quinta-feira, 25 de agosto de 2016

O novo Dicastério para os Leigos, a Família e a Vida.

Mais um Motu próprio, dessa vez com o nome de Sedula Mater, foi assinado pelo Papa Francisco e serviu para determinar a criação do Dicastério para os Leigos, a Família e a Vida. Esta decisão do Santo Padre já tinha sido anunciada no dia 4 de Junho passado (2016), mas a criação deste Dicastério é determinada por este Motu proprio, assinado pelo Romano Pontífice a 15 de Agosto de 2016.

Abaixo constamos uma tradução feita por mim e, portanto, não oficial do Motu proprio.


CARTA APOSTÓLICA
em forma de Motu Proprio
com o qual se institui o Dicastério
para os Leigos, a Família e a Vida

A Igreja, mãe solícita, sempre teve, ao longo dos séculos, um especial cuidado em relação aos leigos, à família e à vida, manifestando o amor do Salvador misericordioso para com a humanidade. Nós próprios, tendo bem consciência disto em razão do Nosso ofício de Pastor do rebanho do Senhor, esforçamo-nos por tomar decisões com a finalidade que as riquezas de Cristo Jesus se derramem convenientemente e com abundância entre os fiéis.

Com esta finalidade, procuramos com solicitude que os Dicastérios da Cúria Romana se adequem às situações do tempo contemporâneo e se adaptem às necessidades da Igreja Universal. Em concreto, o Nosso pensamento dirige-se aos leigos, à família e à vida, a quem desejamos oferecer apoio e ajuda para que sejam um testemunho ativo do Evangelho no nosso tempo e expressão da bondade do Redentor.

Por conseguinte, depois de ter ponderado cuidadosamente todas as coisas, com a Nossa autoridade Apostólica instituímos o Dicastério para os Leigos, a Família e a Vida, que será regulado por Estatutos próprios. As competências e funções que, até agora, pertenciam ao Pontifício Conselho para os Leigos e ao Pontifício Conselho para a Família serão transferidas para este Dicastério a partir do próximo dia 1 de Setembro, cessando definitivamente os Pontifícios Conselhos acima mencionados.

Tudo o que foi determinado, desejamos que tenha efeito agora e no futuro, não obstante qualquer disposição em contrário.

Dada em Roma, junto de S. Pedro, sob o Anel do Pescador, 15 de Agosto de 2016, na Solenidade da Assunção da Bem Aventurada Virgem Maria, Jubileu da Misericórdia, no IV ano do Nosso Pontificado.


FRANCISCO

domingo, 7 de agosto de 2016

Um Deus científico, espiritual e teológico. Pequenos comentários.


Deus científico.

Poderíamos falar de um Deus que a ciência pode provar pela matemática, pela física ou mesmo por alguma ciência natural qualquer. Poderíamos falar de um Deus científico que pudesse ser demonstrado e trabalhar nisso. Mas esse Deus não seria o mesmo que Deus que buscamos. O Deus que buscamos, o Deus cristão, o único Deus, está muito acima da ciência porque a ciência é apenas um dom por Ele concedido, ou seja, a ciência é uma mera criatura de Deus e o criador não pode se submeter à criatura assim como um relojoeiro não pode se submeter ao relógio.

Deus não é criatura para ser estuda pelas ciências empíricas. Deus pode até ser verificado pelas ciências empíricas, mas por mais que queiram, nunca será provado. As ciências filosóficas, que por muitos hoje em dia nem são consideradas ciências, já que o iluminismo desenvolveu um cientificismo tão caótico que decidiu que filosofia e suas matérias afins não são ciências, essas ciências filosóficas podem provar Deus por meio da lógica e pelo esforço teológico. Mas, claro, nada disso é levado em consideração, porque hoje parece que aquele que pede a prova pode escolher o meio em que essa prova será verificada. Coisas insanas que surgem com o dito desenvolver da humanidade.

Diversas pessoas, as vezes bem intencionadas, tentam demonstrar Deus por essa ciência empírica, mas só conseguem chegar perto de um argumento lógico e uma evidência de Sua existência, nada mais. O que não conseguem entender é que, embora a razão esteja sempre de braços dados com a fé, uma é independente da outra e a prova de Deus não se dará de outro modo senão pela fé. Aquele que não crê, simplesmente não encontrará meios de ver Deus em tudo como é o caso daquele crê.

