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A Constituição
Conciliar Sacrosanctum Concilium continua
a manifestar o porquê da existência da Liturgia dentro da Igreja e por qual
motivo é preciso tanto cuidado e apreço para com ela.
Em seu número 2 é
redigida ipsis litteris assim:
2. A Liturgia, pela qual, especialmente no sacrifício
eucarístico, «se opera o fruto da nossa Redenção» (1), contribui em sumo grau
para que os fiéis exprimam na vida e manifestem aos outros o mistério de Cristo
e a autêntica natureza da verdadeira Igreja, que é simultaneamente humana e
divina, visível e dotada de elementos invisíveis, empenhada na ação e dada à
contemplação, presente no mundo e, todavia, peregrina, mas de forma que o que
nela é humano se deve ordenar e subordinar ao divino, o visível ao invisível, a
ação à contemplação, e o presente à cidade futura que buscamos (2). A Liturgia,
ao mesmo tempo que edifica os que estão na Igreja em templo santo no Senhor, em
morada de Deus no Espírito (3), até à medida da idade da plenitude de Cristo
(4), robustece de modo admirável as suas energias para pregar Cristo e mostra a
Igreja aos que estão fora, como sinal erguido entre as nações (5), para reunir
à sua sombra os filhos de Deus dispersos (6), até que haja um só rebanho e um
só pastor (7).
Vemos que é preciso
destrinchar o parágrafo que ficou longo e pode confundir alguns conceitos e
temas, algo que é muito apreciado por várias pessoas que tem a manifesta
intenção de causar balbúrdias interpretativas em textos da Igreja.
O início do
parágrafo tenta explica sucintamente o que a liturgia pretende e a que ela
coopera afirmando que “(...) contribui em
sumo grau para que os fiéis exprimam na vida e manifestem aos outros o mistério
de Cristo e a autêntica natureza da verdadeira Igreja (...)”. Vamos por
partes como deve ser. A Liturgia, portanto, contribui em alto (sumo) grau para
que os fiéis tragam para sua vida o mistério de Cristo. O mistério de Cristo
não deve ser revelado, segundo o documento, em manifestações políticas, muito
menos em expressões unilaterais de leigos e clérigos. O mistério de Cristo deve
vir aos fiéis através da missa e através dela esse mistério deve ser propagado
a todos os cantos, católicos ou não, tudo isso para revelar algo que atualmente
os fiéis tem se esquecido: a natureza da verdadeira Igreja.
Verdadeira Igreja
não é uma expressão solta e apartada do todo. Não se trata de uma expressão
ilustrativa para que o texto fique mais bonito e de mais interessante leitura.
A verdadeira Igreja é um conceito sempre atual e desejável por Deus. Cristo
morreu para que Sua Igreja Dele nascesse ainda na cruz ao ter o lado aberto
derramando água e sangue.
Devemos propagar,
após o envio que é a missa, a verdade que somente a verdadeira Igreja de Cristo
pode nos trazer. Nos dias atuais um sem número de pessoas insistem em afirmar
que a Igreja não é santa, não é perfeita, não é única... Fazendo tais
afirmativas apenas expressam que Cristo não fundou uma Igreja, não trouxe uma
doutrina e não deixou ensinamentos que deveriam ser entendidos e repassados por
pessoas específicas e determinadas. A Igreja de Cristo é única, não há
possibilidade de serem várias e isso é bem atestado quando o próprio Cristo
informa aos apóstolos e mais diretamente a Pedro que “edificarei a minha
Igreja” (Mt. 16,18). Cristo não disse minhas Igrejas, não disse minhas
doutrinas. Disse no singular e no singular deve ficar até o fim dos tempos.
A liturgia,
portanto, tem o fito de contribuir para que os fiéis possam espalhar pelo mundo
a sua volta os mistérios de Cristo revelados por Sua autêntica e verdadeira
Igreja.
O enorme parágrafo
ainda continua da seguinte forma:
“(...) que é
simultaneamente humana e divina, visível e dotada de elementos invisíveis,
empenhada na ação e dada à contemplação, presente no mundo e, todavia,
peregrina, mas de forma que o que nela é humano se deve ordenar e subordinar ao
divino, o visível ao invisível, a ação à contemplação, e o presente à cidade
futura que buscamos (2).”
Se a Igreja é
simultaneamente humana e divina, diriam alguns desavisados, como poderia ser perfeita?
A humanidade não é perfeita e isso a própria Igreja nunca se furtou a dizer,
até porque seria loucura afirmar o contrário. Não entendem esses seres
desinformados, que a Igreja visível, como em seguida no texto se diz, é formada
por pessoas e por homens é dirigida. Esses homens obviamente que são
imperfeitos, obviamente que são pecadores e obviamente que não são deuses. Ai
está o grande pulo do gato. Deus desceu à Terra para ser morto por nós. Foi
morto por nós para que seu sacrifício fosse entregue ao Pai, uma vez que o
pecado da humanidade em querer ser Deus através do pecado, é tão grande que
somente o sacrifício do próprio Deus poderia ser ato suficientemente válido
para nossa salvação. Os sacrifícios de animais e martírios que se seguiram não
tem sequer uma ponta do que significa o sacrifício de Cristo, tanto o cruento,
na cruz e com derramamento de sangue, quando o incruento, na missa e sem
derramamento de sangue.
Foi se fazendo homem
que Deus se humilhou tão fortemente, descendo à condição da criatura, com
exceção do pecado, que os mistérios se reuniram em um só lugar autêntico: a
Igreja. A Igreja de Cristo, a Católica Apostólica Romana, é instituição divina
como não há outra. Nela temos Cristo como sendo a cabeça e o Espírito Santo
como guia. É inteira divina, inteira perfeita e inteira impecável. Pecadores
somos nós os homens que sequer conseguem ter a nítida noção da grandiosidade de
todo esse plano divino.
Assim sendo, o
parágrafo tem o intuito de informar que a Igreja é sim humana, visível, ativa,
peregrina, contudo o humano está aquém e subordinado ao divino. Da mesma forma
o visível ao invisível e a ação à contemplação. O caráter peregrino deve estar
subordinado sempre a onipresença divina que se faz muito clara em todas as celebrações
da Santa Missa que ocorrem durante o dia em todo o mundo.
A Igreja ativa,
peregrina, lutadora e visível é importante, sem dúvida, desde que esteja focada
na contemplação a Deus. Ação e atitude, por mais que sejam de boa aparência,
quando não focadas em Deus são pérolas aos porcos e luz engolida por trevas. Os
fins não justificam os meios e por isso não há como agir de qualquer maneira
para um fim considerado justo. O fim deve ser justo e o meio também. A missa
deve ser sempre focada no sacrifício e nesse mistério grandioso que é a
humilhação de Deus se tornando homem. Fugir disso em prol de números e
satisfações é justificar os fins com meios distorcidos. Nunca foi essa a
intenção do Concílio Vaticano II.
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