Dentre as quatro
virtudes morais, temos a temperança como uma das mais presentes quando se
pretende levar uma vida de mortificações a caminho da santidade e perfeição.
O objetivo
principal da temperança é moderar todo o prazer sensível, ou seja, equilibrar
racionalmente funções orgânicas e aquelas ligadas à propagação da espécie, nesse
caso mais diretamente, relações sexuais e tudo o que as envolve. Equilibrar prazeres
sensíveis advindos do tato e do gosto tem o objetivo de temperar todo esse
conjunto para um fim honesto e sobrenatural.
A moderação
desses prazeres sensíveis nos levam a conhecer melhor e a impor limites à nossa
própria vontade e nossos impulsos. Ter equilíbrio não por imposição social de
alguma pena, seja estatal ou não, mas sim conseguir controlar-se e ser senhor
de si. Quando não agimos dessa ou daquela forma por simples medo ou receio de
uma punição social e não por consciência de que o ato nos traz prejuízos
pessoais e sociais, não somos senhores de nossas ações, mas sim agimos por
simples impulsos e não por razão e consciência. Se não roubamos, matamos ou nos
corrompemos por medo da prisão pura e simplesmente, significa que apenas damos
vazão a nossos impulsos e algo externo precisa freá-los, isto é, você não tem
controle. Algo de fora precisa controlar esses impulsos para reprimi-los, mesmo
que por meio do medo de uma punição severa.
Nossa vida
cotidiana já nos impele a fugir de coisas como matar, roubar ou se corromper, contudo
esse é o ápice de algo que começa pequeno dentro de cada um de nós e que é regado,
adubado e cuidado com toda devoção para que cresça e se fortaleça com o intuito
de um dia chegar nesses absurdos maiores. Quem cai nessa armadilha não consegue
perceber quando caiu. Os poucos que conseguem perceber ou percebem que não
querem voltar atrás e se conformam com o erro ou mesmo se comprazem e aproveitam
dele o máximo que podem; ou decidem voltar atrás e aí estará o grande mérito. O
caminho será longo e cheio de pedras. O aprendizado para percorrer o caminho de
volta e entrar no caminho correto é doloroso, cheio de perigos, encruzilhadas e
mensageiros que te enganam. Melhor arrancar o mal pela raiz e não deixar
crescer impulsos que só te levam ao erro.
Temos que começar
com a moderação desses impulsos desde os mais pequenos e que parecem mais
inofensivos para que com o tempo aprendamos a controlar todos eles, desde o
mais simples ao mais complexo e sedutor. Daí a importância de agir com
temperança, equilíbrio ao comer, beber e escolher os momentos e limites do
prazer, qualquer que seja ele.
Limitar esses
prazeres é um meio irrefutável de mortificação. A questão é saber fazer essa
mortificação. Moderar esses prazeres mantendo o afastamento de Deus é moderar
por vaidade. A consequência será o sentir-se melhor que outros que conseguem
limitar menos esses prazeres ou mesmo nunca abandoná-los totalmente. Deus fica
excluído do processo e não há objetivo sobre, não há crescimento espiritual,
não há nenhum ganho que não seja orgulho através da vaidade.
A falta de
temperança total, por outro lado remonta uma absoluta falta de objetivos uma
vez que tenderá a achar que nada mais há que essa vida terrena e, portanto,
vida cheia de prazeres que devem ser experimentados ao limite. “Comamos e bebamos, porque amanhã morreremos”
(Isaias 22.13). Essa não pode ser uma atitude cristã!
Ainda quanto à
mortificação que a moderação desses prazeres impõe, muitas vezes é bom e
agradável a Deus e ou até a si próprio que se faça uma moderação inclusive de
coisas que são lícitas, desde que corretamente elevadas a Deus para uma
perfeita mortificação oferecida em reparação. Trata-se de assegurar com maior
firmeza possível o império da razão sobre a emoção.
Concluindo, a
gula (comer e beber) deve ser devidamente regrada para que consigamos moderar
esse prazer e não nos tornemos reféns e escravos dela. Da mesma forma, a
temperança inclui a castidade, que regula o prazer sexual ligado a continuidade
da espécie. Por fim, temos a humildade e a mansidão que são atitudes que elevam
a alma a um estado de perfeição e santidade e que devem ser lentamente
estimuladas a fim de tornar a pessoa uma fiel cópia de Cristo que se
autodesignou manso e humilde de coração (Mateus 11, 29)
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