terça-feira, 27 de novembro de 2012

Sacrosanctum Concilium. Parte três. Um guarda fiel da tradição.


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Logo no início do documento Sacrosanctum Concilium consta um parágrafo de interessantíssima redação, parágrafo esse que causa arrepios em modernistas que os leem e mesmo, porém em menor grau, em radicais tradicionalistas.

4. O sagrado Concílio, guarda fiel da tradição, declara que a santa mãe Igreja considera iguais em direito e honra todos os ritos legitimamente reconhecidos, quer que se mantenham e sejam por todos os meios promovidos, e deseja que, onde for necessário, sejam prudente e integralmente revistos no espírito da sã tradição e lhes seja dado novo vigor, de acordo com as circunstâncias e as necessidades do nosso tempo.

Inicialmente começa com o texto “O sagrado Concílio, guarda fiel da tradição (...)”. Muitos não consideram o Concílio Vaticano II como guarda fiel da tradição, muito pelo contrário, o considera guarda infiel ou o protetor único e inigualável de uma nova Igreja. Ambos os extremos estão redondamente enganados.

Por um lado o Concílio é guarda fiel da tradição e continuará sendo. Não importa o quanto radicais-tradicionalistas esperneiem o Concílio é tão válido quanto os mais de vinte anteriores, mas é interessante ver a expressão “guarda fiel da tradição” já que o outro extremo, ou seja, modernistas incluindo adeptos da teologia da libertação, entendem que tudo o que é tradicional deve ser extirpado do meio eclesial.

Fica claro que o catolicismo não está nem com um lado nem com outro. O catolicismo está nele mesmo e em Cristo e nele mesmo devemos nos inserir. Estando em Cristo está nele mesmo, afinal Cristo é a cabeça da Igreja. Não devemos puxá-lo para perto de nós ou tentar adequá-lo à nossa vontade ou preceitos, antes, é o contrário que deve acontecer.

A Igreja sempre será “guarda fiel da tradição” afinal é um dos fundamentos de nossa fé.

Entretanto o mais interessante do parágrafo nem é essa expressão, inusitada para uns e falsa para outros. O mais interessante é quando o parágrafo menciona que “(...)a santa mãe Igreja considera iguais em direito e honra todos os ritos legitimamente reconhecidos (...)” se são iguais, são iguais e não devem ser vistos com diferentes dignidades. E continua: “(...) quer que se mantenham e sejam por todos os meios promovidos (...)”.

Bom, se a Igreja considera iguais e honra todos os ritos legitimamente reconhecidos, há que se falar claramente que o Rito Tridentino ou Extraordinário é legitimamente reconhecido e, portanto igual em honra e dignidade. Não é melhor nem pior, é igual. Está muito bem expresso! Obviamente que um deles deveria ser escolhido como o rito ordinário e esse escolhido não foi o Tridentino, o que não diminui a sua dignidade e honra.

Mas fica a pergunta: porque a Igreja demorou tantos anos, quase cinquenta, para “liberar” a todos os sacerdotes que quisessem celebrar no Rito Tridentino, igual em dignidade e honra, sem a autorização de um Ordinário Local (Bispo)?

Na mesma oração o documento afirma que ela mesma “(...) quer que se mantenham e sejam por todos os meios promovidos (...)”. Como seria possível promover algo que fica tão restrito e tão dificultoso de se chegar ao conhecimento dos fiéis leigos e mesmo dos sacerdotes que acabam por não serem preparados nos seminários?

Bem, pode ser que a resposta não seja exatamente essa, contudo a continuidade do mesmo parágrafo pode ser a resposta para essas perguntas. Diz o documento que: “(...)de acordo com as circunstâncias e as necessidades do nosso tempo.”

Esse “de acordo com as circunstâncias e necessidades do nosso tempo” é de uma amplitude sem tamanho, fora a subjetividade. Afirmo que, a meu ver, essa frase explica o porquê de só no século XXI a Igreja expressamente ter autorizado sacerdotes a celebrarem livremente no rito Tridentino. Até aquela data não eram as circunstâncias e necessidades as melhores para esse tipo de liberdade e assim entendeu a Igreja por intermédio de todos os Papas que nesse período governaram. Cabe a nós questionar? Penso que não. Nos cabe apenas obedecer e agora aproveitar a imensa riqueza que esse rito pode nos proporcionar, não por ser maior em dignidade, vez que não é, mas por nele ser possível uma maior interiorização e meditação justamente pela forma como o rito é estruturado.

