Introdução
Em uma brevíssima introdução sobre o tema, a Doutrina Social
da Igreja (DSI) pode ser conceituada como o corpo de ensinamentos da Igreja
Católica que aborda questões sociais, econômicas e políticas à luz do Evangelho,
da doutrina e da tradição católica. Seu desenvolvimento histórico reflete a
resposta da Igreja aos desafios sociais de diferentes épocas, sendo
profundamente enraizada nas Escrituras, nos ensinamentos dos Padres da Igreja e
no desenvolvimento da tradição teológica e filosófica ao longo dos séculos.
Podemos até mesmo dizer que se trata de uma bússola sempre
atual para uma visão sem as distorções e sem as manipulações que a política, a
mídia e os interesses momentâneos e metassociais tem. É uma visão sem turvês,
as obscuridades daquelas inserções apaixonadas e ideológicas das políticas em
todos os níveis e globalmente inspiradas.
1. As Raízes Bíblicas e Patrísticas.
As raízes da DSI estão firmemente plantadas na Bíblia. Assim
o é desde o início. O Antigo Testamento já apresenta a preocupação com a
justiça social, a dignidade humana, e o cuidado com os pobres e oprimidos.
Textos como o Êxodo, os Profetas e os Salmos destacam a importância da justiça,
da caridade e da proteção dos vulneráveis. Infelizmente essas pautas, que
sempre foram católicas, acabaram sendo furtadas por diversos movimentos que as
tem como suas, tendo uma visão distorcida de humanidade uma vez que são pautas
de interesse da humanidade e não de grupos específicos com ideologias políticas
específicas.
No Novo Testamento, Jesus vem para expandir e aprofundar essa
mensagem, particularmente no Sermão da Montanha, quando ensina a importância do
amor ao próximo, da misericórdia e da justiça. O Sermão da Montanha é uma base
muito profunda para a DSI. As parábolas de Jesus, como a do Bom Samaritano,
ilustram a necessidade de agir em favor dos outros, especialmente dos
marginalizados.
Os Padres da Igreja, como Santo Agostinho e São João
Crisóstomo, também foram fundamentais na formação da DSI, ao refletirem sobre a
relação entre fé e sociedade, e a aplicação dos princípios cristãos às questões
econômicas e sociais de suas épocas.
Lembre-se, é claro, que falavam sobre esse assunto, aprofundavam
esse tema, debatiam essas teses, mas não havia nada “batizado” com o nome de
DSI.
2. A Idade Média e a Escolástica
Durante a Idade Média, o pensamento social da Igreja foi
amplamente influenciado pela filosofia escolástica, particularmente por São
Tomás de Aquino. O Santo Angélico, em sua obra "Suma Teológica",
desenvolve uma visão integrada da justiça, tanto distributiva quanto
comutativa, e da caridade como virtude central na vida social.
Neste período, a Igreja também começa a formular teorias mais
detalhadas sobre o direito natural, a propriedade privada, e o papel do Estado,
sempre enfatizando a necessidade de que todas as instituições e práticas
sociais respeitem a dignidade humana e promovam o bem comum. Tal
desenvolvimento foi essencial para que, séculos depois, A DSI tomasse a forma
que tomou.
3. A Era Moderna e o Surgimento dos Desafios Sociais
Com o advento da era moderna, a sociedade europeia passou por
profundas transformações, marcadas pela Revolução Industrial, o surgimento do
capitalismo e do socialismo tentando se antagonizar, e a urbanização acelerada.
Estes processos trouxeram consigo novos problemas sociais, como a exploração do
trabalho, a concentração de riqueza, e a pobreza urbana em massa. Trouxeram
também, não só os problemas, mas amplas discussões sobre esses problemas e
possíveis soluções que foram se tornando teses cada vez mais profundas e as
vezes extremadas umas das outras.
A resposta inicial da Igreja a esses desafios foi
fragmentada, com diferentes vozes dentro da Igreja abordando questões sociais
em seus contextos específicos. No entanto, a necessidade de uma abordagem mais
sistemática e global tornou-se evidente à medida que os problemas sociais se
agravavam. A Igreja precisava engajar nessa discussão temporal.
