quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Santa Brígida.


MENSAGEM POR OCASIÃO DO VII CENTENÁRIO DO NASCIMENTO DE SANTA BRÍGIDA CO-PADROEIRA DA EUROPA

À Reverenda Madre Tekla FAMIGLIETTI

Abadessa-Geral da Ordem do Santíssimo Salvador de Santa Brígida

1. Ao aproximar-se o VII centenário do nascimento de Santa Brígida da Suécia, uno-me de bom grado à alegria desta Família religiosa. Ao desejar pleno êxito às celebrações jubilares previstas, sobretudo ao congresso comemorativo sobre o tema "O caminho da beleza para um mundo mais justo e digno", desejo que elas contribuam para realçar ulteriormente o valor da mensagem de Santa Brígida para o nosso tempo.

Saúdo-a cordialmente, Rev.da Madre Abadessa, e as suas Irmãs de hábito, renovando a minha gratidão pelo significativo trabalho apostólico desempenhado ao serviço da unidade dos cristãos, especialmente na Europa, seguindo o exemplo da Santa sueca. Setecentos anos depois do seu nascimento, desejais voltar de novo espiritualmente àquele acontecimento como ao luminoso ponto originário da vossa história, haurindo renovado entusiasmo da recordação daquele início providencial.

Voltando de novo com a mente e com o coração à sua experiência mística, totalmente centrada na Paixão do Redentor, vós comprometeis-vos em descobrir no rosto da Igreja os reflexos da santidade de Cristo, o Redentor do homem, que está definitivamente "revestido com um manto tinto de sangue" (Ap 19, 13), garantia perene e invicta da salvação universal.

2. Quando proclamei Santa Brígida co-Padroeira da Europa, desejei oferecer aos fiéis do Continente um singular modelo de "santidade feminina". Depois de ter vivido felizmente a experiência de esposa fiel, de mãe exemplar e de educadora sábia, Brígida passou através de uma santa viuvez, chegando por fim ao estado de vida consagrada. Em todas estas fases da sua vida, ela soube conjugar com sabedoria a contemplação com uma actividade de grande alcance, sempre apoiada pelo amor a Cristo e à Igreja. Deu à comunidade cristã do seu tempo os dons próprios da feminilidade e, como mulher plenamente realizada, pôs-se ao serviço dos irmãos.

O seu exemplo pode ser para as mulheres de hoje um estímulo eficaz para se tornarem protagonistas de uma sociedade em que seja respeitada plenamente a sua dignidade; uma sociedade que saiba considerar o homem e a mulher como protagonistas, em igual medida, do plano divino universal para a humanidade. É suficiente folhear a biografia desta mulher, que soube unir em si a contemplação mais elevada com a iniciativa apostólica mais corajosa, para nos apercebermos de que Brígida pode oferecer indicações úteis também às mulheres de hoje sobre os modos oportunos de enfrentar as problemáticas relativas à família, à comunidade cristã e à própria sociedade.

3. Na Carta Apostólica em forma de "Motu Proprio" Spes aedificandi, de 1 de Outubro de 1999, escrevi que a Santa "foi elogiada pelos seus dotes pedagógicos, que teve ocasião de pôr em prática no período em que se lhe pediu que servisse na Corte de Estocolmo. Desta experiência amadurecerão os conselhos que, em diversas ocasiões dará aos príncipes e soberanos para desempenharem correctamente as suas funções. É evidente, porém, que os primeiros a lucrar com isto foram os seus filhos, não constituindo um puro caso o facto de uma das suas filhas, Catarina, ser venerada como santa" (n. 4). Que exemplo precioso para os núcleos familiares da nossa época!

Santa Brígida é também mestra de vida consagrada. De facto, dedicou-se com grande empenho à formação de quem aceitava abraçar a regra da Ordem por ela fundada, respeitando sempre as indicações do Evangelho, em cuja escola orientava de maneira firme e delicada todos os que se uniam a ela no caminho de perfeição religiosa. A sua acção pedagógica baseava-se numa sólida maturidade moral e espiritual. Precisamente por isso, a relação de vida que nos transmitiu, ainda hoje se revela válida. Poderíamos resumi-la com estas palavras:  a educação é credível quando põe em prática a "pedagogia da virtude". Isto é, para educar é preciso ser não só virtuoso, mas também sábio e competente. Só a virtude habilita para o título de mestre.

