RECOMENDAÇÕES
PASTORAIS DA ASSEMBLEIA PLENÁRIA
DA PONTIFÍCIA COMISSÃO PARA A AMÉRICA LATINA
DA PONTIFÍCIA COMISSÃO PARA A AMÉRICA LATINA
A FORMAÇÃO
SACERDOTAL NOS SEMINÁRIOS
Introdução
Nós, Membros e Conselheiros da
Pontifícia Comissão para a América Latina, reunidos em Assembléia Plenária de 17 a 20 de fevereiro de 2009,
refletimos sobre a situação atual da formação sacerdotal nos Seminários da
América Latina e do Caribe. Antes de tudo queremos manifestar a nossa ação de
graças porque o Senhor continua abençoando a nossa terra com novas vocações
sacerdotais. Damos graças a Deus por essa fecundidade apostólica. Todavia,
preocupa-nos as graves dificuldades que devem enfrentar os jovens chamados ao
sacerdócio. Tais dificuldades são devidas à vulnerabilidade e ao
enfraquecimento da identidade espiritual dos candidatos, como também ao impacto
de alguns dos atuais modelos culturais e à frágil situação das famílias de
origem, o que incide também na diminuição do número das vocações sacerdotais e
religiosas.
Nosso povo fiel latino-americano
e caribenho, tão rico em religiosidade nas suas diversas expressões, se
caracteriza por um profundo amor e respeito para com a figura do sacerdote e
espera a sua presença exemplar, piedosa e abnegada, que manifeste e torne
presente Jesus, o Bom Pastor. Aparecida nos lembra "O Povo de Deus sente a
necessidade de presbíteros discípulos: que tenham profunda experiência de Deus,
configurados com o coração do Bom Pastor, dóceis às orientações do Espírito,
que se nutram da Palavra de Deus, da Eucaristia e da oração; de presbíteros
missionários: movidos pela caridade pastoral que os leve a cuidar do rebanho a
eles confiado e a procurar os mais afastados pregando a Palavra de Deus, sempre
em profunda comunhão com seu Bispo, com os presbíteros, diáconos, religiosos,
religiosas e leigos; de presbíteros servidores da vida: que estejam atentos às
necessidades dos mais pobres, comprometidos na defesa dos direitos dos mais fracos,
e promotores da cultura da solidariedade. Também de presbíteros cheios de
misericórdia, disponíveis para administrar o sacramento da reconciliação" [1].
No contexto atual, formar
sacerdotes assim configurados em seu ser e seu agir, constitui um enorme
desafio que exige nossa responsabilidade como Pastores. Um bom Seminário é a
garantia de uma Igreja particular florescida e fecunda. Por isso, nas nossas reflexões,
nos detivemos em considerar algumas linhas para um "projeto formativo do
Seminário que proporcione aos seminaristas um autêntico e integral processo:
humano, espiritual, intelectual e pastoral, centrado em Jesus Cristo o Bom
Pastor" [2].
Ao apresentar algumas
recomendações sobre o processo de formação sacerdotal, fruto das nossas
reflexões, queremos oferecer uma contribuição para esta ampla e complexa tarefa
da formação pastoral dos jovens seminaristas, sem nos deter nas questões de
ordem doutrinal já abundantemente aprofundadas pelo Magistério da Igreja.
I. Dimensões da formação
sacerdotal
Formação humana
1. Tomamos como ponto de partida
aquilo que a Exortação pós Sinodal Pastores
dabo vobisafirma: "Sem uma adequada formação humana, toda a
formação sacerdotal estaria privada do seu necessário fundamento" [3]. A cultura atual
incide tanto positiva como negativamente sobre muitos aspectos da maturidade
humana dos candidatos ao sacerdócio, por isso se requer uma formação que os
prepare a tomar decisões definitivas e a comprometer-se livremente com as
exigências da opção pelo ministério sacerdotal.
