Quando nos manifestamos sobre Doutrina
Social da Igreja, antes de falarmos em documentos e em princípios é preciso
entender algumas coisas que são intrínsecas ao ser humano e esse não pode ser
entendido de forma separada a tais princípios, embora algumas pessoas,
ideologias e religiões, não entendam assim e tentem fazer do círculo um quadrado
de cinco pontas.
A primeira dessas coisas que
precisamos entender é que nós, seres humanos, não nascemos bons. Nós nascemos
com um pequeno defeito que a Igreja chama de pecado original. Para comprovar
isso é relativamente simples quando olhamos a nossa volta.
A criança é sempre egoísta, porque
será? A criança não deveria ser aquela criatura em estado mais virginal e ainda
não corrompida pela sociedade, conforme o argumento de muitos? O que vemos,
entretanto, é que uma criança sempre é egoísta, sempre pensa em si mesma e
dependendo da idade simplesmente não compreende que existe um mundo em volta,
mas sim que ela é o centro do mundo. Alguns argumentarão que isso faz parte do
ser humano e nos ajudará no nosso mais perfeito desenvolvimento. Pois então, é
isso mesmo o que estou dizendo: a criança é egoísta.
Outra prova dessa nossa situação é
que nós, agora falando dos adultos especialmente, precisamos sempre lutar para
nos manter fazendo o bem e o correto, isso por que é difícil. É difícil
justamente porque não é nosso estado natural. Sem dúvida é muito mais fácil
cometer o erro, seguir pelo caminho do mal e pecado, do que seguir pelo caminho
do bem, da honestidade e da ombridade. Isso acontece porque nascemos com essa
tendência ao erro, o pecado, que é o que chamamos, imitando a Igreja, de pecado
original.
Apenas para fechar esse assunto,
temos uma constatação igualmente simples: os prazeres são melhores que os
deveres. Não é preciso argumentar muito sobre isso. Acredito que ninguém
discorde seriamente da afirmação.
Pois bem, tendo então a afirmação de
que nascemos com esse pecado original que nos deixa sempre pendentes ao erro e
ao pecado, percebemos que a história da humanidade remonta essa lógica desde o
início do que chamamos de história conhecida. Contudo, uma vez que não temos
aqui a intenção de analisar toda a história conhecida da humanidade, mas apenas
o que nos trás de forma mais imediata à nossa realidade, temos que nos últimos
700 anos temos vivido momentos de absolutismo e totalitarismo.
A ideia de sempre tentar buscar o
paraíso na Terra tem sido algo muito sedutor para muitos. Dessa ideia muitas
ideologias surgiram e muitas se desenvolveram ao longo desses séculos. O
totalitarismo vem justamente dessa tentativa: quem está no poder sempre busca
mais poder, muitas vezes consentido pelo povo, para chegar ao objetivo
messiânico do paraíso na Terra. Como bem sabemos, nunca chegam, mas continuam
buscando e as pessoas continuam entregando mais e mais poder a esses
oportunistas e/ou ideólogos.
Com a Revolução Industrial no século
XVIII temos novos tempos, tudo na vida das sociedades começa a mudar. O
feudalismo, que séculos antes tinha chegado ao seu apogeu, já estava definhando
a muito tempo e contava com seus últimos suspiros dentro do imaginário social.
As pessoas cada vez mais buscavam as cidades para viver e trabalhar, já que a
zona rural não mais trazia a segurança e qualidade de vida que antes era
possível. A Revolução Industrial causou mais algumas sérias mudanças na vida
dessas pessoas que agora viviam nas cidades já em uma situação de total
insalubridade em todos os sentidos.
A partir da chamada Revolução
Industrial muitos perderam o emprego e muitos tiveram que se qualificar para
trabalhar com as tais máquinas, mas uma coisa continuou: a exploração da força
de trabalho de forma totalmente desmedida.
Pouco antes disso já tinha surgido o
mercantilismo que daria todas as bases para o capitalismo se desenvolver
plenamente, contudo o que víamos era um capitalismo selvagem, sem qualquer
freio e sem qualquer risco de humanidade. A exploração do trabalho não tinha
nenhum tipo de humanidade e não seguia regra alguma que não fosse a oferta e
procura. Pessoas trabalhavam 20 horas por dia, incluindo crianças que além de
trabalhar todo esse tempo ainda ganhavam menos.
Todos esses fatos e essa situação
precária, obviamente que seria um prato cheio para todo tipo de ideologias
nascerem e foi justamente o que aconteceu.
O liberalismo se desenvolveu como uma
forma através de um capitalismo selvagem e o socialismo pelo outro meio também
se desenvolveu, ambos devidamente condenados pela Igreja. O capitalismo
selvagem que deu aso para o liberalismo porque cai sempre no erro da
coisificação do ser humano e a extrema busca do lucro a qualquer preço. O
socialismo, por outro lado, é intrinsecamente mau. Ele pretende não ser apenas
um sistema econômico, mas algo que envolve toda a pessoa e toda a sociedade.
Parte do princípio antropológico pessimista de que o indivíduo é mau e que
precisa do Estado para governar a pessoa. Isso dá um status divino ao
Estado que pretende purificar o ser humano na sociedade.
Assim sendo, não vamos entrar
estritamente nesse contexto de condenação do socialismo e do capitalismo agora,
contudo é preciso entender que existem dificuldades com o capitalismo e total
confronto entre socialismo e cristianismo.
O mais importante nesse momento de
fazer uma breve introdução à Doutrina Social da Igreja, é que a Igreja não
elege um modelo de sistema econômico nem de governo. O que a Igreja tem são
princípios que se aplicado corretamente dentro de um sistema qualquer que não
está em franco confronto, pode dar certo conforme o contexto histórico.
A Igreja não tem, e isso é importante
entender, uma centralização na economia ao buscar seus princípios de Doutrina
Social. A economia é apenas mais um de vários temas a serem desenvolvidos, uns
com menos e outros com mais importância, mas apenas mais um desses temas. Diferentemente,
tanto socialismo quanto capitalismo, mesmo o comunismo em si ou o liberalismo
tem no seu centro a economia e, a partir desse centro as outras questões se
desenvolvem. Tanto assim que o principal ministério de qualquer país hoje em
dia é o Ministério do Fazendo, ou algo que o valha.
O centro da Doutrina Social está na
família e no indivíduo. É a partir desses dois que tudo deve se desenvolver e
em torno deles que tudo deve girar. Eles são a prioridade.
Por fim, nessa brevíssima introdução,
vemos a importância de situar a Doutrina Social da Igreja dentro do conjunto
doutrinário da Igreja. Portanto, a DSI não é uma sugestão da Igreja para os
católicos. A DSI é vinculativa para todos os batizados ou recebidos na Igreja.
Se trata de ensinamentos sobre moral em que diversos Papas buscaram ensinar
toda a humanidade. O magistério está presente nesse sentido moral e esses
princípios se fazem, então, lei para todos os batizados e recebidos na Igreja,
não é um encaminhamento, nem um parecer ou uma ideia. Não é uma sugestão com dissemos
e nem uma possibilidade, uma faculdade.
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