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É incrível a riqueza do documento conciliar
Sacrosanctum Concillium. Cada frase, cada parágrafo, pode ser desenvolvido em
textos de profundíssima reflexão e verdades incontestáveis da fé que só a
Igreja pode proclamar.
O número 7 do documento é relativamente grande
sendo composto não por um parágrafo, mas por quatro. O terceiro e o quarto
merecem reflexão separada justamente por, mesmo dando continuidade ao que foi
dito nos dois anteriores, aprofundarem em um tema obscuro para a maioria dos
católicos e negada pelo protestantismo. Aqui falaremos exclusivamente do
terceiro parágrafo.
Não podemos afirmar com absoluta certeza se a
obscuridade vem devido à negação dos protestantes, uma vez que estamos em uma
sociedade protestantizada, ou se o protestantismo veio devido a obscuridade já
havida entre os católicos. Não vamos discutir isso porque seria o mesmo que
discutir quem veio primeiro o ovo ou a galinha. Na verdade não interessa. Qualquer
que seja a origem do problema, a questão é que a falta de formação e
entendimento da fé que professa nos leva a protestar contra a nossa própria fé.
Antes essa fé fosse somente uma fé particular e inerente a cada ser, não, não
é. Trata-se da negação e protesto contra a única fé que traz a verdade consigo,
não porque pretende ser a dona da verdade e queira dominar o mundo. Essas
acusações sempre vem sem um argumento digno. É a única que traz a verdade
consigo porque é a única que o próprio Deus fundou e deixou sob o comando de
Pedro Apóstolo (Mt. 16, 18 ss) além de deixar a necessidade de sucessão.
Pois bem, voltando aos dois últimos parágrafos
número 7 do documento Sacrosanctum Concillium, temos sua redação nos seguintes
termos:
“(...)
Com razão se considera a Liturgia como o exercício da função sacerdotal de
Cristo. Nela, os sinais sensíveis significam e, cada um à sua maneira, realizam
a santificação dos homens; nela, o Corpo Místico de Jesus Cristo - cabeça e
membros - presta a Deus o culto público integral.”
O parágrafo começa com uma afirmação que pouco se
conhece entre os católicos: a missa é o exercício da função sacerdotal de
Cristo.
Quando se vê um pastor protestante, qualquer que
seja a denominação, presidindo seu culto, ou um rabino ensinando na mesquita,
ou um espírita fazendo seus ensinamento ou dando passes em um centro ou
terreiro, nenhum deles ousa proclamar-ser representante de Deus ou mais que
isso, o próprio Deus.
Que os céus sacudam agora na visão protestante, mas
é o que o sacerdote é durante a celebração da missa: o próprio Cristo. Não só
ele, mas ele principalmente. Assim, por obviedade que Cristo exerce Sua função
sacerdotal, já que Ele mesmo fala na missa, seja nas leituras, seja na
consagração e em outros momentos. In
persona Christi é o nome que se dá em latim para o fato de o sacerdote
falar na missa como que o próprio Deus (Cristo).
Caso não fosse assim, como poderia um mero homem,
cheio de pecados, insatisfações, erros e imperfeições fazer o milagre
programado de transformar o pão em Cristo? Obviamente que aquelas mãos são
consagradas, aquele ser, o sacerdote, não é como nós que não seguimos esse
caminho, contudo é Cristo quem consagra através daquele ser, assim como é
Cristo que fala através daquele que faz a leitura na missa.
No mesmo parágrafo o documento conciliar continua:
“(...)
Nela (na liturgia), os sinais sensíveis significam e, cada um à sua maneira,
realizam a santificação dos homens;(...)”
Essa verdade continua e sempre continuará sendo
absoluta devido o simples fato de ser culto a Deus estabelecido pelo próprio
Deus e manutenido pela Igreja.
O mais importante é sempre entender que a Santa
Missa é culto agradável a Deus, embora seja Seu próprio sacrifício o que
ocorre. Não um outro sacrifício, mas aquele mesmo ocorrido dois milênios atrás.
