domingo, 14 de setembro de 2025

Ilhas de ecos

Numa sociedade em que a comunicação é instantânea e abundante, a polarização não se manifesta como um debate vibrante entre polos opostos. O que observamos, na realidade, é a formação de ilhas ideológicas, fortificadas por algoritmos que nos servem apenas o que queremos ver. Nesses territórios, a voz do outro não é ouvida, mas distorcida e silenciada por um coro de vozes familiares. A desonestidade intelectual é que tem vez. 

​A expressão "quem tem ouvidos, ouça" assume um novo significado. Já não é um convite à escuta atenta, mas um desafio para romper a bolha. Pois o problema não é a existência de dois lados distintos, o que seria saudável para o debate. O problema reside na recusa de um lado em ouvir o outro. O debate sincero se esvai, dando lugar à desonestidade intelectual, onde a verdade se torna uma ferramenta de ataque e a lógica é sacrificada em nome da lealdade ao grupo.

​O que parece ser uma acalorada batalha de ideias é, na verdade, uma guerra de monólogos. Cada ilha grita sua própria verdade, enquanto o diálogo e a busca por um terreno comum se tornam a grande utopia da nossa era. A polarização, em sua forma mais grotesca, não nos divide em polos, mas nos isola em ilhas de ecos, onde o único som que ouvimos é o da nossa própria voz.

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