quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Mulheres sacerdotisas, celibato e poder de Roma


Entrevista com o prefeito da Congregação para o Clero, cardeal Piacenza
Por Antonio Gaspari
ROMA, terça-feira, 20 de setembro de 2011 (ZENIT.org) – O cardeal Mauro Piacenza, prefeito da Congregação para o Clero, raramente intervém no debate público. Ele evita, de fato, toda demagogia e presencialismo e é conhecido como homem de incansável e silencioso trabalho e como eficaz observador de todos os fenômenos que afetam a cultura contemporânea.
Extraordinariamente, ele nos concedeu esta entrevista sobre temas “candentes”, em um clima de cordialidade, mostrando essa criatividade pastoral que sempre aparece em um autêntico e fiel pastor da Igreja.
ZENIT: Eminência, com surpreendente periodicidade, há várias décadas, voltam a aparecer no debate público algumas questões eclesiais, sempre as mesmas. A que se deve este fenômeno?
Cardeal Piacenza: Sempre, na história da Igreja, houve movimentos “centrífugos”, que tendem a “normalizar” a excepcionalidade do evento de Cristo e do seu Corpo vivente na história, que é a Igreja. Uma “Igreja normalizada” perderia toda a sua força profética, não diria mais nada ao homem e ao mundo e, de fato, trairia o seu Senhor.
A grande diferença da época contemporânea é doutrinal e midiática. Doutrinalmente, pretende-se justificar o pecado, não confiando na misericórdia, mas deixando-se levar por uma perigosa autonomia que tem o sabor do ateísmo prático; do ponto de vista midiático, nas últimas décadas, as fisiológicas “forças centrífugas” recebem a atenção e a inoportuna amplificação dos meios de comunicação que vivem, de certa maneira, de contrastes.
ZENIT: Deve-se considerar a ordenação sacerdotal das mulheres como uma “questão doutrinal”?
Cardeal Piacenza: Certamente, como todos sabem, a questão já foi tratada por Paulo VI e o Beato João Paulo II, e este, com a carta apostólicaOrdinatio Sacerdotalis, de 1994, fechou definitivamente a questão.
De fato, afirmou: “Com o fim de afastar toda dúvida sobre uma questão de grande importância, que diz respeito à própria constituição divina da Igreja, em virtude do meu ministério de confirmar na fé aos irmãos, declaro que a Igreja não tem, de forma alguma, a faculdade de conferir a ordenação sacerdotal às mulheres, e que este ditame deve ser considerado como definitivo por todos os fiéis da Igreja”. Alguns, justificando o injustificável, falaram de uma “definitividade relativa” da doutrina até esse momento, mas, francamente, esta tese é tão inusual que carece de qualquer fundamento.
ZENIT: Então, não há lugar para as mulheres na Igreja?
Cardeal Piacenza: Todo o contrário: as mulheres têm um papel importantíssimo no corpo eclesial e poderiam ter outro mais evidente ainda. A Igreja foi fundada por Cristo e não podemos determinar, nós, os homens, o seu perfil; portanto, a constituição hierárquica está ligada ao sacerdócio ministerial, que está reservado aos homens. Mas absolutamente nada impede de valorizar o gênio feminino em papéis que não estão ligados estreitamente ao exercício da ordem sagrada. Quem impediria, por exemplo, que uma grande economista fosse chefe da Administração da Sé Apostólica, ou que uma jornalista competente se tornasse porta-voz da Sala de Imprensa da Santa Sé?
Os exemplos podem se multiplicar em todos os desempenhos não vinculados à ordem sagrada. Há infinidade de tarefas nas quais o gênero feminino poderia realizar uma grande contribuição! Outra coisa é conceber o serviço como um poder e procurar, como o mundo faz, as “cotas” de tal poder. Considero, além disso, que o menosprezo do grande mistério da maternidade, que está sendo realizado nesta cultura dominante, tenha um papel muito importante na desorientação geral que existe com relação à mulher. A ideologia do lucro reduziu e instrumentalizou as mulheres, não reconhecendo a maior contribuição que estas, indiscutivelmente, podem dar à sociedade e ao mundo.
