Por Daniele Trenca
ROMA, 16 de Agosto de 2013 (Zenit.org) - Celebrou-se recentemente o 60º aniversário do fim da Guerra da Coreia. Um conflito às vezes esquecido, que eclodiu após a invasão da Coreia do Sul pelo Exército do Norte e que durou três anos. A Guerra Fria estava no início, o Oriente ainda estava abalado com as explosões das duas bombas atômicas lançadas sobre Hiroshima e Nagasaki, e o espectro de uma nova e iminente guerra mundial pairava aterrorizante na consciência de todos.
O processo de democratização daquela península da Ásia percorreu um longo caminho, e, no século XVIII, um papel decisivo foi desempenhado pela Igreja.
A Coreia é o único caso no mundo de evangelização de um território começada por leigos, sem a ajuda dos missionários. Um caso único na história da Igreja universal, que confirma a necessidade do homem de encontrar um Sentido para a sua existência e de se relacionar com o Eterno.
Jovens estudantes em busca de novas ideias capazes de orientar a mudança da sociedade coreana estudavam as literaturas ocidentais. Sua curiosidade foi se transformando, pouco a pouco, em fé. Lendo e relendo livros sobre a doutrina católica, eles se viram fascinados por este Deus que é Pai misericordioso.
Na época, as delegações coreanas iam regularmente a Pequim para fazer os intercâmbios comerciais e culturais. Numa das viagens, os coreanos trouxeram para casa o livro do pe. Mateus Ricci, "A verdadeira doutrina de Deus". Foi assim que um leigo e grande pensador, Lee Byok, inspirado no texto do famoso missionário jesuíta, fundou no país a primeira comunidade cristã. Na década de 1780, ele pediu a um amigo, Lee Seung Hun, membro da delegação que partia para a China, que se batizasse e trouxesse à pátria livros e escritos religiosos para ajudá-los a se aprofundar na fé católica. Desde o início, como era de se prever, a Igreja coreana foi perseguida pelo governo, já que a religião de Estado era o confucionismo e não havia liberdade para a prática de outras religiões.
Lee Byok liderava o grupo de estudantes nas pesquisas literárias. Ele desenvolveu o Gang-Hak-Hwe, reunião sobre ciência, e fez um compêndio em forma lírica do Antigo e do Novo Testamento, chamado "Resumo do Ensinamento da Igreja", além de compor o hino "Canto para o encontro com Deus". Sem conhecer o nosso calendário, eles sentiram a necessidade de fixar dias consagrados ao Senhor: o sétimo, o décimo quarto e o vigésimo primeiro do calendário lunar, nos quais se dedicavam à oração, à contemplação e ao jejum. Observavam os mandamentos e os preceitos da Igreja.
Lee Byok foi perseguido e, depois de 15 dias de jejum, morreu aos 31 anos de idade: foi ele a primeira oferta feita a Deus pela Igreja coreana em uma sociedade não cristã. Era 1785. Apesar da perda do “fundador”, a Igreja local ganhou ímpeto e força para proclamar a Verdade, submetendo-se ao bispo de Pequim quando soube da existência das estruturas eclesiásticas.
Eles difundiram o evangelho em sua terra natal até meados de 1800, quando chegaram os missionários franceses que sacrificaram a vida para proclamar a Palavra de Deus, seguindo o exemplo de Cristo na cruz para redimir a humanidade.
Após a divisão da Coreia entre Norte e Sul, em 1948, a situação religiosa também se fragmentou: dois terços da população total está no Sul, onde os católicos chegam hoje a 10%, ao passo que, no Norte, o regime é contrário à Igreja e a metade da população é oficialmente ateia. As religiões populares na Coreia são o budismo, o chondoísmo e o cristianismo, representado majoritariamente por igrejas evangélicas. Famosa em todo o mundo é a Igreja da Unificação, liderada pelo Reverendo Moon.
A evangelização da Ásia é o grande desafio da Igreja de hoje. Existem bilhões de pessoas que nunca ouviram falar de Jesus Cristo naquele continente, em locais difíceis e muitas vezes inacessíveis, mas o exemplo coreano mostra que a fome de Deus é essencial para todos os homens. O caminho a trilhar será morro acima e repleto de tribulações, mas a história ensina que, após um período de grande perseguição, há sempre um tempo longo de graças e de santos. Foi assim após o cisma de Lutero e após o horror da Segunda Guerra Mundial.
Sacerdotes, religiosas e famílias que estão em missão na Coreia têm uma certeza: a mão de homem nenhum jamais poderá competir ou destruir uma instituição criada pelo poder de Deus.
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