4. A espiritualidade de Santa Brígida apresenta numerosas dimensões. Por conseguinte, pode constituir uma proposta interessante para todos. Nela admiramos um cristianismo baseado na imitação incondicionada de Cristo, e animado por escolhas coerentes com o Evangelho. Foi mestra ao aceitar a Cruz como experiência central da fé; discípula exemplar da Igreja, ao professar uma catolicidade plena; modelo de vida contemplativa e ao mesmo tempo activa; apóstola incansável na busca da unidade entre os cristãos; foi também dotada de intuição profética ao ler a história no Evangelho e o Evangelho na história.

No centro da espiritualidade brigidina situa-se a primazia absoluta de Deus, de quem "não se zomba" (Gl 6, 7). A dimensão missionária depende da mística. Em Brígida, o compromisso caritativo, missionário e até político surgia da paixão pela oração e pela contemplação. Porque teve tempo para Deus, também teve tempo para o homem.

Nas declarações do processo de canonização, a filha Catarina recordava que, "enquanto o pai era vivo, e depois quando a mãe ficou viúva, nunca se sentava à mesa sem ter dado de comer a doze pobres". Foi com razão que se lhe atribuiu o nome de "mãe dos   pobres".  Também   no   período da permanência em Roma se confirmou mãe cuidadosa dos últimos, imprimindo uma marca de autenticidade à forte experiência mística que a distinguia.

Todos os que desejam ocupar-se das pequenas e novas situações de mal-estar podem, portanto, encontrar um encorajamento válido no exemplo desta mística do Norte da Europa. A sua estratégia apostólica representa uma fórmula de eficácia certa para a "nova evangelização".

5. Merece ser realçado um aspecto especial da sua espiritualidade:  a dimensão mariana da sua consagração a Cristo. Santa Brígida convida a olhar para a Virgem de Nazaré como ícone feminino do cristianismo. Procurando imitar Maria, ela esforçou-se por ser esposa, mãe e religiosa fiel:  no seguimento da Virgem, tendia em qualquer circunstância a cumprir plenamente a vontade de Deus. Não foi sem razão que o meu Predecessor Bonifácio IX, na cerimónia de canonização, pôde afirmar que, em toda a sua vida, Brígida foi extremamente devota da Bem-Aventurada Virgem (cf. Bula Ab origine mundi, 23 de Julho de 1391).

Folheando o livro das Revelações, que constitui como que um diário da sua peregrinação interior, lê-se que muitas vezes compreendeu de Maria o significado dos mistérios de Cristo. Aprendeu a repetir, enquanto contemplava adorando o Verbo de Deus encarnado:  "Sede bendito, meu Deus, meu Senhor, meu Filho" (VII, 21), recordando-se das palavras de Jesus, que disse:  "Todo aquele que fizer a vontade de meu Pai que está nos céus, esse é meu irmão, minha irmã e minha mãe" (Mt12, 50).

6. Depois, como deixar de recordar a sua paixão pela unidade da Igreja? São conhecidas as suas orações e as suas iniciativas para manter íntegra a túnica inconsútil de Cristo, a santa comunidade dos discípulos do Redentor. Como mulher de unidade, ela propõe-se-nos, por conseguinte, como testemunha do ecumenismo. A sua personalidade harmoniosa inspira a vida da Ordem, que faz remontar a ela as próprias origens na direcção de um ecumenismo espiritual e ao mesmo tempo operativo, também devido ao decisivo impulso reformador que a Beata Isabel Hesselblad quis imprimir a esta Família religiosa. A unidade da Igreja é uma graça do Espírito, que deve ser implorada constantemente na oração.

Oxalá este ano jubilar seja para a Ordem do Santíssimo Salvador um estímulo a percorrer com alegria aquele a que o meu venerado Predecessor, Papa Paulo VI, gostava de chamar "o caminho  da  beleza",  ou  seja,  o  caminho da santidade que é a forma suprema da beleza, na plena fidelidade à vocação.

Com estes sentimentos, ao invocar sobre toda a comunidade das Brigidinas as abundantes graças de Deus pela intercessão da Mãe do Senhor, de Santa Brígida e da Beata Isabel Hesselblad, concedo-lhe, Reverenda Madre, assim como a cada uma das suas filhas, como penhor de afecto constante, uma especial Bênção apostólica.

Castelgandolfo, 21 de Setembro de 2002.

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