Papa assina a Declaração. Foto: L'Osservatore Romano |
“Apelamos a todas as paróquias e comunidades
luteranas e católicas para que sejam corajosas e criativas, alegres e cheias de
esperança no seu compromisso de prosseguir na grande aventura que nos espera”,
diz parte do texto.
A seguir, colocamos todo o texto completo da
Declaração:
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«Permanecei em Mim, que Eu permaneço em vós. Tal
como o ramo não pode dar fruto por si mesmo, mas só permanecendo na videira,
assim também acontecerá convosco, se não permanecerdes em Mim» (Jo 15, 4).
Com coração
agradecido
Com esta Declaração Conjunta, expressamos jubilosa
gratidão a Deus por este momento de oração comum na Catedral de Lund, com que
iniciamos o ano comemorativo do quinto centenário da Reforma. Cinquenta anos de
constante e frutuoso diálogo ecumênico entre católicos e luteranos ajudaram-nos
a superar muitas diferenças e aprofundaram a compreensão e confiança entre nós.
Ao mesmo tempo, aproximamo-nos uns dos outros através do serviço comum ao
próximo – muitas vezes em situações de sofrimento e de perseguição. Graças ao
diálogo e testemunho compartilhado, já não somos desconhecidos; antes,
aprendemos que aquilo que nos une é maior do que aquilo que nos separa.
Do conflito
à comunhão
Ao mesmo tempo que estamos profundamente gratos
pelos dons espirituais e teológicos recebidos através da Reforma, também
confessamos e lamentamos diante de Cristo que luteranos e católicos tenham
ferido a unidade visível da Igreja. Diferenças teológicas foram acompanhadas
por preconceitos e conflitos, e instrumentalizou-se a religião para fins
políticos. A nossa fé comum em Jesus Cristo e o nosso Batismo exigem de nós uma
conversão diária, graças à qual repelimos as divergências e conflitos
históricos que dificultam o ministério da reconciliação. Enquanto o passado não
se pode modificar, aquilo que se recorda e o modo como se recorda podem ser
transformados. Rezamos pela cura das nossas feridas e das lembranças que turvam
a nossa visão uns dos outros. Rejeitamos categoricamente todo o ódio e
violência, passados e presentes, especialmente os implementados em nome da
religião. Hoje, escutamos o mandamento de Deus para se pôr de parte todo o
conflito. Reconhecemos que fomos libertos pela graça para nos dirigirmos para a
comunhão a que Deus nos chama sem cessar.
O nosso
compromisso em prol de um testemunho comum
Enquanto superamos os episódios da nossa história
que gravam sobre nós, comprometemo-nos a testemunhar juntos a graça
misericordiosa de Deus, que se tornou visível em Cristo crucificado e
ressuscitado. Cientes de que o modo como nos relacionamos entre nós incide
sobre o nosso testemunho do Evangelho, comprometemo-nos a crescer ainda mais na
comunhão radicada no Batismo, procurando remover os obstáculos ainda existentes
que nos impedem de alcançar a unidade plena. Cristo quer que sejamos um só,
para que o mundo possa acreditar (cf. Jo 17, 21).
Muitos membros das nossas comunidades anseiam por
receber a Eucaristia a uma única Mesa como expressão concreta da unidade plena.
Temos experiência da dor de quantos partilham toda a sua vida, mas não podem
partilhar a presença redentora de Deus na Mesa Eucarística. Reconhecemos a
nossa responsabilidade pastoral comum de dar resposta à sede e fome espirituais
que o nosso povo tem de ser um só em Cristo. Desejamos ardentemente que esta
ferida no Corpo de Cristo seja curada. Este é o objetivo dos nossos esforços
ecuménicos, que desejamos levar por diante inclusive renovando o nosso empenho
no diálogo teológico.
Rezamos a Deus para que católicos e luteranos
saibam testemunhar juntos o Evangelho de Jesus Cristo, convidando a humanidade
a ouvir e receber a boa notícia da ação redentora de Deus. Pedimos a Deus
inspiração, ânimo e força para podermos continuar juntos no serviço, defendendo
a dignidade e os direitos humanos, especialmente dos pobres, trabalhando pela
justiça e rejeitando todas as formas de violência. Deus chama-nos a estar perto
de todos aqueles que anseiam por dignidade, justiça, paz e reconciliação. Hoje,
de modo particular, levantamos as nossas vozes para pedir o fim da violência e
do extremismo que ferem tantos países e comunidades, e inumeráveis irmãos e
irmãs em Cristo. Exortamos luteranos e católicos a trabalharem juntos para
acolher quem é estrangeiro, prestar auxílio a quantos são forçados a fugir por
causa da guerra e da perseguição, e defender os direitos dos refugiados e de
quantos procuram asilo.
Hoje mais do que nunca, damo-nos conta de que o
nosso serviço comum no mundo deve estender-se à criação inteira, que sofre a
exploração e os efeitos duma ganância insaciável. Reconhecemos o direito que
têm as gerações futuras de gozar do mundo, obra de Deus, em todo o seu potencial
e beleza. Rezamos por uma mudança dos corações e das mentes que leve a um
cuidado amoroso e responsável da criação.
Um só em
Cristo
Nesta auspiciosa ocasião, expressamos a nossa
gratidão aos irmãos e irmãs das várias Comunhões e Associações cristãs mundiais
que estão presentes e unidos conosco em oração. Ao renovar o nosso compromisso
de passar do conflito à comunhão, fazemo-lo como membros do único Corpo de
Cristo, no qual estamos incorporados pelo Batismo. Convidamos os nossos
companheiros de estrada no caminho ecumênico a lembrar-nos dos nossos
compromissos e a encorajar-nos. Pedimos-lhes que continuem a rezar por nós,
caminhar conosco, apoiar-nos na observância dos compromissos de religião que
hoje manifestamos.
Apelo aos
católicos e luteranos do mundo inteiro
Apelamos a todas as paróquias e comunidades
luteranas e católicas para que sejam corajosas e criativas, alegres e cheias de
esperança no seu compromisso de prosseguir na grande aventura que nos espera.
Mais do que os conflitos do passado, há de ser o dom divino da unidade entre
nós a guiar a colaboração e a aprofundar a nossa solidariedade. Estreitando-nos
a Cristo na fé, rezando juntos, ouvindo-nos mutuamente, vivendo o amor de
Cristo nas nossas relações, nós, católicos e luteranos, abrimo-nos ao poder de
Deus Uno e Trino. Radicados em Cristo e testemunhando-O, renovamos a nossa
determinação de ser fiéis arautos do amor infinito de Deus por toda a
humanidade.
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