sábado, 25 de agosto de 2012

Divagando sobre o sofrimento. Terceira parte.






Nesse terceiro momento de falatório sobre o sofrimento, temos algo que está além de nossa imaginação, seja ela sensitiva, seja ela mental.

O inferno, o purgatório e o paraíso são algo tão além de nossa imaginação que muitos resolveram simplesmente ignorá-lo. Seguem a filosofia esdrúxula de que "o que os olhos não veem o coração não sente". Sinto muito, mas o coração e outras partes vão sentir muito em um momento posterior.

O sofrimento o qual passamos aqui, nada mais é do que uma breve e remota preparação para um possível sofrimento no purgatório, esse sim infinitamente maior que o daqui. O do inferno ja passou disso.

Lembro-me de ler algo de Gertrud von Le Fort que dizia uma frase que nunca irei esquecer: “Felicidade só há no Céu e justiça só há no Inferno; nesta Terra, somente a Cruz”.

Muitos querem buscar a felicidade plena aqui. No mínimo vão dar com os burros n'água. Pelo menos seria bom se chegassem a esse estágio. A maioria morre tentando o impossível. Felicidade plena só em Deus. Não queira encontrar o amor maravilhoso que vai te fazer feliz para sempre como nos contos de fadas. Não seja tão pouco misericordioso como seu/sua esposo(a) cobrando dele(a) isso. Um ser humano não pode lhe dar plena felicidade. Felicidade plena só em Deus. Só Nele podemos dizer que chegamos a plena felicidade, isso para os que lá chegarem.

A mesma coisa podemos dizer dos que pretendem sistemas de governo que prometem o céu na terra. Não vão ter! O céu não descerá à terra pelo simples fato de um idealista dizer que assim o será. Cuidado com quem faz tais promessas. Cuidado com socialismos, comunismos e social-democracias que fazem esse tipo de compromisso impossível de cumprir.

Diametralmente oposto a isso, não queira que a justiça plena seja feita aqui. Aqui não é lugar de justiça, mas de injustiças. Não queira que um mero julgador humano, ridículo e limitado, parafraseando Raul Seixas, consiga atingir o ápice da justiça plena. Tal justiça só pode advir de Deus e em Deus.

O inferno passa a ser justiça plena uma vez que quem viveu uma vida querendo distância de Deus não pode ter outra coisa senão eterna distância Dele. A vontade é sua, não a de Deus. Deus apenas fez a sua vontade. Pra isso existe livre-arbítrio.

O grande problema de tudo isso é que a justiça plena de Deus cumprida no inferno é eterna. O sofrimento que lá existe não só é perene como a dor é infinita. Uma dor inimaginável de um fogo eterno que não consome, apenas queima sem nada poder apagar.

Não temos um Deus covarde, injusto e sádico como sugerem alguns e afirmam claramente outros. Temos apenas um Deus que ama tanto suas criaturas que poderia muito bem tê-las feito como marionetes, fazendo tudo o que Lhe apeteceria, contudo não foi esse tipo de criatura, limitada e refém de seu destino que Deus quis para o que tinha criado. Deus deu a Suas criaturas um sem número de habilidades e dons além de uma liberdade que poderia levá-lo a escolher seu destino da forma como lhe conviesse. O livre-arbítrio é nada menos que a liberdade que temos de negar estarmos presentes ao lado de Deus ou querermos ardentemente essa presença. Essa vontade é respeitada por Deus. Sempre é respeitada. A questão são as consequências.

Ouvi certa vez em um debate que se é mesmo assim, então Deus está fazendo "pegadinhas" conosco, afinal não sabemos como é estar longe de Deus, como é o inferno. Ora, como não sabemos?! Temos centenas de histórias, temos a Bíblia, temos a tradição, temos as revelações particulares (que ninguém é obrigado a acreditar, mas estão ai pra quem quiser ouvir) e temos esse texto que você está lendo. Como não sabe? A questão não é não saber. A questão é não querer que assim seja. É um probema único e exclusivo seu, não meu ou de Deus.

Por esses motivos a justiça do inferno é a única realmente plena, potente e total. O sofrimento dessa justiça é apenas o detalhe da distância de Deus. Quanto mais distante de Deus, maior o sofrimento, quanto mais perto, menor. Isso para os que já estão longe desse mundo e já cumpriram com suas missões.

O purgatório é outro estado de total purificação e toda purificação é dolorosa. Toda purificação é sofrível. Os sofrimentos do purgatório são mais leves que a justiça divina do inferno, isso sem dúvida, contudo não são mais leves que nada do que há de mais truculento nesse mundo. O purgatório é o estágio final de purificação para estarmos definitivamente de frente para Deus, limpos de todo o mal, de todo o pecado. Essa limpeza é dolorosa e o sofrimento inevitável. O fogo novamente purificará o que está impuro.

Po último, temos a cruz desse mundo. Nada mais terno e bonito. Se conseguir ver beleza e ternura na cruz de Cristo e na sua própria, estará preparado para entender o sentido do sofrimento. Sofra aqui o que for necessário, afinal o sofrimento no purgatório ou no próprio inferno é infinitamente maior. As cruzes que precisamos carregar por nosso caminho são nada menos que presentes de Deus a uma alma a quem Ele muito ama. Quanto mais cruzes, mais amor. Quanto mais sofrimento, mais salvação. Não foi a toa que Cristo sofreu tanto na cruz. Ele não precisava de salvação; é Deus e não precisa ser salvo, mas o mundo precisava. O pecado do mundo foi tão grande que o sofrimento de homens não seria o suficiente. Era preciso o sofrimento do próprio Deus. Somente o sangue de Deus poderia pagar o tamanho erro do ser humano em querer tomar o lugar desse próprio Deus através do pecado.

Fugir do sofrimento só acarreta fuga de Deus. Não que seja preciso uma vida de profundos sofrimentos, afinal temos santos e santas que eram ricos e se salvaram. Mas afinal, dinheiro é mesmo sinal de profunda felicidade?

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Sessões XI e XII do Concílio de Trento.



Continuando as postagens com os documentos do Concílio de Trento, colocamos abaixo o link das outras postagens:


1º PERÍODO: 1545 - 1547






Sessão XVI


_______________________________________________________________________

Sessão XI

Celebrada no tempo do Sumo Pontífice Júlio III, em 01 de maio do ano do Senhor de 1551


Em nome da Santa e Única Trindade, Pai e Filho e Espírito Santo. Amém. No ano do nascimento do Senhor de 1551, na nona hora do dia 1º de maio, no ano segundo do Pontificado de nosso santíssimo senhor Júlio, por divina providência, Papa III com este nome, o reverendíssimo e ilustríssimo senhor Marcelo de Crescentis, Presbítero Cardeal da Santa Igreja romana, legado a latere de nosso santíssimo senhor, o mencionado Pontífice, e o Reverendo senhor Sebastião Pighino, Arcebispo de Siponto, e Luís Lipomano, Bispo de Verona, Núncios da Sé Apostólica, juntamente com os demais Reverendos Padres que se acham na cidade de Trento, se reuniram pela manhã na igreja catedral de São Vigílio da mesma cidade, onde celebraram a primeira Sessão deste Sagrado concílio de Trento, ocorrida no Pontificado de Júlio III.

Tendo sida em primeiro lugar, celebrada uma missa solene do Espírito Santo, e praticando-se as cerimônias de costume, se leu a Bula do Sumo Pontífice sobre a reinstalação e prosseguimento do Sagrado, Ecumênico e Geral concílio de Trento. Depois disto, voltando-se aos Padres, o Reverendíssimo senhor Arcebispo de Sacer, leu em voz alta e inteligivelmente os decretos que seguem:

Decreto sobre a Reinstalação do Concílio
Sabeis que, em honra e glória da Santa e Única Trindade, Pai e Filho e Espírito Santo, para aumento e exaltação da fé e religião Cristã, se deverá reinstalar o Sagrado, Ecumênico e Geral Concílio de Trento, segundo a forma e teor da Bula de nosso santíssimo Padre, e que se proceda o restante que se tem que resolver?