domingo, 25 de novembro de 2012

CARTA DE SANTO INÁCIO DE ANTIOQUIA AOS EFÉSIOS


Por Santo Inácio de Antioquia
Tradução: Ivo Storniolo, Euclides M. Balancin
Fonte: Padres Apostólicos, Volume I, Coleção Patrística. Ed. Paulus
Saudação
Inácio, também chamado Teóforo, à Igreja que foi grandemente abençoada com a plenitude de Deus Pai, predestinada antes dos séculos para existir sempre, para uma glória que não passa, inabalavelmente unida, escolhida na paixão verdadeira, pela vontade do Pai e de Jesus Cristo, nosso Deus. À Igreja digna de ser chamada feliz, que está em Éfeso(a), na Ásia, as melhores saudações em Jesus Cristo e numa alegria irrepreensível.
Amor dos efésios
1. 1Acolhi em Deus vosso amadíssimo nome, que adquiristes por justo título natural, segundo a fé e o amor em Cristo Jesus, nosso Salvador. Imitadores que sois de Deus, reanimados pelo sangue de Deus, realizastes até o fim a obra que convém à vossa natureza. 2Ao saber que eu vinha da Síria, acorrentado por causa do Nome e da esperança, que são comuns a nós, confiante na vossa oração para sustentar em Roma a luta com as feras, para poder ser desse modo discípulo, vós vos apressastes a vir ao meu encontro. 3Em nome de Deus, recebi a vossa comunidade na pessoa de Onésimo, homem de indizível amor, vosso bispo segundo a carne. Eu vos peço que o ameis em Jesus Cristo, e que vos torneis semelhantes a ele. Seja bendito aquele que vos concedeu a graça e vos considerou dignos de merecer tal bispo.
2. 1A Burrob, meu companheiro de serviço e vosso diácono segundo Deus, abençoado em todas as coisas, eu desejo que ele permaneça para vossa honra e do vosso bispo. Quanto a Croco, digno de Deus e de vós, que recebi como um exemplo do vosso amor, ele foi para mim conforto em todas as coisas; que o Pai de Jesus Cristo também o conforte com Onésimo, Burro, Euplo e Frontão. Neles eu vi a todos vós segundo o amor. 2Possa eu encontrar sempre a minha alegria em vós, caso eu seja digno disso. É preciso glorificar, a fim de que, reunidos na mesma obediência, submetidos ao bispo e ao presbítero, sejais santificados em todas as coisas.
Exortação à unidade
3. 1Não vos dou ordens como se fosse uma pessoa qualquer. Embora eu esteja acorrentado por causa do Nome, ainda não atingi a perfeição em Jesus Cristo. Com efeito, agora estou começando a aprender, e vos dirijo a palavra como a condiscípulos meus. Sou eu quem teria necessidade de ser ungido por vós com a fé, a exortação, a perseverança e a paciência. 2Todavia, o amor não me permite calar a respeito de vós. É por isso que desejo exortar-vos a caminhar de acordo com o pensamento de Deus. De fato, Jesus Cristo, nossa vida inseparável, é o pensamento do Pai, assim como os bispos, estabelecidos até os confins da terra, estão no pensamento de Jesus Cristo.
4. 1Convém caminhar de acordo com o pensamento de vosso bispo, como já o fazeis. Vosso presbítero, de boa reputação e digno de Deus, está unido ao bispo, assim como as cordas da cítara. Por isso, no acordo de vossos sentimentos e na harmonia de vosso amor, vós podeis cantar a Jesus Cristo. 2A partir de cada um, que vos torneis um só coro, a fim de que, na harmonia de vosso acordo, tomando na unidade o tom de Deus, canteis a uma só voz, por meio de Jesus Cristo, um hino ao Pai, para que ele vos escute e vos reconheça por vossas boas obras, como membros do seu Filho. É proveitoso, portanto, que estejais em unidade inseparável, a fim de sempre participar de Deus.
5. 1De fato, se em pouco tempo contraís com vosso bispo tanta familiaridade que não é humana mais espiritual, tanto mais eu vos felicito por estardes unidos a ele, assim com a Igreja está unida com Jesus Cristo, e Jesus Cristo com o Pai, a fim de que todas as coisas estejam de acordo na unidade. 2Que ninguém se engane: quem não está junto do altar está privado do pão de Deus. Se a oração de duas pessoas juntas tem tal força, quanto mais a do bispo e de toda a Igreja! 3Aquele que não participa da reunião é orgulhoso e já está por si mesmo julgado, pois está escrito: “Deus resiste aos orgulhosos.” Tenhamos cuidado, por tanto, para não resistirmos ao bispo, a fim de estarmos submetidos a Deus.
6. 1Quanto mais alguém vê que o bispo se cala, tanto mais o deve respeitar. De fato, a todo aquele que o dono da casa envia para administrá-la, é preciso que o recebamos como se fosse aquele que o enviou. Está claro, portanto, que devemos olhar o bispo como ao próprio Senhor. 2Por outro lado, o próprio Onésimo louva em alta voz vossa boa ordem em Deus, dizendo que vós todos viveis segundo a verdade, que nenhuma heresia se aninha entre vós e que não dais ouvido a ninguém que vos fale de qualquer coisa, a não ser de Jesus Cristo na verdade.
Fugir da heresia
7. 1De fato, existem algumas pessoas que dolosamente costumam levar o Nome, mas agem de mode diferente e indigno de Deus; é preciso que eviteis essas pessoas como se fossem feras selvagens. Com efeito, são cães raivosos que mordem sorrateiramente. Atentos a eles, pois suas mordidas são difíceis de curar. 2Existe apenas um médico, carnal e espiritual, gerado e não gerado, Deus feito carne, Filho de Maria e Filho de Deus, vida verdeira na morte, vida primeiro passível e agora impassível, Jesus Cristo nosso Senhor.
8. 1Que ninguém, portanto, vos engane, assim como também não vos deixeis enganar, sendo todos de Deus. Se não há nenhuma discórdia entre vós que possa atormentar-vos, então verdadeiramente estais vivendo segundo Deus. Sou vossa vítima expiatória, e me ofereço em sacrifício por vós, efésios, Igreja famosa pelos séculos. 2Os carnais não podem realizar as coisas espirituais, nem os espirituais coisas carnais, da mesma forma que a fé não pode realizar as coisas da infidelidade, nem a infidelidade as coisas da fé. Até mesmo as coisas que realizais na carne são espirituais. Fazei tudo em Jesus Cristo.
9. 1Eu soube que por aí passaram alguns, levando mau ensinamento. Vós, porém, não os deixastes semear em vosso meio, tapando os ouvidos para não receber o que eles semeiam, porque sois as pedras do templo do Pai, preparadas para a contrução de Deus Pai, levantadas até o alto pela alavanca de Jesus Cristo, que é a cruz, usando a corda, que é o Espírito Santo. Voss fé é o vosso guindaste, a fé é o caminho que eleva até Deus. 2Sois todos companheiros de viagem, portadores de Deus e do templo, portadores de Cristo e do Espírito Santo, portadores dos objetos sagrados, ornados em tudo com os mandamentos de Jesus Cristo. Estou alegre convosco, porque fuiu julgado digno de conversar convosco por meio desta carta, e de congratular-me pelo fato de que, vivento a vida nova, não amais nenhuma outra coisa além de Deus.
Dar exemplo das virtudes
10. 1Rezai sem cessar pelos outros homens, pois neles há esperança de conversão, a fim de que alcancem a Deus. Deixai que, ao menos por vossas obras, eles se tornem vossos discípulos. 2Quando eles tiverem seus acessos de ira, sede mansos; diante de suas manias de grandeza, sede humildes; frente às suas blafêmias, oponde vossas orações; diante de seus erros, sede firmes na fé; diante de sua ferocidade, sede pacíficos, sem procurar imitá-los. 3Sejamos irmãos deles pela bondade, e procuremos ser imitadores do Senhor. Quem sofreu mais a injustiça? Quem teve mais privações? Quem foi mais desprezado? Não se encontre entre vós nenhuma erva do diabo, mas, com toda a castidade e temperança, permanecei em Jesus Cristo com a carne e o espírito.
Procurar Cristo, fonte de vida e unidade
11. 1São os últimos tempos. Envergonhemo-nos e temamos que a paciência de Deus se transforme em condenação para nós. Das duas uma: ou tememos a ira futura, ou amamos a graça presente. Só uma coisa importa: que nos encontremos em Jesus Cristo para entrar na vida verdadeira. 2Fora dele, nada tenha valor para vós. Eu carrego as correntes por causa dele. São as pérolas espirituais com as quais eu gostaria que me fosse dado ressuscitar, graças à vossa oração. Desta desejo sempre participar para me encontrar na herança dos cristãos de Éfeso, que estão sempre unidos aos apóstolos pela força de Jesus Cristo.
12. 1Sei quem sou e a quem escrevo: eu sou um condenado, e vós obtivestes misericórdia; eu estou em perigo, e vós na segurança. 2Vós sois o caminho para aqueles que, pela morte, são elevados até Deus, iniciados nos mistérios com Paulo, que foi santificado, recebeu o testemunho e é digno de ser chamado bem-aventurado. Possa eu estar sobre as pegadas dele, quando alcançar a Deus. Em todas as suas cartas, ele se lembra de vós em Cristo Jesus.
13. 1Esforçai-vos para vos reunir mais frequentemente, para agradecer e louvar a Deus. Quando vos reunis co frequência, as forças de satanás são abatidas e sua obra de ruína é dissolvida pela concórdia de vossa fé. 2Não há nada mais precioso do que a paz, que põe abaixo toda a guerra das potências aéras e terrestres.
Fé e caridade: critério do verdadeiro discípulo
14. 1Nada disso ficará escondido de vós, se tiverdes, em Jesus Cristo, fé e amor totais, que são o começo e o fim da vida: o começo é a fé, e o fim é o amor. Os dois juntos são Deus, e tudo mais, que se refere à perfeição e santidade, os seguem. 2Quem professa a fé não peca, e quem possui o amor não odeia. Pelos frutos conhecemos a árvore. Da mesma forma, os que professam pertencer a Cristo são reconhecidos por suas obras. Agora a obra que nos é pedida não é a profissão de fé, mas que cada um se mantenha na força da fé até o fim.
Não se deixar seduzir pela heresia
15. 1É melhor calar e ser, do que falar e não ser. É bom ensinar, se aquele que fala, faz. De fato, há um único mestre, aquele que disse e era. E o que ele fez, calando, são coisas dignas do Pai. 2Aquele que possui verdadeiramente a palavra de Jesus pode escutar também seu silêncio, a fim de ser perfeito, para realizar o que diz ou para ser conhecido pelo seu silêncio. Nada está escondido para o Senhor, mas até nossos segredos estão junto dele. 3Portanto, façamos tudo como se ele morasse dentro de nós, para sermos templos dele e ele próprio ser o nosso Deus dentro de nós, como o é de fato e como aparecerá diante de nossa face, se o amarmos justamente.
16. 1Meus irmãos, não vos enganeis. Aqueles que corrompem uma família não herdarão o Reino de Deus. 2Com efeito, se morrem aqueles que fazem isto segundo a carne, quanto mais aquele que, por sua má doutrina, corrompesse a fé em Deus, pela qual Jesus Cristo foi crucificado! Essa pessoa, tornada impura, irá para o fogo inextinguivel, juntamente com aquele que a escuta
17. 1Por isso, o Senhor recebeu unguento sobre a cabeça, a fim de exalar a incorruptibilidade para a sua Igrejac. Portanto, não vos deixeis ungir com o mau odor do príncipe deste mundo, para que não os leve prisioneiros, longe da vida que vos espera. 2Por que não nos tornamos todos sábios, recebendo o conhecimento de Deus, que é Jesus Cristo? Por que perecermos loucamente, desconhecendo o dom que o Senhor verdadeiramente nos enviou?
O homem novo
18. 1Meu espírito é vítima da cruz, que é escândalo para os que não crêem, mas salvação e vida eterna para nós. Onde está o sábio? Onde está o inquisitor? Onde está a vaidade daqueles que se dizem sábios? 2De fato, o nosso Deus Jesus Cristo, segundo a economia de Deus, foi levado no seio de Maria, da descendência de Davi e do Espírito Santo. Ele nasceu e foi batizado, para purificar a água na sua paixão.
19. 1Ao príncipe deste mundo ficou escondida a virgindade de Maria, seu parto, e igualmente a morte do Senhor. Três mistérios retumbantes, que foram realizados no silêncio de Deus. 2Como, então, foram manifestados ao mundo? Um astro brilhu no céu mais que todos os astros, sua luz era indizível e sua novidade causou admiração. Todos os astros, juntamente como o sol e a lua, formaram coro em torno do astro, e ele projetou sua luz mais do que todos. 3Houve admiração. Donde vinha a novidade tão estranha a eles? Então, toda magia foi destruída, e todo reino foi arruinado, quando Deus apareceu em forma de homem, para um novidade de vida eterna. Aquilo que havida sido decidido por Deus começava a se realizar. Tudo ficou perturbado no momento em que se preparava a destruição da morte.
20. 1Se Jesus Cristo me tornar digno, graças às vossas orações, e se for da vontade de Deus, eu vos explicarei, em segundo livrinho que devo escrever-vos, a economia da qual comecei a vos falar, a respeito do homem novo, Jesus Cristo. Ela consiste na fé nele e no amor por ele, no seu sofrimento e ressurreição. 2Sobretudo se o Senhor me revelar que cada um e todos em conjunto, na graça que provém do seu nome, vos reunireis na mesma fé em Jesus Cristo da descendência de Davi segundo a carne, filho de homem e filho de Deus, para obedecer ao bispo e ao presbítero, em concórdia estável, partindo o mesmo pão, que é remédio de imortalidade, antídoto para não morrer, mas para viver em Jesus Cristo para sempred.
Saudações finais
21. 1Eu sou vosso resgate, para vós e para os que, em honra a Deus, haveis enviado a Esmirna, de onde vos escrevi, dando graças ao Senhor, amando a Policarpo como vos amo também. Lembrai-vos de mim, como Jesus se lembra de vós. 2Orai pela Igreja que está na Síria, de onde sou conduzido em cadeias até Roma, porque sendo o último dos fiéis de lá, fui julgado digno de servir à honra de Deus. Tende bom comportamento em Deus e em Jesus Cristo, nossa esperança comum.
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(a) Situada na costa oeste da Ásia Menor (hoje Turquia), tornou-se, no século VIII, uma grande potência comercial. Seu famoso templo dedicado à deusa Diana Ártemis era uma das sete maravilhas do mundo. Numerosos eram os judeus que ali habitavam e mantinham uma importante sinagoga. Talvez por isso, foi um dos primeiros centros de evangelização alimentado pelas pregações de Paulo ao longo de três anos, de 55 a 57, sua carta, a tradição joanina. O imperador Teodósio convocou ali, em 431, o III Concílio Ecumênico. Nele foi proclamado o dogma da Maternidade divina de Maria, destronando, definitivamente, o culto à deusa Diana Ártemis.
(b)Trata-se do sacerdote ad hoc que os erminiotas lhe enviaram, a quem Inácio ditava suas cartas. Cf. também Carta aos Erminiotas 7:1
(c)Forte testemunho na fé na Assistência Divina à Igreja, que impossibilita que Ela pregue o erro. Cf. Mt 16:19.
(d)Se o pão da Ceia realmente não constituísse o corpo de Cristo, estas frases de Inácio não fariam sentido.
Notas: Roque Frangiotti, Alessandro Ricardo Lima.
VS, . Apostolado Veritatis Splendor: EPÍSTOLA AOS EFÉSIOS. Disponível emhttp://www.veritatis.com.br/article/3679. Desde 05/09/1999.

sábado, 24 de novembro de 2012

Catequeses do Ano da Fé. O que é a fé?

Catequeses do Ano da Fé. Introdução.


PAPA BENTO XVI
AUDIÊNCIA GERAL
Praça de São Pedro
Quarta-feira, 24 de Outubro de 2012


Queridos irmãos e irmãs,

Na quarta-feira passada, com o início do Ano da fé, dei início a uma nova série de catequeses sobre a fé. E hoje gostaria de meditar convosco sobre uma questão fundamental: o que é a fé? Ainda tem sentido a fé, num mundo em que ciência e técnica abriram horizontes até há pouco tempo impensáveis? O que significa crer hoje? Com efeito, no nosso tempo é necessária uma renovada educação para a fé, que inclua sem dúvida um conhecimento das suas verdades e dos acontecimentos da salvação, mas sobretudo que nasça de um encontro verdadeiro com Deus em Jesus Cristo, do amá-lo, do ter confiança nele, de modo que a vida inteira seja envolvida por Ele.

Hoje, juntamente com tantos sinais de bem, aumenta ao nosso redor um certo deserto espiritual. Às vezes tem-se como que a sensação, a partir de certos acontecimentos dos quais recebemos notícias todos os dias, que o mundo não caminha rumo à construção de uma comunidade mais fraterna e mais pacífica; as próprias ideias de progresso e de bem-estar mostram também as suas sombras. Não obstante a grandeza das descobertas da ciência e dos êxitos da técnica, hoje o homem não parece ter-se tornado verdadeiramente mais livre, mais humano; subsistem muitas formas de exploração, de manipulação, de violência, de prepotência, de injustiça... Além disso, um certo tipo de cultura educou a mover-se só no horizonte das coisas, do realizável, a acreditar unicamente naquilo que se vê e se toca com as próprias mãos. Mas por outro lado, aumenta também o número daqueles que se sentem desorientados e, na tentativa de ir além de uma visão apenas horizontal da realidade, estão dispostos a crer em tudo e no seu contrário. Neste contexto sobressaem algumas interrogações fundamentais, que são muito mais concretas do que parecem à primeira vista: que sentido tem viver? Há um futuro para o homem, para nós e para as novas gerações? Para que rumo orientar as opções da nossa liberdade, para um êxito bom e feliz da vida? O que nos espera além do limiar da morte?