Deus espiritual.

Deus é puro espírito, isso é fato teológico incontestável, mesmo fora do cristianismo, entretanto, para nós, cristãos, Deus é espírito puro que se fez carne. O verbo se fez carne e isso faz toda a diferença.

Quando Deus se permite fazer carne, Ele se torna criatura como nós. Deus como que se rebaixa de Sua situação de Deus e Se permite nascer de uma criatura. É uma humilhação tremenda pensando dessa forma. Deus, onipotente, se deixar nascer por uma criatura. Deus se rebaixa ao ponto de ser gerado no ventre de uma pessoa, santa, sem dúvida, mas ainda assim criatura e muito, infinitamente, abaixo de Deus. Se permite ser gerado, criado, educado por criaturas. Deus Se submete a elas para mostrar a todos que se o próprio Deus Se submete a seus pais, o que dirá de uma criatura como eu ou você.

Quando Deus se torna carne, não se trata de um teatrinho em que Deus desce, mas sabe tudo o que vai acontecer e não sofre, não sente emocional e espiritualmente e não tem necessidades humanas. Tudo o que Deus viveu foi verdadeiro e tudo Ele viveu como verdadeiro homem, mas também como verdadeiro Deus. A única coisa que Ele não provou conforme os homens foi o pecado.

Deus sendo espiritual e nós querendo nos aproximar Dele, precisamos também aprender a ser o mais espiritualizados possível. Como fazer isso? Com cuidado para não cair em esoterismos; com orientação para não cair no orgulho espiritual (o pior tipo de orgulho) nem na descrença por ser algo muito difícil; com persistência já que nada acontece do dia pra noite, mas sim é um caminho que precisa ser mais do que trilhado, precisa ser feito, construído; com coragem, porque nada é fácil quando se quer seguir a Deus em um mundo que não é Deus quem reina; e entendimento, uma vez que é preciso, desde já, entender que o caminho de Deus não é um caminho de glórias nem de benefícios, mas de sofrimento, suplícios e dores.

Deus teológico.

Antes de qualquer coisa é preciso entender o que quer dizer teologia. A palavra se torna comum no meio religioso e mesmo fora dele todos pensam que sabem do que se trata, mas ninguém ou quase ninguém consegue definir o que vem a ser teologia. Não creio que a melhor forma de conceituar teologia seja “o estudo de Deus”. Isso não é teologia. Teologia é, resumidamente, um esforço para compreender e verificar Deus.

A palavra esforço é extremamente importante. Esforço não traz certeza, apenas a certeza de que faremos o melhor possível. Por mais que na ciência conforme hoje a entendemos, esse esforço seja o que mais coerentemente precisa acontecer, não é assim que a coisa é aceita. A ciência atual não produz esforços, se produz certezas, mesmo que elas mudem diariamente com o sabor do vento. Quem nunca percebeu que cientistas dizem que o café faz mal à saúde nesse mês e no próximo mês estudos comprovam que o café, ao contrário, faz bem? Mesmo assim, o primeiro estudo é publicado como uma certeza até que venha outra certeza e tome o seu lugar, mesmo que seja uma nova certeza contraditória.

A teologia não é assim. Ela não produz certezas justamente porque a certeza de Deus é uma questão de fé. Temos diversas certezas sobre Deus, nenhuma delas é vinda de um instituto teológico, todas são vindas da Igreja deixada pelo próprio Cristo, Deus encarnado, à Igreja Católica. Tudo o que está em volta e que a Igreja não atesta como certeza, não o é e apenas é uma possibilidade teológica em que cada um pode opinar livremente lembrando que existe, ainda, uma série de questões que a Igreja pede que sejam consideradas e que são encaminhadas para todos os católicos, como uma sugestão e um pedido. Não se nega um pedido e uma sugestão de uma mãe, primeiro porque ela é mãe e só isso já seria suficiente, segundo porque ela é imensamente mais sábia e vivida e pelo menos levar em consideração sua opinião não é uma má ideia.


Enfim, um Deus teológico é um Deus que pretende Se mostrar a cada um de nós como um Deus acessível dentro do possível, dentro do que nossa razão nos permite.