Quando estamos tratando de Concílio Vaticano II, por
várias vezes os desentendimentos são enormes tanto por extremismos para um lado
quanto para o outro. Não ousarei dizer qual dos está mais à esquerda ou mais à
direita, mas a questão é que são extremos e como extremos estão o mais distante
possível do meio que é o equilíbrio.
Pois bem, a questão toda aqui é dissertar um pouco
sobre a questão da dignidade clerical, suas vestimentas e honrarias durante uma
celebração litúrgica.
Para tanto vamos lembrar de um pequeno trecho do Sacrosanctum Concilium ao afirmar que”
“7. Para realizar tão grande obra, Cristo está sempre
presente na Sua Igreja, especialmente nas ações litúrgicas. Está presente no
sacrifício da Missa, quer na pessoa do ministro (...) quer sobretudo nas
espécies eucarísticas.”
Para muitos dos que se dizem muito adeptos do Concílio
Vaticano II, mais até do que a própria Igreja, e para não ser morno (Ap ) vamos
especificar exatamente de quem falamos: a teologia da libertação em todos os
seus níveis inclusive os de ignorância invencível. Muitos desses adeptos
afirmam que as vestimentas devem ser mais simples, o sacerdote, bispo e diácono
devem ter o mínimo de pompas durante a missa e os ornamentos devem ser mais
populares, tudo em nome de uma dita pobreza e uma propagada simplicidade que é
impulsionada pelo espantalho que criaram do Papa Francisco.
Esse tipo de atitude revela, na verdade o oposto do
que, da boca pra fora, tentam convencer as pessoas. Não se trata de
simplicidade ou pobreza, mas de egoísmo e empáfia. Não se trata de luxo ou
riqueza, mas se sentir acima do bem e do mal, acima da Igreja e
consequentemente de Cristo. Explico! Quando a Igreja determina que se use
determinado paramento ou objeto é por obediência que o clérigo deve fazê-lo.
Quando não o faz é por desobediência que não o faz. Não é tão complicado
entender que quando um sacerdote não usa sua casula afirmando ser um ornamento
pomposo demais, está desobedecendo e se achando maior e mais capacitado do que
quem manda. Quando um padre não usa seus paramentos na missa de forma correta
alegando calor, não está fazendo por simplicidade, mas por arrogância de se
achar mais e melhor para decidir o que deve e o que não deve usar, além de
fazê-lo por satisfação própria deixando o sacrifício de lado em todos os
âmbitos possíveis e imagináveis.
O clérigo não está livre para escolher o que usa e o
que não usa na missa. Em outros momentos também não, contudo nosso ponto
central é a celebração litúrgica da Santa Missa. Quando o clérigo usa seus
paramentos ele está usando insígnias de um embaixador, é um representante de
algo muito maior que ele. Se o embaixador pensar que aquelas insígnias estão
ali devido a sua dignidade pessoal, está redondamente enganado. As insígnias
que ele usa são devido a dignidade de quem ele representa e sem aquelas
insígnias ele não representa muita coisa.
“Assim sucede comigo, quando eu desempenho as minhas
‘funções’ litúrgicas. Ao meu ser individual, ajunda-se uma dignidade a qual me
reveste de uma mandato público. Eu osso e devo considerar-me então como um
delegado, o deputado oficial da Igreja inteira.”
(Dom Jean-Baptiste Chautard in A Alma de todo apostolado, Serviço de
Animação Eucarística Mariana, traduzido em 2003, p. 156, Anápolis – GO)
O
clérigo não é diferente em nada nessa analogia que passamos a oferecer. Quando
o sacerdote está usando paramentos pomposos, não é a ele que a dignidade dos
melhores paramentos e melhores ornamentos está sendo dirigida, é a quem ele
representa. Se um sacerdote é envolto de coroinhas servindo a suas necessidades
no altar, não é por causa da pessoa do sacerdote, mas sim devido a quem ele
representa naquele momento. É a Cristo que se dirige toda aquela dignidade,
toda aquela pompa e circunstância. Coitado do clérigo que considera que aqueles
mimos são dirigidos à sua pessoa e coitados dos que dirigem esses mimos à
pessoa humana que ali se encontra. “A Deus toda a honra e toda a glória”.
“Portanto, se tenho alguma consciência da minha
dignidade, como poderei, por exemplo, começar o meu breviário, sem que se opere
no meu ser uma ação misteriosa que me
eleve acima de mim mesmo, acima do curso natural dos meus pensamentos para
me lançar em cheio na convicção de que eu sou como um mediador entre o Céu e
Terra.”
(Dom Jean-Baptiste Chautard in A Alma de todo apostolado, Serviço de
Animação Eucarística Mariana, traduzido em 2003, p. 157, Anápolis – GO)
Nosso
festejado São João Crisóstomo, cuja sabedoria e espiritualidade são
inquestionáveis, também já escreveu algo a esse respeito:
“O sacerdote se interpõe entre Deus e natureza humana.”
(São João Crisóstomo, Hom. V, n. 1, in illud: Vidi Dominum - Medius stat
Sacerdos inter Deum et humanam naturam.)
Entender
que é Cristo quem fala, Cristo quem age e Cristo que celebra na Santa Missa é
essencial, contudo não se trata apenas de uma simples afirmação interpretativa,
é fato revelado desde os primórdios e que a Igreja continua afirmando no
documento do Concílio Vaticano II sobre liturgia o Sacrosanctum Conclium, como veremos a seguir, e continuará em todos
os demais que se vierem até o fim dos tempos.
“7. (...) Com razão se considera a Liturgia como o
exercício da função sacerdotal de Cristo. Nela, os sinais sensíveis significam
e, cada um à sua maneira, realizam a santificação dos homens; nela, o Corpo
Místico de Jesus Cristo - cabeça e membros - presta a Deus o culto público
integral.”
Toda
vez que um clérigo, seja ele bispo, padre ou diácono deixa de fazer algo, usar
algo ou dispensa algo em nome da simplicidade, o faz em nome de sua
simplicidade pessoal, mas não pode misturar a sua dignidade com a de Cristo. Na
celebração litúrgica da Santa Missa essa dignidade não lhe pertence, portanto
que esse clérigo não tome posse de algo que não é seu. Use seus paramentos,
suas insígnias e represente Cristo. Deixe de usá-las e represente você mesmo.
Humilhe-se e deixe que Cristo assuma todo o seu ser assim como gostaria São
Paulo “não sou eu mais quem vive, mas Cristo que vive em mim” (Gl 2,20a). Faça
por ele e não por sua dignidade pessoal. Obedeça!
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