecer que somos católicos. Mais que isso, precisamos atuar na sociedade sem esquecer que cristianizar e santificar a sociedade é nossa função principal, ordinária.

É nesse ponto que o documento Apostolicam Actuositatem sugere a nossa interferência no que pareceu uma certa ordem de importância: primeiro as necessidades familiares de habitação e educação dos filhos. Depois as condições de trabalho seguros sociais e impostos.

Quando fala de necessidades de habitação e educação dos filhos, a Igreja espera tanto que o Estado interfira nisso apenas de forma subsidiária, ou seja, quando a família não conseguir resolver o Estado deve entrar para solucionar e já sair imediatamente do âmbito familiar após resolvida a situação , quanto que o Estado faça sua parte bem feita e sem interferências ideológicas quando for preciso fazer. Infelizmente não é isso que temos visto. Não temos visto nenhum tipo de subsidiariedade. O que temos visto é o Estado invadindo o âmbito familiar como um todo e nisso não estou falando só sobre o Brasil, é um fenômeno mundial.

As questões de trabalho, seguro social e impostos, da mesma forma, existem para que a sociedade seja servida deles e não que o Estado se sirva da sociedade e alguns privilegiados usem desse serviço. A medida que trabalhamos e vivemos para sustentar um estado que vai se tornando um peso e não uma solução subsidiária para os problemas mais gerais, nesse ponto o Estado está com sua função absolutamente deturpada.

Falamos bastante nesse ponto sobre subsidiariedade. Vamos explicar um pouco o que significa isso. Explicar rapidamente. A subsidiariedade é um princípio da Igreja que é muito usado pela Doutrina Social da Igreja e pelo Direito Canônico, entre outras áreas também. Quer dizer que a instância superior, mais forte ou hierarquicamente mais alta não deve interferir na instância inferior se essa instância inferior conseguir resolver o problema. Em outras palavras, significa que é melhor deixar para os menores grupos o máximo de resoluções possíveis. No âmbito da Igreja, a diocese não precisa entrar em problemas que a paróquia consegue resolver e a paróquia não precisa entrar em problemas que a família consegue resolver. Funciona da mesma forma para o Estado. O Estado não entrar no que a família consegue resolver sozinha.

segunda-feira, 26 de julho de 2021

Apostolicam Actuositatem e o apostolado leigo nas famílias (parte 03)

O Decreto Apostolicam Actuositatem, em seu número 11, lá pelo meio do parágrafo, manifesta nesses termos:

Foi sempre dever dos esposos e hoje é a maior incumbência do seu apostolado: manifestar e demonstrar, pela sua vida, a indissolubilidade e a santidade do vínculo matrimonial; afirmar vigorosamente o direito e o dever próprio dos pais e tutores de educar cristãmente os filhos; defender a dignidade e legítima autonomia da família.

Pelo lado dos pais, esposos, sempre há uma maior responsabilidade, afinal são mais velhos e tem o dever de educar na fé e na vida. Na fé é preciso que os pais façam o que hoje em dia parece se tornar moda não fazer que é mostrar com sua vida a indissolubilidade do sacramento do matrimônio que receberam, mas também a santidade do vínculo conjugal. Não é tarefa fácil, mas também ninguém prometeu hora alguma que seria fácil. O que temos que fazer é o que temos que fazer. Precisamos nos conformar com isso e não achar que só temos que fazer o que é prazeroso ou o que estamos com vontade. A vida não é isso.

Os filhos precisam dessa visão de eternidade e de sacralidade do matrimônio, mas não só eles, todos aqueles que estão em torno do casal precisam ver naqueles dois, católicos, essa sacralidade vivida dentro do matrimônio. É função de nós leigos transmitirmos isso a toda a sociedade que nos circunda.

Outro ponto essencial de apostolado do leigo na família é a criação dos filhos e aqui vamos tocar em várias situações sensíveis para muitos. O leigo católico tem por obrigação educar de forma cristã seus filhos e não terceirizar a educação deles. Hoje a confusão entre escola, que deve transmitir conhecimento, e pais que são educadores é enorme. Professores são professores e transmitem conhecimento, pais são pais e devem educar, ou seja, transmitir valores e senso social conforme pretendem que seus filhos o tenham. Infelizmente o que vemos hoje são pais que sequer sabem o que seus filhos estão vendo, ouvindo, aprendendo e vivenciado. Não conhecem os filhos e não sem importam. Terceirizam a educação, e acham que já fazem o suficiente pagando uma escola cara ou não, mas colocando os filhos em alguma escola que sequer sabem o que será falado e simplesmente os deixam a mercê de que a natureza tome conta do resto. A natureza não vai tomar conta do resto, porque se faltam os pais alguém suprirá essa falta. Na maioria absoluta das vezes não serão boas pessoas a suprirem. Nisso eu não excluo em momento algum os professores. Enfim, a função é dos pais, o apostolado é seu, é sua função de pai e mãe, bem como é sua função de leigo educar seu filho. É você que responderá perante Deus sobre a vida que ele lhe confiou e não o professor ou outra pessoa qualquer que você terceirizou a educação do seu filho.

O Decreto ainda continua no mesmo número 11:

Cooperem, pois, eles e os outros cristãos, com os homens de boa vontade para que estes direitos sejam integralmente assegurados na legislação civil.

É nossa função cooperar com outros para que essa dignidade familiar e direito natural dos pais de educarem seus filhos seja garantido, justamente porque é função do leigo que a sociedade civil em torno dele se santifique e que garanta que os valores cristãos sejam respeitados. Não é função de nenhum padre ou bispo de forma ordinária, é função do leigo.

As perguntas que ficam são: estou fazendo a minha parte? Luto para que os direitos sejam integralmente assegurados na legislação civil? Ou estou simplesmente sentado esperando que outros façam por mim? Ou estou simplesmente sentado colocando a culpa em outros que não fazem o que deveria ser eu a fazer?

O leigo tem a responsabilidade de entrar e santificar a sociedade civil justamente porque a sociedade civil tende a odiar, a palavra é essa mesma, odiar o que está mais intimamente ligado a religião. Portanto, a gravata entra onde a batina e o clergyman não entram. Na maioria dos ambientes é muito mais fácil que eu ou você sejamos ouvidos do que um padre ou mesmo um bispo. É isso que o documento Apostolicam Actuositatem, que foi redigido lá na década de sessenta, quase sessenta anos atrás, quer deixar claro e mostrar que é você, leigo, que precisa tomar a frente disso. A Igreja como instituição simplesmente não consegue, então é você que faz parte do Corpo da Igreja de forma mística é que precisa fazer isso. 

segunda-feira, 19 de julho de 2021

Apostolicam Actuositatem e o apostolado leigo nas famílias (parte 02)

Continuando com nossa sequência sobre o Decreto Apostolicam Actuositatem do Concílio Vaticano II, temos o seguinte.

O que na Igreja podemos chamar de apostolado conjugal, que nada mais é do que exercer essa vocação de pai, mãe, filho e irmão dentro de uma família, é algo de uma importância tão singular que não só a Igreja reconhece como a própria sociedade civil também.

Apesar de tantas tentativas de destruir a família que temos visto diariamente em várias frentes, é inegável que ela, a família, é o que sustenta qualquer sociedade de pé e equilibrada. Inclusive, é por isso que é tanto atacada, não percamos isso de vista. Infelizmente há grupos que entendem que a sociedade precisa primeiro implodir, ou seja, ser totalmente destruída, pra que depois eles a possam reconstruir como acharem que deve. Isso não vai acontecer, mas precisa do nosso empenho diário. Isso também não é mera teoria da conspiração, tem sido avisado a a anos por essas mesmas pessoas que tem esses planos, mas nós sempre achamos que o problema é menor do que realmente é e que isso nunca chegará até nós. Pois bem, chegou e está tomando conta.

A sociedade civil, e mesmo o Estado, entende que a família é algo tão importante que sem ela a sociedade se corrompe e acaba. Independente de o Estado reconhecer ou não a religião, independente de a sociedade civil ser católica, muçulmana, budista, judia ou atéia, a instituição familiar sempre foi entendida como aquilo que mantém a sociedade de pé e equilibrada e isso acontece desde as sociedades primitivas. Não há qualquer tipo de discussão sobre esse assunto que não seja concordando com esse ponto. 

Um grande apostolado começa com o primeiro passo e o primeiro passo não costuma ser um passo com tanto glamour ou cheio de adereços. O primeiro passo costuma ser simples, sincero e com grande expectativa de resultados. O primeiro passo para um bom apostolado dentro da família é fazer o simples, ou seja, o mais ordinário que um pai, uma mãe ou um filho podem fazer que é serem cooperadores da graça e testemunhas da fé um perante o outro. Não há como partir de outro ponto. É preciso que os filhos vejam e sintam essa cooperação dos pais para a graça para que possam ter ciência do que é e como é, para depois também serem esses cooperadores. 