4. O Magistério Social e a Encíclica Rerum Novarum
O ponto de partida oficial da DSI como corpo de ensinamentos
foi a encíclica Rerum Novarum, publicada pelo Papa Leão XIII em 1891.
Esta encíclica responde diretamente aos problemas da classe trabalhadora e ao
crescente conflito entre capital e trabalho, debate efervescente na época. Leão
XIII defende os direitos dos trabalhadores, incluindo o direito a um salário
justo, a condições de trabalho dignas e à formação de sindicatos (não os
sindicatos no formato que temos hoje). Ao mesmo tempo, condena tanto o
capitalismo desenfreado quanto o socialismo, propondo uma terceira via baseada
na justiça social e na moral cristã.
A Rerum Novarum estabelece os princípios fundamentais
da DSI, como o respeito à dignidade humana, o bem comum, a subsidiariedade e a
solidariedade. Esses são fundamentos da DSI. Ela também marca o início de uma
tradição de ensino social papal que se desenvolveu ao longo do século XX e
continua até hoje sempre com maior aprofundamento e sem perspectiva de retrocessos
nesse aprofundar.
5. Desenvolvimentos no Século XX
O século XX viu uma expansão significativa da DSI, através de
diversas encíclicas e documentos papais que abordaram questões sociais à luz
dos novos desafios globais, que foram muitos e variados.
Pio XI, com a encíclica Quadragesimo Anno (1931),
expande os ensinamentos de Leão XIII, especialmente no que diz respeito à
reestruturação da ordem social, enfatizando a importância da subsidiariedade.
O Concílio Vaticano II, realizado entre 1962 e 1965, também
foi um momento crucial para o desenvolvimento da DSI. A constituição pastoral Gaudium
et Spes representa uma reflexão profunda sobre a missão da Igreja no mundo
contemporâneo, abordando questões de paz, justiça, desenvolvimento econômico e
os direitos humanos.
São Paulo VI, com a encíclica Populorum Progressio
(1967), aborda o desenvolvimento econômico e social dos povos, defendendo que o
desenvolvimento não deve ser apenas econômico, mas integral, abrangendo todas
as dimensões da pessoa humana. Ele não aceita uma visão fragmentada do ser
humano.
São João Paulo II, em encíclicas como Laborem Exercens
(1981), Sollicitudo Rei Socialis (1987), e Centesimus Annus
(1991), reflete sobre a natureza do trabalho humano, os desafios da
globalização e a queda dos regimes comunistas na Europa Oriental, todos temas
latentes à época e alguns até hoje, mesmo que de forma diferente. Ele reafirma
a centralidade da dignidade humana e do bem comum, defendendo uma economia que
esteja ao serviço da pessoa e da sociedade.
6. A DSI no Século XXI
No século XXI, a DSI continua a evoluir em resposta aos novos
desafios globais. A encíclica Caritas in Veritate (2009) do Papa Bento
XVI, por exemplo, trata do desenvolvimento humano integral em uma era de
globalização, abordando temas como o meio ambiente, a economia global e a
responsabilidade social das empresas.
O Papa Francisco, com a encíclica Laudato Si’ (2015),
traz uma perspectiva ecológica à DSI, destacando a interconexão entre a crise
ambiental e as questões sociais e econômicas. Em Fratelli Tutti (2020),
Francisco enfoca a fraternidade e a amizade social como bases para a construção
de uma sociedade mais justa e solidária.
Arremate.
A Doutrina Social da Igreja é um corpo de ensinamentos
dinâmico, que evoluiu ao longo de vários séculos, desde antes da Igreja
inclusive, remontando o Antigo Testamento, tudo em resposta às mudanças
sociais, econômicas e políticas. Desde suas raízes bíblicas e patrísticas até
os desenvolvimentos contemporâneos, a DSI oferece uma visão moral e ética
profunda, destinada a orientar os católicos e toda a humanidade na construção
de uma sociedade que respeite a dignidade humana e promova o bem comum.
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