Responderam todos: "Assim o queremos".

Determinação da Próxima Sessão

Concordais que a próxima Sessão deva realizar-se no primeiro dia do próximo mês de setembro?

Responderam todos: "Assim o queremos".

______________________________________________________________________

Sessão XII

Celebrada no tempo do Sumo Pontífice Júlio III, em 01 de setembro do ano do Senhor de 1551

Decreto sobre a prorrogação da Sessão

O Sacrossanto, Ecumênico e Geral Concílio de Trento, reunido legitimamente no Espírito Santo, e presidido pelos mesmos Legados e Núncios da santa Sé Apostólica, que decretou na Sessão próxima passada que haveria de ser celebrada hoje a seguinte, e que se deveria seguir adiante, havendo deferido até agora executá-la, devido à ausência da ilustre nação Alemã, de cujo interesse se trata de modo principal, e devido ao pequeno número dos demais Padres, tendo fé no Senhor, de que para o próximo dia marcado consigam chegar os veneráveis irmãos em Jesus Cristo e seus filhos, os Arcebispos de Maguncia e Treveris, Príncipes e Eleitores do sacro Império Romano, e outros muitos Bispos da Alemanha e demais províncias, dando as devidas graças ao Onipotente Deus, e também tendo a esperança certa de que os Prelados, em grande número, tanto da Alemanha como das demais nações, movidos pelo dever de cumprir com suas obrigações, e como exemplo, cheguem a tempo a esta cidade, remarca a futura Sessão para daqui a quarenta dias, que portanto ocorrerá no dia onze de outubro próximo.

Continuando, o mesmo Concílio no estado em que se acha, estabelece e decreta que já estando definidas em Sessões passadas as matérias dos Sete Sacramentos da nova lei geral e em particular do Batismo e Confirmação (Crisma), deverá ser discutido e tratado o Sacramento da Santíssima Eucaristia, e além disso, no tocante à reforma, dos assuntos restantes pertencentes à mais fácil e cômoda residência dos prelados.

Também admoesta e exorta a todos os Padres, a que se dediquem, segundo o exemplo de Jesus Cristo, nosso Senhor, aos jejuns e orações enquanto os permita a fragilidade humana, para que, tranqüilizado enfim Deus nosso Senhor, que seja bendito pelos séculos dos Séculos, se digne a converter o coração dos homens ao conhecimento de sua verdadeira fé, a unidade da Santa Madre Igreja, e a uma conduta de vida justa e ordenada.

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

A fabulosa fé dos ateus.


Os adoradores do Acaso

Poucas coisas me admiram mais, neste mundo, do que a assombrosa fé dos ateus.
Eles não acreditam em Deus, mas acreditam cegamente no Acaso. Se você lhes perguntar: “Como surgiu o mundo? Como apareceu a vida? Como se processaram as coisas para que se desse algo de tão extraordinariamente complexo, preciso, ordenado e fantástico como é o organismo de um besouro ou de uma gazela? Como se produziu a maravilha extasiante de um olho: o cristalino, a córnea, a retina, a íris, o seu funcionamento harmônico em precisa conexão com o sistema nervoso, com o cérebro, com o sistema circulatório...?”, invariavelmente o ateu responderá: “Foi por Acaso”. Você pode perguntar: “Um acaso só?” Ele sorrirá com ar de suficiência e esclarecerá, como se segredasse a sabedoria aos ignorantes: “Milhões, milhões de Acasos, meu amigo, ao longo de milhões de anos”. E a palavra milhões — que não explica, sozinha, absolutamente nada — o deixará perfeitamente satisfeito, como se fosse a explicação genial, “racional” e completa de toda a questão.
No entanto, os que se têm dado ao trabalho de analisar cientificamente as possibilidades de que apenas duas dúzias desses milhões de acasos se produzissem, chegam à conclusão de que, pelo cálculo de probabilidades, essa conjunção de eventos fortuitos, perfeitamente concatenados, é tão improvável que, na prática, fica sendo impossível. Não há probabilidade alguma que consiga explicar satisfatoriamente como, do nada, possa surgir algo; ou que, da matéria inerte — numa cadeia de mirabolantes casualidades — venham a brotar a paineira, a onça, o dourado e o gavião.
E, já que falamos em bichos, talvez o leitor ache interessante uma afirmação feita por um cientista da NASA, altamente qualificado nesses assuntos. É muito mais provável — dizia este professor — que uma lagartixa, um camundongo e um pardal façam por acaso (só passeando, arrastando e deixando à toa pedacinhos de metal, areia, etc.) um computador de última geração, do que o pretenso surgimento do universo — desde as galáxias até às borboletas — sem que tenha havido como causa de tudo uma Inteligência suprema, criadora, ordenadora e providente, ou seja, sem Deus.
Só pelo raciocínio, sem necessidade de fé, grandes filósofos pagãos como Platão e Aristóteles — insuperados em muitas das suas idéias — chegaram à conclusão de que o mundo postula,racionalmente, a existência de um Criador, que é pura Inteligência e puro Poder. Qualquer cristão bem formado sabe, de fato, que não precisa da fé para chegar ao conhecimento da existência de Deus e dos seus atributos (inteligência, poder, bondade, etc.), porque, para isso, basta a razão. Aqueles que o ateu julga “crédulos”, neste ponto são muito mais racionais do que ele.

