terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Sacrosanctum Concilium. Parte Oito. A Liturgia terrena, antecipação da Liturgia celeste.


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Um título perfeito foi o encontrado pelos padres conciliares ao dar cabeçalho ao número 8 do documento Sacrosanctum Concilium de “A Liturgia terrena, antecipação da Liturgia celeste”.

Poucos católicos sabem o que é realmente a Santa Missa, quanto aos demais, sejam protestantes, não cristãos ou até mesmo os que tentam admitir que não creem em nada, apesar de terem em suas teorias um pressuposto de infalibilidade dogmática incontestável, quanto a esses todos, obviamente, que não têm a mínima noção do que seja uma celebração litúrgica, uma vez que sequer conhecem, em sua maioria, a palavra liturgia.

Pois bem, de qualquer forma o católico, ou o que se diz católico, normalmente não tem nem um vislumbre do que vem a ser liturgia, muito menos de que a Santa Missa que é celebrada em diversas igrejas e que pode ser acompanhada por qualquer um de nós, é uma antecipação do que acontecerá após a  nossa morte, caso esse seja o nosso destino após essa vida, claro.

O número 8 do documento assim é redigido:

8. Pela Liturgia da terra participamos, saboreando-a já, na Liturgia celeste celebrada na cidade santa de Jerusalém, para a qual, como peregrinos nos dirigimos e onde Cristo está sentado à direita de Deus, ministro do santuário e do verdadeiro tabernáculo (22); por meio dela cantamos ao Senhor um hino de glória com toda a milícia do exército celestial, esperamos ter parte e comunhão com os Santos cuja memória veneramos, e aguardamos o Salvador, Nosso Senhor Jesus Cristo, até Ele aparecer como nossa vida e nós aparecermos com Ele na glória (23).

O parágrafo é relativamente longo visualmente, mas extremamente estreito para a quantidade de detalhes, conceitos e afirmações importantes que faz. Por esse motivo vamos ter que destrincha-lo deixando para outra oportunidade o estudo de suas demais partes. Vejamos seu início:

“Pela Liturgia da terra participamos, saboreando-a já, na Liturgia celeste celebrada na cidade santa de Jerusalém (...)”

Esse pequeno excerto foi feito para que entendamos uma coisa básica: a Santa Missa não é reunião de pessoas; não é encontro social; não é culto para agradar sentidos humanos manchados pelo pecado original. A Santa Missa é culto agradável a Deus e só a Ele dirigido. A Santa Missa é a antecipação do paraíso.

Para entendermos isso é bom sabermos que existem três partes ou estados da Igreja, todas católicas, claro: Igreja militante, Igreja padecente e Igreja triunfante.

A Igreja militante é a que fazemos parte e que milita aqui nesse mundo buscando a purificação e a aproximação da glória final junto a Deus. A Igreja padecente é aquela que está no purgatório e padece, sofre e purga seus pecados para também, um dia, estar na glória de Deus. Por fim, a Igreja triunfante que é aquele cujos membros já foram salvos e estão junto a Deus no paraíso formando uma grande torcida que silenciosamente intercede por todos nós conforme os preceitos divinos.

São Pio X em seu Catecismo Maior certamente é mais conciso e feliz ao explicar:

146. Onde se encontram os membros da Igreja?
Os membros da Igreja encontram-se parte no Céu, formando a Igreja triunfante; parte no Purgatório, formando a Igreja padecente e parte na terra, formando a Igreja militante.

Por favor, ninguém me acuse de afirmar que a Igreja é divida em três partes independentes, não disse isso em momento algum. Disse que a Igreja é dividida em três partes que melhor podem ser compreendidas como três estados. Essas três partes ou estados compõem, por óbvio uma só Igreja cuja cabeça é única: Cristo. São Pio X também não me deixa solitário nessa explicação e certamente explica com mais clareza em seu Catecismo Maior:

147. Estas diversas partes da Igreja constituem uma só Igreja?
Sim, estas diversas partes da Igreja constituem uma só Igreja e um só corpo, porque têm a mesma cabeça que é Jesus Cristo; o mesmo espírito que as anima e as une e o mesmo fim, que é a felicidade eterna, que uns já estão gozando e que outros esperam.

Justamente por ser militante a Igreja aqui na Terra é também gloriosa, não no mesmo sentido da Igreja que já está no paraíso, a triunfante, mas no sentido de que milita e também tem sua glória. Lembre-se que falamos da Igreja que é gloriosa mesmo aqui sendo militante e não dos seus membros que não são gloriosos, afinal a glória maior ainda está por vir mesmo para a Igreja dos Santos, ou seja, mesmo para a Igreja triunfante, uma vez que ela só atingirá a plenitude da glória quando vier o juízo final e todos aqueles que foram salvos e que Deus chama pelo nome (Is 49,1) farão parte de Seu corpo. Nesse dia a Igreja militante se “unirá” definitivamente à Igreja triunfante e padecente. É pensando assim que temos a Santa Missa como ato de total entrega de Cristo por aquela parcela da humanidade que O aceita e O quer. A Santa Missa passa a ser a antecipação da liturgia celeste quando nos eleva a Deus de tal forma que os anjos aclamam conosco, a uma só voz, o canto do Santo.

É nesse estrito sentido que nos unimos à Igreja triunfante todas as vezes que celebramos a Santa Missa já que, assim, tocamos o céu nesse milagre diário que nos passa desapercebido que é a Santa Missa antecipando o que no futuro esperamos conseguir encontrar nos céus.

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