terça-feira, 14 de maio de 2013

Como o Filho é consubstancial ao Pai?



Incrível como muitas vezes um simples pensamento lógico pode abrir a mente como se abre uma porta sem fechadura: basta um pequeno empurrãozinho.

Por várias vezes me peguei questionando a mim mesmo sobre questões que muitos me respondiam que era mistério e por isso não há resposta. Sem dúvida alguma que várias questões relativas a Deus são mistério e só saberemos em nosso julgamento particular, ou nem isso. Mas a verdade é que isso não importa muito porque boa parte dessas questões que nos são respondidas por diretores espirituais e catequistas mal informados tem sim explicações, às vezes simples, às vezes complexas, mas tem explicações. O negócio é ser digno o suficiente pra dizer: não sei, no lugar de dizer: é mistério, ou seja, ninguém sabe.

Pois bem, toda essa questão de Santíssima Trindade é um desses imbróglios que costumamos nos perder dentro, mais ou menos como naquele labirinto do “País das maravilhas”: acaba que as paredes nos engolem.

Já fui perguntado como é que o Filho é gerado pelo Pai; como é que são o mesmo Deus se são pessoas diferentes e um vem do outro e por ai vai. São perguntas que quando saem em algum encontro de formação a vontade do formador é dar com a cabeça na parede ou em sinal de penitência por não ter dado uma olhada nisso antes ou em sinal de ignorância mesmo.

O Pai é Criador, é o início de tudo. Deus é essencialmente espiritual e quando pensa em Si mesmo essa ideia obviamente também é espiritual. A questão é que quando o Pai pensa em Si mesmo gera uma ideia, um conceito, uma imagem... um verbo com diz São João. O Pai gera uma imagem perfeitíssima de Si mesmo, como não poderia deixar de ser. Entretanto, quando Ele, o Pai, pensa em Si mesmo e gera essa imagem, esse verbo é diferente do Pai, pois procede Dele. Aqui percebemos que o Pai e o Filho são diferentes já que um é imagem conceitual do outro; é o verbo, o pensamento, o conceito.

Temos um grande problema agora: se são diferentes, como podem ser iguais, e mais que isso: como podem ser o mesmo? Não se desespere! Sendo o conceito de Deus, o Filho distingue-se do Pai, contudo é espiritual como o Pai, afinal Deus é espírito puríssimo. Sendo espiritual como o Pai e procedendo Dele, obviamente que é da mesma natureza e substância, portanto é consubstancial ao Pai. Toda a questão está na perfeitíssima semelhança conceitual.

Quando geramos um conceito de nós mesmos, esse conceito é imperfeito pelo simples fato de que não nos conhecemos total e perfeitamente além do que ainda há o fato de que somos feito de carne e osso e não espiritualmente. Quando geramos nosso próprio conceito, mesmo que ele fosse perfeito, seria um conceito, uma ideia, um verbo e não algo de carne e osso, portanto, não seria da mesma substância. Diametralmente oposto a isso está Deus que Se conhece total e perfeitamente. O conceito que gera de Si é completo e perfeito, sem falha e sem ruga além de espiritual como ele. Assim sendo, o conceito, o verbo, o Filho, gerado por seu pensamento de Si mesmo, é exatamente como o Pai, contudo não é o Pai, pois é gerado por Ele.

É importantíssimo que se faça a diferença entre gerado e criado. O Filho não foi criado pelo Pai, foi gerado. Criados fomos nós que fomos produzidos do nada e distintos de Deus, pois feitos de carne e osso, apesar de feitos a imagem e semelhança. O Filho foi gerado, ou seja, o Filho emana do Pai que por Sua vez comunica Sua própria existência ao Filho.

Ser consubstancial ao Pai significa que são da mesma substância. Se o Filho é identificado pela substância com o próprio Deus, então é Ele Deus.
Confuso? Some-se a isso que não é possível estabelecer o momento dessa geração, afinal Deus está fora do tempo, já que o tempo é criatura Sua e por isso não O sujeita. Por esse motivo o Pai gerou o Filho antes de todos os tempos em um momento único, exclusivo e intelectual de Sua parte que não pode ser colocado dentro de nosso espaço tempo.

É assim, em um complexo de simplicidade tão extrema que o Filho é gerado pelo Pai, mas lhe é consubstancial chegando a ser o mesmo, mas não sendo ao mesmo tempo. Uma simplicidade tão coloquial que impede que nosso intelecto permita o entendimento total desse que é um dos grandes mistérios divinos que só pode ser visualizado e reconhecido dentro do cristianismo e em mais nenhuma outra religião ou seita.

2 comentários:

Luciene disse...

Amei! Você explicou muito bem. Eu acho que na fase de 9 e 10 anos, quando fazemos a catequese, os catequistas devem dizer que por ser uma questão difícil de ser entendida ela será aprofundada na preparação para o Crisma ou quando a criança estiver mais madura para levantar essa questão novamente. Você não acha?

Emanuel Jr. disse...

Acho que respeitando a maturidade, deve ser respondido tudo o que for perguntado. Claro que dependendo da idade a criança não consegue subjetivar (aprendi isso na marra), mas dá pra usar as metáforas e parábolas. Foi essa a tática de Jesus.