INTRODUÇÃO AO PROBLEMA.
Ao analisar a situação atual,
temos que hoje os fiéis católicos vivem em um mundo humanista, mas com uma fé e
uma estrutura eclesial teocrática e teocêntrica. Afinal, assim é a doutrina
católica: teocêntrica e teocrática. Isso causa alguns prejuízos no entendimento da fé por parte dos
católicos.
Ao afirmar que os fiéis
católicos vivem em um mundo humanista apenas faço uma reflexão sobre o que se
vê, sem necessitar de aprofundar muito nos termos, muito menos buscar dados
estatísticos sobre o assunto. Trata-se apenas de verificar a realidade e tirar
conclusões. O mundo vive atualmente sob conceitos humanistas pelo simples fato
de que o homem está no centro e não Deus como era em outros períodos ou ainda é
em outras civilizações como no caso do islamismo.
Por outro lado, o católico tem uma fé e uma estrutura eclesial teocrática e teocêntrica imersa nesse mundo humanista. Isso reflete um dilema cultural e espiritual contemporâneos. São conflitos inevitáveis e crises de identidade que são gerados diariamente.
O humanismo atual enfatiza a
centralidade do ser humano, a autonomia da razão e a liberdade individual,
enquanto a fé católica e a estrutura da Igreja estão enraizadas em princípios
teocêntricos, que colocam Deus no centro da existência e da moralidade. Esse
contraste pode gerar algumas tensões e prejuízos na vivência da fé.
1. Confusão Doutrinária.
Muitos
fiéis, talvez a maioria, têm dificuldade em compreender os ensinamentos da
Igreja, pois estão constantemente expostos a valores e princípios seculares que
podem divergir da doutrina cristã. Essa exposição constante é um fato inegável.
Exemplos disso incluem debates sobre ética sexual, o papel da religião na
política e questões de bioética. Todos esses temas, causam um verdadeiro caos
na cabeça da grande maioria dos católicos que simplesmente não tem formação
suficiente pra entender, debater e chegar a conclusões simples sobre esses
assuntos, quanto mais a conclusões mais complexas.
A Doutrina
católica passa a ser um contrassenso com o mundo em cada vez mais temas. Tudo à
volta dos católicos tem uma concepção enquanto que a doutrina católica tem
outra. Isso causa prejuízos enormes no entendimento uma vez que os católicos são
alvejados diariamente com questões que atingem frontalmente sua fé.
2. Relativismo Moral
O humanismo moderno,
frequentemente (ou quase sempre) é influenciado pelo relativismo, e isso pode
levar, e realmente leva, alguns fiéis a questionar ou reinterpretar verdades
absolutas da fé católica, criando uma crise de identidade religiosa.
A própria palavra “moral” já vem
sendo, há décadas, destruída em seu conceito mais puro. O moralista não é mais
aquele que estuda moral, mas sim aquele que tem uma moralidade tacanha,
anacrônica, atrasada e afastada da realidade. O casamento, a fidelidade, a ombridade,
a família e até o “gênero” é algo relativizado. A crise de identidade,
especialmente com os mais novos, é inevitável.
3. Individualismo X Comunhão
O foco humanista no
individualismo entra em conflito com a dimensão comunitária da Igreja, que
enfatiza a comunhão eclesial e a solidariedade.
Quando falamos em individualismo,
não falamos em pessoas que não fazem caridade ou não pensam além de si mesmas (apesar de que cresce assustadoramente o número de pessoas que já passou do conceito de egoísmo e já estão na autorreferência), mas sim em pessoas que não entendem
que nem tudo precisa de contrapartida. Caridade não se trata de dar coisas a
alguém, mas sim de lutar para que cada um tenha o que precisa para viver lembrando
que em cada um será encontrada uma necessidade diferente do outro.
4. Desconexão Litúrgica e
Espiritual
Muitos fiéis podem se sentir
desconectados de práticas litúrgicas e sacramentais que exigem uma visão
teocêntrica, como a adoração eucarística ou a confissão, por não compreenderem
plenamente seu significado em um contexto teológico.
A grande maioria dos católicos hoje
em dia não sabem o que é o sacrifício da missa. Não compreendem a dimensão do
sacrifício, porque não querem ou não podem entender a dimensão do sofrimento. Não buscam
sair de si mesmos para entender o transcendente, mas sim buscam que Deus os
entenda dentro das suas necessidades, não importando o que a perfeição de Deus
entendeu desde a eternidade. Sequer têm a consciência de eternidade.
5. Desafios à Transmissão da
Fé
Os pais e educadores católicos
enfrentam dificuldades para transmitir a fé às novas gerações em um ambiente
cultural que costuma sempre apresentar valores contrários à tradição católica.
Aqui tratamos especificamente de
pais e educadores que pelo menos tentam transmitir essa fé de geração em
geração, uma vez que um número muito grande sequer tenta fazer essa transmissão e um percentual também
muito representativo pretende fazer o contrário, ou seja, destruir essa
transmissão, interromper o que vem sendo feito há milênios.
Os desafios para a transmissão da
fé são de tamanha enormidade em um mundo em que o humano está no centro e que
relega Deus a escanteio, ou sequer o relega a nada, sendo indiferente, o que é
pior ainda, que as novas gerações chegam à idade adulta perdidas em relação à
fé e com um entendimento eclesial e da fé infantis.
Estratégias para Mitigar os
Prejuízos.
Na tentativa de mitigar os
prejuízos, algumas soluções podem ser propostas, contudo nada pode ser considerado
absoluto, porque a variedade de problemas é tão grande que “receitas de bolo”
são inúteis e até indesejáveis.
Temos, contudo, algumas manobras à frente:
A primeira delas é repensar a
catequese. A chamada Catequese Renovada, que nas décadas de 80 e 90 do século
XX fizeram muito sucesso, nunca respondeu de forma gratificante aos desafios propostos.
Continuar por simples arqueologismo com a catequese dada há cem, duzentos ou
mais anos atrás, não parece também ser a solução, contudo virar para o outro
extremo com a chamada “catequese renovada” fez com que a transmissão da fé pela
catequese se tornasse fraca, vazia e relativizada. A proposta é que tenhamos
não uma catequese renovada, mas uma catequese redescoberta que possa enfatizar
a importância de uma catequese que dialogue com os desafios contemporâneos, sem
comprometer os princípios teocêntricos da fé, muito menos minorar a doutrina
frente as exigências do mundo humanista atual.
A segunda proposta seria uma formação
intelectual que possa proporcionar uma verdadeira formação que integre razão e
fé, mostrando a compatibilidade entre um humanismo autêntico, se é que assim
podemos expressar, e a visão cristã que tem Deus no centro a favor da salvação
da humanidade.
Em terceiro lugar é preciso um testemunho
prático para demonstrar como a fé católica pode enriquecer a vida humana em
todos os seus aspectos, incluindo os desafios modernos. Que não se trata de uma
concepção íntima e privada de Deus, muito menos de uma filosofia de vida pura e
simples, como se não englobasse o ser humano de forma integral e não apenas nas
suas particularidades.
CONCLUSÃO.
Esse contexto exige um esforço
pastoral e teológico para ajudar os fiéis a integrar sua fé em um mundo marcado
pelo secularismo, reafirmando a centralidade de Deus sem alienar a dignidade e
a liberdade humanas promovidas pelo cristianismo, especialmente pela Igreja Católica
que foi a instituição bimilenar que tornou possível temas como a dignidade
humana se tornarem conceitos bem definidos.
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