Qual é a pauta da “vida boa”?
O que acabamos de considerar tem enorme importância quando se pensa na qualidade moral da nossa vida. Quando e por que podemos dizer que agimos bem ou que agimos mal? Quando se pode afirmar que fizemos o certo ou que fizemos o errado? Há, por acaso, algum princípio, algum valor seguro, alguma pauta clara que permita avaliar a bondade ou a malícia dos nossos pensamentos, palavras e ações?
Talvez alguém diga: “Sim, a pauta é a nossa consciência”. Quem diz isso está afirmando que o que fazemos de acordo com o que a nossa consciência sente é bom, e o que fazemos contra a voz íntima da consciência é errado.
A resposta parece boa —e está certa, sem dúvida, a segunda parte —, mas talvez não reparemos que dizer que é bom o que fazemos de acordo com a nossa consciência — sem mais — é uma afirmação equivalente a dizer que termos olhos é sempre o meio certo para enxergar a estrada que devemos seguir com o carro, ou com os nossos pés. De acordo com misso, se perguntarmos: “Há algo que nos permita afirmar se o dia é claro ou escuro, se perto de nós há gente ou não, se pela rua vem vindo carros, se alguém nos aponta uma arma?”, a resposta deverá ser sempre: “Sim, a nossa vista”.
Só que essa resposta, enunciada de maneira tão simplista, é uma estupidez. Todos sabemos que a vista pode ser boa ou má, sadia ou doente, nítida ou confusa, ou até cega e nula. Uma má vista pode confundir uma janela do vigésimo andar com a porta de acesso à escada do prédio e levar a pessoa de boa fé a despencar e morrer. Exatamente a mesma coisa acontece com a consciência. Em princípio, poderia e deveria enxergar o bem, o justo, o certo, mas para isso precisaria estar sadia, e não moralmente doente. Infelizmente, a consciência não é Deus, nem é uma voz pura e infalível (por exemplo, Hitler, Goering e Goebbels acreditavam firmemente que a monstruosidade de eliminar os judeus era um dever de consciência para o bem do mundo; e em consequência, enchiam de vítimas as câmaras de gás, seguindo fielmente essa sua “consciência” desvairada) . Tal como a vista, é evidente que a consciência pode estar doente, gravemente doente, e ter, então, erros fatais de avaliação e, portanto, de conduta moral.
Não nos esqueçamos de que, afinal, a consciência é um juiz, que avalia uma decisão a tomar, uma conduta, uma omissão, e diz: “Isto está certo”, “Isto não tem nada demais”, “Isto está errado”. Mas, nesta avaliação, o que é absolutamente decisivo é saber qual é o referencial, a “norma de valor” que permite julgar o certo e o errado. Por que você diz “isto está certo”? Com base em quê? Há ou não há “valores”, “verdades” morais que iluminem sem erro a nossa consciência? Há valores que permitam dizer, com lucidez e segurança: “Isto está bem, isto está mal”? Há, enfim, normas que sinalizem e balizem sem engano o caminho da vida, da “vida boa”, certa e honesta?
Nesta matéria, tudo depende da posição que se adote. Se é a dos que só acreditam no Acaso, a “pauta”, a “norma” moral terá umas características (ou nenhuma, como veremos); se é a dos que sabem que existe um Deus criador e ordenador do universo, terá outras.Tudo é permitido?
Justamente pela relação que tem com este assunto, vem a propósito lembrar um bem conhecido episódio do romance de Dostoievski, Os Irmãos Karamázovi. Os três irmãos estão no centro do enredo, juntamente com um criado do pai, filho bastardo deste e, portanto, meio-irmão dos três. O intelectual da família, Ivã Karamazov, repete filosoficamente a famosa frase: “Se Deus não existe, tudo é permitido”. Essas palavras gravam-se na mente doentia e descrente do meio-irmão, Smerdiákov, e levam-no a assassinar, por ódio e cobiça, o pai. No final do romance, o parricida justifica-se cinicamente perante Ivã, dizendo que nada mais fez do que aplicar a filosofia deste: dado que para ele — ateu como Ivã — Deus não existia, nada o impedia, moralmente falando, de matar o pai.
E não deixava de ter a sua razão. Com efeito, se Deus não existe, se tudo apareceu por uma conjunção fortuita de acasos, se não passamos todos do resultado de muitas cegas coincidências sem sentido nem orientação, se somos apenas matéria que, por mera ciranda de casualidades, deu de ter dois braços, duas pernas, dois olhos e a capacidade de ser consciente — se as coisas são mesmo assim, então, que sentido tem falar do bem, do mal e dos valores morais? Esses pedaços de matéria pensante que seríamos nós, jogados sem nenhuma explicação nem finalidade sobre a terra, por que haveriam de ter mais lei do que a da bruta matéria sem alma, por que não se ocupariam exclusivamente, com feroz voracidade, de aproveitar-se ao máximo de tudo, e de defender-se ao máximo de tudo e de todos os que incomodassem?

Sem lei nem rei
É impossível falar em bem e mal, em verdades morais que sejam normativas, em valores válidos e estáveis num mundo assim; isso seria tão absurdo como falar da rota certa de um barco que não tem rumo predeterminado, nem bússola, nem carta de navegação, e se limita a rodopiar loucamente no centro de um redemoinho. Se não se admite a existência de Deus criador, não há modo de encontrar uma base sólida, um fundamento firme para uma lei moral digna de ser tomada em consideração pela nossa consciência. E, realmente, até agora, todas as tentativas de elaborar uma ética sem Deus têm sido falhas. Quando muito, o ateu pode chegar a “fabricar” uma moral de puras convenções, de acordos passageiros e arranjos circunstanciais, mas essa “moral” não tem referenciais claros que delimitem a fronteira entre o bem e o mal; então, torna-se uma farsa e, no meio dessa comédia, a consciência não passa de uma bailarina esquizofrênica. Não pode ser séria a consciência que dança como um urso domesticado, conforme o pandeiro que, a cada momento, tocam as eventuais conveniências e os arranjos interesseiros.
Deste modo, sendo tudo relativo, chega-se a aberrações como as que o nosso século vem contemplando: hoje o racismo é um mal abominável — e é mesmo, aos olhos de Deus —, mas já foi julgado um bem gloriosíssimo em vários países, em pleno século XX (veja-se o Terceiro Reich, a África do Sul e parte sensível da população da América do Norte); hoje, matar crianças não-nascidas e acabar com velhos e doentes incômodos (eutanásia) é considerado um bem, um avanço das sociedades “progressistas”, mas, durante milênios, foi julgado um assassinato covarde e vil. Se Deus não existe, tudo fica no ar, tudo é relativo: vale qualquer coisa, ou seja, impera o caos. No epicentro do caos, que espécie de consciência terá a possibilidade de julgar?
Pensando nisto, talvez Riobaldo, o jagunço protagonista de Grande Sertão: Veredas de Guimarães Rosa, tenha tanta razão como Ivã Karamazov. O nosso sertanejo diz, a certa altura: “Se não tem Deus, então, a gente não tem licença de coisa nenhuma”. Sábio Riobaldo! Sim. O que se pode fazer, se nada tem sentido, se nada tem valor, se nada vale nada, se nada leva a nada? Assim não se pode viver.

Ciência ou conto de fadas?
No meio desta barafunda, o curioso é que o descrente, depois de ter minado as bases da moral, não se resigna a viver sem moral. Gosta de falar da sua “consciência” e da sua “moralidade”; adora ser considerado “honesto”, “correto”, “cumpridor do dever” e “ilibado”. Indigna-se de ser chamado corrupto. Como conseguir isso “nas areias movediças de um relativismo total”, onde “tudo é convencional, tudo é negociável”? (João Paulo II: Encíclica Evangelium vitæ, n. 20).
A solução, para o materialista ateu ou agnóstico— ou para o seu equivalente, o cristão sem fé nem convicções — é relativamente simples. Ou, por outra, as soluções são simples, porque, no mínimo, são duas.
A primeira consiste em tergiversar, em esvaziar de sentido e de conteúdo os valores morais autênticos (os que o crente vê contidos na lei de Deus: a justiça, o amor, a sinceridade, a fraternidade...) e embutir neles um novo sentido deturpado. A bela palavra, porém, continua a ser mantida e valorizada, pelo seu magnetismo e o seu prestígio moral. “Amor”, por exemplo, que bela palavra! Tem ainda muito prestígio? Então, conserva-se e até se apresenta como sagrada e intocável; mas muda-se-lhe o sentido: emprega-se agora exclusivamente para designar o sexo descomprometido, egoísta e animalizado. A mesma coisa se faz com os “derivados” do amor e, assim, ao adultério chama-se “namoro”; à garota de programa e à prostituta cara “namoradas”; à licenciosidade, “liberdade”. E a palavra “família”, libertada da sua “ridícula” acepção “convencional” (pai, mãe e filhos) passa a aplicar-se a um rancho abagunçado de mulher com o seu “namorado” de turno, mais três ou quatro ex-maridos — os tios —, e vários filhos, que já são incapazes de identificar o seu próprio pai; ou, então, de pares ou “casais” das mais variadas espécies, gêneros e combinações.
O segundo expediente do materialista consiste em fazer moral na base de afirmações gratuitas, autênticos “dogmas de fé” proclamados com o aprumo de quem possui o carisma de infalibilidade.
Temos que agüentar tais afirmações, monotonamente repetidas, por exemplo, na questão do aborto. Com incansável perseverança, um punhado de deputados federais, adeptos de uma ideologia política relativista, laicista e atéia, proclama, com a solenidade de quem define um dogma, que a lei deveria permitir o aborto até aos três meses, ou seis, ou nove meses de gravidez, pois até esse limite de tempo o feto não é ainda ser humano. Novidade? Não, velharia. Mas afirmada e repisada com majestosa empáfia. Caso perguntemos as “razões”, o fundamento racional para esse conceito e essa lei, a resposta será o silêncio, simplesmente um “porque sim”, “porque estamos de acordo em afirmar isso”, uma vez que não há razão nenhuma — filosófica, antropológica, biológica, etc. —, que permita dizer que somos seres humanos noventa dias depois de sermos concebidos e não o somos aos oitenta e nove dias. Por que não noventa e um ou cento e três? Ninguém sabe responder. A moral relativista só é capaz de “convenções” — “é assim porque convencionamos que assim fosse”— , nunca de “convicções” e, menos ainda, de “verdades”. À falta de verdade racional, precisa de inventar o dogma laicista, a “fé irracional”.
Isto é o que faz o descrente e os seus congêneres. Pratica constantemente o que ele acusa os cristãos de fazer: — “Vocês querem impor crenças, convicções de sua fé à legislação de um país laico, não-confessional. Isto é intolerável!”.
Ora, o que se dá no caso do aborto — e em muitos outros — é exatamente o contrário. Os abortistas descrentes querem impor-nos um ato de fé, muito mais violento que os que eles dizem que a Inquisição requeria: “Creio que só somos homens a partir do terceiro, sexto, sétimo ou nono mês, creio sem prova nenhuma, sem ciência nenhuma, sem razão nenhuma”. Pelo contrário, os que acreditam em Deus são os que, neste caso, em vez de invocarem a fé, apelam apenas para a razão e para a ciência. Porque, cientificamente, está mais do que provado que, desde o primeiro momento da concepção, já existe um ser humano pleno e em marcha, em desenvolvimento, exatamente o mesmo ser humano — geneticamente, biologicamente — que será aos cinco anos, ou aos quinze, ou aos sessenta. Um dos maiores geneticistas modernos, o professor francês Jerôme Lejeune, descobridor da etiologia da síndrome de Down, foi convidado certa vez como perito por um tribunal americano que julgava um crime de aborto: as razões científicas que apresentou em favor do caráter humano do feto foram de tal ordem que reduziu ao silêncio os que as contraditavam. Como vemos, quando os crentes combatem o aborto, estão sendo racionais, e, quando os ateus o defendem, estão fazendo e pretendendo impor — mais uma vez — um incrível ato de fé.