Destas interrogações insuprimíveis sobressai que o mundo da planificação, do cálculo exacto e da experimentação, em síntese o saber da ciência, embora seja importante para a vida do homem, sozinho não é suficiente. Temos necessidade não só do pão material, mas precisamos de amor, de significado e de esperança, de um fundamento seguro, de um terreno sólido que nos ajude a viver com um sentido autêntico também na crise, nas obscuridades, nas dificuldades e nos problemas quotidianos. A fé oferece-nos precisamente isto: é um entregar-se confiante a um «Tu», que é Deus, o qual me confere uma certeza diversa, mas não menos sólida do que aquela que me deriva do cálculo exacto ou da ciência. A fé não é simples assentimento intelectual do homem a verdades particulares sobre Deus; é um gesto mediante o qual me confio livremente a um Deus que é Pai e que me ama; é adesão a um «Tu» que me dá esperança e confiança. Sem dúvida, esta adesão a Deus não está isenta de conteúdos: com ela estamos conscientes de que o próprio Deus nos é indicado em Cristo, mostrou o seu rosto e fez-se realmente próximo de cada um de nós. Aliás, Deus revelou que o seu amor pelo homem, por cada um de nós, é incomensurável: na Cruz, Jesus de Nazaré, o Filho de Deus que se fez homem, mostra-nos do modo mais luminoso até que ponto chega este amor, até ao dom de si mesmo, até ao sacrifício total. Com o mistério da Morte e Ressurreição de Cristo, Deus desce até ao fundo na nossa humanidade, para lha restituir, para a elevar à sua altura. A fé é crer neste amor de Deus que não diminui diante da maldade do homem, perante o mal e a morte, mas é capaz de transformar todas as formas de escravidão, oferecendo a possibilidade da salvação. Então, ter fé é encontrar este «Tu», Deus, que me sustém e me faz a promessa de um amor indestrutível, que não só aspira à eternidade, mas também a concede; é confiar-me a Deus com a atitude da criança, a qual sabe bem que todas as suas dificuldades, todos os seus problemas estão salvaguardados no «tu» da mãe. E esta possibilidade de salvação através da fé é um dom que Deus oferece a todos os homens. Penso que deveríamos meditar mais frequentemente — na nossa vida quotidiana, caracterizada por problemas e situações por vezes dramáticas — sobre o facto de que crer cristãmente significa este abandonar-se com confiança ao sentido profundo que me sustém, a mim e ao mundo, àquele sentido que não somos capazes de nos darmos a nós mesmos, mas só de receber como dádiva, e que é o fundamento sobre o qual podemos viver sem temor. Temos que ser capazes de anunciar com a palavra e de mostrar com a nossa vida cristã esta certeza libertadora e tranquilizadora da fé.

Contudo, ao nosso redor vemos todos os dias que muitos permanecem indiferentes, ou rejeitam aceitar este anúncio. No final do Evangelho de Marcos, hoje temos palavras duras do Ressuscitado, que diz: «Quem crer e for baptizado será salvo, mas quem não crer será condenado» (Mc 16, 16), perder-se-á a si mesmo. Gostaria de vos convidar a meditar sobre isto. A confiança na acção do Espírito Santo deve impelir-nos sempre a ir e anunciar o Evangelho, ao testemunho corajoso da fé; mas para além da possibilidade de uma resposta positiva ao dom da fé há inclusive o risco da rejeição do Evangelho, do não-acolhimento do encontro vital com Cristo. Já santo Agostinho apresentava este problema num seu comentário à parábola do semeador: «Nós falamos — dizia — lançamos a semente, espalhamos a semente. Há aqueles que desprezam, aqueles que repreendem, aqueles que zombam. Se os tememos, não teremos mais nada para semear, e no dia da ceifa permaneceremos sem colheita. Por isso, venha a semente da terra boa» (Discursos sobre a disciplina cristã, 13, 14: pl 40, 677-678). Portanto, a rejeição não nos pode desencorajar. Como cristãos, somos testemunhas deste terreno fértil: apesar dos nossos limites, a nossa fé demonstra que existe a terra boa, onde a semente da Palavra de Deus produz frutos abundantes de justiça, de paz e de amor, de uma nova humanidade, de salvação. E toda a história da Igreja, com todos os problemas, demonstra também que existe a terra boa, que existe a semente boa, e dá fruto.

Mas perguntemo-nos: de onde haure o homem aquela abertura do coração e da mente, para acreditar no Deus que se tornou visível em Jesus Cristo, morto e ressuscitado, para acolher a sua salvação, de tal modo que Ele e o seu Evangelho sejam guia e luz da existência? Resposta: nós podemos crer em Deus, porque Ele se aproxima de nós e nos toca, porque o Espírito Santo, dom do Ressuscitado, nos torna capazes de acolher o Deus vivo. Então, a fé é antes de tudo uma dádiva sobrenatural, um dom de Deus. O Concílio Vaticano II afirma: «Para prestar esta adesão da fé, são necessários a prévia e concomitante ajuda da graça divina e os interiores auxílios do Espírito Santo, o qual move e converte a Deus o coração, abre os olhos do entendimento, e dá “a todos a suavidade em aceitar e crer na verdade”» (Constituição dogmática Dei Verbum, 5). Na base do nosso caminho de fé está o Baptismo, o sacramento que nos confere o Espírito Santo, tornando-nos filhos de Deus em Cristo, e marca a entrada na comunidade da fé, na Igreja: não cremos por nós mesmos, sem a prevenção da graça do Espírito; e não cremos sozinhos, mas juntamente com os irmãos. Do Baptismo em diante, cada crente é chamado a reviver e fazer sua esta profissão de fé, com os irmãos.

A fé é dom de Deus, mas é também acto profundamente livre e humano. O Catecismo da Igreja Católica afirma-o claramente: «O acto de fé só é possível pela graça e pelos auxílios interiores do Espírito Santo. Mas não é menos verdade que crer é um acto autenticamente humano. Não é contrário nem à liberdade nem à inteligência do homem» (n. 154). Aliás, envolve-as e exalta-as, numa aposta de vida que é como que um êxodo, ou seja um sair de nós mesmos, das nossas seguranças, dos nossos esquemas mentais, para nos confiarmos à acção de Deus que nos indica o seu caminho para alcançar a liberdade verdadeira, a nossa identidade humana, a alegria do coração, a paz com todos. Crer é confiar-se com toda a liberdade e com alegria ao desígnio providencial de Deus sobre a história, como fez o patriarca Abraão, como fez Maria de Nazaré. Então, a fé é um assentimento com que a nossa mente e o nosso coração dizem o seu «sim» a Deus, professando que Jesus é o Senhor. E este «sim» transforma a vida, abre-lhe o caminho rumo a uma plenitude de significado, tornando-a assim nova, rica de júbilo e de esperança confiável.

Caros amigos, o nosso tempo exige cristãos que tenham sido arrebatados por Cristo, que cresçam na fé graças à familiaridade com a Sagrada Escritura e com os Sacramentos. Pessoas que sejam quase um livro aberto que narra a experiência da vida nova no Espírito, a presença daquele Deus que nos sustém no caminho e nos abre para a vida que nunca mais terá fim. Obrigado!


Saudações

Uma cordial saudação para todos os peregrinos de língua portuguesa, com menção particular dos grupos de diversas paróquias e cidades do Brasil, que aqui vieram movidos pelo desejo de afirmar e consolidar a sua fé e adesão a Cristo: o Senhor vos encha de alegria e o seu Espírito ilumine as decisões da vossa vida para realizardes fielmente o projecto de Deus a vosso respeito. Acompanham-vos a minha oração e a minha Bênção.


E agora, com grande alegria, anuncio que no próximo dia 24 de Novembro realizarei um Consistório no qual nomearei 6 novos Membros do Colégio Cardinalício.
Os Cardeais têm a tarefa de coadjuvar o Sucessor de Pedro no desempenho do seu Ministério de confirmar os irmãos na fé e ser princípio e fundamento da unidade e da comunhão da Igreja.
Eis os nomes dos novos Purpurados:
1. D. James Michael Harvey, Prefeito da Casa Pontifícia, que tenciono nomear Arcipreste da Basílica Papal de São Paulo Extramuros;
2. Sua Beatitude Béchara Boutros Raï, Patriarca de Antioquia dos Maronitas (Líbano);
3. Sua Beatitude Baselios Cleemis Thottunkal, Arcebispo-Mor de Trivandrum dos Sírio-Malancares (Índia);
4. D. John Olorunfemi Onaiyekan, Arcebispo de Abuja (Nigéria);
5. D. Rubén Salazar Gómez, Arcebispo de Bogotá (Colômbia);
6. D. Luis Antonio Tagle, Arcebispo de Manila (Filipinas).
Os novos Cardeais — como ouvistes — desempenham o seu ministério ao serviço da Santa Sé ou como Padres e Pastores de Igrejas particulares em várias partes do mundo.
Convido todos a rezar pelos novos eleitos, pedindo a materna intercessão da Bem-Aventurada Virgem Maria, para que saibam amar sempre Cristo e a sua Igreja com coragem e dedicação.

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Sessão XVI do Concílio de Trento.



