A
pobreza é perigosa para um político. Essa ideia parece absurda, mas é outra que
aparece com o fundamento muito bem colocado no tópico 5 da primeira parte do
livro “O que há de errado com o mundo” de Chesterton.
A
facilidade com que ele coloca essa ideia em poucas linhas é impressionante como
toda a sua obra.
O
estadista pobre é perigoso pelo simples fato de que, sem o cristianismo, isso
para nós ocidentais, a pobreza não significa nada. Explico. Foi o cristianismo
divulgado pela Igreja dos primeiros séculos que criou o pensamento de caridade.
Não a caridade simples de doar coisas, mas essa também. Antes não havia muito
sentido em fazer caridade. Era coisa de gente desequilibrada mentalmente. Jesus
não foi considerado perigoso pelos pensadores da época e louco pelos mais
simples a toa. Essa ideia permeia o cristianismo desde sempre: felizes os
pobres, porque deles é o Reino dos Céus (Mt. 5, 3).
Sem
o cristianismo não há motivo para ser pobre já que não há reino nenhum a ser
atingido. Sem o cristianismo o ser pobre é puro idealismo que leva a pura
demagogia de atingir um bem futuro com essa pobreza, já que só essa vida interessa
e depois nada existe. Assim, a pobreza é só um caminho para a futura riqueza,
talvez não de pertences, mas de poder. Poder que, irremediavelmente leva à
riqueza em algum momento. Esse é o ser humano.
O
político pobre quer, antes de tudo, resolver esse problema que assim ele
entende. Pra uma pessoa que não é impulsionada por ideais cristãos, eu disse
impulsionada e não que divulga ou é cristão, não há motivo algum para continuar
sendo pobre até o fim da vida. A pobreza será apenas as migalhas de pão que
levarão a uma futura e rica casa de doces dos mais variados. O que há lá dentro
é outra história.
O
político pobre, portanto, busca a riqueza. Sua pobreza é um problema em sua
cabeça. O político rico já nasce rico e não precisa chegar à riqueza, já que já
está lá. Obviamente que esse argumento não resolve outros tipos de riqueza como
o poder, mas que diminui muito a necessidade de desvios de riqueza material,
sem dúvida que diminui. No argumento de Chesterton: “ele nasce com uma colher
de prata na boca a fim de, mais tarde, não aparecer com uma no bolso”, “o
estadista é subornado para não ser subornado”. Não é preciso explicar isso. A
metáfora é sempre autoexplicativa.
Claro
que nascer com a colher de prata na boca não significa que não se verá em um
certo momento histórico com uma faca nos dentes, isso segundo Chesterton. Por
esse motivo é que mencionamos que resolve o problema do desvio material, mas
nunca a gana de poder que é inerente e só pode ser resolvido com um pensamento
direto e fácil de ser entendido. Um pensamento que pode permear a vida de
qualquer pessoa, desde o mais pobre ao mais rico e poderoso. Como chega a esse pensamento
é que causa tanta discórdia.
Enquanto
o socialismo promete isso querendo mostrar que todos somos iguais e que podemos
fazer um mundo sempre melhor aqui, com todas as benesses e prazeres, todos
desfrutando de tudo, de todos e de todas as possibilidades, o cristianismo mostra
que o ser humano não quer ser igual porque é criado diferente e,
consequentemente, cada um tem suas necessidades próprias que diferem uns dos
outros. A ideia de igualdade fica maculada desde seu nascedouro. É impossível
fazer com que todos sejamos iguais se não somos iguais em nada. Precisaríamos
mudar a natureza humana. O socialismo tenta fazer isso através de uma revolução
cultural que pode dar certo no início (nosso momento histórico), mas não dura muito
tempo. Dura tão somente até que alguém entenda que está sendo cerceado do seu
direito no lugar de tê-lo por completo como foi prometido.
Por
outro lado, o cristianismo entende essa diferença e mostra a todos que a
verdadeira caridade é o amor pelo qual as pessoas devem ver as necessidades do
próximo e que esse amor deve ser “alterconstrutivo”, ou seja, cada um deve
construir um mundo melhor através da construção de um mundo melhor para a
pessoa que está ao seu lado. Para isso deve agir corretamente, mas deve, antes
de tudo, pensar no outro antes de pensar em si mesmo. Isso leva ao “orgulho” da
pobreza, uma vez que, sendo pobre, está tornando o outro mais feliz porque está
satisfazendo-o ao abrir mão de algo em prol desse outro. Esse outro, por sua
vez, se satisfaz pelo simples fato de que seu próximo está trabalhando no fato
de querer ser melhor, mesmo sem conseguir êxito completo. Assim, cada um está
em um estágio e todos caminhando para o mesmo fim. Uns mais perto do objetivo
outros mais distantes, uns andam mais rápido, outros mais lentamente, mas todos
olhando para o mesmo objetivo.
O
simples pensar dessa forma, mesmo que a prática seja muito mais difícil e
controversa que isso, torna o político um servidor do outro, e não um servidor
dos seus próprios interesses.
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