(Texto inspirado na conclusão do capítulo V do livro "Hereges" de Chesterton)
O forte não pode ser corajoso. Essa é uma premissa que pode parecer contraditória e até paradoxal à primeira vista, mas se analisarmos bem, trata-se de uma das mais óbvias sentenças.
O forte não tem motivo para ser corajoso, somente o fraco o tem. O forte já é temido e já tem o nome que o precede. Para o fraco tudo é uma luta, tudo é tarefa hercúlea. O fraco precisa ser corajoso para sobreviver.
Constatando isso tudo, fica claro que somente podemos confiar, em tempos difíceis como os nossos, naqueles que podem ser corajosos, ou seja, naqueles que lutam e matam um leão por dia para conseguir os seus objetivos, e não só eles, mas também para seguirem sobrevivendo. Só os corajosos são realmente confiáveis para serem fortes. Essa lógica nos traz uma paradoxal sentença de que só o fraco pode realmente ser forte.
Ver paradoxos onde não existem são a nossa especialidade, ora, é óbvio que só fraco pode realmente ser forte, afinal de contas, o forte já é forte, ou pelo menos parece ser.
A única forma de ser corajoso é ser fraco e ter um ato de coragem. Aquele que é forte e tem um ato de coragem não faz mais do que já é esperado. O forte acaba não tendo motivos para ser corajoso porque ele sempre será o gigante da luta. O forte sempre será o Golias. Mas é só Davi que pode ser corajoso. Para que o forte seja corajoso é preciso que ele entenda que tem necessidade de lutar com o fraco de igual para igual. Golias só seria realmente corajoso se entendesse o quão perigoso Davi poderia ser, mesmo sendo um fracote que não conseguia sequer sustentar uma armadura.
O super-homem que Nietzsche criou, nada mais é do que aquele homem forte que temos falado aqui, mas que nunca será corajoso. Será difícil entender que somente o fraco pode lutar contra tudo e contra todos e por isso só ele pode crescer ao ponto de ser corajoso e se tornar santo? O forte não precisa lutar contra nada. O super-homem não tem nada que o segure ou impeça. Ele não tem barreiras. Só o fraco precisa de provações diárias portanto, só ele pode chegar à santidade, justamente porque ele entende que a santidade não está nele, mas é preciso alcança-lá de diversas formas.
Se aquele super-homem de Nietzsche entendesse que não é forte em tudo, entenderia que não é corajoso e, portanto, não tem nada de super-homem. Ele deveria saber pelo menos que é preciso lutar contra cada um de nós naquilo que somos bons, isto é, contra nossa fraqueza que nos impulsiona a enfrentar os mais diversos gigantes e que nos faz corajosos a cada dia.
No final de tudo isso chegamos a conclusão de que só o fraco pode chegar a ser corajoso e só o fraco que chega a ser corajoso pode chegar a ser santo. Só um homem que é forte o bastante para entender e sentir sua fraqueza pode ser forte o bastante para superá-la. A coragem não está em sentir menos, mas em sentir mais. O fraco que chega a ser corajoso e por isso Santo, é aquele que entendeu que é preciso sentir mais para alcançar e superar os seus limites. A santidade é o último limite, a última fronteira.