Saindo para a luz
Mas saber que Deus existe, poder olhar o mundo e a vida a partir dessa certeza, é como sairmos à luz do dia, após termos vagueado, errantes, por um labirinto de sombras que jamais conduzirá à parte nenhuma.
Luz solar para a vida é, com efeito, contemplarmo-nos a nós mesmos como aquilo que realmente somos: obra de Deus, feitura de Deus, seus filhos.
Deus criador, certamente, não fez o mundo de maneira impensada, como que por um descuido; seria absurdo só imaginar isso. Deus criou o mundo e, dentro dele, o homem, agindo como quem é: a suma Sabedoria, o supremo Amor.
Isto significa, para já, que o homem não só não é fruto do acaso, como é o fruto de um pensamento e de um querer divinos. Para expressá-lo com a nossa linguagem comum: o homem — como, de resto, toda a criação — é um projeto idealizado por Deus. Desde sempre, esteve na mente de Deus o modelo ideal do ser humano e, ao mesmo tempo, a idéia exata daquilo que é a verdade e obem do homem, daquilo que o pode levar à plenitude e à felicidade. Essa idéia do bem do homem, concebida pela Sabedoria de Deus, é precisamente a lei moral, que a teologia cristã chama lei eterna(porque existe eternamente em Deus e é válida eternamente, para todos os seres humanos).
Santo Tomás, concisamente, resume a questão dizendo que a lei eterna — norma moral suprema para a consciência do homem — é “a razão da divina Sabedoria que conduz tudo ao devido fim” (Suma Teológica, I-II, quest. 93, art. 1). O que equivale a dizer: a Sabedoria divina “sabe”; a Sabedoria divina conhece a razão por que isto e não aquilo é um bem para o homem. Em suma, só Deus conhece perfeitamente o que o homem é e aquilo que o conduz à sua realização.
Essa idéia, esse plano sobre o homem, Deus o descortina nos mandamentos da sua lei: fundamentalmente, nos Dez Mandamentos. É exatamente isso que a Encíclica Veritatis splendor de João Paulo II recorda com limpidez: “Deus, que é o único bom (cf. Mt 19,17)conhece perfeitamente o que é bom para o homem, e, devido ao seu mesmo amor, o propõe nos mandamentos” (n. 35).
Nesta última frase aparece uma expressão interessante: “propõe”. Isto quer dizer que os mandamentos “mandam”, certamente, mas não nos são “impostos” à força por Deus. O ser humano foi criado livre; não é pura matéria, cegamente submetida a umas leis físicas às quais não se pode subtrair. Dotado por Deus de uma alma espiritual e imortal — imagem e semelhança de Deus (Gn 1,26) —, o homem é chamado a atingir o seu fim de modo consciente e voluntário, livremente. E é a sua consciência que, conhecendo a lei que lhe propõe o bem, deve julgar se — em conformidade com essa lei — as suas escolhas e as suas ações estão certas ou erradas.
“Na intimidade da consciência — lê-se na Constituição Gaudium et spes do Concílio Vaticano II —, o homem descobre uma lei. Ele não a dá a si mesmo. Mas a ela deve obedecer. Chamando-o sempre a amar e a fazer o bem e evitar o mal, no momento oportuno a voz dessa lei soa-lhe nos ouvidos do coração: faze isto, evita aquilo [...]. Obedecer a ela é a própria dignidade do homem, que será julgado de acordo com essa lei” (n. 16).
Já desde os primórdios do Cristianismo, o ensinamento moral apresentava a decisão livre de obedecer “à voz dessa lei” como absolutamente determinante do significado e do bom termo da existência. A Didaqué ou Doutrina dos doze Apóstolos, um escrito cristão do século I, começa assim: “Há dois caminhos: um da vida e outro da morte. A diferença entre ambos é grande”. O caminho da vida — explica — consiste em amar a Deus e o próximo e observar todos os outros mandamentos. Pelo contrário, quem despreza os mandamentos e se entrega às paixões, hipocrisias, orgulho, adultério, rapinagens, etc., esse envereda pelo caminho da morte. “Filho, fica longe de tudo isso”, exorta o autor anônimo desse antiquíssimo escrito (itens I e II).
Se o homem observar, com fé e amor, a santa lei de Deus, andará na verdade (Jo 3,4) e viverá (Lc 10,28). Se optar pela falsa lei do egoísmo e da conveniência, perderá a vida (Mt 16,25-26).

O “não” positivo que permite dizer “sim”
 Não sei se reparou, mas cada proibição da lei de Deus, quando bem entendida, é o não imprescindível para poder dizer um sim amoroso e feliz. Se Deus nos proíbe que odiemos, e nos manda dizer não ao ódio, é para que possamos dizer um sim total ao amor, para que fiquemos liberados para o amor sem fim. Se Deus nos diz: “Não pecarás contra a castidade”, “Não cometerás adultério”, é para que, dizendo não ao sexo egoísta, possamos dizer sim ao amor profundo e fiel, vivido com a alma e com o corpo, dentro do matrimônio santo, generoso e fecundo. Dizer não à devassidão e à impureza é “afirmar jubilosamente” — como dizia São Josemaria Escrivá — que a castidade é própria de enamorados que sabem entregar-se e aprendem a dar-se, iluminando o mundo com o seu “dom” sorridente...
Este é um dos preciosos ensinamentos da Encíclica Evangelium vitæ de João Paulo II, que assenta a defesa da vida — contra os crimes do aborto e da eutanásia — sobre as bases firmes do preceito negativo: “Não matarás”. Vale a pena transcrever alguns trechos:
“Os mandamentos de Deus ensinam-nos o caminho da vida. Os preceitos morais negativos, isto é, aqueles que declaram moralmente inaceitável a escolha de determinada ação, têm um valor absoluto para a liberdade humana: valem sempre e em todas as circunstâncias sem exceção. Indicam que a escolha de determinado comportamento é radicalmente incompatível com o amor de Deus e com a dignidade da pessoa humana, criada à sua imagem […].
“Já neste sentido, os preceitos morais negativos têm uma função positiva importantíssima: o «não» que exigem incondicionalmente aponta o limite intransponível abaixo do qual o homem livre não pode descer, e simultaneamente indica o mínimo que ele deve respeitar e do qual deve partir para pronunciar inumeráveis «sins», capazes de cobrir progressivamente todo o horizonte do bem, em cada um dos seus âmbitos” (n. 75).
Este é o magnífico panorama que a lei divina desvenda à consciência moral. Estando, como estamos, tão propensos a saltar fora do caminho, a afundar no egoísmo, a errar e perder-nos, é natural que o fato de descobrir essas verdades nos mova a elevar a Deus um cântico de agradecimento por ter inscrito nos nossos corações, e ter-nos ensinado tão claramente, pela Revelação divina, o caminho santo da lei: Quanto amo, Senhor, a vossa lei; durante o dia todo eu a medito...; os vossos mandamentos são a verdade; a vossa palavra é um facho que ilumina os meus passos, é uma luz no meu caminho; correrei pelo caminho dos vossos mandamentos, porque sois Vós que dilatais o meu coração (Sl 119,32.97.105.151).

(Adaptação de um texto do livro de F. Faus: A voz da consciência)

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Documento.Nota com indicações pastorais para o Ano da Fé.


CONGREGAÇÃO PARA A DOUTRINA DA FÉ
Nota com indicações pastorais para o Ano da Fé

INTRODUÇÃO

Com a Carta apostólica Porta fidei de 11 de outubro de 2011, o Santo Padre Bento XVI convocou um Ano da Fé. Ele começará no dia 11 de outubro 2012, por ocasião do qüinquagésimo aniversário da abertura do Concílio Ecumênico Vaticano II, e terminará aos 24 de novembro de 2013, Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do Universo.

Este ano será uma ocasião propícia a fim de que todos os fiéis compreendam mais profundamente que o fundamento da fé cristã é “o encontro com um acontecimento, com uma Pessoa que dá à vida um novo horizonte e, desta forma, o rumo decisivo”. [1] Fundamentada no encontro com Jesus Cristo ressuscitado, a fé poderá ser redescoberta na sua integridade e em todo o seu esplendor. “Também nos nossos dias a fé é um dom que se deve redescobrir, cultivar e testemunhar” para que o Senhor “conceda a cada um de nós viver a beleza e a alegria de sermos cristãos”[2].

O início do Ano da Fé coincide com a grata recordação de dois grandes eventos que marcaram a face da Igreja nos nossos dias: o qüinquagésimo aniversário da abertura do Concílio Vaticano II, desejado pelo beato João XXIII (11 de outubro de 1962), e o vigésimo aniversário da promulgação do Catecismo da Igreja Católica, oferecido à Igreja pelo beato João Paulo II (11 de outubro de 1992).

O Concílio, segundo o Papa João XXIII, quis “transmitir pura e íntegra a doutrina, sem atenuações nem subterfúgios”, empenhando-se para que “esta doutrina certa e imutável, que deve ser fielmente respeitada, seja aprofundada e exposta de forma a responder às exigências do nosso tempo”[3]. A este propósito, continua sendo de importância decisiva o início da Constituição dogmática Lumen gentium: “A luz dos povos é Cristo: por isso, este sagrado Concílio, reunido no Espírito Santo, deseja ardentemente iluminar com a Sua luz, que resplandece no rosto da Igreja, todos os homens, anunciando o Evangelho a toda a criatura (cfr. Mc. 16,15)”[4]. A partir da luz de Cristo, que purifica, ilumina e santifica na celebração da sagrada liturgia (cf. Constituição Sacrosanctum Concilium) e com a sua palavra divina (cf. Constituição dogmática Dei Verbum), o Concílio quis aprofundar a natureza íntima da Igreja (cf. Constituição dogmática Lumen gentium) e a sua relação com o mundo contemporâneo (cf. Constituição pastoral Gaudium et spes). Ao redor das suas quatro Constituições, verdadeiras pilastras do Concílio, se agrupam as Declarações e os Decretos, que enfrentam alguns dos maiores desafios do tempo.

Depois do Concílio, a Igreja se empenhou na assimilação (receptio) e na aplicação do seu rico ensinamento, em continuidade com toda a Tradição, sob a guia segura do Magistério. A fim de favorecer a correta assimilação do Concílio, os Sumos Pontífices convocaram amiúde o Sínodo dos Bispos[5], instituído pelo Servo de Deus Paulo VI em 1965, propondo à Igreja orientações claras por meio das diversas Exortações apostólicas pós-sinodais. A próxima Assembléia Geral do Sínodo dos Bispos, no mês de outubro de 2012, terá como tema: A nova evangelização para a transmissão da fé cristã.

Desde o começo do seu pontificado, o Papa Bento XVI se empenhou de maneira decisiva por uma correta compreensão do Concílio, rechaçando como errônea a assim chamada “hermenêutica da descontinuidade e da ruptura” e promovendo aquele que ele mesmo chamou de “’hermenêutica da reforma’”, da renovação na continuidade do único sujeito-Igreja, que o Senhor nos concedeu; é um sujeito que cresce no tempo e se desenvolve, permanecendo porém sempre o mesmo, único sujeito do Povo de Deus a caminho”[6].

Catecismo da Igreja Católica, pondo-se nesta linha, é, de um lado, “verdadeiro fruto do Concílio Vaticano II”[7], e de outro pretende favorecer a sua assimilação. O Sínodo Extraordinário dos Bispos de 1985, convocado por ocasião do vigésimo aniversário da conclusão do Concílio Vaticano II e para efetuar um balanço da sua assimilação, sugeriu que fosse preparado esteCatecismo a fim de oferecer ao Povo de Deus um compêndio de toda a doutrina católica e um texto de referência segura para os catecismos locais. O Papa João Paulo II acolheu a proposta como desejo “de responder plenamente a uma necessidade verdadeira da Igreja Universal e das Igrejas particulares”[8]. Redigido em colaboração com todo o Episcopado da Igreja Católica, este Catecismo “exprime verdadeiramente aquela a que se pode chamar a ‘sinfonia da fé’”[9].

Catecismo compreende “coisas novas e velhas (cf. Mt 13,52), porque a fé é sempre a mesma e simultaneamente é fonte de luzes sempre novas. Para responder a esta dupla exigência, o ‘Catecismo da Igreja Católica’ por um lado retoma a ‘antiga’ ordem, a tradicional, já seguida pelo Catecismo de São Pio V, articulando o conteúdo em quatro partes: o Credo; a sagrada Liturgia, com os sacramentos em primeiro plano; o agir cristão, exposto a partir dos mandamentos; e por fim a oração cristã. Mas, ao mesmo tempo, o conteúdo é com freqüência expresso de um modo ‘novo’, para responder às interrogações da nossa época”[10]. Este Catecismo é “um instrumento válido e legítimo a serviço da comunhão eclesial e como uma norma segura para o ensino da fé.”[11]. Nele os conteúdos da fé encontram “a sua síntese sistemática e orgânica. Nele, de facto, sobressai a riqueza de doutrina que a Igreja acolheu, guardou e ofereceu durante os seus dois mil anos de história. Desde a Sagrada Escritura aos Padres da Igreja, desde os Mestres de teologia aos Santos que atravessaram os séculos, o Catecismo oferece uma memória permanente dos inúmeros modos em que a Igreja meditou sobre a fé e progrediu na doutrina para dar certeza aos crentes na sua vida de fé.”[12].