2. É uma grave responsabilidade
de toda a comunidade formativa conseguir que os futuros presbíteros cultivem
uma série de qualidades humanas que lhes permitam chegar a personalidades
maduras e livres, capazes de relacionar-se com harmonia e de suportar o peso da
responsabilidade pastoral.
3. O sacerdócio é um chamado a
seguir Cristo que "sendo rico, por nós se fez pobre para enriquecer-nos
com sua pobreza" (2 Cor 8, 9). A fidelidade ao ministério
requer aquelas virtudes que são mais altamente consideradas entre os homens,
virtudes que educam o sacerdote para a renúncia e para a superação das
ambições, de tal maneira que este não se afaste da imitação de Cristo, virtudes
"como são a sinceridade de alma, o diligente cuidado pela justiça, a
fidelidade às promessas, a polidez no agir e uma linguagem sóbria e pautada
pela caridade" [4].
5. O sacerdócio exige a educação
para uma vida ascética que capacite para a disciplina, a renúncia, a
mortificação e o domínio dos sentidos. A formação deve ajudar a alcançar uma
liberdade interior que disponha os candidatos para o seguimento de total doação
a Cristo e ao serviço dos homens.
6. É urgente educar os candidatos
ao sacerdócio para uma afetividade madura que lhes consinta estabelecer
relações humanas equilibradas e lograr contatos de cooperação apostólica com as
mulheres, em consonância com a opção pelo celibato e pelo Reino dos Céus.
7. É de grande importância formar
os aspirantes ao sacerdócio de maneira tal que saibam relacionar-se com
respeito, afeto e proximidade com o bispo e com aqueles que exercem o múnus da
autoridade.
8. Nos Seminários e nas casas de
formação sacerdotal é importante fomentar as equipes de vida, como outras
formas de integração comunitária, que favoreçam o amadurecimento para a
solidariedade, a capacidade para dar e receber, a correção fraterna, e que seja
estímulo para superar o individualismo e o isolamento.
9. Aformação comunitária deve
promover um ambiente de fraternidade e amizade, serenidade e alegria, liberdade
e confiança, mas também de elevados ideais e de normas claras e exigentes, que
introduzam o candidato nas exigências próprias da vida sacerdotal e que o
ajudem a crescer nas diversas virtudes segundo o modelo de Cristo.
10. No que diz respeito a
problemas psicológicos, quando necessário, se haverá de contar com a ajuda
especializada, levando em conta as indicações recentemente traçadas pela
Congregação para a Educação Católica [5].
11. Os meios tecnológicos e
sistemas atuais são ferramentas válidas no campo da informação e da
comunicação. Todavia, se não se educam os jovens para sua reta utilização e não
se disciplina o seu uso, tais meios modernos, como internet, telefones
celulares e outros, podem também constituir-se em fatores negativos no campo da
formação.
Formação espiritual
12. Atualmente um considerável
número de jovens que aspiram ao sacerdócio carece de uma sólida formação cristã
e de uma autêntica vivência de sua realidade batismal. É necessário, portanto,
que o Seminário e as casas de formação religiosa, especialmente no período
propedêutico, ofereça uma iniciação kerigmática, através da qual os candidatos
ao sacerdócio possam viver com alegria o dom do encontro com Jesus Cristo e
consigam converter-se em autênticos discípulos missionários, respondendo assim
à vocação recebida. A este propósito, o Santo Padre nos lembrou que "não
se começa a ser cristão por uma decisão ética ou uma grande idéia, mas sim por
um encontro com um evento, com uma Pessoa, que dá um novo horizonte à vida e,
com este, uma orientação decisiva" [6].
