terça-feira, 16 de dezembro de 2014

O perigo de um político pobre. O que há de errado com o mundo. Parte 4.


A pobreza é perigosa para um político. Essa ideia parece absurda, mas é outra que aparece com o fundamento muito bem colocado no tópico 5 da primeira parte do livro “O que há de errado com o mundo” de Chesterton.

A facilidade com que ele coloca essa ideia em poucas linhas é impressionante como toda a sua obra.

O estadista pobre é perigoso pelo simples fato de que, sem o cristianismo, isso para nós ocidentais, a pobreza não significa nada. Explico. Foi o cristianismo divulgado pela Igreja dos primeiros séculos que criou o pensamento de caridade. Não a caridade simples de doar coisas, mas essa também. Antes não havia muito sentido em fazer caridade. Era coisa de gente desequilibrada mentalmente. Jesus não foi considerado perigoso pelos pensadores da época e louco pelos mais simples a toa. Essa ideia permeia o cristianismo desde sempre: felizes os pobres, porque deles é o Reino dos Céus (Mt. 5, 3).

Sem o cristianismo não há motivo para ser pobre já que não há reino nenhum a ser atingido. Sem o cristianismo o ser pobre é puro idealismo que leva a pura demagogia de atingir um bem futuro com essa pobreza, já que só essa vida interessa e depois nada existe. Assim, a pobreza é só um caminho para a futura riqueza, talvez não de pertences, mas de poder. Poder que, irremediavelmente leva à riqueza em algum momento. Esse é o ser humano.

O político pobre quer, antes de tudo, resolver esse problema que assim ele entende. Pra uma pessoa que não é impulsionada por ideais cristãos, eu disse impulsionada e não que divulga ou é cristão, não há motivo algum para continuar sendo pobre até o fim da vida. A pobreza será apenas as migalhas de pão que levarão a uma futura e rica casa de doces dos mais variados. O que há lá dentro é outra história.

O político pobre, portanto, busca a riqueza. Sua pobreza é um problema em sua cabeça. O político rico já nasce rico e não precisa chegar à riqueza, já que já está lá. Obviamente que esse argumento não resolve outros tipos de riqueza como o poder, mas que diminui muito a necessidade de desvios de riqueza material, sem dúvida que diminui. No argumento de Chesterton: “ele nasce com uma colher de prata na boca a fim de, mais tarde, não aparecer com uma no bolso”, “o estadista é subornado para não ser subornado”. Não é preciso explicar isso. A metáfora é sempre autoexplicativa.

Claro que nascer com a colher de prata na boca não significa que não se verá em um certo momento histórico com uma faca nos dentes, isso segundo Chesterton. Por esse motivo é que mencionamos que resolve o problema do desvio material, mas nunca a gana de poder que é inerente e só pode ser resolvido com um pensamento direto e fácil de ser entendido. Um pensamento que pode permear a vida de qualquer pessoa, desde o mais pobre ao mais rico e poderoso. Como chega a esse pensamento é que causa tanta discórdia.

Enquanto o socialismo promete isso querendo mostrar que todos somos iguais e que podemos fazer um mundo sempre melhor aqui, com todas as benesses e prazeres, todos desfrutando de tudo, de todos e de todas as possibilidades, o cristianismo mostra que o ser humano não quer ser igual porque é criado diferente e, consequentemente, cada um tem suas necessidades próprias que diferem uns dos outros. A ideia de igualdade fica maculada desde seu nascedouro. É impossível fazer com que todos sejamos iguais se não somos iguais em nada. Precisaríamos mudar a natureza humana. O socialismo tenta fazer isso através de uma revolução cultural que pode dar certo no início (nosso momento histórico), mas não dura muito tempo. Dura tão somente até que alguém entenda que está sendo cerceado do seu direito no lugar de tê-lo por completo como foi prometido.

Por outro lado, o cristianismo entende essa diferença e mostra a todos que a verdadeira caridade é o amor pelo qual as pessoas devem ver as necessidades do próximo e que esse amor deve ser “alterconstrutivo”, ou seja, cada um deve construir um mundo melhor através da construção de um mundo melhor para a pessoa que está ao seu lado. Para isso deve agir corretamente, mas deve, antes de tudo, pensar no outro antes de pensar em si mesmo. Isso leva ao “orgulho” da pobreza, uma vez que, sendo pobre, está tornando o outro mais feliz porque está satisfazendo-o ao abrir mão de algo em prol desse outro. Esse outro, por sua vez, se satisfaz pelo simples fato de que seu próximo está trabalhando no fato de querer ser melhor, mesmo sem conseguir êxito completo. Assim, cada um está em um estágio e todos caminhando para o mesmo fim. Uns mais perto do objetivo outros mais distantes, uns andam mais rápido, outros mais lentamente, mas todos olhando para o mesmo objetivo.


O simples pensar dessa forma, mesmo que a prática seja muito mais difícil e controversa que isso, torna o político um servidor do outro, e não um servidor dos seus próprios interesses. 

Nenhum comentário: