sexta-feira, 20 de abril de 2018

O entediante e o entediado.


(Texto inspirado no livro "Hereges" de Chesterton em seus primeiros parágrafos do capítulo terceiro)

Os adjetivos entediante e entediado, que muitas vezes se tornaram não só meros adjetivos, mas verdadeiros brasões na vida de alguns, foi a forma que o poeta britânico George Gordon Byron, mais conhecido como Lorde Byron, dividiu a humanidade. É óbvio que algo tão simples, mas que demonstra a perspicácia e visão tão profunda que uma pessoa tem do ser humano, não passaria em branco nas páginas dos livros de Chesterton.

No livro "Hereges", Chesterton, logo no início do Capítulo 3, vem mostrar essa visão de mundo para o leitor e rapidamente, como é sua característica, analisa essa profundeza de pensamento e parece dizer tudo em poucas palavras. Chesterton parece conseguir esclarecer o óbvio.

Como não sou Chesterton e obviamente não tenho esse poder de síntese (na verdade acho que não tenho nenhum poder de síntese), muito menos a genialidade dele, vou ter que escrever um pouquinho mais para tentar decifrar aquele pensamento.

A ideia central de uma pessoa entediada é aquela de superficialidade, que não tem muito a oferecer para os que estão a sua volta, muito menos para a sociedade como um todo. O entediado é aquele que não consegue perceber as minúcias e os detalhes de cada ponto em específico. O entediado olha para grama e simplesmente vê a grama. O entediado não consegue olhar para a grama e definir os seus tons de verde. Se ele não consegue sequer definir tons de verde, obviamente que não vai se perguntar o porquê daqueles tons diferentes, muito menos chegar a alguma conclusão sobre quem criou aquilo. O entediado não consegue ver a beleza por trás do óbvio. Na verdade o entendiado sequer consegue ver o óbvio. É uma pessoa prática demais para ver o que está a sua frente. O entediado é aquela pessoa que deixa a vida passar à frente do seu nariz e depois de muitos anos não sabe dizer a cor do firmamento de onde viveu toda uma vida. 

O entediado só é assim por quê tudo para ele é chato e desnecessário. Tudo para ele precisa ser prático, objetivo e atingir a função que ele entende ser real. Ele não se atenta aos detalhes e não se atenta à beleza intrínseca das coisas. Não compreende que em cada ato da criação o motivo de existir revela sua beleza e sua beleza revela seu motivo e existir.

Já o entediante não é o contrário do entediado, mas sim o seu salvador. Se não fosse o entediante, o entediado nunca descobriria o quanto não percebe as belezas da criação muito menos perceberia o quanto sua vida é prática demais para ser levada a sério.

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