Esse sacrifício vale mais que qualquer sacrifício que possamos fazer, mesmo os
martírios já que “no martírio é o ser humano que dá a vida por Deus e na missa
é Deus quem dá a vida pela humanidade” (Santo Tomás de Aquino). Esse sacrifício
é, também e por esse motivo, o meio de santificação dos homens. A humanidade se
beneficia desse sacrifício para se santificar, através de Deus, sempre assim
deve ser, e chegar ao próprio Deus, fazendo parte de Seu projeto salvífico.
Importante perceber que faremos parte desse
projeto, dessa felicidade, alegria e justiça plenas. Não veremos ou estaremos
presentes, mas faremos parte como membros.
É por isso que o documento completa o parágrafo dizendo:
“(...)nela
(na liturgia), o Corpo Místico de Jesus Cristo - cabeça e membros - presta a
Deus o culto público integral.”
O Corpo Místico de Cristo justamente é essa Igreja
que Ele fundou e deixou aqui na Terra com seus membros distribuídos conforme
sua função, necessidade e importância (1Cor 12,4-31).
Outro ponto que passa batido por todos nesse
pequeno excerto é o de que a Santa Missa é “culto público integral” prestado a
Deus pela Igreja. Ora. Parece óbvio que se diga isso, mas não é.
Inicialmente a grande maioria, a maioria esmagadora
das pessoas, católicas ou não, não tem consciência plena de que a Santa Missa é
culto a Deus. Ou se tem agem como se não tivessem. Digo isso porque se a Santa
Missa é culto a Deus, então a quem devemos agradar nesse culto? Agora me
respondam a quem boa parte das pessoas pretende agradar quando tocam músicas
dançantes, inventam missas show e fazem teatro nesse momento? Não é a Deus que
pretendem agradar, embora tentem mascarar sua errada atitude com esse
argumento. O que tentam fazer é agradar o público da Santa Missa. Literalmente “jogam
para a torcida”, ou seja, fazem o que for preciso para que aquele espetáculo (a
Santa Missa) seja agradável aos seus espectadores (assembleia). Assim deixamos
de ter a Santa Missa como culto agradável a Deus para ser culto agradável aos
homens.
Outro ponto: a Igreja presta culto a Deus. Esse
culto é publico e todos os católicos são chamados, e em certos dias do ano convocados,
a participares desse culto. Se é a Igreja que celebra esse culto, e isso é
óbvio uma vez que o sacerdote que celebra é, ou deveria ser, sacerdote
fidelíssimo à Santa (não pecadora) Igreja, como é possível que sacerdotes e
equipes de liturgia queiram mexer, modificar, inventar, criar, diversificar,
teatralizar e fazer da missa um verdadeiro carnaval? Isso no mínimo é
usurpação. A Santa Missa é culto da Igreja, portanto só ela, a Igreja, poderá
mexer no ritual desse culto e mesmo assim não pode mexer em todas as partes uma
vez que várias delas fora instituída pelo próprio Cristo.
Por último, temos o ponto de que se trata de culto
público e integral. Já entendemos que é culto da Igreja, agora concluímos que é
público e integral. O “público” já pode ser entendido no parágrafo acima.
Apesar de ser culto da Igreja, é público porque todos os católicos são chamados
e/ou convocados para a Santa Missa (Mt 18,20). A palavra “integral” é que deve
ser explicada mais a fundo. A missa não é culto que servirá para completar a
semana ou para irmos nos encontrar socialmente com os amigos. Muito menos é ocasião
de encerramento de grupo de oração ou de encontro. A Santa Missa é um todo, sem
partições e o mais importante de tudo o que há. Assim já dizia Santo Agostinho
e tantos outros Santos. A Santa Missa não pode ser partida ou repartida,
mutilada ou dilatada. A Santa Missa é o que é sem palpites ou intervenções
alheias. A Santa Missa é culto integral por que abre e fecha todo um ciclo ritual.
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