sexta-feira, 4 de novembro de 2022

Brevíssima introdução à Doutrina Social da Igreja.

Quando nos manifestamos sobre Doutrina Social da Igreja, antes de falarmos em documentos e em princípios é preciso entender algumas coisas que são intrínsecas ao ser humano e esse não pode ser entendido de forma separada a tais princípios, embora algumas pessoas, ideologias e religiões, não entendam assim e tentem fazer do círculo um quadrado de cinco pontas.

A primeira dessas coisas que precisamos entender é que nós, seres humanos, não nascemos bons. Nós nascemos com um pequeno defeito que a Igreja chama de pecado original. Para comprovar isso é relativamente simples quando olhamos a nossa volta.

A criança é sempre egoísta, porque será? A criança não deveria ser aquela criatura em estado mais virginal e ainda não corrompida pela sociedade, conforme o argumento de muitos? O que vemos, entretanto, é que uma criança sempre é egoísta, sempre pensa em si mesma e dependendo da idade simplesmente não compreende que existe um mundo em volta, mas sim que ela é o centro do mundo. Alguns argumentarão que isso faz parte do ser humano e nos ajudará no nosso mais perfeito desenvolvimento. Pois então, é isso mesmo o que estou dizendo: a criança é egoísta.

Outra prova dessa nossa situação é que nós, agora falando dos adultos especialmente, precisamos sempre lutar para nos manter fazendo o bem e o correto, isso por que é difícil. É difícil justamente porque não é nosso estado natural. Sem dúvida é muito mais fácil cometer o erro, seguir pelo caminho do mal e pecado, do que seguir pelo caminho do bem, da honestidade e da ombridade. Isso acontece porque nascemos com essa tendência ao erro, o pecado, que é o que chamamos, imitando a Igreja, de pecado original.

Apenas para fechar esse assunto, temos uma constatação igualmente simples: os prazeres são melhores que os deveres. Não é preciso argumentar muito sobre isso. Acredito que ninguém discorde seriamente da afirmação.

Pois bem, tendo então a afirmação de que nascemos com esse pecado original que nos deixa sempre pendentes ao erro e ao pecado, percebemos que a história da humanidade remonta essa lógica desde o início do que chamamos de história conhecida. Contudo, uma vez que não temos aqui a intenção de analisar toda a história conhecida da humanidade, mas apenas o que nos trás de forma mais imediata à nossa realidade, temos que nos últimos 700 anos temos vivido momentos de absolutismo e totalitarismo.

A ideia de sempre tentar buscar o paraíso na Terra tem sido algo muito sedutor para muitos. Dessa ideia muitas ideologias surgiram e muitas se desenvolveram ao longo desses séculos. O totalitarismo vem justamente dessa tentativa: quem está no poder sempre busca mais poder, muitas vezes consentido pelo povo, para chegar ao objetivo messiânico do paraíso na Terra. Como bem sabemos, nunca chegam, mas continuam buscando e as pessoas continuam entregando mais e mais poder a esses oportunistas e/ou ideólogos.

Com a Revolução Industrial no século XVIII temos novos tempos, tudo na vida das sociedades começa a mudar. O feudalismo, que séculos antes tinha chegado ao seu apogeu, já estava definhando a muito tempo e contava com seus últimos suspiros dentro do imaginário social. As pessoas cada vez mais buscavam as cidades para viver e trabalhar, já que a zona rural não mais trazia a segurança e qualidade de vida que antes era possível. A Revolução Industrial causou mais algumas sérias mudanças na vida dessas pessoas que agora viviam nas cidades já em uma situação de total insalubridade em todos os sentidos.

A partir da chamada Revolução Industrial muitos perderam o emprego e muitos tiveram que se qualificar para trabalhar com as tais máquinas, mas uma coisa continuou: a exploração da força de trabalho de forma totalmente desmedida.

Pouco antes disso já tinha surgido o mercantilismo que daria todas as bases para o capitalismo se desenvolver plenamente, contudo o que víamos era um capitalismo selvagem, sem qualquer freio e sem qualquer risco de humanidade. A exploração do trabalho não tinha nenhum tipo de humanidade e não seguia regra alguma que não fosse a oferta e procura. Pessoas trabalhavam 20 horas por dia, incluindo crianças que além de trabalhar todo esse tempo ainda ganhavam menos.

Todos esses fatos e essa situação precária, obviamente que seria um prato cheio para todo tipo de ideologias nascerem e foi justamente o que aconteceu.

O liberalismo se desenvolveu como uma forma através de um capitalismo selvagem e o socialismo pelo outro meio também se desenvolveu, ambos devidamente condenados pela Igreja. O capitalismo selvagem que deu aso para o liberalismo porque cai sempre no erro da coisificação do ser humano e a extrema busca do lucro a qualquer preço. O socialismo, por outro lado, é intrinsecamente mau. Ele pretende não ser apenas um sistema econômico, mas algo que envolve toda a pessoa e toda a sociedade. Parte do princípio antropológico pessimista de que o indivíduo é mau e que precisa do Estado para governar a pessoa. Isso dá um status divino ao Estado que pretende purificar o ser humano na sociedade.

Assim sendo, não vamos entrar estritamente nesse contexto de condenação do socialismo e do capitalismo agora, contudo é preciso entender que existem dificuldades com o capitalismo e total confronto entre socialismo e cristianismo.

O mais importante nesse momento de fazer uma breve introdução à Doutrina Social da Igreja, é que a Igreja não elege um modelo de sistema econômico nem de governo. O que a Igreja tem são princípios que se aplicado corretamente dentro de um sistema qualquer que não está em franco confronto, pode dar certo conforme o contexto histórico.

A Igreja não tem, e isso é importante entender, uma centralização na economia ao buscar seus princípios de Doutrina Social. A economia é apenas mais um de vários temas a serem desenvolvidos, uns com menos e outros com mais importância, mas apenas mais um desses temas. Diferentemente, tanto socialismo quanto capitalismo, mesmo o comunismo em si ou o liberalismo tem no seu centro a economia e, a partir desse centro as outras questões se desenvolvem. Tanto assim que o principal ministério de qualquer país hoje em dia é o Ministério do Fazendo, ou algo que o valha.

O centro da Doutrina Social está na família e no indivíduo. É a partir desses dois que tudo deve se desenvolver e em torno deles que tudo deve girar. Eles são a prioridade.

Por fim, nessa brevíssima introdução, vemos a importância de situar a Doutrina Social da Igreja dentro do conjunto doutrinário da Igreja. Portanto, a DSI não é uma sugestão da Igreja para os católicos. A DSI é vinculativa para todos os batizados ou recebidos na Igreja. Se trata de ensinamentos sobre moral em que diversos Papas buscaram ensinar toda a humanidade. O magistério está presente nesse sentido moral e esses princípios se fazem, então, lei para todos os batizados e recebidos na Igreja, não é um encaminhamento, nem um parecer ou uma ideia. Não é uma sugestão com dissemos e nem uma possibilidade, uma faculdade.