O governo da sociedade
não é função de clérigos. Vamos começar já com esse impacto que parece óbvio, mas que na prática acaba não funcionando na cabeça de muitos. O governo da sociedade é função de leigos. Nós não
deixamos de ser católicos quando entramos nesse meio e não governamos a
sociedade só quando temos cargos eletivos como vereadores, prefeitos,
governadores, deputados... Não é preciso ter cargo eletivo, ser “político” para
ter função de governo da sociedade. Todos os que interferem de uma forma ou de
outra na sociedade fazem o governo dela.
Entendendo
isso, todos os que trabalham, atuam e se manifestam na sociedade auxiliam no
governo dessa mesma sociedade de alguma forma. A questão aqui está em como
devemos atuar. Nós vamos esquecer nossos valores religiosos quando atuamos ou
vamos inserir isso na sociedade? É justamente isso que a Igreja pede a todos
nós que somos leigos. Precisamos atuar na sociedade sem esquecer que somos
católicos. Mais que isso, precisamos atuar na sociedade sem esquecer que
cristianizar e santificar a sociedade é nossa função principal, ordinária.
É nesse ponto
que o documento Apostolicam Actuositatem, 11 sugere a nossa interferência no
que pareceu uma certa ordem de importância: primeiro as necessidades familiares
de habitação e educação dos filhos. Depois as condições de trabalho seguros
sociais e impostos.
Quando fala de
necessidades de habitação e educação dos filhos, a Igreja espera tanto que o
Estado interfira nisso apenas de forma subsidiária, ou seja, quando a família
não conseguir resolver, o Estado entra para solucionar e já sai imediatamente
do âmbito familiar após resolvida a situação, quanto que o Estado faça sua parte bem feita e sem interferências ideológicas quando for preciso fazer. Infelizmente não é isso que temos
visto. Não temos visto nenhum tipo de subsidiariedade. O que temos visto é o
Estado invadindo o âmbito familiar como um todo e nisso não estou falando só
sobre o Brasil, é um fenômeno mundial.
As questões de
trabalho, seguro social e impostos, da mesma forma, existem para que a
sociedade seja servida deles e não que o Estado se sirva da sociedade e alguns
privilegiados usem desse serviço. A medida que trabalhamos e vivemos para
sustentar um estado que vai se tornando um peso e não uma solução subsidiária
para os problemas mais gerais, nesse ponto o Estado está com sua função
absolutamente deturpada.
Falamos
bastante nesse ponto sobre subsidiariedade. Vamos explicar um pouco o que
significa isso. Explicar rapidamente. A subsidiariedade é um princípio da
Igreja que é muito usado pela Doutrina Social da Igreja e pelo Direito
Canônico, entre outras áreas também. Quer dizer que a instância superior, mais
forte ou hierarquicamente mais alta não deve interferir na instância inferior
se essa instância inferior conseguir resolver o problema. Em outras palavras,
significa que é melhor deixar para os menores grupos o máximo de resoluções
possíveis. No âmbito da Igreja, a diocese não precisa entrar em problemas que a
paróquia consegue resolver e a paróquia não precisa entrar em problemas que a
família consegue resolver. Funciona da mesma forma para o Estado. O Estado não
entrar no que a família consegue resolver sozinha.
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