Ano da Fé quer contribuir para uma conversão renovada ao Senhor Jesus e à redescoberta da fé, para que todos os membros da Igreja sejam testemunhas credíveis e alegres do Senhor ressuscitado no mundo de hoje, capazes de indicar a “porta da fé” a tantas pessoas que estão em busca. Esta “porta” escancara o olhar do homem para Jesus Cristo, presente no nosso meio “todos os dias, até o fim do mundo” (Mt 28, 20). Ele nos mostra como “a arte de viver” se aprende “numa relação profunda com Ele”[13]. “Com o seu amor, Jesus Cristo atrai a Si os homens de cada geração: em todo o tempo, Ele convoca a Igreja confiando-lhe o anúncio do Evangelho, com um mandato que é sempre novo. Por isso, também hoje é necessário um empenho eclesial mais convicto a favor duma nova evangelização, para descobrir de novo a alegria de crer e reencontrar o entusiasmo de comunicar a fé”[14].

Por ordem do Papa Bento XVI[15], a Congregação para a Doutrina da Fé redigiu a presente Nota, em acordo com os Dicastérios competentes da Santa Sé e com a contribuição do Comitê para a preparação do Ano da Fé[16], com algumas indicações para viver este tempo de graça, sem excluir outras propostas que o Espírito Santo quiser suscitar entre os Pastores e os fiéis nas diversas partes do mundo.


INDICAÇÕES

“Eu sei em quem pus a minha fé” (2 Tm 1, 12): esta palavra de São Paulo nos ajuda a compreender que “antes de mais, a fé é uma adesão pessoal do homem a Deus. Ao mesmo tempo, e inseparavelmente, é o assentimento livre a toda a verdade revelada por Deus[17]. A fé como confiança pessoal no Senhor e a fé que professamos no Credo são inseparáveis, se atraem e se exigem reciprocamente. Existe uma ligação profunda entre a fé vivida e os seus conteúdos: a fé das testemunhas e dos confessores é também a fé dos apóstolos e dos doutores da Igreja.

Neste sentido, as seguintes indicações para o Ano da Fé desejam favorecer tanto o encontro com Cristo por meio de autênticas testemunhas da fé, quanto o conhecimento sempre maior dos seus conteúdos. Trata-se de propostas que visam solicitar, de maneira exemplificativa, a pronta responsabilidade eclesial diante do convite do Santo Padre a viver em plenitude este Ano como um especial “tempo de graça”[18]. A redescoberta alegre da fé poderá contribuir também a consolidar a unidade e a comunhão entre as diversas realidades que compõem a grande família da Igreja.

I. A nível da Igreja universal

1. O principal evento eclesial no começo do Ano da Fé será a XIII Assembléia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, convocada pelo Papa Bento XVI para o mês de outubro de 2012 e dedicada à Nova evangelização para a transmissão da fé cristã. Durante este Sínodo, no dia 11 de outubro de 2012, acontecerá uma celebração solene de inauguração do Ano da Fé, recordando o qüinquagésimo aniversário de abertura do Concílio Vaticano II.

2. No Ano da Fé devem-se encorajar as romarias dos fiéis à Sé de Pedro, para ali professarem a fé em Deus Pai, Filho e Espírito Santo, unindo-se àquele que é chamado hoje a confirmar seus irmãos na fé (cf. Lc 22, 32). Será importante favorecer também as romarias à Terra Santa, lugar que por primeiro viu a presença de Jesus, o Salvador, e de Maria, sua mãe.

3. No decorrer deste Ano será útil convidar os fiéis a se dirigirem com devoção especial a Maria, figura da Igreja, que “reúne em si e reflete os imperativos mais altos da nossa fé”[19]. Assim pois deve-se encorajar qualquer iniciativa que ajude os fiéis a reconhecer o papel especial de Maria no mistério da salvação, a amá-la filialmente e a seguir a sua fé e as suas virtudes. A tal fim será muito conveniente organizar romarias, celebrações e encontros junto dos maiores Santuários.

4. A próxima Jornada Mundial da Juventude no Rio de Janeiro em 2013 oferecerá uma ocasião privilegiada aos jovens para experimentar a alegria que provém da fé no Senhor Jesus e da comunhão com o Santo Padre, na grande família da Igreja.

5. Deseja-se que sejam organizados simpósios, congressos e encontros de grande porte, também a nível internacional, que favoreçam o encontro com autênticos testemunhos da fé e o conhecimento dos conteúdos da doutrina católica. Demonstrando como também hoje a Palavra de Deus continua a crescer e a se difundir, será importante dar testemunho de que em Jesus Cristo “encontra plena realização toda a ânsia e anélito do coração humano”[20] e que a fé “se torna um novo critério de entendimento e de ação que muda toda a vida do homem”[21]. Alguns congressos serão dedicados à redescoberta dos ensinamentos do Concílio Vaticano II.

6. Para todos os crentes, o Ano da Fé oferecerá uma ocasião favorável para aprofundar o conhecimento dos principais Documentos do Concílio Vaticano II e o estudo do Catecismo da Igreja Católica. Isto vale de modo particular para os candidatos ao sacerdócio, sobretudo durante o ano propedêutico ou nos primeiros anos dos estudos teológicos, para as noviças e os noviços dos Institutos de Vida Consagrada e das Sociedades de Vida Apostólica, bem como para aqueles que vivem um período de prova para incorporar-se a uma Associação ou a um Movimento eclesial.

7. Este Ano será a ocasião propícia para acolher com maior atenção as homilias, as catequeses, os discursos e as outras intervenções do Santo Padre. Os Pastores, as pessoas consagradas e os fiéis leigos serão convidados a um empenho renovado de efetiva e cordial adesão ao ensinamento do Sucessor de Pedro.

8. Durante o Ano da Fé, se deseja que haja várias iniciativas ecumênicas, em colaboração com o Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos, com o fim de invocar e favorecer “a restauração da unidade entre todos os cristãos” que é “um dos principais propósitos do sagrado Concílio Ecumênico Vaticano II”[22]. Em particular, acontecerá uma solene celebração ecumênica a fim de reafirmar a fé em Cristo por parte de todos os batizados.

9. Junto ao Pontifício Conselho para a Promoção da Nova Evangelização será instituída umaSecretaria especial para coordenar as diversas iniciativas relativas ao Ano da Fé, promovidas pelos vários Dicastérios da Santa Sé ou que tenham relevância para a Igreja universal. Será conveniente informar com tempo esta Secretaria sobre os principais eventos organizados: ela também poderá sugerir iniciativas oportunas a respeito. A Secretaria abrirá para tanto um siteinternet com a finalidade de oferecer todas as informações úteis para viver de modo eficaz o Ano da Fé.

10. Por ocasião da conclusão deste Ano, na Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo Rei do Universo, acontecerá uma Eucaristia celebrada pelo Santo Padre, na qual se renovará solenemente a profissão de fé.

II. A nível das Conferências Episcopais[23]

1. As Conferências Episcopais poderão dedicar uma jornada de estudo ao tema da fé, do seu testemunho pessoal e da sua transmissão às novas gerações, na consciência da missão específica dos Bispos como mestres e “arautos da fé”[24].

2. Será útil favorecer a republicação dos Documentos do Concílio Vaticano II, do Catecismo da Igreja Católica e do seu Compêndio, também em edições de bolso e econômicas, e a sua maior difusão possível com a ajuda dos meios eletrônicos e das tecnologias modernas.

3. Deseja-se um esforço renovado para traduzir os Documentos do Concílio Vaticano II e oCatecismo da Igreja Católica nas línguas em que ainda não existem. Encorajam-se as iniciativas de sustento caritativo para tais traduções nas línguas locais dos Países em terra de missão, onde as Igrejas particulares não podem arcar com as despesas. Tudo isto seja feito sob a guia da Congregação para a Evangelização dos Povos.

