sexta-feira, 6 de setembro de 2013

Convite para jejum pela Síria. Algumas explicações.

Como todo mundo deve ter visto, nem que seja por alto nesses jornais e mesmo pela internet alguém comentando ou postando, o Papa Francisco convidou a todos para um dia de jejum e oração pela Síria e os acontecimentos que lá se passam nos últimos dias.

A pergunta que fica é: como fazer isso?

Hoje já não temos tanta cultura ou costume de jejuns ou abstinência, vivemos em um mundo que pede prazeres e nenhuma renúncia. É disso que se trata.

Em primeiro lugar foi um convite e não uma convocação. Se fosse uma convocação estaríamos obrigados.

Apesar de o Papa ter usado a seguinte frase no Ângelus: 

"Por isso, irmãos e irmãs, decidi convocar para toda a Igreja, no próximo dia 7 de setembro, véspera da Natividade de Maria, Rainha da Paz, um dia de jejum e de oração pela paz na Síria, no Oriente Médio (...)"

Não se tratou de uma verdadeira convocação. Ele usou só a força da expressão. Para convocar verdadeiramente outros trâmites jurídicos deveriam ter sido cumprido, portanto, foi um convite que o Papa espera que todos cumpram como se convocação fosse, mas é convite.

Depois, não é a primeira vez que isso acontece na modernidade. Claro que antigamente era muito mais comum esse tipo de pedido de jejuns e orações por questões específicas, mas modernamente isso é mais difícil apesar da facilidade de comunicação. A última vez que isso aconteceu a convite de um Papa foi pelo Beato João Paulo II quando dos ataques às Torres Gêmeas em NY em 2001.

Outras questões são: qual a diferença entre jejum e abstinência e como fazer cada um desses? Quando somos obrigados, quando somos convidados e quando podemos escolher livremente fazer?

Abstinência é se abster de algo, ou seja, deixar de fazer algo que você tenha alguma deferência. É comum nos abstermos de comidas ou bebidas, mas podemos usar de outros tipos de abstinências como deixar de usar internet, deixar de ir em algum lugar que gosta, deixar de fazer algo que lhe faz falta.

Nós católicos somos obrigados a abstinência a partir dos 14 anos de idade (cânon 1252 do Código de Direito Canônico - CDC) e não existe limite para exercê-la.

Mas de que devemos nos abster e quais são os dias de obrigatoriedade? O CDC determina no cânon 1251 que haja abstinência de carne ou de outro alimento segundo orientações da Conferência dos Bispos, no nosso caso a CNBB. Carne significa carne de animais de sangue quente segundo a tradição. Peixe e frutos do mar estão liberados sem exagero, claro. Frango, carne bovina, suína e outras, não podem. Não se trata de carne vermelha ou branca, se trata de carne de animais de sangue quente ou não. Essa questão tem explicação, mas não é o caso agora.

E quando fazer? O mesmo cânon 1251 diz que se faz a abstinência toda sexta-feira do ano, a não ser que coincidam com alguma solenidade. Essas solenidades são as solenidades litúrgicas. Acompanhe a liturgia diária e saberá. Memória não vale, tem que ser solenidade. Outro dia que se observa abstinência com obrigação é apenas para os que estão entre 14 anos e 18 anos incompletos e após os 60 na quarta-feira de cinzas e sexta-feira da paixão. Aos demais, nesses dias, cabe jejum com um ou outra exceção que veremos.

Bom, já sabemos quando somos obrigados, mas quando somos convidados, como é o caso de sábado agora, e quando podemos fazer livremente? 

A Igreja, esporadicamente, pode convidar ou convocar seus fiéis a fazer jejuns e abstinências por alguma causa específica. No dia 07/09/13 não somos obrigados a fazer porque se trata de convite e não convocação, mas buscamos a unidade e unidade significa também obediência aos graus de hierarquia para que possamos chegar a essa unidade. Busque esse mérito!

No caso de escolha livre de abstinências, você pode simplesmente escolher um dia ou conjunto de dias, como é o caso de quem escolhe abstinências às quartas da quaresma, e faz a abstinência do que escolher em prol do que escolher.

Quanto ao jejum, esse é mais profundo e mais sacrificante. Nosso Papa nos convidou a jejum no sábado dia 07/09/13. Jejum segue o mesmo modelo motivacional espiritual da abstinência, mas é mais sacrificante. Inclui fazer apenas uma refeição completa durante o dia, sem exageros, apenas com o básico para se sustentar e um ou dois lanches suficientes para sustentar o corpo durante o dia. Claro que você não fará um belo café da manhã ou um maravilhoso almoço. É só o básico para sustentar o corpo.

Estamos obrigados a jejuns apenas dois dias no ano: quarta de cinzas e sexta da paixão. Não mata ninguém! Sábado somos convidados a jejuar em prol da Síria. Vamos tentar buscar essa unidade, esse catolicismo que significa literalmente universalidade, para obedecer mesmo um convite. Não é necessária uma obrigatoriedade para obedecermos.

Estão obrigados a jejum nos dois dias de obrigação os seguintes segundo o cânon 1252 do CDC: os maiores de 18 anos e menores de 60 anos. Os que estiverem doentes ou gestantes ou os que acompanham esses doentes, estão desobrigados nesses dois dias.

A livre escolha, assim como a abstinência, você pode escolher um dia e um motivo e fazer o jejum. Sem qualquer problema.

Lembre-se que os dias preferenciais para fazer abstinências e jejuns são a quaresma e as sexta-feiras, outros dias não estão excluídos, mas esses são os melhores. Outra coisa que temos que ter em mente é que domingo não é dia de abstinência nem de jejum, nem os da quaresma.

Apenas como curiosidade, para os dias de obrigação, tanto de jejum quanto de abstinência, a Santa Sé deixou para as Conferências Episcopais, no nosso casos a CNBB, determinar mais exatamente a observância dessas obrigações. Nossa CNBB afirma que podemos substituir essas abstinências nas sexta-feiras do ano por "outras formas de penitência, principalmente em obras de caridade e exercícios de piedade".

É preciso deixar claro que o verdadeiro sentido da abstinência e dos jejuns é a penitência e em segundo plano a obediência nos dias de obrigação. Não se trata de fazer para competir consigo mesmo ou estabelecer recordes pessoais muito menos para colocar em prática aquele regime que você pretendia já há algum tempo. 

Se trata de um sacrifício entregue a Deus em prol de um bem maior. Mas porque oferecer sacrifícios? Porque é assim que Deus escolheu e não fugiu nem ao próprio sacrifício. Ele se sacrificou da maneira mais violenta sem precisar pagar nenhum pecado próprio. Sofreu para pagar pecados alheios, no caso os de toda a humanidade. Sofreu para abrir o caminho, agora precisamos trilhar esse caminho. Se esse caminho foi aberto com sofrimento, obviamente que será trilhado com sofrimento. Será um sofrimento muito menor do que Ele sofreu, mas não está excluído. Assim, completamos em nossa carne o sofrimento que falta a Cristo através da Igreja (Cl 1,24).

Eventuais dúvidas estamos aí.

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