segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

Sacrosanctum Conclium. Parte 5.1.Uma crítica a uma dita simplicidade e pobreza.

Quando estamos tratando de Concílio Vaticano II, por várias vezes os desentendimentos são enormes tanto por extremismos para um lado quanto para o outro. Não ousarei dizer qual dos está mais à esquerda ou mais à direita, mas a questão é que são extremos e como extremos estão o mais distante possível do meio que é o equilíbrio.

Pois bem, a questão toda aqui é dissertar um pouco sobre a questão da dignidade clerical, suas vestimentas e honrarias durante uma celebração litúrgica.

Para tanto vamos lembrar de um pequeno trecho do Sacrosanctum Concilium ao afirmar que”

“7. Para realizar tão grande obra, Cristo está sempre presente na Sua Igreja, especialmente nas ações litúrgicas. Está presente no sacrifício da Missa, quer na pessoa do ministro (...) quer sobretudo nas espécies eucarísticas.”

Para muitos dos que se dizem muito adeptos do Concílio Vaticano II, mais até do que a própria Igreja, e para não ser morno (Ap ) vamos especificar exatamente de quem falamos: a teologia da libertação em todos os seus níveis inclusive os de ignorância invencível. Muitos desses adeptos afirmam que as vestimentas devem ser mais simples, o sacerdote, bispo e diácono devem ter o mínimo de pompas durante a missa e os ornamentos devem ser mais populares, tudo em nome de uma dita pobreza e uma propagada simplicidade que é impulsionada pelo espantalho que criaram do Papa Francisco.

Esse tipo de atitude revela, na verdade o oposto do que, da boca pra fora, tentam convencer as pessoas. Não se trata de simplicidade ou pobreza, mas de egoísmo e empáfia. Não se trata de luxo ou riqueza, mas se sentir acima do bem e do mal, acima da Igreja e consequentemente de Cristo. Explico! Quando a Igreja determina que se use determinado paramento ou objeto é por obediência que o clérigo deve fazê-lo. Quando não o faz é por desobediência que não o faz. Não é tão complicado entender que quando um sacerdote não usa sua casula afirmando ser um ornamento pomposo demais, está desobedecendo e se achando maior e mais capacitado do que quem manda. Quando um padre não usa seus paramentos na missa de forma correta alegando calor, não está fazendo por simplicidade, mas por arrogância de se achar mais e melhor para decidir o que deve e o que não deve usar, além de fazê-lo por satisfação própria deixando o sacrifício de lado em todos os âmbitos possíveis e imagináveis.

O clérigo não está livre para escolher o que usa e o que não usa na missa. Em outros momentos também não, contudo nosso ponto central é a celebração litúrgica da Santa Missa. Quando o clérigo usa seus paramentos ele está usando insígnias de um embaixador, é um representante de algo muito maior que ele. Se o embaixador pensar que aquelas insígnias estão ali devido a sua dignidade pessoal, está redondamente enganado. As insígnias que ele usa são devido a dignidade de quem ele representa e sem aquelas insígnias ele não representa muita coisa.

“Assim sucede comigo, quando eu desempenho as minhas ‘funções’ litúrgicas. Ao meu ser individual, ajunda-se uma dignidade a qual me reveste de uma mandato público. Eu osso e devo considerar-me então como um delegado, o deputado oficial da Igreja inteira.”
(Dom Jean-Baptiste Chautard in A Alma de todo apostolado, Serviço de Animação Eucarística Mariana, traduzido em 2003, p. 156, Anápolis – GO)

O clérigo não é diferente em nada nessa analogia que passamos a oferecer. Quando o sacerdote está usando paramentos pomposos, não é a ele que a dignidade dos melhores paramentos e melhores ornamentos está sendo dirigida, é a quem ele representa. Se um sacerdote é envolto de coroinhas servindo a suas necessidades no altar, não é por causa da pessoa do sacerdote, mas sim devido a quem ele representa naquele momento. É a Cristo que se dirige toda aquela dignidade, toda aquela pompa e circunstância. Coitado do clérigo que considera que aqueles mimos são dirigidos à sua pessoa e coitados dos que dirigem esses mimos à pessoa humana que ali se encontra. “A Deus toda a honra e toda a glória”.

“Portanto, se tenho alguma consciência da minha dignidade, como poderei, por exemplo, começar o meu breviário, sem que se opere no meu ser uma ação misteriosa que me eleve acima de mim mesmo, acima do curso natural dos meus pensamentos para me lançar em cheio na convicção de que eu sou como um mediador entre o Céu e Terra.”
(Dom Jean-Baptiste Chautard in A Alma de todo apostolado, Serviço de Animação Eucarística Mariana, traduzido em 2003, p. 157, Anápolis – GO)

Nosso festejado São João Crisóstomo, cuja sabedoria e espiritualidade são inquestionáveis, também já escreveu algo a esse respeito:

“O sacerdote se interpõe entre Deus e natureza humana.”
(São João Crisóstomo, Hom. V, n. 1, in illud: Vidi Dominum - Medius stat Sacerdos inter Deum et humanam naturam.)

Entender que é Cristo quem fala, Cristo quem age e Cristo que celebra na Santa Missa é essencial, contudo não se trata apenas de uma simples afirmação interpretativa, é fato revelado desde os primórdios e que a Igreja continua afirmando no documento do Concílio Vaticano II sobre liturgia o Sacrosanctum Conclium, como veremos a seguir, e continuará em todos os demais que se vierem até o fim dos tempos.

“7. (...) Com razão se considera a Liturgia como o exercício da função sacerdotal de Cristo. Nela, os sinais sensíveis significam e, cada um à sua maneira, realizam a santificação dos homens; nela, o Corpo Místico de Jesus Cristo - cabeça e membros - presta a Deus o culto público integral.”


Toda vez que um clérigo, seja ele bispo, padre ou diácono deixa de fazer algo, usar algo ou dispensa algo em nome da simplicidade, o faz em nome de sua simplicidade pessoal, mas não pode misturar a sua dignidade com a de Cristo. Na celebração litúrgica da Santa Missa essa dignidade não lhe pertence, portanto que esse clérigo não tome posse de algo que não é seu. Use seus paramentos, suas insígnias e represente Cristo. Deixe de usá-las e represente você mesmo. Humilhe-se e deixe que Cristo assuma todo o seu ser assim como gostaria São Paulo “não sou eu mais quem vive, mas Cristo que vive em mim” (Gl 2,20a). Faça por ele e não por sua dignidade pessoal. Obedeça!

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