13. É de vital importância para a
formação espiritual do candidato que se infunda nele, desde o início de seu
caminho formativo, a clara consciência de que é ele mesmo o principal, ainda
que não único, agente responsável por sua formação sacerdotal. A finalidade de
tal processo consiste em conseguir abrir-se à ação do Espírito Santo para se
chegar a uma adesão plena à pessoa de Jesus Cristo de tal modo a conformar-se
com seus pensamentos, palavras e ações. O futuro sacerdote é chamado
principalmente a ter, um coração misericordioso como o coração de Jesus,
assumindo em sua própria vida aquilo que exprime o apóstolo São Paulo: ter os
mesmos sentimentos de Cristo(cf. Fl 2, 5) para poder manifestar
aquela mesma proximidade do Senhor aos pecadores, aos que sofrem, aos excluídos
e aos necessitados.
15. Conforme nos recomenda a Pastores
dabo vobis, vivendo "em uma cultura na qual, com novas e
sutis formas de autojustificação, se corre o risco de perder o "sentido do
pecado" e, em consequência a alegria consoladora do perdão (cf Sl 51,
14) e do encontro com Deus "rico em misericórdia" (Ef 2,
4), urge educar os futuros presbíteros para a virtude da penitência, alimentada
com sabedoria pela Igreja em suas celebrações e nos tempos do ano litúrgico, e
que encontra sua plenitude no sacramento da Reconciliação" [8].
16. De igual modo há que se
suscitar em cada futuro sacerdote um profundo amor e uma experiência pessoal do
mistério de Cristo celebrado nos diversos atos litúrgicos da Igreja. A Palavra
de Deus lida, meditada e estudada, pessoal e comunitariamente, sobretudo
através da"lectio divina", e da celebração devota da Liturgia da
Horas deve constituir-se alimento fundamental da oração, da espiritualidade do
futuro sacerdote e da sua prática pastoral. Também é necessário que na
celebração dos mistérios se cultive o sentido do sagrado.
17. Guiada com o amor do Espírito
Santo, a formação espiritual do seminarista há de levar em conta como um dos
seus principais objetivos, de maneira concreta e direta, a vivência e a prática
da caridade e o serviço ao próximo, suscitando nele a experiência da comunhão
com Deus que se desdobra, naturalmente, na busca da comunhão com os irmãos.
18. Por isso, o ambiente que se
respira e a vida comunitária no Seminário devem despertar no futuro sacerdote
uma atitude de permanente contato e abertura à presença da Santíssima Trindade.
19. Para que o formando possa
discernir com clareza a sua vocação ao sacerdócio ministerial, o Seminário e as
casas religiosas de formação devem favorecer e exigir para todos uma segura e
constante direção espiritual, fundada sobre a transparência e articulada com
uma frequente celebração do sacramento da Reconciliação.
20. Ao mesmo tempo, na vida
espiritual, o candidato há de adquirir a capacidade e o hábito de cultivar
momentos de diálogo íntimo e pessoal com Deus sob o modelo de Jesus e sua
relação filial com o Pai de modo que possa harmonizar de maneira fecunda a
oração litúrgica ou comunitária com a vida pessoal de oração. Por isso, é
conveniente, sobretudo no início, instruir o candidato em certas técnicas ou
métodos de oração a que se possa seguir, até ir adquirindo, pouco a pouco, um
estilo e método próprio em sua relação íntima com Deus.
21. Seguindo o chamado do Senhor
a tomar a cruz todos os dias, a formação espiritual deve suscitar no
seminarista una atitude de entrega generosa, de espírito de sacrifício, de
capacidade de renúncia e de controle pessoal. Em conformidade com tal meta, o
Seminário há de propiciar e obrar nos formandos o desenvolvimento de um senso
de responsabilidade pessoal perante as tarefas exigidas, que esteja à altura
daqueles que buscam configurar-se com Cristo em sua total obediência à vontade
do Pai; se fomentará a disposição ao trabalho, a co-responsabilidade e a
atitude de serviço, de acordo com o modelo de Jesus Cristo que não veio para
ser servido mas para servir (cf. Mc 10, 45).
22. Contemplando Maria, a
perfeita discípula que com um "sim" total a Deus em todo momento
esteve disposta a cumprir a vontade divina, o Seminário deve impulsionar um
amor profundo e uma devoção especial à Santíssima Virgem que conduza ao
encontro vivo com o Senhor. Ela, a mãe de Jesus e nossa mãe, tutela a
fidelidade à vocação sacerdotal. Por isso os seminaristas hão de aprender a
invocar a proteção de Maria e de habituar-se a rezar o santo rosário.
23. Fomentar-se-á nos candidatos
ao sacerdócio una natural disposição a adquirir uma boa "cultura
espiritual", recorrendo à leitura guiada de obras da espiritualidade
clássica ou manuais de teologia espiritual que possam ajudar a enriquecer a
própria experiência de Deus e a adquirir uma estrutura interior com fundamentos
sólidos. No mesmo sentido resulta muito enriquecedor o conhecimento da vida dos
santos, e o fomento da devoção pessoal.
24. Os candidatos à vida
sacerdotal hão de receber uma séria formação bíblica, teológica e espiritual
para assumir e viver com fidelidade o celibato, testemunho do amor indiviso a
Jesus Cristo, como um dom de Deus e como um sinal do Reino, do amor de Deus a
este mundo e de sua própria entrega ao Povo de Deus [9]. Certamente se
trata de uma graça que não dispensa a resposta consciente e livre por parte de
quem a recebe, o qual deve abrir-se à ação do Espírito Santo para que lhe ajude
a permanecer fiel durante toda a sua vida e a cumprir com generosidade e
alegria os compromissos correspondentes. Portanto, o bispo, como também os
formadores do Seminário, devem preocupar-se com a formação da castidade no
celibato apresentando este último com clareza sem nenhuma ambiguidade e de
forma positiva [10].
25. O Seminário fomentará nos
formandos o desenvolvimento da espiritualidade da caridade pastoral própria do
sacerdote diocesano cujas linhas fundamentais são:
a. A consciência de
ter sido chamado pelo Pai e impulsionado pelo Espírito Santo para uma
configuração com Cristo Bom Pastor, Sumo e Eterno Sacerdote.
b. Fazer do exercício
fiel e cotidiano do tria munera do ministério sacerdotal o
itinerário por excelência para a santificação pessoal como ensina o Concílio
Vaticano II: "Pois, (os presbíteros) pelos próprios atos litúrgicos de
cada dia, como também por todo seu ministério que exercem em comunhão com o
Bispo e os Presbíteros"[11] e
"estes, na sua tríplice função, alcançarão a santidade de maneira
autêntica, se desempenharem suas tarefas de modo sincero e incansável no
Espírito de Cristo"[12].
c. A vivência da
caridade pastoral, "plasmada e definida por aquelas atitudes e
comportamentos que são próprios de Jesus Cristo, Cabeça e Pastor" [13],
colocada permanentemente ao serviço do povo de Deus.
d. A pertença e
consagração à sua igreja particular, como membro de um presbitério, do qual se
faz parte ao longo de toda a sua vida, como estreito cooperador do bispo e em
comunhão com ele.
Formação intelectual
27. Ao estruturar os estudos
filosóficos e teológicos é necessário articular adequadamente estas duas
disciplinas, as quais devem levar "a abrir, sempre mais, às mentes dos
alunos o Mistério de Cristo, que afeta toda a história do gênero humano, influi
continuamente na Igreja e opera sobretudo através do ministério
sacerdotal" [15].
29. Do mesmo modo, a formação
filosófica deve ser sólida [17],
centrando-se no mistério do ser e suas propriedades transcendentais, cultivando
a vocação metafísica do filosofar. Desta maneira, os formandos se encontrarão
com a verdade, o bem e a beleza em sua unidade, que estão sempre abertas à
Verdade, ao Bem e à Beleza divinas.
