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Logo no início do
documento Sacrosanctum Concilium
consta um parágrafo de interessantíssima redação, parágrafo esse que causa
arrepios em modernistas que os leem e mesmo, porém em menor grau, em radicais
tradicionalistas.
4. O sagrado
Concílio, guarda fiel da tradição, declara que a santa mãe Igreja considera
iguais em direito e honra todos os ritos legitimamente reconhecidos, quer que
se mantenham e sejam por todos os meios promovidos, e deseja que, onde for
necessário, sejam prudente e integralmente revistos no espírito da sã tradição
e lhes seja dado novo vigor, de acordo com as circunstâncias e as necessidades
do nosso tempo.
Inicialmente começa
com o texto “O sagrado Concílio, guarda
fiel da tradição (...)”. Muitos não consideram o Concílio Vaticano II como guarda fiel da tradição, muito pelo
contrário, o considera guarda infiel ou o protetor único e inigualável de uma
nova Igreja. Ambos os extremos estão redondamente enganados.
Por um lado o
Concílio é guarda fiel da tradição e continuará sendo. Não importa o quanto
radicais-tradicionalistas esperneiem o Concílio é tão válido quanto os mais de
vinte anteriores, mas é interessante ver a expressão “guarda fiel da tradição” já que o outro extremo, ou seja,
modernistas incluindo adeptos da teologia da libertação, entendem que tudo o
que é tradicional deve ser extirpado do meio eclesial.
Fica claro que o
catolicismo não está nem com um lado nem com outro. O catolicismo está nele
mesmo e em Cristo e nele mesmo devemos nos inserir. Estando em Cristo está nele
mesmo, afinal Cristo é a cabeça da Igreja. Não devemos puxá-lo para perto de
nós ou tentar adequá-lo à nossa vontade ou preceitos, antes, é o contrário que
deve acontecer.
A Igreja sempre será
“guarda fiel da tradição” afinal é um
dos fundamentos de nossa fé.
Entretanto o mais
interessante do parágrafo nem é essa expressão, inusitada para uns e falsa para
outros. O mais interessante é quando o parágrafo menciona que “(...)a santa mãe Igreja considera iguais em
direito e honra todos os ritos legitimamente reconhecidos (...)” se são
iguais, são iguais e não devem ser vistos com diferentes dignidades. E
continua: “(...) quer que se mantenham e
sejam por todos os meios promovidos (...)”.
Bom, se a Igreja
considera iguais e honra todos os ritos legitimamente reconhecidos, há que se
falar claramente que o Rito Tridentino ou Extraordinário é legitimamente
reconhecido e, portanto igual em honra e dignidade. Não é melhor nem pior, é
igual. Está muito bem expresso! Obviamente que um deles deveria ser escolhido
como o rito ordinário e esse escolhido não foi o Tridentino, o que não diminui
a sua dignidade e honra.
Mas fica a pergunta:
porque a Igreja demorou tantos anos, quase cinquenta, para “liberar” a todos os
sacerdotes que quisessem celebrar no Rito Tridentino, igual em dignidade e
honra, sem a autorização de um Ordinário Local (Bispo)?
Na mesma oração o
documento afirma que ela mesma “(...) quer
que se mantenham e sejam por todos os meios promovidos (...)”. Como seria
possível promover algo que fica tão restrito e tão dificultoso de se chegar ao
conhecimento dos fiéis leigos e mesmo dos sacerdotes que acabam por não serem
preparados nos seminários?
Bem, pode ser que a
resposta não seja exatamente essa, contudo a continuidade do mesmo parágrafo
pode ser a resposta para essas perguntas. Diz o documento que: “(...)de acordo com as circunstâncias e as
necessidades do nosso tempo.”
Esse “de acordo com as circunstâncias e
necessidades do nosso tempo” é de uma amplitude sem tamanho, fora a
subjetividade. Afirmo que, a meu ver, essa frase explica o porquê de só no
século XXI a Igreja expressamente ter autorizado sacerdotes a celebrarem
livremente no rito Tridentino. Até aquela data não eram as circunstâncias e
necessidades as melhores para esse tipo de liberdade e assim entendeu a Igreja
por intermédio de todos os Papas que nesse período governaram. Cabe a nós
questionar? Penso que não. Nos cabe apenas obedecer e agora aproveitar a imensa
riqueza que esse rito pode nos proporcionar, não por ser maior em dignidade,
vez que não é, mas por nele ser possível uma maior interiorização e meditação
justamente pela forma como o rito é estruturado.
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