A Igreja, além disso, não é um governo político no qual é justo reivindicar uma representação adequada. A Igreja é outra coisa, a Igreja é o Corpo de Cristo e, nela, cada um é membro segundo o que Cristo estabeleceu. Por outro lado, a Igreja não é uma questão de papéis masculinos ou femininos, mas de papéis que implicam, por vontade divina, a ordenação ou não. Tudo o que um fiel leigo pode fazer, uma fiel leiga também pode fazer. O importante é ter a preparação específica e a idoneidade; ser homem ou mulher não é relevante.
ZENIT: Mas pode existir uma participação real na vida da Igreja, sem atribuições de poder efetivo e de responsabilidade?
Cardeal Piacenza: Quem disse que a participação na Igreja é uma questão de poder? Se fosse assim, cometeriam o grande erro de conceber a própria Igreja não como é, divino-humana, mas simplesmente como uma das muitas associações humanas, talvez a maior e mais nobre, por sua história; e deveria ser “administrada” distribuindo-se o poder.
Nada mais longe da realidade! A hierarquia da Igreja, além de ser de direta instituição divina, deve ser entendida sempre como um serviço à comunhão. Somente um erro, derivado historicamente da experiência das ditaduras, poderia conceber a hierarquia eclesiástica como o exercício de um 'poder absoluto”. Que perguntem isso a quem está chamado a colaborar com a responsabilidade pessoal do Papa pela Igreja universal! São tais e tantas as mediações, consultas, expressões de colegialidade real, que praticamente nenhum ato de governo é fruto de uma vontade única, mas sempre o resultado de um longo caminho, em escuta do Espírito Santo e da preciosa contribuição de muitos.
A colegialidade não é um conceito sociopolítico, mas deriva da comum Eucaristia, do affectus que nasce do alimentar-se do único Pão e do viver da única fé, do estar unidos a Cristo, Caminho, Verdade e Vida. E Cristo é o mesmo ontem, hoje e sempre!
ZENIT: Não é muito o poder que Roma ostenta?
Cardeal Piacenza: Dizer “Roma” significa simplesmente dizer “catolicidade” e “colegialidade”. Roma é a cidade que a providência escolheu como lugar do martírio dos apóstolos Pedro e Paulo e o que a comunhão com esta Igreja significou sempre na história: comunhão com a Igreja universal, unidade, missão e certeza doutrinal. Roma está ao serviço de todas as Igrejas e muitas vezes protege as Igrejas que estão em dificuldade pelos poderes do mundo e por governos que nem sempre são plenamente respeitosos com o imprescindível direito humano e natural que é a liberdade religiosa.
A Igreja deve ser considerada a partir da constituição dogmática Lumen Gentium, do Concílio Vaticano II, incluída, obviamente, a nota prévia ao documento. Lá, está descrita a Igreja das origens, a Igreja dos Padres, a Igreja de todos os séculos, que é a nossa Igreja de hoje, sem descontinuidade, a Igreja de Cristo. Roma está chamada a presidir na caridade e na verdade, únicas fontes reais da autêntica paz cristã. A unidade da Igreja não é o compromisso com o mundo e sua mentalidade, mas o resultado, dado por Cristo, da nossa fidelidade à verdade e da caridade que seremos capazes de viver.
Parece-me significativo, a este respeito, o fato de que hoje só a Igreja, como ninguém, defende o homem e sua razão, sua capacidade de conhecer a realidade e entrar em relação com isso; em resumo, o homem em sua integridade. Roma está a pleno serviço da Igreja de Deus que está no mundo e que é uma “janela aberta” ao mundo, janela que dá voz a todos os que não a têm, que convida todos a uma contínua conversão e, por isso, contribui – muitas vezes no silêncio e com o sofrimento, pagando às vezes com sua impopularidade – para a construção de um mundo melhor, para a civilização do amor.
