(Texto inspirado em parte do capítulo XII do livro Heresias, de Chesterton)
O capítulo XII do livro Heresias, de Chesterton, é todo dedicado a entender o paganismo no mundo atual. Chesterton desenvolve o texto comprovando que o cristianismo atual, na verdade, tem muitos de seus preceitos na evolução de vários pontos interessantes do paganismo. Mas não é bem isso o que queremos abordar nesse texto.
Logo ao final do capítulo, Chesterton fala-nos algo interessante e simples, aliás, tão simples que nos deixa estarrecidos, como sempre. O pequeno trecho foi assim traduzido por Antônio Emílio Angueth de Araújo e Márcia Xavier de Brito:
"Não sei por qual extraordinário acidente mental os Escritores modernos muito constantemente ligam a ideia de progresso a ideia de pensamento independente. O progresso é, obviamente, a antítese do pensamento independente."
Agora nos cabe pensar um pouco sobre essa afirmação.
O que mais temos nos dias atuais é a ideia de que pensamento independente é um bom tipo de pensamento. É só uma ideia que não seduz só os escritores mas também os jornalistas, juristas, críticos de todas as espécies e estudantes que ainda cheiram a leite. É como se o pensamento independente te libertasse de grilhões e amarras que te impedissem de voar livre pelos ares. Se esquecem que todo pássaro para um dia eu voar precisou ser empurrado do ninho e forçado a alçar voo. Acham que basta sair por aí voando.
O pensamento independente apenas te faz iniciar do zero algo que já tinha sido iniciado por alguém. Você poderia já ter e usar a experiência de tantas pessoas poupando tempo e muito esforço intelectual, fora os muitos e muitos erros que obviamente vão acontecer. A mãe pássaro já sabe voar e sabe que pode voar por isso, quando sabe que seus filhotes já conseguem alçar voo, empurram eles do ninho. É a experiência da mãe que salva vida dos filhotes.
Quando você começar algo do zero dizendo que seu pensamento é independente, apenas está começando do zero um caminho que já foi percorrido por várias pessoas. Sendo assim, pode chegar apenas onde uma pessoa que começou do zero já chegou. Não vai conseguir a desbravar novos caminhos. Vai no máximo fazer o que outros já fizeram. Portanto, pensamento independente não é sinônimo de originalidade, no máximo é sinônimo de falta de perspectiva.
É preciso entender que o caminho não é uma corrida com um único corredor. O caminho é uma corrida de revezamento onde um corredor passa o bastão para o outro. O corredor da frente não precisa percorrer o mesmo caminho que já foi percorrido pelo anterior. O anterior já o fez por ele.
Conservar o pensamento já existente e partir dele para desenvolver algo realmente novo e atual, é algo bom, mas absolutamente distante do pensamento independente. Por que então que esse tipo de ideia continua a seduzir tantos por aí?
Um comentário:
Muito bom! Acho que a ilusão de independência vem da carência afetiva e da falta de capacidade de evoluir junto.
Postar um comentário