Continuando as postagens com os documentos do Concílio de Trento, colocamos abaixo o link das outras postagens:


1º PERÍODO: 1545 - 1547






Sessão XVI

Sessão XVI


Celebrada no tempo do Sumo Pontífice Júlio III, em 28 de abril do ano do Senhor de 1552



Decreto de Suspensão do Concílio

O Sacrossanto, Ecumênico e Geral Concílio de Trento, reunido legitimamente no Espírito Santo, e presidido pelos reverendíssimos senhores Sebastião, Arcebispo de Siponto e Luís, Bispo de Verona, Núncios Apostólicos, tanto em seu nome como em nome do Legado, o reverendíssimo e ilustríssimo senhor Marcelo Crescêncio, Cardeal da Santa Igreja Romana, do título de São Marcelo, ausente por motivo de gravíssimas indisposições de saúde, não haja dúvida e seja patente a toda cristandade que este Concílio Ecumênico de Trento foi primeiramente convocado e reunido pelo sumo Pontífice Paulo III, de feliz memória, e que depois foi restabelecido nas instâncias do augustíssimo imperador Carlos V por nosso santíssimo Padre Júlio III no qual foi determinado como principal objetivo de restabelecer, em seu primeiro ponto, a religião, lamentavelmente destroçada e dividida em diversas opiniões em muitas províncias do mundo e principalmente na Alemanha, e também para reformar os abusos e corrupções de costumes dos cristãos, e havendo concorrido com esta finalidade um grande número de Padres de diversas regiões com máxima satisfação, sem prestar atenção, em nenhum dos trabalhos, os eventuais perigos que corriam, e adiantando-se às coisas vigorosamente e de modo feliz, com grande conformidade dos fiéis e com muitas esperanças que os Alemães que haviam causado aquelas novidades viriam ao Concílio com ânimo e resolução de adotar unanimemente as verdadeiras razões da Igreja, e que em fim parecia que iriam tomar aspecto favorável, e que a comunidade cristã, antes abatida e aflita, começaria a levantar a cabeça e recobrar-se.

Apareceram repentinamente tais tumultos e guerras por artifícios do demônio, inimigo dos homens, que o Concílio foi obrigado, com grande incomodidade, a ser suspenso, com a conseqüente interrupção de seu progresso, perdendo-se assim toda a esperança de posterior adiantamento neste tempo. Estando tão distante de que o Santo Concílio possa curar os males e incomodidades dos cristãos, que contra sua espectativa, muito mais irritará que aplacará os ânimos de muitos. Vendo pois, o mesmo Santo Concílio, que todos os países e principalmente a Alemanha ardem em guerra e discórdias, e quase todos os Bispos Alemães, em especial os Príncipe Eleitores, retiraram-se do Concílio para cuidar de suas igrejas, decretou que não se houvesse tão urgente necessidade deferir a continuação em tempo mais oportuno para que os Padres, que no presente nada podem adiantar aqui, possam voltar a suas igrejas e cuidar de suas ovelhas para não perder mais tempo ociosa e inutilmente em uma e outra parte.

Em conseqüência, então, decreta, visto que assim o exigem as circunstâncias do tempo, que se suspendam por um período de dois anos as operações deste Concílio Ecumênico de Trento, como de fato suspendido foi pelo presente decreto, com a condição de que, se antes dos dois anos as coisas se apaziguarem, e seja restabelecida a antiga tranqüilidade, o que sucederá pela graça de Deus Ótimo e Máximo, talvez dentro de pouco tempo, fica bem entendido que a continuação do Concílio haverá de ocorrer o mais breve possível, com toda sua força, firmeza e vigor. Mas se prosseguirem por mais de dois anos (que Deus não o permita) os impedimentos legítimos que ficaram expressos acima, tenha-se por entendido que logo que cessem, ficará confirmada, pela mesma causa, a suspensão, assim como restituída ao concílio toda sua força e vigor, sem que se necessite nova convocação, agregando-se a este decreto, o consentimento e autoridade de Sua Santidade e da Santa Sé Apostólica.

Exorta também o mesmo Santo Concílio, a todos os Príncipes cristãos e a todos os Prelados que observem e façam respectivamente observar em tudo que toca a eles, em seus reinos, domínios e igrejas, todas e cada uma das coisas que até o momento foram estabelecidas e decretadas por este Sacrossanto e Ecumênico Concílio.

terça-feira, 20 de novembro de 2012

Sacrosanctum Concilium. Parte dois


Outros artigos sobre o CVII:


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A Constituição Conciliar Sacrosanctum Concilium continua a manifestar o porquê da existência da Liturgia dentro da Igreja e por qual motivo é preciso tanto cuidado e apreço para com ela.

Em seu número 2 é redigida ipsis litteris assim:

2. A Liturgia, pela qual, especialmente no sacrifício eucarístico, «se opera o fruto da nossa Redenção» (1), contribui em sumo grau para que os fiéis exprimam na vida e manifestem aos outros o mistério de Cristo e a autêntica natureza da verdadeira Igreja, que é simultaneamente humana e divina, visível e dotada de elementos invisíveis, empenhada na ação e dada à contemplação, presente no mundo e, todavia, peregrina, mas de forma que o que nela é humano se deve ordenar e subordinar ao divino, o visível ao invisível, a ação à contemplação, e o presente à cidade futura que buscamos (2). A Liturgia, ao mesmo tempo que edifica os que estão na Igreja em templo santo no Senhor, em morada de Deus no Espírito (3), até à medida da idade da plenitude de Cristo (4), robustece de modo admirável as suas energias para pregar Cristo e mostra a Igreja aos que estão fora, como sinal erguido entre as nações (5), para reunir à sua sombra os filhos de Deus dispersos (6), até que haja um só rebanho e um só pastor (7).

Vemos que é preciso destrinchar o parágrafo que ficou longo e pode confundir alguns conceitos e temas, algo que é muito apreciado por várias pessoas que tem a manifesta intenção de causar balbúrdias interpretativas em textos da Igreja.

O início do parágrafo tenta explica sucintamente o que a liturgia pretende e a que ela coopera afirmando que “(...) contribui em sumo grau para que os fiéis exprimam na vida e manifestem aos outros o mistério de Cristo e a autêntica natureza da verdadeira Igreja (...)”. Vamos por partes como deve ser. A Liturgia, portanto, contribui em alto (sumo) grau para que os fiéis tragam para sua vida o mistério de Cristo. O mistério de Cristo não deve ser revelado, segundo o documento, em manifestações políticas, muito menos em expressões unilaterais de leigos e clérigos. O mistério de Cristo deve vir aos fiéis através da missa e através dela esse mistério deve ser propagado a todos os cantos, católicos ou não, tudo isso para revelar algo que atualmente os fiéis tem se esquecido: a natureza da verdadeira Igreja.

Verdadeira Igreja não é uma expressão solta e apartada do todo. Não se trata de uma expressão ilustrativa para que o texto fique mais bonito e de mais interessante leitura. A verdadeira Igreja é um conceito sempre atual e desejável por Deus. Cristo morreu para que Sua Igreja Dele nascesse ainda na cruz ao ter o lado aberto derramando água e sangue.

Devemos propagar, após o envio que é a missa, a verdade que somente a verdadeira Igreja de Cristo pode nos trazer. Nos dias atuais um sem número de pessoas insistem em afirmar que a Igreja não é santa, não é perfeita, não é única... Fazendo tais afirmativas apenas expressam que Cristo não fundou uma Igreja, não trouxe uma doutrina e não deixou ensinamentos que deveriam ser entendidos e repassados por pessoas específicas e determinadas. A Igreja de Cristo é única, não há possibilidade de serem várias e isso é bem atestado quando o próprio Cristo informa aos apóstolos e mais diretamente a Pedro que “edificarei a minha Igreja” (Mt. 16,18). Cristo não disse minhas Igrejas, não disse minhas doutrinas. Disse no singular e no singular deve ficar até o fim dos tempos.

A liturgia, portanto, tem o fito de contribuir para que os fiéis possam espalhar pelo mundo a sua volta os mistérios de Cristo revelados por Sua autêntica e verdadeira Igreja.

O enorme parágrafo ainda continua da seguinte forma:

“(...) que é simultaneamente humana e divina, visível e dotada de elementos invisíveis, empenhada na ação e dada à contemplação, presente no mundo e, todavia, peregrina, mas de forma que o que nela é humano se deve ordenar e subordinar ao divino, o visível ao invisível, a ação à contemplação, e o presente à cidade futura que buscamos (2).”

Se a Igreja é simultaneamente humana e divina, diriam alguns desavisados, como poderia ser perfeita? A humanidade não é perfeita e isso a própria Igreja nunca se furtou a dizer, até porque seria loucura afirmar o contrário. Não entendem esses seres desinformados, que a Igreja visível, como em seguida no texto se diz, é formada por pessoas e por homens é dirigida. Esses homens obviamente que são imperfeitos, obviamente que são pecadores e obviamente que não são deuses. Ai está o grande pulo do gato. Deus desceu à Terra para ser morto por nós. Foi morto por nós para que seu sacrifício fosse entregue ao Pai, uma vez que o pecado da humanidade em querer ser Deus através do pecado, é tão grande que somente o sacrifício do próprio Deus poderia ser ato suficientemente válido para nossa salvação. Os sacrifícios de animais e martírios que se seguiram não tem sequer uma ponta do que significa o sacrifício de Cristo, tanto o cruento, na cruz e com derramamento de sangue, quando o incruento, na missa e sem derramamento de sangue.

Foi se fazendo homem que Deus se humilhou tão fortemente, descendo à condição da criatura, com exceção do pecado, que os mistérios se reuniram em um só lugar autêntico: a Igreja. A Igreja de Cristo, a Católica Apostólica Romana, é instituição divina como não há outra. Nela temos Cristo como sendo a cabeça e o Espírito Santo como guia. É inteira divina, inteira perfeita e inteira impecável. Pecadores somos nós os homens que sequer conseguem ter a nítida noção da grandiosidade de todo esse plano divino.

Assim sendo, o parágrafo tem o intuito de informar que a Igreja é sim humana, visível, ativa, peregrina, contudo o humano está aquém e subordinado ao divino. Da mesma forma o visível ao invisível e a ação à contemplação. O caráter peregrino deve estar subordinado sempre a onipresença divina que se faz muito clara em todas as celebrações da Santa Missa que ocorrem durante o dia em todo o mundo.

A Igreja ativa, peregrina, lutadora e visível é importante, sem dúvida, desde que esteja focada na contemplação a Deus. Ação e atitude, por mais que sejam de boa aparência, quando não focadas em Deus são pérolas aos porcos e luz engolida por trevas. Os fins não justificam os meios e por isso não há como agir de qualquer maneira para um fim considerado justo. O fim deve ser justo e o meio também. A missa deve ser sempre focada no sacrifício e nesse mistério grandioso que é a humilhação de Deus se tornando homem. Fugir disso em prol de números e satisfações é justificar os fins com meios distorcidos. Nunca foi essa a intenção do Concílio Vaticano II.

sábado, 17 de novembro de 2012

Catequeses do Ano da Fé. Introdução.



PAPA BENTO XVI
AUDIÊNCIA GERAL
Praça de São Pedro
Quarta-feira, 17 de Outubro de 2012


Queridos irmãos e irmãs,

Hoje gostaria de introduzir o novo ciclo de catequeses, que se desenvolve ao lonto de todo o Ano da fé, recém-iniciado, e que interrompe — durante este período — o ciclo dedicado à escola da oração. Mediante a Carta Apostólica Porta Fidei proclamei este Ano especial, precisamente para que a Igreja renove o entusiasmo de crer em Jesus Cristo, único Salvador do mundo, reavive a alegria de percorrer o caminho que nos indicou e testemunhe de modo concreto a força transformadora da fé.

A celebração do cinquentenário da inauguração do Concílio Vaticano II é uma ocasião importante para voltar para Deus, a fim de aprofundar e viver com maior coragem a própria fé, para fortalecer a pertença à Igreja, «mestra em humanidade» que, através do anúncio da Palavra, da celebração dos Sacramentos e das obras de caridade, nos orienta para encontrar e conhecer Cristo, verdadeiro Deus e verdadeiro homem. Trata-se do encontro não com uma ideia, nem com um projecto de vida, mas com uma Pessoa viva que nos transforma em profundidade a nós mesmos, revelando-nos a nossa verdadeira identidade de filhos de Deus. O encontro com Cristo renova os nossos relacionamentos humanos, orientando-os no dia-a-dia para uma maior solidariedade e fraternidade, na lógica do amor. Ter fé no Senhor não é algo que interessa unicamente à nossa inteligência, ao campo do saber intelectual, mas é uma mudança que compromete a vida, a totalidade do nosso ser: sentimento, coração, inteligência, vontade, corporeidade, emoções e relacionamentos humanos. Com a fé muda verdadeiramente tudo em nós e para nós, e revela-se com clareza o nosso destino futuro, a verdade da nossa vocação no interior da história, o sentido da vida, o gosto de sermos peregrinos rumo à Pátria celeste.

Mas — perguntemo-nos — a fé é verdadeiramente a força transformadora da nossa vida, na minha vida? Ou então é apenas um dos elementos que fazem parte da existência, sem ser aquele determinante, que a abrange totalmente? Com as catequeses deste Ano da fé gostaríamos de percorrer um caminho para fortalecer ou reencontrar a alegria da fé, compreendendo que ela não é algo de alheio, separado da vida concreta, mas é a sua alma. A fé num Deus que é amor, e que se fez próximo do homem, encarnando e doando-se a si mesmo na cruz para nos salvar e reabrir as portas do Céu, indica de modo luminoso que a plenitude do homem consiste unicamente no amor. Hoje é necessário reiterá-lo com clareza, enquanto as transformações culturais em curso mostram com frequência tantas formas de barbárie, que passam sob o sinal de «conquistas de civilização»: a fé afirma que não há humanidade autêntica, a não ser nos lugares, nos gestos, nos tempos e nas formas como o homem é animado pelo amor que vem de Deus, se expressa como dom, se manifesta em relações ricas de amor, de compaixão, de atenção e de serviço abnegado ao próximo. Onde existe domínio, posse, exploração, mercantilização do outro por egoísmo próprio, onde há arrogância do eu, fechado em si mesmo, o homem torna-se pobre, degradado, desfigurado. A fé cristã, laboriosa na caridade e forte na esperança, não limita mas humaniza a vida, aliás, torna-a plenamente humana.

A fé é o acolhimento desta mensagem transformadora na nossa vida, o acolhimento da revelação de Deus, que nos faz conhecer quem Ele é, como age, quais são os seus desígnios para nós. Sem dúvida, o mistério de Deus permanece sempre além dos nossos conceitos e da nossa razão, dos nossos ritos e das nossas preces. Todavia, com a revelação é o próprio Deus quem se autocomunica, se descreve, se torna acessível. E nós tornamo-nos capazes de ouvir a sua Palavra e de receber a sua verdade. Eis, pois, a maravilha da fé: Deus, no seu amor, cria em nós — através da obra do Espírito Santo — as condições adequadas para que possamos reconhecer a sua Palavra. O próprio Deus, na sua vontade de se manifestar, de entrar em contacto connosco, de se fazer presente na nossa história, torna-nos capazes de o ouvir e acolher. São Paulo exprime-o assim, com alegria e reconhecimento: «Nós não cessamos de dar graças a Deus, porque recebestes a palavra de Deus, que de nós ouvistes, e porque a acolhestes não como palavra de homens, mas como aquilo que realmente é, palavra de Deus, que age eficazmente em vós, fiéis» (1 Ts 2, 13).

