Incrível como muitas
vezes um simples pensamento lógico pode abrir a mente como se abre uma porta
sem fechadura: basta um pequeno empurrãozinho.
Por várias vezes me
peguei questionando a mim mesmo sobre questões que muitos me respondiam que era
mistério e por isso não há resposta. Sem dúvida alguma que várias questões
relativas a Deus são mistério e só saberemos em nosso julgamento particular, ou
nem isso. Mas a verdade é que isso não importa muito porque boa parte dessas
questões que nos são respondidas por diretores espirituais e catequistas mal
informados tem sim explicações, às vezes simples, às vezes complexas, mas tem
explicações. O negócio é ser digno o suficiente pra dizer: não sei, no lugar de
dizer: é mistério, ou seja, ninguém sabe.
Pois bem, toda essa
questão de Santíssima Trindade é um desses imbróglios que costumamos nos perder
dentro, mais ou menos como naquele labirinto do “País das maravilhas”: acaba
que as paredes nos engolem.
Já fui perguntado
como é que o Filho é gerado pelo Pai; como é que são o mesmo Deus se são
pessoas diferentes e um vem do outro e por ai vai. São perguntas que quando
saem em algum encontro de formação a vontade do formador é dar com a cabeça na
parede ou em sinal de penitência por não ter dado uma olhada nisso antes ou em
sinal de ignorância mesmo.
O Pai é Criador, é o
início de tudo. Deus é essencialmente espiritual e quando pensa em Si mesmo
essa ideia obviamente também é espiritual. A questão é que quando o Pai pensa
em Si mesmo gera uma ideia, um conceito, uma imagem... um verbo com diz São
João. O Pai gera uma imagem perfeitíssima de Si mesmo, como não poderia deixar
de ser. Entretanto, quando Ele, o Pai, pensa em Si mesmo e gera essa imagem,
esse verbo é diferente do Pai, pois procede Dele. Aqui percebemos que o Pai e o
Filho são diferentes já que um é imagem conceitual do outro; é o verbo, o
pensamento, o conceito.
Temos um grande
problema agora: se são diferentes, como podem ser iguais, e mais que isso: como
podem ser o mesmo? Não se desespere! Sendo o conceito de Deus, o Filho distingue-se
do Pai, contudo é espiritual como o Pai, afinal Deus é espírito puríssimo.
Sendo espiritual como o Pai e procedendo Dele, obviamente que é da mesma natureza
e substância, portanto é consubstancial ao Pai. Toda a questão está na
perfeitíssima semelhança conceitual.
Quando geramos um
conceito de nós mesmos, esse conceito é imperfeito pelo simples fato de que não
nos conhecemos total e perfeitamente além do que ainda há o fato de que somos
feito de carne e osso e não espiritualmente. Quando geramos nosso próprio
conceito, mesmo que ele fosse perfeito, seria um conceito, uma ideia, um verbo
e não algo de carne e osso, portanto, não seria da mesma substância.
Diametralmente oposto a isso está Deus que Se conhece total e perfeitamente. O
conceito que gera de Si é completo e perfeito, sem falha e sem ruga além de
espiritual como ele. Assim sendo, o conceito, o verbo, o Filho, gerado por seu
pensamento de Si mesmo, é exatamente como o Pai, contudo não é o Pai, pois é
gerado por Ele.
É importantíssimo
que se faça a diferença entre gerado e criado. O Filho não foi criado pelo Pai,
foi gerado. Criados fomos nós que fomos produzidos do nada e distintos de Deus,
pois feitos de carne e osso, apesar de feitos a imagem e semelhança. O Filho foi
gerado, ou seja, o Filho emana do Pai que por Sua vez comunica Sua própria
existência ao Filho.
Ser consubstancial
ao Pai significa que são da mesma substância. Se o Filho é identificado pela
substância com o próprio Deus, então é Ele Deus.
Confuso? Some-se a
isso que não é possível estabelecer o momento dessa geração, afinal Deus está
fora do tempo, já que o tempo é criatura Sua e por isso não O sujeita. Por esse
motivo o Pai gerou o Filho antes de todos os tempos em um momento único,
exclusivo e intelectual de Sua parte que não pode ser colocado dentro de nosso
espaço tempo.
É assim, em um
complexo de simplicidade tão extrema que o Filho é gerado pelo Pai, mas lhe é
consubstancial chegando a ser o mesmo, mas não sendo ao mesmo tempo. Uma
simplicidade tão coloquial que impede que nosso intelecto permita o
entendimento total desse que é um dos grandes mistérios divinos que só pode ser
visualizado e reconhecido dentro do cristianismo e em mais nenhuma outra
religião ou seita.
2 comentários:
Amei! Você explicou muito bem. Eu acho que na fase de 9 e 10 anos, quando fazemos a catequese, os catequistas devem dizer que por ser uma questão difícil de ser entendida ela será aprofundada na preparação para o Crisma ou quando a criança estiver mais madura para levantar essa questão novamente. Você não acha?
Acho que respeitando a maturidade, deve ser respondido tudo o que for perguntado. Claro que dependendo da idade a criança não consegue subjetivar (aprendi isso na marra), mas dá pra usar as metáforas e parábolas. Foi essa a tática de Jesus.
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