Trabalhamos com o simples. Pais que exigem a presença dos filhos na catequese e nunca aparecem na Igreja não podem cooperar com nada, muito menos testemunhar a fé para os filhos. Filhos que não se esforçam para ver nos pais aqueles que querem sua santidade e apenas busca sugá-los de forma egoísta e autorreferente não tem como cooperar com nada nem ser testemunhas de nada que seja bom. O trabalho dentro da família começa com o mínimo, ou seja, respeito, bom senso, intimidade na graça para que possam encontrar a sua vocação e segui-la.


Apostolicam Actuositatem e o apostolado leigo nas famílias (parte 01).

Apenas para fazer uma pequena referência ao Decreto Apostolicam Actuositatem do Concílio Vaticano II, é bom que algumas coisas sejam comentadas, já que o tema do leigo sempre surge na Igreja, mas muitas vezes nunca se consegue chegar ao destinatário ou se fazer entendido quando é preciso colocar tudo em prática.

O Capítulo III do dito documento fala sobre os meios de atuação do leigo no mundo. Um desses meios é a família. Precisamos entender em que âmbito está a família então.

O governo da sociedade não é função de clérigos. Vamos começar já com esse impacto que parece óbvio, mas que na prática acaba não funcionando na cabeça de muitos. O governo da sociedade é função de leigos. Nós não deixamos de ser católicos quando entramos nesse meio e não governamos a sociedade só quando temos cargos eletivos como vereadores, prefeitos, governadores, deputados... Não é preciso ter cargo eletivo, ser “político” para ter função de governo da sociedade. Todos os que interferem de uma forma ou de outra na sociedade fazem o governo dela.

Entendendo isso, todos os que trabalham, atuam e se manifestam na sociedade auxiliam no governo dessa mesma sociedade de alguma forma. A questão aqui está em como devemos atuar. Nós vamos esquecer nossos valores religiosos quando atuamos ou vamos inserir isso na sociedade? É justamente isso que a Igreja pede a todos nós que somos leigos. Precisamos atuar na sociedade sem esquecer que somos católicos. Mais que isso, precisamos atuar na sociedade sem esquecer que cristianizar e santificar a sociedade é nossa função principal, ordinária.

É nesse ponto que o documento Apostolicam Actuositatem, 11 sugere a nossa interferência no que pareceu uma certa ordem de importância: primeiro as necessidades familiares de habitação e educação dos filhos. Depois as condições de trabalho seguros sociais e impostos.

Quando fala de necessidades de habitação e educação dos filhos, a Igreja espera tanto que o Estado interfira nisso apenas de forma subsidiária, ou seja, quando a família não conseguir resolver, o Estado entra para solucionar e já sai imediatamente do âmbito familiar após resolvida a situação, quanto que o Estado faça sua parte bem feita e sem interferências ideológicas quando for preciso fazer. Infelizmente não é isso que temos visto. Não temos visto nenhum tipo de subsidiariedade. O que temos visto é o Estado invadindo o âmbito familiar como um todo e nisso não estou falando só sobre o Brasil, é um fenômeno mundial.

As questões de trabalho, seguro social e impostos, da mesma forma, existem para que a sociedade seja servida deles e não que o Estado se sirva da sociedade e alguns privilegiados usem desse serviço. A medida que trabalhamos e vivemos para sustentar um estado que vai se tornando um peso e não uma solução subsidiária para os problemas mais gerais, nesse ponto o Estado está com sua função absolutamente deturpada.

Falamos bastante nesse ponto sobre subsidiariedade. Vamos explicar um pouco o que significa isso. Explicar rapidamente. A subsidiariedade é um princípio da Igreja que é muito usado pela Doutrina Social da Igreja e pelo Direito Canônico, entre outras áreas também. Quer dizer que a instância superior, mais forte ou hierarquicamente mais alta não deve interferir na instância inferior se essa instância inferior conseguir resolver o problema. Em outras palavras, significa que é melhor deixar para os menores grupos o máximo de resoluções possíveis. No âmbito da Igreja, a diocese não precisa entrar em problemas que a paróquia consegue resolver e a paróquia não precisa entrar em problemas que a família consegue resolver. Funciona da mesma forma para o Estado. O Estado não entrar no que a família consegue resolver sozinha.