30. Consequentemente, a Formação
Acadêmica terá de ser gradual, fundada sobre o estudo da sagrada doutrina e da
teologia [18],
dando importância também às contribuições que podem ser recebidas das ciências
humanas, que permitam uma visão histórica, simbólica e ética que enquadre as
dimensões mais analíticas do saber científico. Deste modo os futuros pastores
poderão entrar em contato com o coração da cultura dos povos aos quais vão
servir e não com mera superficialidade ou com fragmentos de uma realidade
vista, por exemplo, somente a partir das ciências positivas.
31. É necessário, portanto,
assegurar-se que os seminaristas, ao iniciar seu processo de formação, contem
com uma base científica e humanística suficiente que lhes capacite para
enfrentar os estudos filosóficos e teológicos com uma fundamentação adequada e
que lhes ajude a criar hábitos e métodos de estudo desde o início.
32. De acordo com quanto
recomendou o Sínodo dedicado ao estudo sobre a "Formação dos sacerdotes no
mundo atual", no período da preparação prévia, ou período propedêutico, é
necessário ajudar os jovens em sua preparação humana, cristã, intelectual e
espiritual para que vão crescendo com reta intenção e alcançando um grau
suficiente de maturidade humana, um conhecimento bastante amplo da doutrina e
da fé, alguma introdução aos métodos de oração e costumes conformes com a
tradição cristã [19].
Neste sentido é recomendável que durante o período de formação os seminaristas
estudem profundamente o Catecismo
da Igreja Católica.
33. Posto que a formação
intelectual tem como objetivo formar bons pastores que comuniquem a vida plena
de Jesus Cristo aos nossos povos, é importante que os professores e formadores
sejam modelos do que ensinam, e exerçam a sua função como quem pastoreia,
ensinando de tal modo que selecionem o que alimenta os formandos e descarte
aquilo que lhes é nocivo.
34. Ao cumprirem o dever de
ensinar e formar, os professores e os formadores preocupem-se em iniciar os
formandos na capacidade de discernir a verdade; assim que, malgrado a tentação
do mundo atual de "sincretismo" generalizado, a formação dos pastores
tenha como objetivo o discernimento que sabe julgar e separar o que é reto
daquilo que é errôneo. Os formandos sejam, pois, introduzidos numa sadia
capacidade crítica.
35. Posto que vivemos num mundo
globalizado, é importante um conhecimento de diversos idiomas, seja de uma
língua moderna que abra o horizonte cultural, seja daquelas línguas que ajudam
a compreensão da Escritura e dos documentos eclesiásticos, (latim e grego).
Também é importante, onde se requer, o conhecimento de alguma língua indígena.
Formação pastoral
36. Estamos conscientes de que na
linguagem do Concílio Vaticano II e do documento de Aparecida,
"pastoral" não se opõem a "doutrinal", senão que o inclui.
Como a pastoral não é somente uma aplicação prática das verdades da fé, assim
também toda a Revelação e portanto a teologia é pastoral, no sentido de que é
Palavra de salvação, Palavra de Deus para a vida do mundo.
38. Para dar uma resposta à
convocação feita pela Assembléia de Aparecida para que sejamos
discípulos-missionários, os centros de formação ao sacerdócio hão de
converter-se em "casa e escola" de discipulado, na qual a
espiritualidade que se promove corresponda à identidade da própria vocação,
seja diocesana que religiosa [20] e,
ao mesmo tempo, conduza os formandos a um encontro permanente com Cristo vivo.
41. Formar-se-ão também os
seminaristas para a solidariedade com os pobres, procurando que esta não fique
somente no plano teórico ou meramente emotivo, sem uma verdadeira incidência
nos seus comportamentos e nas suas decisões [21].
O formando deve adquirir um autêntico amor para com o homem, que deve nutrir-se
sempre no encontro com Cristo [22].
Igualmente aprenderá a abrir-se com amor e respeito aos indígenas e
afro-americanos, conhecendo as suas culturas, seus valores e suas identidades
particulares [23].