Deus revelou-se mediante palavras e obras em toda uma longa história de amizade com o homem, que culmina na Encarnação do Filho de Deus e no seu Mistério de Morte e Ressurreição. Deus não só se revelou na história de um povo, nem falou só por meio dos Profetas, mas atravessou o seu Céu para entrar na terra dos homens como homem, para que pudéssemos encontrá-lo e ouvi-lo. E de Jerusalém o anúncio do Evangelho da salvação propagou-se até aos confins da terra. A Igreja, nascida do lado de Cristo, tornou-se portadora de uma esperança nova e sólida: Jesus de Nazaré, crucificado e ressuscitado, Salvador do mundo, que está sentado à direita do Pai e é Juiz dos vivos e dos mortos. Este é o kerigma, o anúncio central e impetuoso da fé. Mas desde o início levantou o problema da «regra da fé», ou seja, da fidelidade dos crentes à verdade do Evangelho, na qual permanecer firmes, à verdade salvífica sobre Deus e sobre o homem, que se deve conservar e transmitir. São Paulo escreve: «Recebereis a salvação, se o mantiverdes [o Evangelho] como vo-lo anunciei. Caso contrário, em vão teríeis abraçado a fé» (1 Cor 15, 2).

Mas onde encontramos a fórmula essencial da fé? Onde encontramos as verdades que nos foram fielmente transmitidas e que constituem a luz para a nossa vida diária? A resposta é simples: no Credo, na Profissão de Fé, ou Símbolo da Fé, nós relacionamo-nos com o acontecimento originário da Pessoa e da História de Jesus de Nazaré; torna-se concreto quanto o Apóstolo das nações dizia aos cristãos de Corinto: «Transmiti-vos primeiramente o que eu mesmo tinha recebido: que Cristo morreu pelos nossos pecados, segundo as Escrituras; foi sepultado e ressuscitou ao terceiro dia» (1 Cor 15, 3-4).

Ainda hoje temos necessidade que o Credo seja melhor conhecido, compreendido e pregado. Sobretudo, é importante que o Credo seja, por assim dizer, «reconhecido». Com efeito, conhecer poderia ser algo simplesmente intelectual, enquanto «reconhecer» quer significar a necessidade de descobrir o vínculo profundo entre as verdades que professamos no Credo e a nossa existência quotidiana, para que estas verdades sejam deveras e concretamente — como sempre foram — luz para os passos do nosso viver, água que rega a aridez do nosso caminho, vida que vence certos desertos da vida contemporânea. No Credo insere-se a vida moral do cristão, que nele encontra o seu fundamento e a sua justificação.

Não é por acaso que o Beato João Paulo II quis que o Catecismo da Igreja Católica, norma segura para o ensinamento da fé e fonte certa para uma catequese renovada, se inspirasse no Credo. Tratava-se de confirmar e conservar este núcleo fulcral das verdades da fé, comunicando-o numa linguagem mais inteligível aos homens do nosso tempo, a nós. É um dever da Igreja transmitir a fé, comunicar o Evangelho, a fim de que as verdades cristãs sejam luz das novas transformações culturais, e os cristãos se tornem capazes de explicar a razão da sua esperança (cf. 1 Pd 3, 14). Hoje, vivemos numa sociedade profundamente transformada, também em relação a um passado recente, e em movimento contínuo. Os processos da secularização e de uma difundida mentalidade niilista, em que tudo é relativo, marcaram profundamente a mentalidade comum. Assim, a vida é muitas vezes levada com superficialidade, sem ideais claros nem esperanças sólidas, no contexto de vínculos sociais e familiares fluidos, provisórios. Sobretudo as novas gerações não são educadas para a busca da verdade e do sentido profundo da existência, que ultrapasse o contingente, para a estabilidade dos afectos, para a confiança. Ao contrário, o relativismo leva a não ter pontos firmes, suspeita e volubilidade provocam rupturas nos relacionamentos humanos, enquanto a vida é vivida com experiências que duram pouco, sem assunção de responsabilidade. Se o individualismo e o relativismo parecem dominar o espírito de muitos contemporâneos, não se pode dizer que os crentes permanecem totalmente imunes a estes perigos, que devemos enfrentar na transmissão da fé. A sondagem realizada em todos os Continentes, em vista da celebração do Sínodo dos Bispos sobre a Nova Evangelização, evidenciou alguns: uma fé vivida de modo passivo e privado, a rejeição da educação para a fé, a ruptura entre vida e fé.

Muitas vezes o cristão não conhece nem sequer o núcleo central da própria fé católica, do Credo, de modo a deixar espaço a um certo sincretismo e relativismo religioso, sem clareza sobre as verdades nas quais crer e sobre a singularidade salvífica do cristianismo. Hoje não está muito distante o risco de construir, por assim dizer, uma religião personalizada. Ao contrário, temos que voltar para Deus, para o Deus de Jesus Cristo, temos que redescobrir a mensagem do Evangelho, fazê-lo entrar de modo mais profundo nas nossas consciências e na vida quotidiana.

Nas catequeses deste Ano da fé gostaria de oferecer uma ajuda para percorrer este caminho, para retomar e aprofundar as verdades centrais da fé sobre Deus, o homem, a Igreja e toda a realidade social e cósmica, meditando e ponderando sobre as afirmações do Credo. E gostaria que fosse clara que estes conteúdos ou verdades da fé (fides quae) se relacionam directamente com a nossa vida; exigem uma conversão da existência, que dá vida a um novo modo de crer em Deus (fides qua). Conhecer Deus, encontrá-lo, aprofundar os traços da sua Face põe em jogo a nossa vida, pois Ele entra nos dinamismos profundos do ser humano.

Possa o caminho que percorreremos este Ano fazer-nos crescer todos na fé e no amor a Cristo, para que aprendamos a viver, nas opções e gestos quotidianos, a vida boa e bela do Evangelho. Obrigado!


Saudação

Dou as boas-vindas aos grupos de visitantes do Brasil e demais peregrinos de língua portuguesa. Agradeço a vossa presença e desejo que este Ano possa ajudar-vos a crescer na fé e no amor a Cristo, para que aprendais a viver a vida boa e bela do Evangelho. De coração, a todos abençôo. Obrigado!

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Sessão XV do Concílio de Trento.



Continuando as postagens com os documentos do Concílio de Trento, colocamos abaixo o link das outras postagens:


1º PERÍODO: 1545 - 1547






Sessão XVI

Sessão XV


Celebrada no tempo do Sumo Pontífice Júlio III, em 25 de janeiro do ano do Senhor de 1552



Decreto sobre a prorrogação as Sessão.

Constando que, por haver-se assim decretado nas Sessões próximas passadas este Santo e Universal Concílio tratou nestes dias com grande exatidão e diligência de tudo que diz respeito ao Santíssimo Sacrifício da Missa, e ao Sacramento da Ordem, para publicar na presente Sessão, segundo lhe inspirasse o Espírito Santo, os decretos correspondentes a estas matérias assim como os quatro artigos pertencentes ao Santíssimo Sacramento da eucaristia, que foram transferidos a esta Sessão, e tendo além disso acreditado que viriam a este Sacrossanto Concílio os que se chamam Protestantes, e por cuja causa havia sido deferida a publicação daqueles artigos, e lhes havia concedido segurança pública e salvo-conduto para que viessem livremente, sem nenhuma prorrogação, e como no entanto, não chegaram até o presente momento, e como tenham suplicado em seu nome, a este Santo Concílio que se espere até a próxima Sessão a publicação que deveria ser feita hoje, confirmando que certamente viriam sem falta, com bastante antecedência para a referida Sessão, e também pediram para que lhes fosse concedido um salvo conduto mais amplo, o mesmo Santo Concílio, reunido legitimamente no Espírito Santo e presidido pelos mesmos Legados e Núncios, não tendo maior desejo que aquele de extirpar de dentro da nobilíssima nação Alemã, todas as desavenças e cismas em matéria de religião e pedir por sua mansidão, paz e descanso, disposta a recebê-los se vierem com afabilidade e ouvi-los benignamente, e confiada também em que não virão com ânimo de impugnar pertinazmente a fé católica, mas sim de conhecer a verdade e que como corresponde aos que procuram alcançar as verdades evangélicas, se confirmarão por fim os decretos e disciplinas da Santa Madre Igreja, transferiu à Sessão seguinte, para trazer à luz e publicar os pontos acima mencionados, no dia da festa de São José, que será em 19 de março, com aqueles que não somente tenham tempo e lugar bastante para vir, mas também para trazer propostas antes do dia marcado.