4. Os Pastores, haurindo das novas linguagens de comunicação, devem se empenhar para promover transmissões televisivas ou radiofônicas, filmes e publicações, também a nível popular e acessíveis a um grande público, sobre o tema da fé, dos seus princípios e conteúdos, como também sobre o significado eclesial do Concílio Vaticano II.

5. Os Santos e os Beatos são as autênticas testemunhas da fé[25]. Portanto será oportuno que as Conferências Episcopais se empenhem para difundir o conhecimento dos Santos do próprio território, utilizando também os modernos meios de comunicação social.

6. O mundo contemporâneo é sensível à relação entre fé e arte. Neste sentido, se aconselha às Conferências Episcopais a valorizar adequadamente, em função catequética e eventualmente em colaboração ecumênica, o patrimônio das obras de arte presentes nos lugares confiados à sua cura pastoral.

7. Os docentes nos Centros de estudos teológicos, nos Seminários e nas Universidades católicas são convidados a verificar a relevância, no exercício do próprio magistério, dos conteúdos doCatecismo da Igreja Católica e das implicações que daí derivam para as respectivas disciplinas.

8. Será útil preparar, com a ajuda de teólogos e autores competentes, subsídios de divulgação com caráter apologético (cf. 1 Pd 3, 15). Assim cada fiel poderá responder melhor às perguntas que se fazem nos diversos âmbitos culturais, ora no tocante aos desafios das seitas, ora aos problemas ligados ao secularismo e ao relativismo, ora “a uma série de interrogativos, que provêm duma diversa mentalidade que, hoje de uma forma particular, reduz o âmbito das certezas racionais ao das conquistas científicas e tecnológicas”[26], como também a outras dificuldades específicas.

9. Deseja-se um controle dos catecismos locais e dos vários subsídios catequéticos em uso nas Igrejas particulares, para garantir a sua conformidade plena com o Catecismo da Igreja Católica[27]. No caso em que alguns catecismos ou subsídios não estejam em plena sintonia com o Catecismo, ou revelem algumas lacunas, poder-se-á encetar a elaboração de novos, eventualmente segundo o exemplo e a ajuda de outras Conferências Episcopais que já providenciaram à sua redação.

10. Será oportuna, em colaboração com a competente Congregação para a Educação Católica, um controle da presença dos conteúdos do Catecismo da Igreja Católica na Ratio da formação dos futuros sacerdotes e no Curriculum dos seus estudos teológicos.

III. A nível diocesano

1. Deseja-se uma celebração de abertura do Ano da Fé e uma solene conclusão do mesmo a nível de cada Igreja particular, ocasião para “confessar a fé no Senhor Ressuscitado nas nossas catedrais e nas igrejas do mundo inteiro”[28].

2. Será oportuno organizar em cada Diocese do mundo uma jornada sobre o Catecismo da Igreja Católica, convidando especialmente os sacerdotes, as pessoas consagradas e os catequistas. Nesta ocasião, por exemplo, as Eparquias orientais católicas poderiam preparar um encontro com os sacerdotes para testemunhar a sensibilidade específica e a tradição litúrgica próprias ao interno da única fé em Cristo; assim as jovens Igrejas particulares nas terras de missão poderão ser convidadas a oferecer um testemunho renovado daquela alegria na fé que tanto as caracterizam.

3. Cada Bispo poderá dedicar uma sua Carta pastoral ao tema da fé, recordando a importância do Concílio Vaticano II e do Catecismo da Igreja Católica levando em conta as circunstâncias pastorais específicas da porção de fiéis a ele confiada.

4. Deseja-se que em cada Diocese, sob a responsabilidade do Bispo, sejam organizados momentos de catequese, destinados aos jovens e àqueles que estão em busca de um sentido para a vida, com a finalidade de descobrir a beleza da fé eclesial, e que sejam promovidos encontros com as testemunhas significativas da mesma.

5. Será oportuno controlar a assimilação (receptio) do Concílio Vaticano II e do Catecismo da Igreja Católica na vida e na missão de cada Igreja particular, especialmente em âmbito catequético. Neste sentido se deseja um empenho renovado por parte dos Ofícios catequéticos das Dioceses, os quais – com o apoio das Comissões para a Catequese das Conferências Episcopais ; têm o dever de providenciar à formação dos catequistas no que diz respeito aos conteúdos da fé.

6. A formação permanente do clero poderá ser concentrada, especialmente neste Ano da Fé, nos Documentos do Concílio Vaticano II e no Catecismo da Igreja Católica, tratando, por exemplo, de temas como “o anúncio do Cristo ressuscitado”, “a Igreja, sacramento de salvação”, “a missão evangelizadora no mundo de hoje”, “fé e incredulidade”, “fé, ecumenismo e diálogo interreligioso”, “fé e vida eterna”, “a hermenêutica da reforma na continuidade”, “o Catecismo na preocupação pastoral ordinária”.

7. Os Bispos são convidados a organizar, especialmente no período da quaresma, celebrações penitenciais nas quais se peça perdão a Deus, também e particularmente, pelos pecados contra a fé. Este Ano será também um tempo favorável para se aproximar com maior fé e maior freqüência do sacramento da Penitência.

8. Deseja-se um envolvimento do mundo acadêmico e da cultura por uma renovada ocasião de diálogo criativo entre fé e razão por meio de simpósios, congressos e jornadas de estudo, especialmente nas Universidades católicas, mostrando “que não é possível haver qualquer conflito entre fé e ciência autêntica, porque ambas, embora por caminhos diferentes, tendem para a verdade”[29].

9. Será importante promover encontros com pessoas que, “embora não reconhecendo em si mesmas o dom da fé, todavia vivem uma busca sincera do sentido último e da verdade definitiva acerca da sua existência e do mundo”[30], inspirando-se também nos diálogos do Pátio dos Gentios, organizados sob a guia do Conselho Pontifício para a Cultura.

10. O Ano da Fé poderá ser uma ocasião para prestar uma maior atenção às Escolas católicas, lugares próprios para oferecer aos alunos um testemunho vivo do Senhor e para cultivar a sua fé com uma referência oportuna à utilização de bons instrumentos catequéticos, como por exemplo, oCompêndio do Catecismo da Igreja Católica ou como o Youcat.

IV. A nível das paróquias / comunidades / associações / movimentos

1. Em preparação para o Ano da Fé, todos os fiéis são convidados a ler e meditar atentamente a Carta apostólica Porta fidei do Santo Padre Bento XVI.

2. O Ano da Fé “será uma ocasião propícia também para intensificar a celebração da fé na liturgia, particularmente na Eucaristia”[31]. Na Eucaristia, mistério da fé e fonte da nova evangelização, a fé da Igreja é proclamada, celebrada e fortalecida. Todos os fiéis são convidados a participar dela conscientemente, ativamente e frutuosamente, a fim de serem testemunhas autênticas do Senhor.

3. Os sacerdotes poderão dedicar maior atenção ao estudo dos Documentos do Concílio Vaticano II e do Catecismo da Igreja Católica, tirando daí fruto para a pastoral paroquial – a catequese, a pregação, a preparação aos sacramentos – e propondo ciclos de homilias sobre a fé ou sobre alguns dos seus aspectos específicos, como por exemplo “o encontro com Cristo”, “os conteúdos fundamentais do Credo”, “a fé e a Igreja”[32].

4. Os catequistas poderão haurir sobremaneira da riqueza doutrinal do Catecismo da Igreja Católica e guiar, sob a responsabilidade dos respectivos párocos, grupos de fiéis à leitura e ao aprofundimento deste precioso instrumento, a fim de criar pequenas comunidades de fé e de testemunho do Senhor Jesus.

5. Deseja-se que nas paróquias haja um empenho renovado na difusão e na distribuição doCatecismo da Igreja Católica ou de outros subsídios adequados às famílias, que são autênticas igrejas domésticas e primeiro lugar da transmissão da fé, como por exemplo no contexto das bênçãos das casas, dos Batismos dos adultos, das Crismas, dos Matrimônios. Isto poderá contribuir para a confissão e aprofundimento da doutrina católica “nas nossas casas e no meio das nossas famílias, para que cada um sinta fortemente a exigência de conhecer melhor e de transmitir às gerações futuras a fé de sempre”[33].

6. Será oportuno promover missões populares e outras iniciativas nas paróquias e nos lugares de trabalho para ajudar os fiéis a redescobrir o dom da fé batismal e a responsabilidade do seu testemunho, na consciência de que a vocação cristã “é também, por sua própria natureza, vocação ao apostolado”[34].

7. Neste tempo, os membros dos Institutos de Vida Consagrada e das Sociedades de Vida Apostólica são solicitados a se empenhar na nova evangelização, com uma adesão renovada ao Senhor Jesus, pela contribuição dos próprios carismas e na fidelidade ao Santo Padre e à sã doutrina.

8. As Comunidades contemplativas durante o Ano da Fé dedicarão uma intenção de oração especial para a renovação da fé no Povo de Deus e para um novo impulso na sua transmissão às jovens gerações.

9. As Associações e os Movimentos eclesiais são convidados a serem promotores de iniciativas específicas, as quais, pela contribuição do próprio carisma e em colaboração com os Pastores locais, sejam inseridas no grande evento do Ano da Fé. As novas Comunidades e os Movimentos eclesiais, de modo criativo e generoso, saberão encontrar os modos mais adequados para oferecer o próprio testemunho de fé ao serviço da Igreja.

10. Todos os fiéis, chamados a reavivar o dom da fé, tentarão comunicar a própria experiência de fé e de caridade[35] dialogando com os seus irmãos e irmãs, também com os das outras confissões cristãs, com os seguidores de outras religiões e com aqueles que não crêem ou são indiferentes. Deste modo se deseja que todo o povo cristão comece uma espécie de missão endereçada aqueles com os quais vive e trabalha, com consciência de ter recebido “a mensagem da salvação para a comunicar a todos”[36].

CONCLUSÃO

A fé “é companheira de vida, que permite perceber, com um olhar sempre novo, as maravilhas que Deus realiza por nós. Solícita a identificar os sinais dos tempos no hoje da história, a fé obriga cada um de nós a tornar-se sinal vivo da presença do Ressuscitado no mundo”[37]. A fé é um ato pessoal e ao mesmo tempo comunitário: é um dom de Deus que deve ser vivenciado na grande comunhão da Igreja e deve ser comunicado ao mundo. Cada iniciativa para o Ano da Fé quer favorecer a alegre redescoberta e o testemunho renovado da fé. As indicações aqui oferecidas têm o fim de convidar todos os membros da Igreja ao empenho a fim de que este Ano seja a ocasião privilegiada para partilhar aquilo que o cristão tem de mais caro: Cristo Jesus, Redentor do homem, Rei do Universo, “autor e consumador da fé” (Heb 12, 2).
Roma, da Sede da Congregação para a Doutrina da Fé, aos 6 de janeiro de 2012, Solenidade da Epifania do Senhor.

WILLIAM Card. LEVADA
Prefeito

+ LUIS F. LADARIA, S.I.
Arcebispo titular de Thibica
Secretário


[1] Bento XVI, Carta Enc. Deus caritas est, 25 de dezembro de 2005, n. 1.
[2] Id., Homilia na Festa do Batismo do Senhor, 10 de janeiro 2010.
[3] João XXIII, Discurso de solene abertura do Concílio Ecumênico Vaticano II, 11 de outubro de 1962.
[4] Conc. Ecum. Vat. II, Const. dogm. Lumen gentium, n. 1.
[5] As assembléias Ordinárias do Sínodo dos Bispos trataram os seguintes temas: A preservação e o fortalecimento da fé católica, a sua integridade, o seu vigor, o seu desenvolvimento, a sua coerência doutrinal e histórica (1967), O sacerdócio ministerial e a justiça no mundo (1971),A evangelização no mundo moderno (1974), A catequese no nosso tempo (1977), A família cristã (1980), A penitência e a reconciliação na missão da Igreja (1983), A vocação e a missão dos leigos na Igreja e no mundo (1987), A formação dos sacerdotes nas circunstâncias atuais (1991), A vida consagrada e a sua missão na Igreja e no mundo (1994),O Bispo: servidor do Evangelho de Jesus Cristo para a esperança do mundo (2001), A Eucaristia: fonte e ápice da vida e da missão da Igreja (2005), A Palavra de Deus na vida e na missão da Igreja (2008).
[6] Bento XVI, Discurso à Cúria Romana, 22 de dezembro de 2005.
[7] Id. Carta ap. Porta fidei, n. 4.
[8] João Paulo II, Discurso de conclusão da II Assembléia Extraordinária do Sínodo dos Bispos, 7 de dezembro de 1985, n. 6. O próprio Sumo Pontífice, na fase inicial do mesmo Sínodo, durante o Ângelus de 24 de novembro de 1985, dizia: “A fé é o princípio fundamental, é o cardo, o critério essencial da renovação querida pelo Concílio. Da fé deriva a norma, o estilo de vida, a orientação prática em qualquer circunstância”.
[9] Id., Const. ap. Fidei depositum, 11 de outubro de 1992, n. 2.
[10] Ibid., n. 3
[11] Ibid., n. 4.
[12] Bento XVI, Carta ap. Porta fidei, n. 11.
[14] Id. Carta ap. Porta fidei, n. 7.
[15] Cf. ibid., n. 12
[16] Este Comitê, constituído junto à Congregação para a Doutrina da Fé por mandato do Santo Padre Bento XVI, contará entre seus membros: os Cardeais William Levada, Francis Arinze, Ângelo Bagnasco, Ivan Dias, Francis E. George, Zenon Grocholewski, Marc Ouellet, Mauro Piacenza, Jean-Pierre Ricard, Staniław Ryłko e Christoph Schönborn; gli Arcivescovi Luis F. Ladaria e Salvatore Fisichella; i Vescovi Maria del Valle Moronta Rodriguez, Gerhard Ludwig Müller e Raffaello Martinelli.
[18] Bento XVI, Carta ap. Porta fidei, n. 15.
[19] Conc. Ecum. Vat. II, Const. dogm. Lumen gentium, n. 65.
[20] Bento XVI, Carta ap. Porta fidei, n. 13.
[21] Ibid., n. 6
[22] Conc. Ecum. Vat. II, Decr. Unitatis redintegratio, 1.
[23] As indicações oferecidas às Conferências Episcopais valem de modo análogo também para os Sínodos dos Bispos das Igrejas Patriarcais e Arquiepiscopais Maiores e para as Assembléias dos Hierarcas das Igrejas sui iuris.
[24] Conc. Ecum. Vat. II, Const. dogm. Lumen gentium, n. 25.
[25] Cf. Bento XVI, Carta ap. Porta fidei, n. 13.
[26] Ibid., n. 12.
[27]Cf. João Paulo II, Cons. Ap. Fidei depositum, n. 4.
[28] Bento XVI, Carta ap. Porta fidei, n. 8.
[29] Ibid., n. 12.
[30] Ibid., n. 10.
[31] Ibid., n. 9.
[32]Cf. Bento XVI, Exort. Ap. Pós-Sinodal Verbum Domini, 30 de setembro de 2010, nn. 59-60 e 74.
[33] Id., Carta ap. Porta fidei, n. 8.
[34] Conc. Ecum. Vat. II, Decr. Apostolicam actuositatem, n. 2.
[35] Cf. Bento XVI, Carta ap. Porta fidei, n. 14.
[36] Conc. Ecum. Vat. II, Cost. Past. Gaudium et spes, n. 1.
[37] Bento XVI, Carta ap. Porta fidei, n. 15.