42. De igual modo a formação
pastoral há de ter muito em conta a exigência permanente da ação missionária da
Igreja. Este foi o maior compromisso assumido pela Igreja em Aparecida, que nos
convida todos a buscar o Senhor e, a partir de um encontro pessoal com Ele,
participar como discípulos e missionários no cumprimento da sua tarefa
fundamental [24].
43. As dioceses da América Latina
e do Caribe comprometeram-se em realizar uma "missão continental" que
torne realidade o chamado a uma "nova evangelização". É muito
importante que os Seminários estejam comprometidos com esta missão e, para
isso, os formadores tratarão de incluir dentro da experiência pastoral que
oferecem, a inserção dos seminaristas nos programas planificados nas dioceses.
44. É muito importante dar
particular atenção à programação e escolha da prática pastoral dos formandos,
na qual deverão contar sempre com o acompanhamento de seus formadores.
II. A equipe de formadores
46. Os formadores são chamados
pelo bispo a exercer, em espírito de unidade, co-responsabilidade e
fraternidade, o sublime ministério pastoral de formar os futuros sacerdotes do
Povo de Deus. Como se trata de uma tarefa que exige o acompanhamento permanente
dos formandos, é oportuno que o exercício desta grande responsabilidade
eclesial goze de uma certa estabilidade, que os membros da equipe residam
habitualmente na comunidade do Seminário e que estejam intimamente unidos com o
bispo, que é o primeiro responsável da formação dos sacerdotes.
47. Ser formador de futuros
sacerdotes é um carisma que se descobre e se desenvolve no serviço abnegado de
cada dia no Seminário. O padre reitor, os diretores espirituais e demais
formadores vivam este carisma num contexto de formação permanente como fiéis
discípulos e missionários.
48. Esta missão transcendental e
insubstituível para toda a Igreja deve realizar-se com espírito de fé, de
confiança plena no poder da graça e com uma alegria e entusiasmo quotidianos
que sejam expressão sincera do grande amor a Jesus Cristo e à sua Igreja.
51. É um dever da equipe de
formadores obedecer critérios muito claros tanto para a seleção como para a
formação dos candidatos que ingressam no Seminário, aos quais se deve ajudar a
crescer em retidão de intenção com a qual seguem o Senhor e a tomar consciência
de que se preparam para ser "alter Christus" e
cumprir com responsabilidade a missão que lhes pede a Igreja. Neste sentido é
necessário reservar especial atenção para com os seminaristas egressos de
outros Seminários ou comunidades religiosas, solicitando informações sérias e
objetivas aos precedentes reitores ou superiores religiosos, que devem ser
levadas em consideração [26].
52. Os formadores trabalhem para
que os formandos vivam o Seminário e as demais casas de formação sacerdotal
como espaços privilegiados para moldar a mente e o coração de acordo com a
pessoa de Jesus Cristo.
Conclusão
53. Na América Latina há dioceses
onde florescem abundantes vocações sacerdotais e religiosas. Sem dúvida, por
causa do ambiente secularizado e da realidade familiar, em outras dioceses se
nota uma diminuição sensível no campo vocacional. Constitui um dever
prioritário para os bispos, promover e apoiar uma pastoral vocacional que
desperte o interesse e o compromisso dos jovens para chegar a entregar a sua
vida ao serviço ministerial. Por essa razão é urgente envolver todo o
presbitério, os próprios seminaristas e a comunidade eclesial em geral neste
campo da pastoral vocacional e rezar incessantemente ao Senhor, Dono da messe,
para que suscite estas vocações ao serviço da Igreja.
54. Compete aos bispos cultivar
com seus seminaristas e presbíteros um estilo de relação fundamentada na fé, na
sinceridade, na proximidade, na abertura e em confiança, dentro de um espírito
de paternidade e amizade, superando uma comunicação puramente funcional e
esporádica. É, portanto, muito importante que o bispo tenha um conhecimento
pessoal e profundo dos candidatos ao presbiterado na própria Igreja particular;
"Baseado em tais contatos diretos se fará esforço para que nos Seminários
se forme uma personalidade madura e equilibrada, capaz de estabelecer relações
humanas e pastorais sólidas, teologicamente competentes, com profunda vida
espiritual e amante da Igreja" [27].