E para tirar-lhes qualquer motivo de deterem-se mais tempo, lhe dá e concede com muito gosto a segurança pública ou salvo-conduto no teor e conteúdo que será relatada. Entretanto, estabelece e decreta que se há de tratar do Sacramento do Matrimônio, e serão feitas as definições respectivas a esse Sacramento, além da publicação dos decretos acima mencionados, assim como será prosseguida a matéria da reforma.

Salvo-conduto concedido aos Protestantes

O Sacrossanto, Ecumênico e Geral Concílio de Trento, reunido legitimamente no Espírito Santo, e presidido pelos mesmos Legados e Núncios da Santa Sé Apostólica, insistindo no salvo-conduto concedido na penúltima Sessão, amplia suas prerrogativas nos termos que se seguem:

A todos em geral faz fé que pelo teor das presentes cláusulas, dá e concede plenamente a todos e a cada um dos Sacerdotes, Eleitores, Príncipes, Duques, Marqueses, Condes, Barões, Nobres, Militares, Cidadãos e a quaisquer outras pessoas de qualquer estado, condição ou qualidade, que sejam da Nação e Província da Alemanha e das cidades e outros lugares da mesma, assim como a todas as demais pessoas eclesiásticas e seculares em especial da revelação de augusta, os que, ou as que viriam com eles a este Concílio Geral de Trento, ou serão enviados ou se colocarão a caminho, ou que até o presente tenham vindo sob qualquer nome que lhes sejam dados, ou lhes sejam especificados, fé pública e plena e verdadeira segurança que chamam salvo-conduto, para vir livremente a esta cidade de Trento e permanecer nela, ficar, habitar, propor e falar de comum acordo com o mesmo Concílio, tratar de quaisquer negócios, examinar, discutir e representar sem nenhuma punição tudo o que quiserem e quaisquer dos artigos, tanto por escrito como por palavra, divulgá-los, e em caso necessário, declará-los, confirmá-los e compará-los com a Sagrada Escritura, com as palavras dos santos Padres e com sentenças e razões, e de responder também, se for necessário, as objeções do Concílio Geral e disputar cristãmente com as pessoas que o concílio indique ou conferenciar caritativamente sem nenhum obstáculo, e longe de qualquer impropério, maledicência, e injúrias, e determinadamente que as causas controvertidas sejam tratadas expressamente neste Concílio, segundo à Sagrada Escritura e as tradições dos Apóstolos, concílios aprovados, consentimentos da Igreja católica e autoridade dos santos Padres, anexando também que não serão castigados de nenhum modo, com o pretexto de Religião ou dos delitos cometidos, ou que possam cometer contra ela, como também, que a causa de acharem-se presentes os mesmos, não cessarão de maneira alguma os divinos ofícios no caminho, nem em nenhum outro lugar, quando venham, permaneçam ou voltem, nem também na cidade de Trento, mas pelo contrário, que efetuadas ou não todas essas coisas, sempre lhes pareça, ou por ordem, ou por consentimento de seus superiores, desejarem, ou desejar algum deles voltarem às suas casas, possam voltar livre e seguramente, segundo seu desejo, sem nenhuma repugnância, circunstância ou demora, salvas todas suas coisas e pessoas e igualmente a honra das pessoas e dos seus; mas com a condição de que deverão fazer saber às pessoas que o Concílio haverá de indicar, para que, neste caso, sejam tomadas, sem dolo nem fraude alguma, as providências oportunas à sua segurança. Quer também o Santo Concílio que se incluam e contenham e sejam incluídas com esta segurança pública e salvo-conduto, todas e quaisquer cláusulas que forem necessárias e condizentes para que a segurança seja eficaz, completa e suficiente à vinda, à permanência e à volta.

Expressa também para maior segurança e o bem da paz e reconciliação que se algum ou alguns deles, já caminhem em direção a Trento, e permanecendo nesta cidade, ou já voltando dela, fizerem ou cometerem (que Deus não permita) algum grande delito, pelo qual possam ser anuladas ou suspensas as franquias desta fé e segurança pública que lhes foram concedidas, quer e convém que os surpreendidos em semelhante delito sejam depois castigados, precisamente por Protestantes e não por outros, com a pena correspondente, suficiente reparação que com justiça deve ser aprovada e dada por boa, por parte deste Concílio, ficando em todo seu vigor a forma, condições e formas da segurança que lhes concede.

Quer igualmente que se algum ou alguns (dos Católicos) do concílio fizerem ou cometerem (que deus não permita), ou vindo ao concílio, ou permanecendo nele, ou voltando dele, algum grande delito, com o qual se possa quebrar ou frustar de algum modo o privilégio desta fé e segurança pública, sejam castigados imediatamente a todos os que forem surpreendidos em tal delito apenas pelo mesmo Concílio, e não por outros, com a pena correspondente e suficiente reparação, que segundo seu mérito deve ser aprovada e tomada por boa por parte dos senhores alemães da revelação de augusta, que se acharem aqui, permanecendo em todo seu vigor a forma, condições e modos da presente segurança.

Quer também o mesmo Concílio que seja livre a todos e a cada um dos Embaixadores, todas e quantas vezes lhes pareça oportuno ou necessário sair da cidade de Trento, para passear, e voltar à mesma cidade, assim como enviar ou destinar livremente seu correio ou correios a quaisquer lugares para colocar em ordem os negócios que lhes sejam necessários, e receber todas e quantas vezes lhes parecer conveniente, ao que, ou aos que hajam enviado ou destinado, com a condição de que lhes sejam associados algum ou alguns pelos indicados do concílio, os que ou o que deva ou devam cuidas de sua segurança. E este mesmo salvo-conduto e seguros devem durar e subsistir desde o início e por todo o tempo que o Concílio e seus componentes os recebam sob seu amparo e defesa, e até que sejam conduzidos a Trento e por todo o tempo que se mantenham nesta cidade, e também, depois de Ter passado vinte dias desde que tenham suficiente audiência, quando eles pretendam retirar-se, ou o Concílio, depois de os ter escutado, os intime para que se retirem, os fará conduzir com o favor de Deus, longe de toda a fraude e dolo, até que o lugar que cada um escolha e tenha por seguro.

Tudo isto, promete e oferece de boa fé, que será observada inviolavelmente por todos e cada um dos fiéis cristãos, por todos e quaisquer Príncipes, eclesiásticos e seculares, e pelas demais pessoas eclesiásticas e seculares de qualquer estado e condição que sejam, ou sob qualquer nome que estejam classificadas. Além disso, o mesmo Concílio, excluindo todo o artifício e engano, oferece sinceramente e de boa fé, que não há de buscar nem às claras, nem obscuramente nenhuma causa, nem mesmo usar de modo algum, nem há de permitir que ninguém ponha em uso qualquer autoridade, poder, direito, estatuto, privilégio de leis ou cânones, nem de nenhum Concílio, em especial do Constantinense e do Senense, de qualquer modo que forem concebidas suas palavras, como sejam em algum prejuízo desta fé pública e plena segurança e audiência pública e livre que lhes concedeu o mesmo Concílio, uma vez que as revoga todas nesta parte por esta vez.

E se o Santo Concílio, ou algum participante dele ou dos seus de qualquer condição ou preeminência que seja, faltar em qualquer ponto, cláusula, à forma e modo da mencionada segurança e salvo-conduto (que Deus não permita), e não se sugerir sem demora a reparação correspondente, que segundo à razão há de ser aprovada e dada por boa segundo à vontade dos mesmos Protestantes, tenham a este Concílio, e o poderão haver por incurso em todas as penas em que por direito divino e humano, ou por costume, podem incorrer os infratores destes salvo-condutos, sem que lhes valha desculpa nem oposição alguma a esta parte.