terça-feira, 20 de novembro de 2012

Sacrosanctum Concilium. Parte dois


Outros artigos sobre o CVII:


_______________________________________



A Constituição Conciliar Sacrosanctum Concilium continua a manifestar o porquê da existência da Liturgia dentro da Igreja e por qual motivo é preciso tanto cuidado e apreço para com ela.

Em seu número 2 é redigida ipsis litteris assim:

2. A Liturgia, pela qual, especialmente no sacrifício eucarístico, «se opera o fruto da nossa Redenção» (1), contribui em sumo grau para que os fiéis exprimam na vida e manifestem aos outros o mistério de Cristo e a autêntica natureza da verdadeira Igreja, que é simultaneamente humana e divina, visível e dotada de elementos invisíveis, empenhada na ação e dada à contemplação, presente no mundo e, todavia, peregrina, mas de forma que o que nela é humano se deve ordenar e subordinar ao divino, o visível ao invisível, a ação à contemplação, e o presente à cidade futura que buscamos (2). A Liturgia, ao mesmo tempo que edifica os que estão na Igreja em templo santo no Senhor, em morada de Deus no Espírito (3), até à medida da idade da plenitude de Cristo (4), robustece de modo admirável as suas energias para pregar Cristo e mostra a Igreja aos que estão fora, como sinal erguido entre as nações (5), para reunir à sua sombra os filhos de Deus dispersos (6), até que haja um só rebanho e um só pastor (7).

Vemos que é preciso destrinchar o parágrafo que ficou longo e pode confundir alguns conceitos e temas, algo que é muito apreciado por várias pessoas que tem a manifesta intenção de causar balbúrdias interpretativas em textos da Igreja.

O início do parágrafo tenta explica sucintamente o que a liturgia pretende e a que ela coopera afirmando que “(...) contribui em sumo grau para que os fiéis exprimam na vida e manifestem aos outros o mistério de Cristo e a autêntica natureza da verdadeira Igreja (...)”. Vamos por partes como deve ser. A Liturgia, portanto, contribui em alto (sumo) grau para que os fiéis tragam para sua vida o mistério de Cristo. O mistério de Cristo não deve ser revelado, segundo o documento, em manifestações políticas, muito menos em expressões unilaterais de leigos e clérigos. O mistério de Cristo deve vir aos fiéis através da missa e através dela esse mistério deve ser propagado a todos os cantos, católicos ou não, tudo isso para revelar algo que atualmente os fiéis tem se esquecido: a natureza da verdadeira Igreja.

Verdadeira Igreja não é uma expressão solta e apartada do todo. Não se trata de uma expressão ilustrativa para que o texto fique mais bonito e de mais interessante leitura. A verdadeira Igreja é um conceito sempre atual e desejável por Deus. Cristo morreu para que Sua Igreja Dele nascesse ainda na cruz ao ter o lado aberto derramando água e sangue.

Devemos propagar, após o envio que é a missa, a verdade que somente a verdadeira Igreja de Cristo pode nos trazer. Nos dias atuais um sem número de pessoas insistem em afirmar que a Igreja não é santa, não é perfeita, não é única... Fazendo tais afirmativas apenas expressam que Cristo não fundou uma Igreja, não trouxe uma doutrina e não deixou ensinamentos que deveriam ser entendidos e repassados por pessoas específicas e determinadas. A Igreja de Cristo é única, não há possibilidade de serem várias e isso é bem atestado quando o próprio Cristo informa aos apóstolos e mais diretamente a Pedro que “edificarei a minha Igreja” (Mt. 16,18). Cristo não disse minhas Igrejas, não disse minhas doutrinas. Disse no singular e no singular deve ficar até o fim dos tempos.

A liturgia, portanto, tem o fito de contribuir para que os fiéis possam espalhar pelo mundo a sua volta os mistérios de Cristo revelados por Sua autêntica e verdadeira Igreja.

O enorme parágrafo ainda continua da seguinte forma:

“(...) que é simultaneamente humana e divina, visível e dotada de elementos invisíveis, empenhada na ação e dada à contemplação, presente no mundo e, todavia, peregrina, mas de forma que o que nela é humano se deve ordenar e subordinar ao divino, o visível ao invisível, a ação à contemplação, e o presente à cidade futura que buscamos (2).”

Se a Igreja é simultaneamente humana e divina, diriam alguns desavisados, como poderia ser perfeita? A humanidade não é perfeita e isso a própria Igreja nunca se furtou a dizer, até porque seria loucura afirmar o contrário. Não entendem esses seres desinformados, que a Igreja visível, como em seguida no texto se diz, é formada por pessoas e por homens é dirigida. Esses homens obviamente que são imperfeitos, obviamente que são pecadores e obviamente que não são deuses. Ai está o grande pulo do gato. Deus desceu à Terra para ser morto por nós. Foi morto por nós para que seu sacrifício fosse entregue ao Pai, uma vez que o pecado da humanidade em querer ser Deus através do pecado, é tão grande que somente o sacrifício do próprio Deus poderia ser ato suficientemente válido para nossa salvação. Os sacrifícios de animais e martírios que se seguiram não tem sequer uma ponta do que significa o sacrifício de Cristo, tanto o cruento, na cruz e com derramamento de sangue, quando o incruento, na missa e sem derramamento de sangue.

Foi se fazendo homem que Deus se humilhou tão fortemente, descendo à condição da criatura, com exceção do pecado, que os mistérios se reuniram em um só lugar autêntico: a Igreja. A Igreja de Cristo, a Católica Apostólica Romana, é instituição divina como não há outra. Nela temos Cristo como sendo a cabeça e o Espírito Santo como guia. É inteira divina, inteira perfeita e inteira impecável. Pecadores somos nós os homens que sequer conseguem ter a nítida noção da grandiosidade de todo esse plano divino.

Assim sendo, o parágrafo tem o intuito de informar que a Igreja é sim humana, visível, ativa, peregrina, contudo o humano está aquém e subordinado ao divino. Da mesma forma o visível ao invisível e a ação à contemplação. O caráter peregrino deve estar subordinado sempre a onipresença divina que se faz muito clara em todas as celebrações da Santa Missa que ocorrem durante o dia em todo o mundo.

A Igreja ativa, peregrina, lutadora e visível é importante, sem dúvida, desde que esteja focada na contemplação a Deus. Ação e atitude, por mais que sejam de boa aparência, quando não focadas em Deus são pérolas aos porcos e luz engolida por trevas. Os fins não justificam os meios e por isso não há como agir de qualquer maneira para um fim considerado justo. O fim deve ser justo e o meio também. A missa deve ser sempre focada no sacrifício e nesse mistério grandioso que é a humilhação de Deus se tornando homem. Fugir disso em prol de números e satisfações é justificar os fins com meios distorcidos. Nunca foi essa a intenção do Concílio Vaticano II.

Nenhum comentário: