quinta-feira, 24 de abril de 2008

O que vem a ser heresia?

Heresia vem do grego haíresis e significa escolha. É heresia a escolha que vai de frente a um credo ou sistema religioso que pressuponha um sistema doutrinal organizado, ortodoxo. Então, não se trata de heresia apenas o ataque a verdades da fé Católica Apostólica Romana mas sim o confronto com qualquer que seja o sistema afim de afrontá-lo.

A palavra pode referir-se também a qualquer "deturpação" de sistemas filosóficos instituídos, ideologias políticas, paradigmas científicos, movimentos artísticos, ou outros.

Não se trata, portanto de atingir apenas uma verdade estabelecida por uma fé, seja ela qual for, mas de atingir qualquer tipo de doutrina firmada e consolidada. Ao fundador de uma heresia dá-se o nome de heresiarca, os quais temos muitos exemplos a depois serem estudados.

Segundo o Hellaire Belloc, pensador Católico, heresia “é um deslocamento de um esquema completo e auto-suficiente por meio da introdução de uma nova negação de alguma parte interna essencial.” A tradução é de Antônio Araújo.

Podemos entender que o sistema completo e auto-suficiente seja um sistema que se auto completa justamente por ser inteiramente coerente entre suas partes. Assim, imagino, podemos conceituar, muito superficialmente a heresia.

Quando o Império Romano impunha o culto a seus deuses, judeus e Católicos solenemente o rejeitavam e eram acusados de paganismo e de atrair a ira dos deuses sobre Roma. Para isso havia uma pena, quase que intangivelmente a morte. Era uma heresia o que cometiam os Judeus e Católicos. Dentro do Cristianismo, a heresia é uma doutrina contrária à Verdade revelada e pregada por Jesus Cristo e por sua Igreja.

Desde Jesus Cristo e seus ensinamentos, posteriormente escritos ou repassados por tradição, passando por todos os apóstolos, especialmente Paulo, existe uma vontade e, mais que isso, uma necessidade obrigacional, haja vista os ensinamentos de Cristo, para estabelecer a unidade no cristianismo. A primeira forma de demonstração dessa vontade foi a manutenção da unidade em torno de Pedro, estabelecido e firmado como líder e pedra fundamental da Igreja pelo próprio Jesus Cristo. Se há um só Deus, que se revelou em Jesus Cristo, que fundou Sua única Igreja (Mt 16,18) e se Jesus Cristo mesmo diz que Ele é o Caminho, a Verdade e a Vida, não podem existir outras verdades, independente do lugar, do tempo ou da sociedade imergidas.

O que os grandes heresiarcas fizeram foram pinçar uma parte da estrutura do sistema completo e auto-suficiente que é a doutrina Católica e atingi-lo, afirmando ora que não existiam, ora que existiam de forma diferente da apresentada, ora, por fim, incrementando o sistema, o que faz com ele se torne incoerente.

Não conseguimos imaginar outra forma de atingir a doutrina Católica ou qualquer outra que não desses três modos.

Pelo que podemos constatar,a heresia tem pitadas de verdade, mescladas com a própria heresia. Tal fato faz com que elas sobrevivam por longo tempo, já que as pitadas de verdade são o esteio de sua sobrevivência.

Buscando referências no Código de Direito Canônico, vemos o cânon 751 que conceitua o seguinte:

Cân. 751 Chama-se heresia a negação pertinaz, após a recepção do batismo, de qualquer verdade que se deva crer com fé divina e católica, ou a dúvida pertinaz a respeito dela; apostasia, o repúdio total da fé cristã; cisma, a recusa de sujeição ao Sumo Pontífice ou de comunhão com os membros da Igreja a ele sujeitos.

Precisamos analisar o cânon por partes. Mergulhemos então nessas partes.

“Chama-se heresia a negação pertinaz, após recepção do batismo...” Vamos entender aqui que só quem é batizado é capaz de incorrer em heresia. Portanto os não batizados são, simplesmente infiéis para esse sentido, nunca hereges.

“Chama-se heresia a negação pertinaz,(...), de qualquer verdade que se deva crer com fé divina e católica, ou a dúvida pertinaz a respeito dela”. O cânon firmou claramente a posição de que é necessário que ocorra a dúvida ou a negação. Muitas defesas de heresias caem sobre esse “ou”. Quando se diz “ou” está optando por uma das duas situações. Se houver incorrido nas duas nunca será sobre o mesmo tema, pois, impossível negar pertinazmente e ter dúvida sobre a mesma negação.

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