É
no mínimo interessante pensar o quão difícil pode ser praticar algo que só se
tem uma vaga ideia do que seja. Com o catolicismo é assim. A maioria das
pessoas apenas vagueia pelo mais superficial que se possa encontrar sobre o
assunto e já se consideram os grandes mestres e doutores no assunto. Seria como
requerer CRM após ler o livrinho de biologia do 5º ano, ou como se vangloriar de
ser um entendedor de Direito porque ler o artigo 5º da Constituição Brasileira,
por mais bizarro que fazer isso possa parecer.
O
ideal que se coloca em prática é tudo o que o ideólogo não quer. Enquanto o
ideal está represo na mente de quem quer que seja, ele é apenas um vírus
mental, uma vontade que pode mover montanhas, mas só pode. A partir do momento
que ele é colocado em prática, tudo pode desmoronar ou desmoronar outros ideais
já existentes que nunca chegaram a essa prática. Ideal é feito pra continuar
sendo ideal, caso contrário deixa de ser ideal, já que as dificuldades da sua
prática vão desfortunar o praticante do ideal. Ora, se isso acontece, nada mais
lógico que imaginar que provavelmente não era o ideal que deveria ser colocado
em xeque, mas o praticante do ideal. Provavelmente ele é que não foi competente
pra colocar tudo em prática da melhor forma a fazer funcionar. Quem dera tudo
isso fosse tão simples!
Um
ideal quando colocado em prática provoca sempre fúria e paixão. Fúria por parte
dos seus adversários e paixão por parte dos defensores.
Nada
disso interessa até o momento em que os apaixonados começam a abandonar a ideia
por ser de impossível prática. Ora, mais uma vez nos parece ter ficado claro
que o problema está em quem não conseguiu praticar e não no ideal.
No
tópico 6 da parte I do Livro de Chesterton, O que há de errado com o mundo, ele
coloca justamente que a prática correta do ideal costuma levar os adversários e
apaixonados pelo ideal a apedrejar essa prática.
Ele
cita que o mundo sempre foi absolutamente apaixonado pela pureza e demonstrou
isso desde a mais tenra filosofia grega e romana com a adoração de deusas como
Atena, Ártemis e Vesta, mas assim que as cristãs resolveram colocar em prática
essa pureza virginal, começaram a ser jogadas aos leões e ardiam no fogo romano.
Assim acontece até hoje. Que nenhuma menina ou adulta defenda a virgindade em
público, caso contrário o martírio moral e da ridicularização virá. Quanto aos
homens, ainda mais com relação a esse tema, a coisa piora.
O
mundo considera a pobreza um ideal maravilhoso e que apenas grandes pessoas
podem alcançar, desde que não seja eu ou qualquer um perto de mim. Caso um amigo
resolva deixar tudo o que tem: empresa, emprego, namorada, casa e conta
bancária, para viver em um mosteiro ou mesmo que seja menos radical e vá para
um seminário, imediatamente é taxado de louco. Cinderela sempre será um belo
conto de fadas, desde que ela continue pobre, afinal a história acaba quando
ele sai da pobreza. Queremos padres em todas as ocasiões desde o batizado até o
funeral e missa de sétimo dia, desde que o meu filho não tenha que ir para um
seminário. Ora, não queremos o melhor para os nossos? A pobreza e pureza
virginal não são belos ideais? Porque não podemos coloca-los em prática?
O
que Chesterton pretende é mostrar que os ideais sequer foram explorados e só
não o foram por absoluta incompetência de nós mesmos. Porque a gana de criar
novos ideais se sequer conseguimos praticar os antigos? As pessoas não se
cansaram do cristianismo e por isso vemos o que vemos hoje, na verdade nós
nunca colocamos o cristianismo em prática suficientemente para nos cansar dele.
Os que o fizeram, normalmente não reclamaram, mesmo quando ardiam nas brasas do
martírio. Até pediam por isso. Hoje frequentam os altares.
Nenhum comentário:
Postar um comentário