quinta-feira, 6 de junho de 2013

Comunidade de comunidades: uma nova paróquia

Por Pe. Rafael Fornasier
BRASíLIA, 24 de Maio de 2013 (Zenit.org) - “Com a finalidade de levar a Boa-nova de Jesus a todos os povos, como o exige a nova evangelização, todas as Paróquias e suas pequenas comunidades devem ser células vivas, lugares para promover o encontro pessoal e comunitário com Cristo, para experimentar a riqueza da liturgia, para proporcionar uma formação cristã inicial e permanente e para educar a todos os fiéis na fraternidade e na caridade, especialmente para com os pobres.”[1]

Nesta perspectiva da nova evangelização para a transmissão e a vivência da fé em nossos dias e em nosso país, a 51ª Assembleia da CNBB aprovou o documento de estudos sobre o tema Comunidade de comunidades: uma nova paróquia[2] para que seja um instrumento de trabalho para as nossas Igrejas particulares e suas diversas e variadas comunidades presentes em todo o Brasil. Isso com a finalidade de auxiliar na necessária e urgente reflexão e operacionalização da conversão pastoral de nossas paróquias.

As Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora no Brasil - 2011-2015 (DGAE) propõem à Igreja “evangelizar a partir de Jesus Cristo e na força do Espírito Santo, como Igreja discípula, missionária e profética, alimentada pela Palavra de Deus e pela Eucaristia, à luz da evangélica opção preferencial pelos pobres, para que todos tenham vida (cf. Jo10, 10), rumo ao Reino definitivo.”[3]

Por isso, o texto presente deste documento busca enraizar, logo de início (I Capítulo), a experiência eclesial, que se concretiza em nossas comunidades, na Palavra de Deus que nos ilumina e nos orienta através das palavras, dos gestos e da vida do próprio Cristo e dos seus discípulos. É a Palavra de Deus que permite a todo cristão ver e julgar a realidade na qual está inserido e a qual é chamado a transformar com um novo ardor missionário através de um agir que contribua para que a paróquia em que vive seja, de fato, presença viva de Jesus Cristo, pela ação do Espírito Santo, em meio às pessoas e às famílias, em meios às casas e às cidades, como aquele que não se cansa de repetir: “Eis que estou convosco todos os dias, até o fim dos tempos” (Mt 28, 20).

No Capítulo II, busca-se compreender que, embora através de distintos modos de concretização da experiência cristã comunitária, a comunidade eclesial, ao longo da história, se consolidou, com maior ou menor êxito em certos períodos, através da escuta e da vivência da Palavra de Deus, transmitida e aprofundada através dos ensinamentos dos discípulos de Jesus. Esta realidade eclesial devia viver da comunhão fraterna e da caridade efetiva entre os membros de uma mesma comunidade ou realidade, sempre abertos a acolher o próximo; da Eucarística, vivida em todas as suas dimensões como fonte e ápice de toda a vida da Igreja; e da vida de perseverante oração. Estes elementos caracterizavam a comunidade paroquial como “Igreja Doméstica” (Domus Ecclesiae), que era chamada a zelar tanto pelo culto quanto pela comunhão, pelo serviço, pelo testemunho e pelo anúncio da Boa-nova. No entanto, fez-se e faz-se necessário hoje propor uma renovação de nossas paróquias segundo o Concílio Vaticano II e as Conferências Latino-Americanos, para que elas possam ser cada vez mais comunidade de comunidades, como afirma o Documento de Aparecida.

Para tanto, o Capítulo III nos apresenta desafios atuais e, por vezes, complexos, que se apresentam à nossas comunidades paróquias e que devem ser enfrentados pelos discípulos-missionários de Cristo neste momento de mudança de época. São desafios que podem também ser considerados oportunidades de transformação no âmbito da vida pessoal e familiar, da comunidade e da sociedade, e que devem provocar urgente conscientização e ação em vista de uma renovada experiência eclesial.

O último capítulo do documento delineia alguns traços fundamentais da identidade da comunidade cristã, apontando as suas bases para a efetiva experiência eclesial, marcada pelo agir de todos os batizados. Neste capítulo se recorda a necessária integração das diversas experiências de comunidade na comunhão paroquial e no compromisso com um planejamento conjunto de ação pastoral, em nível da Igreja particular ou local. Aponta-se ainda para a transformação das estruturas com o objetivo de aproximação e acolhimento mais humanizado das pessoas, membros ou não da comunidade; para a conversão e a articulação de todo o povo de Deus, ministros ordenados e leigos, através da responsabilidade concretamente partilhada; e para a adaptação às novas linguagens que caracterizam sobretudo as gerações mais jovens. Por fim, algumas proposições são avançadas no intuito de suscitar mais reflexão e aprofundamento em vista do exercício de uma caridade continuamente inventiva em nossas comunidades paroquiais.

Ao se concluir com algumas considerações, o presente documento convida a Igreja do Brasil a repensar sua vocação lá onde esta se concretiza no dia a dia das pessoas e comunidades, e propõe, para isso, que as paróquias, as Igrejas particulares e os Regionais da CNBB, assumam-no em suas assembleias ou organizem encontros, para recolherem contribuições na linha da reflexão, da operacionalização, das sugestões e da partilha de experiências quanto ao tema Comunidade de comunidades: uma nova paróquia. Tais contribuições vindas de nossas comunidades serão também importantes para as modificações que se fizerem necessárias ao atual documento, antes de submetê-lo, mais uma vez, à avaliação dos bispos do Brasil, e encaminhá-lo para votação final na 52ª Assembleia da CNBB, em 2014.

*Pe. Rafael Cerqueira Fornasier é sacerdote da Arquidiocese de Niterói, membro da Comunidade Emanuel, mestre em Antropologia Teológica e assessor da Comissão Episcopal Pastoral para Vida e Família da CNBB.

[1] CNBB, A Nova Evangelização para a Transmissão da Fé Cristã. Sínodo dos Bispos. XIII Assembleia Geral Ordinária. Homilias e Pronunciamentos do Papa Bento XVI. Mensagem ao Povo de Deus e Propostas dos Padres Sinodais. Brasília: Edições da CNBB, 2013, p. 75.
[2] Disponível nas Edições da CNBB e livrarias católicas, bem como no site da CNBB para download.
[3] DGAE, Objetivo Geral, p. 9.

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