Muitas vezes ouço essa expressão "o espírito do concílio" para explicar coisas que parecem desconexas sobre liturgia, soteriologia, pastoralidade e até sobre o direito. Coisas que pretendem explicar não a doutrina, mas as concepções do interlocutor. O problema não é a palavra pela palavra, não é a expressão pela expressão. O problema é o uso da expressão para justificar o que muitas vezes é injustificável. Não se trata de se apegar a detalhes e minúcias, embora as minúcias sejam de extrema importância para a manutenção do todo, mas não se trata disso.
A situação é a seguinte: usar o pretexto "espírito do concílio" para justificar o que o Concílio Vaticano II não falou é um crescente argumento de quem quer usar uma interpretação extrementemente subjetiva de algo que não foi dito. Por outro lado, usar a expressão para interpretar de forma amplíssima qualquer manifestação do concílio também não o melhor caminho, obviamente.
Ao perguntar o que vem a ser "o espírito do concílio" me informaram que é aquilo que os padres conciliares queriam dizer, queriam que fosse a interpretação. Seria como que a alma do concílio. Minha pergunta é: se queriam dizer, porque não disseram? Tantos debates, tantos esquemas de documentos, tantos assuntos aprovados e outros não, tantos anos para isso dentro do próprio Concílio, porque não disseram o que queriam dizer para que o rapaz que canta na missa das 19 do domingo usando bateria e ritmo rock argumenta? Argumenta, diga-se sustentado por tantos estudiosos, mesmo que inconcientemente. Porque essa alma parece ser tão diferente do corpo (escrito) de documentos do Concílio ao se ler o que temos de mais palpável?
A interpretação acaba sendo feita não aos olhos do concílio, mas aos olhos, entendimentos e, porque não dizer, interesse de quem interpreta. Isso não é interpretação, isso é análise conforme o próprio interesse.
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