terça-feira, 27 de novembro de 2012

Sacrosanctum Concilium. Parte três. Um guarda fiel da tradição.


Outros artigos sobre o CVII:


_______________________________________


Logo no início do documento Sacrosanctum Concilium consta um parágrafo de interessantíssima redação, parágrafo esse que causa arrepios em modernistas que os leem e mesmo, porém em menor grau, em radicais tradicionalistas.

4. O sagrado Concílio, guarda fiel da tradição, declara que a santa mãe Igreja considera iguais em direito e honra todos os ritos legitimamente reconhecidos, quer que se mantenham e sejam por todos os meios promovidos, e deseja que, onde for necessário, sejam prudente e integralmente revistos no espírito da sã tradição e lhes seja dado novo vigor, de acordo com as circunstâncias e as necessidades do nosso tempo.

Inicialmente começa com o texto “O sagrado Concílio, guarda fiel da tradição (...)”. Muitos não consideram o Concílio Vaticano II como guarda fiel da tradição, muito pelo contrário, o considera guarda infiel ou o protetor único e inigualável de uma nova Igreja. Ambos os extremos estão redondamente enganados.

Por um lado o Concílio é guarda fiel da tradição e continuará sendo. Não importa o quanto radicais-tradicionalistas esperneiem o Concílio é tão válido quanto os mais de vinte anteriores, mas é interessante ver a expressão “guarda fiel da tradição” já que o outro extremo, ou seja, modernistas incluindo adeptos da teologia da libertação, entendem que tudo o que é tradicional deve ser extirpado do meio eclesial.

Fica claro que o catolicismo não está nem com um lado nem com outro. O catolicismo está nele mesmo e em Cristo e nele mesmo devemos nos inserir. Estando em Cristo está nele mesmo, afinal Cristo é a cabeça da Igreja. Não devemos puxá-lo para perto de nós ou tentar adequá-lo à nossa vontade ou preceitos, antes, é o contrário que deve acontecer.

A Igreja sempre será “guarda fiel da tradição” afinal é um dos fundamentos de nossa fé.

Entretanto o mais interessante do parágrafo nem é essa expressão, inusitada para uns e falsa para outros. O mais interessante é quando o parágrafo menciona que “(...)a santa mãe Igreja considera iguais em direito e honra todos os ritos legitimamente reconhecidos (...)” se são iguais, são iguais e não devem ser vistos com diferentes dignidades. E continua: “(...) quer que se mantenham e sejam por todos os meios promovidos (...)”.

Bom, se a Igreja considera iguais e honra todos os ritos legitimamente reconhecidos, há que se falar claramente que o Rito Tridentino ou Extraordinário é legitimamente reconhecido e, portanto igual em honra e dignidade. Não é melhor nem pior, é igual. Está muito bem expresso! Obviamente que um deles deveria ser escolhido como o rito ordinário e esse escolhido não foi o Tridentino, o que não diminui a sua dignidade e honra.

Mas fica a pergunta: porque a Igreja demorou tantos anos, quase cinquenta, para “liberar” a todos os sacerdotes que quisessem celebrar no Rito Tridentino, igual em dignidade e honra, sem a autorização de um Ordinário Local (Bispo)?

Na mesma oração o documento afirma que ela mesma “(...) quer que se mantenham e sejam por todos os meios promovidos (...)”. Como seria possível promover algo que fica tão restrito e tão dificultoso de se chegar ao conhecimento dos fiéis leigos e mesmo dos sacerdotes que acabam por não serem preparados nos seminários?

Bem, pode ser que a resposta não seja exatamente essa, contudo a continuidade do mesmo parágrafo pode ser a resposta para essas perguntas. Diz o documento que: “(...)de acordo com as circunstâncias e as necessidades do nosso tempo.”

Esse “de acordo com as circunstâncias e necessidades do nosso tempo” é de uma amplitude sem tamanho, fora a subjetividade. Afirmo que, a meu ver, essa frase explica o porquê de só no século XXI a Igreja expressamente ter autorizado sacerdotes a celebrarem livremente no rito Tridentino. Até aquela data não eram as circunstâncias e necessidades as melhores para esse tipo de liberdade e assim entendeu a Igreja por intermédio de todos os Papas que nesse período governaram. Cabe a nós questionar? Penso que não. Nos cabe apenas obedecer e agora aproveitar a imensa riqueza que esse rito pode nos proporcionar, não por ser maior em dignidade, vez que não é, mas por nele ser possível uma maior interiorização e meditação justamente pela forma como o rito é estruturado.

Nenhum comentário: