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Ao analisar a liturgia como um todo e ler
documentos como a Ecclesia de Eucharistia
do Beato João Paulo II, muitos que tem em seu intento apenas o estudo deixando
de lado a vivência da fé comunitariamente, seja participando ativamente em uma
paróquia seja apenas frequentando a missa nos dias santos e de guarda, como
prescreve o mandamento, acaba por tirar suas próprias conclusões de forma
errada. Essas conclusões podem divagar entre dois pontos:
Primeiro: a liturgia é um conjunto de regras a
serem seguidas com gestos, rituais e falas marcadas por momentos adequados;
Segundo: a liturgia é o ponto principal, portanto o
único que deve ser levado em consideração, sendo os demais mero enfeite desse
principal.
Ora, ambas as considerações estão erradas. Depois
da internet e o acesso fácil a um sem número de documentos, foram criados
senhores em doutrina católica como “nunca-antes-visto-nesse-país”, digo até que
no mundo. Surgiram experts em
assuntos que antes apenas demandava fé e obediência por parte dos fiéis que,
antes de tudo são isso: fiéis.
Entender de doutrina, conhecer documentos da
Igreja, saber o porquê de cada detalhe na liturgia da Santa Missa, são de
especial importância, contudo não são essenciais. Ninguém precisa ser perito em
liturgia para comungar legitimamente, muito menos para se confessar ou crer que
a Igreja foi fundada por Cristo e a ela devemos nossa obediência. Ninguém
precisa saber o que vem a ser transubstanciação, doxologia final, oração sobre
as oblatas ou discutir academicamente a tradução da fórmula da consagração para
ser bom católico. Aliás, esses, os que não sabem dessas discussões, costumam
ser os melhores católicos, porque, na ignorância e pobreza, inclusive de
coração (Mt. 5, 3) ) são os que creem. São eles os que creem sem terem visto (Jo.
20,29).
Pois bem, a liturgia não é só um conjunto de regras
rígidas de falas e posicionamentos de corpo. Essa definição se assemelha mais a
uma parada militar. A Santa Missa também não se fecha nela mesma e se esgota em
si mesma. A Santa Missa é muito mais que isso. Trata-se do sacrifício de Deus. Essa
frase parece não expressar toda a amplitude da questão, contudo é exatamente
isso: Deus dando Sua vida para abrir caminhos à salvação da humanidade que se
perdeu por querer justamente atacar e ser esse mesmo Deus. Nenhuma religião
prega um Deus como esse. Os politeísmos grego e romano tinham deuses que se
proliferavam mais que ratos fechados em um porão, contudo nenhum desses deuses
seria capaz de se entregar por aqueles meros e insignificantes mortais.
Trata-se de algo novo e inesperado na história: um Deus que se rebaixa à
condição precária de ser humano e entrega a vida com total resignação e
sofrimento à uma humanidade que como ser social nunca fez nada para merecer tal
ato de misericórdia.
É nesse sentido que o número 9 da Constituição Conciliar Sacrosanctum Concilium manifesta:
9.
A sagrada Liturgia não esgota toda a ação da Igreja, porque os homens, antes de
poderem participar na Liturgia, precisam de ouvir o apelo à fé e à conversão:
«Como hão-de invocar aquele em quem não creram? Ou como hão-de crer sem o terem
ouvido? Como poderão ouvir se não houver quem pregue? E como se há-de pregar se
não houver quem seja enviado?» (Rom. 10, 14-15).
Grande parte do parágrafo merece ser dissecado em
texto apartado por que a complexidade ultrapassa os limites do que aqui já foi
discutido e tornaria o texto extremamente longo: assim o faremos. Entretanto,
que fique muito clara a primeira frase desse número 9 do documento conciliar: “A
sagrada Liturgia não esgota toda a ação da Igreja, porque os homens, antes de
poderem participar na Liturgia, precisam de ouvir o apelo à fé e à conversão (...)”
A Liturgia, antes de ser vista e dignamente
acompanhada e honrada por nós, deve ser resultado de profunda conversão.
Podemos entender cada parte da missa e explicá-la a qualquer leigo ou doutor em
teologia, mas nunca ela será completamente entendida e, mais que isso,
vivenciada, se não estivermos em profundo estado de conversão. A medida que
entendemos, mas não cremos piamente no que ali acontece, para nós nada ocorre
que não um evento social ou religioso que pode ser visto em qualquer lugar a
qualquer tempo, portanto, “depois posso assistir à missa, vou ficar conversando
aqui fora agora”.
Entender o milagre que acontece em cada Santa Missa
é saber que nada pode ser mais importante, nada pode sobrepor esse momento
ímpar. Acompanhar a Santa Missa dignamente e convertido é acompanhar um milagre
pessoalmente com hora marcada. Qual de nós nunca teve pelo menos um breve lapso
de vontade de ver um milagre acontecer à frente de nossos olhos? Qual de nós
nunca pensou que poderia ter estado no dia de pentecostes, vendo e ouvindo os
apóstolos falarem em sua própria língua e todos ouvirem em suas línguas, uma
Babel ao contrário? Ou quem nunca pensou que poderia ter estado naquela manhã
de outubro de 1917 em Fátima para ver o sol dançar no céu? Sem dúvida todos já
tivemos essa vontade, entretanto, simplesmente abandonamos a oportunidade de
ver um milagre com hora marcada que acontece todos os dias diversas vezes e que
é o motivo de todos esses outros milagres: a consagração e transubstanciação.
A conversão transforma nossa vivência da Santa
Missa em algo de suprema importância e magistral significância. Cada gesto,
cada palavra, cada inclinar de cabeça ou dobrar de joelhos, passa a ser não uma
obrigação ou imitação, mas um verdadeiro ato de adoração, fé e conversão.
Um comentário:
Simplesmente esplêndido este artigo-comentário. Ensinou-me a entender bem mais o que vem a ser o Santo Sacrifício da Missa!!! Parabéns ao articulista que, com certeza, vive intensamente este momento único e insubstituível em nossa vida de católico. PARABÉNS!!!
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