No capítulo 3 do livro "Hereges" de Chesterton, o autor desenvolve uma ideia muito interessante, principalmente para os dias atuais nesse nosso Brasil. Aliás, é incrível como Chesterton conseguiu ser tão atual vivendo um século antes do que agora chamamos de atualidade.
Ele desenvolve uma ideia sobre o militarismo que chama bastante atenção. Quando se fala em militarismo obviamente que está se falando dos valores que o militar carrega consigo, especialmente a coragem e a disciplina.
O militarismo, segundo a tese, não estaria errado por mostrar para os homens como ser violentos, presunçosos e até belicosos. O mal do militarismo estaria justamente no contrário, ou seja, estaria em tornar boa parte dos homens muito mansos e pacifistas. A questão é saber de qual parte estamos falando.
Que fique bem clara a diferença entre pacifistas e pacíficos. Mas a questão de Chesterton não é essa. A questão está justamente em entender que os homens que não são militares acabam se acostumando com o militarismo para protegê-los e para guerrear por eles. O militarismo acaba comprando as guerras que todos os homens deveriam tomar para si.
A conclusão acaba sendo simples: quanto mais a sociedade se torna acovardada, mansa e pacifista ao extremo (qualquer semelhança com atualidade não é mera coincidência), o militarismo tende a crescer, justamente porque alguém precisa proteger a sociedade. Isso se torna um mal devido o fato de cada vez mais homens quererem cada vez menos resolver suas guerras pessoais. Deixam tudo para os militares e isso acaba destruindo a sociedade como um todo.
Chesterton exemplifica tal lógica quando menciona que a guarda pretoriana, aquela do império romano, se tornou muito importante e, a cada vez que os militares se tornavam mais e mais importante, a sociedade se tornava cada vez mais e mais luxuosa e débil. Se tornava mais e mais fútil.
Portanto, o militar acaba ganhando cada vez mais poder civil na mesma proporção em que o civil vai perdendo cada vez mais as virtudes militares. Essa conclusão é aterradora quando se percebe que estamos vivendo exatamente isso. Vamos nos tornando uma sociedade cada vez mais covarde e por isso mesmo uma sociedade que cada vez mais busca o militarismo.
Os poemas antigos cantavam epicamente as armas e o poder do homem guerreiro. Hoje cantamos a proteção as baleias, o politicamente correto, quais os limites de um pai ao educar seu filho e uma tolerância libertina.
No início desse texto falamos sobre alguns valores dos militares, especialmente a coragem e a disciplina. O que mais deixa o homem moderno perplexo não é sequer a coragem. Não é preciso ser militar para desenvolver essa coragem. O que mais chama atenção do homem moderno é a disciplina. Para perceber isso basta verificar o quão maravilhado fica um pai ao perceber a disciplina de um colégio militar onde seu filho agora vai estudar. Quando alguém busca um colégio militar não está buscando coragem, está buscando disciplina. Quando alguém se encanta com o desfile militar, não se encanta com a coragem, se encanta com a disciplina e o verdadeiro milagre da organização. A coragem é só uma consequência disso tudo. Não é exatamente isso que vemos na sociedade atual?
Assim sendo, não há qualquer necessidade de ser militar para buscar o militarismo. Se o militarismo é exaltado por sua disciplina, essa disciplina pode ser vista em vários locais e momentos na vida. Um padeiro é disciplinado quando acorda às 4 horas da manhã para conseguir deixar o pão pronto às 6. Nesse sentido o padeiro é tão militar quanto qualquer militar. A costureira precisa ser disciplinada ao exercer seu ofício caso contrário não fará um trabalho metódico suficiente e ainda corre o risco de sofrer várias agulhadas na mão. Nesse ponto a costureira é muito militar. Em ambos os casos essa disciplina é motivo de orgulho para os disciplinados e motivo de exemplo para os expectadores.
O militarismo surge de tempos em tempos ciclicamente. Quando a sociedade se enfraquece o militarismo cresce, quando a sociedade engloba os valores do militarismo e os usa, o militarismo cai em desuso e é esquecido. Ao ser esquecido a sociedade conta a se enfraquecer e o militarismo cresce.
Em qual período exatamente estamos vivendo?
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