O Decreto 8243 ficou
conhecido como aquele que instalava uma forma de democracia direta por cima do
Congresso Nacional, um claríssimo atentado contra a democracia. Esse conceito
não tem nada de sensacionalista ou exagerado para que se imbuísse uma fumaça
malcheirosa em torno do decreto.
Em poucas palavras,
o Decreto pretendia instituir uma série de comissões que teriam voz e vez
legislativa, equiparando-se e, as vezes suplantando o legislativo constituído.
Tudo parece muito bonito quando se coloca que o povo terá voz através dessas
comissões que serão formadas pelo povo. Só que não é isso o que acontece. Eu ou
você, nós pessoas comuns que precisamos trabalhar e estudar, cuidar da família,
fazer compras e outras tarefas diárias, simplesmente não temos tempo para fazer
parte de uma comissão governamental que irá discutir questões profundas ligadas
ao futuro de toda uma nação. Adivinhem que faria parte dessas comissões?!!!
Obviamente que militantes que recebem para fazer política não institucionalizada,
ou seja, militantes partidários que recebem para não ter mandato e instituir
debates e as vezes balbúrdias, é que farão parte dessas comissões. Na prática é
retirar o poder da população de escolher seus representantes no Congresso.
Pois bem, essa
proposta acaba de cair na Câmara dos Deputados. Foi o que aconteceu ontem a
noite (28/10/14). Uma Câmara dos Deputados que, vale lembrar, é infinitamente
mais dócil ao governo que a próxima Câmara que toma posse em janeiro.
O Congresso disse
não ao seu próprio aviltamento e à tentativa do governo de governar em aliança
com "movimentos sociais" aparelhados pelo PT e partidos de linha
socialista clara como é o caso do PSOL, PCO, PCdoB e congêneres. Com isso fica
claro: qualquer derrotismo, qualquer acusação de "tá tudo dominado"
ou discursos do estilo "não adianta nada, o PT sempre vence", não
passam de babaquice e de formas discretas de fortalecer as esquerdas ainda
mais.
Grande parte do PP é
oposição. O partido está rachado, o que pode ser bom ou ruim, dependendo do
ângulo que se vê. Grande parte do PMDB é oposição, a diferença é que o PMDB é dividido
naturalmente e sabe conviver com isso. Como diria uma famosa comentarista de
política: “o PMDB não é para amadores”. O PTB, aliado até outro dia, tornou-se
oposição. A tendência do PSB, tirando um ou outro quadro mais à esquerda (Luiza
Erundina, por exemplo), tende a ser um novo partido de oposição e já mostrou
isso nas eleições. Até o PV arregaçou suas manguinhas nessas últimas eleições
e, apesar de sua insignificância parlamentar, sabe fazer barulho quando quer. A
situação nunca foi tão boa para a oposição ao petismo.
O Senado verá a
chegada de quadros políticos como José Serra, Tasso Jereissatti, Álvaro Dias,
Aloysio Nunes, Ronaldo Caiado. Isso para não falar em Aécio Neves que tende a
ganhar status de líder pessoal de oposição. Que não fraqueje em sua tarefa.
O momento é de união
das oposições e daqueles que, mesmo em partidos que não são oposição, pretendem
que seu partido pule de lado. Não é momento de cobranças. O momento é de
comemorar mais uma vitória política em um assunto que realmente iria contra
tudo o que uma democracia de verdade, que é o que queremos ser, precisa ter.
Não é momento de insistir em choradeiras e conspirações, muito menos em
separatismo. Que bobagem! Eles são mais vítimas que qualquer um do sul, sudeste
ou centro-oeste. O momento é se organizar.
Nunca houve uma
disputa tão acirrada desde 1989 e, sinceramente, não me lembro de na história
ter acontecido uma disputa tão acirrada desde o início da República. É preciso
saber usar desse momento mantê-lo por pelo menos os quatro anos seguintes
É isso que a
democracia e o povo brasileiro esperam de uma oposição. É essa a oposição que o
PT sempre fez. É essa a oposição que precisa ser feita e não aquela feita nos últimos
12 anos que sequer era notada. Uma letargia agonizante que espera-se, tenha
terminado.
É esse o caminho que
cumpre uma oposição séria e verdadeira trilhar. No mínimo isso faz bem ao
sistema democrático que pretendemos ter.
Um comentário:
Esperança. Ela ainda existe. Auspicioso seu texto.
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