55. Muitos documentos eclesiais
recomendam vivamente e com grande insistência a urgência que deve ter o bispo
de promover e organizar uma séria e profunda formação permanente para todos os
seus presbíteros, de maneira que respondam com generosidade e fidelidade ao dom
e ao ministério recebido e para que o entusiasmo pelo ministério não diminua,
senão que, ao contrário, aumente e amadureça com o transcorrer dos anos,
tornando ainda mais vivo e eficaz o sublime dom recebido (cf. 2 Tm 1,
6) [28].
Tal formação permanente, portanto, deve ser impulsionada já desde a vida de
Seminário.
56. Já que o Seminário constitui
o "coração da diocese" e que do percurso do Seminário depende que
haja bons sacerdotes, é necessário que os bispos escolham os melhores membros
do seu clero para a composição da equipe do Seminário.
57. Os bispos, em primeira
pessoa, devem ser os primeiros a sentir a grave responsabilidade pela formação
dos encarregados pela preparação dos futuros presbíteros [29],
para que os formadores, como também os professores das distintas disciplinas,
não somente as teológicas, se distingam por uma segura doutrina e tenham uma
suficiente preparação acadêmica e capacidade pedagógica [30].
58. O bispo haverá de ter
especial cuidado e acompanhamento de seus sacerdotes, particularmente daqueles
mais jovens, para oferecer-lhes apoio e força no exercício do seu ministério
sacerdotal. Assim como é necessário discernir com muita atenção a seleção dos
párocos aos quais se confia a iniciação dos jovens presbíteros no trabalho
pastoral.
Queremos compartilhar
fraternalmente estas recomendações pastorais com os bispos da América Latina e
do Caribe e, recomendá-las a Nossa Senhora de Guadalupe, e esperamos que sejam
de utilidade na nossa comum missão de formadores.
Notas
[1] V Conferência
Geral do Episcopado Latino-Americano e do Caribe, Documento conclusivo,n.
199. Daqui por diante será citado como: Documento de Aparecida.
[2] Documento
de Aparecida, n. 319.
[5] Cf. Congregação
para a Educação Católica, "Orientações
para o uso das competências da psicologia na admissão e a formação dos
candidatos ao sacerdócio" (Cidade do Vaticano, 2008),
especialmente no capítulo IV.
[16] Congregação
para a Educação Católica, "A formação teológica dos futuros
sacerdotes"(Roma, 1976), n. 21.
[17] Congregação
para a Educação Católica, "A formação da filosofia nos
Seminários" (Roma, 1972), capítulo III.
[20] Cf. Documento
de Aparecida, n. 319; Congregação para a Educação Católica, Carta
circular sobre alguns aspectos mais urgentes da formação espiritual nos
Seminários, (Roma, 1980) p. 23; id., O Período Propedêutico, (Roma,
1988) p. 14.
[23] Cf. Documento
de Aparecida, nn. 84-97.
[24] Cf. Documento
de Aparecida, nn. 213; 278.
[26] Cf. Código
de Direito Canônico, cân. 241 3; Congregação para Educação Católica,Instruções
às Conferências Episcopais sobre a admissão ao Seminário de candidatos
provenientes de outros Seminários ou Famílias religiosas (Roma, 9 de
outubro de 1986 e 8 de março de 1996 respectivamente); id., Instrução
sobre os critérios de discernimento vocacional em relação com as pessoas de
tendências homossexuais antes de sua admissão ao Seminário e às Ordens Sagradas (Roma,
2005).
[28] Cf. Pastores
dabo vobis, n. 79; Pastores gregis, n. 47;
Congregação para os Bispos,Diretório para o ministério pastoral dos bispos
"Apostolorum successores" (Roma 2004), n. 83.
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