ZENIT: Este papel de Roma não obstaculiza a unidade e o ecumenismo?
Cardeal Piacenza: O ecumenismo é uma prioridade na vida da Igreja e uma exigência absoluta que provém da própria oração do Senhor: “Ut unum sint”, que se converte, para todo cristão, em um “mandamento da unidade”. Na oração sincera e no espírito de contínua conversão interior, na fidelidade à própria identidade e na comum tensão da perfeita caridade dada por Deus, é necessário comprometer-se com convicção para que não haja contratempos no caminho do movimento ecumênico.
O mundo precisa da nossa unidade; portanto, é urgente continuar comprometendo-nos no diálogo da fé com todos os irmãos cristãos, para que Cristo seja o fermento da nossa sociedade. E também é urgente comprometer-se com os não-cristãos, isto é, no diálogo intercultural, para contribuir unidos para construir um mundo melhor, colaborando nas obras de bem e para que uma sociedade nova e mais humana seja possível. Roma, também nesta terra, tem um papel de propulsão único. Não há tempo para nos dividirmos: o tempo e as energias devem ser empregados para unir-nos.
ZENIT: Nesta Igreja, quem são e que papel têm os sacerdotes de hoje?
Cardeal Piacenza: Não são nem assistentes sociais nem funcionários de Deus! A crise de identidade é especialmente aguda nos contextos mais secularizados, nos quais parece que não existe lugar para Deus. Os sacerdotes, no entanto, são os de sempre: são o que Cristo quis que fossem! A identidade sacerdotal é cristocêntrica e, portanto, eucarística.
Cristocêntrica porque, como o Santo Padre recordou tantas vezes, no sacerdócio ministerial, “Cristo nos atrai dentro de Si”, envolvendo-se conosco e envolvendo-nos na sua própria existência. Tal atração “real” acontece sacramentalmente – portanto, de maneira objetiva e insuperável –, na Eucaristia, da qual os sacerdotes são ministros, isto é, servos e instrumentos eficazes.
ZENIT: É tão insuperável a lei sobre o celibato? Realmente não pode ser mudada?
Cardeal Piacenza: Não se trata de uma simples lei! A lei é consequência de uma realidade muito alta, que acontece somente na relação vital com Cristo. Jesus diz: “Quem tiver ouvidos, que ouça”. O sagrado celibato não se supera nunca, é sempre novo, no sentido de que, através disso, a vida dos sacerdotes se “renova”, porque se dá sempre em uma fidelidade que tem em Deus sua raiz e no florescer da liberdade humana, o próprio fruto.
O verdadeiro drama está na incapacidade contemporânea de realizar as escolhas definitivas, na dramática redução da liberdade humana, que se converteu em algo tão frágil, que não busca o bem nem sequer quando este é reconhecido e intuído como possibilidade para a própria existência. O celibato não é o problema; e as infidelidades e fraqueza dos sacerdotes não podem constituir um critério de juízo.
No demais, as estatísticas nos dizem que mais de 40% dos casamentos fracassam. Entre os sacerdotes, estamos em menos de 2%. Portanto, a solução não está, de forma alguma, na opcionalidade do sagrado celibato. Não será talvez questão de deixar de interpretar a liberdade como “ausência de vínculos” e de definitividade, e começar a redescobrir que, na definitividade do dom ao outro e a Deus consiste a verdadeira realização e felicidade humanas?
ZENIT: E as vocações? Não aumentariam, se abolissem o celibato?
Cardeal Piacenza: Não! As confissões cristãs nas quais, não existindo o sacerdócio ordenado, não existe a doutrina e a disciplina do celibato, encontram-se em um estado de profunda crise com relação às “vocações” de guia da comunidade – da mesma maneira que existem crises do sacramento do matrimônio uno e indissolúvel.
A crise da qual, na verdade, se está saindo lentamente, está ligada, fundamentalmente, à crise da fé no Ocidente. O que é preciso é comprometer-se a fazer a fé crescer. Este é o ponto. Nos mesmos ambientes, está em crise a santificação das festas, está em crise a confissão, está em crise o casamento etc. O secularismo e a conseguinte perda do sentido do sagrado, da fé e da sua prática, determinaram e determinam também uma importante diminuição do número dos candidatos ao sacerdócio.
A estas razões teológicas e eclesiais acrescentam-se algumas de caráter sociológico: a primeira de todas é a notável diminuição da natalidade, com a conseguinte diminuição dos jovens e das jovens vocações. Também este é um fator que não pode ser ignorado. Tudo está relacionado. Às vezes, estabelecem-se premissas e depois não se quer aceitar as consequências, mas estas são inevitáveis.
O primeiro e irrenunciável remédio para a diminuição das vocações foi sugerido pelo próprio Jesus: “Orai, portanto, ao dono da messe, para que envie operários para a sua messe” (Mt 9, 38). Este é o realismo da pastoral das vocações. A oração pelas vocações – uma intensa, universal, dilatada rede de oração e de adoração eucarística, que envolva todo mundo – é a verdadeira e única resposta possível para a crise da resposta às vocações. Onde esse comportamento orante é vivido de forma estabelecida, pode-se afirmar que se leva a cabo uma recuperação real.
É fundamental, além disso, prestar atenção à identidade e especificidade na vida eclesial, de sacerdotes, religiosos – estes na peculiaridade dos carismas fundacionais dos próprios institutos de pertença – e fiéis leigos, para que cada um possa, na verdade e na liberdade, compreender e acolher a vocação que Deus pensou para ele. Mas cada um deve ser autêntico e cada dia deve se comprometer em tornar-se o que é.
ZENIT: Eminência, neste momento histórico, se o senhor tivesse que resumir a situação geral, o que diria?
Cardeal Piacenza: Nosso programa não pode ser influenciado por querer estar por cima a todo custo, de querer sentir-nos aplaudidos pela opinião pública: nós devemos somente servir, por amor e com amor, o nosso Deus no nosso próximo, seja ele quem for, conscientes de que o Salvador é somente Jesus. Nós devemos deixá-lo passar, deixá-lo agir através das nossas pobres pessoas e do nosso compromisso cotidiano. Devemos colocar o que é “nosso”, mas também o que é “seu”. Nós, diante das situações aparentemente mais desastrosas, não devemos nos assustar. O Senhor, na barca de Pedro, parecia dormir, parecia! Devemos agir com energia, como se tudo dependesse de nós, mas com a paz de quem sabe que tudo depende do Senhor.
Portanto, devemos recordar que o nome do amor, no tempo, é “fidelidade”! O crente sabe que Ele é o Caminho, a Verdade e a Vida, e não é “um” caminho, “uma” verdade, “uma” vida. Portanto, a coragem da verdade, pagando o preço de receber insultos e desprezo, é a chave da missão na nossa sociedade; é essa coragem que se une ao amor, à caridade pastoral, que deve ser recuperada e que torna fascinante, hoje mais do que nunca, a vocação cristã. Eu gostaria de citar o programa formulado sinteticamente em Stuttgart pelo Conselho da Igreja Evangélica em 1945: “Anunciar com mais coragem, rezar com mais confiança, crer com mais alegria, amar com mais paixão”.

Liechtenstein rejeita aborto com referendum.


Príncipe herdeiro Alois havia anunciado sua postura contrária ao aborto
ROMA, terça-feira, 20 de setembro de 2011 (ZENIT.org) – Com 52,3% contra 47,7%, no último domingo, 18 de setembro, os cidadãos de Liechtenstein rejeitaram o referendo que pedia a descriminalização do aborto.
Apesar de uma campanha internacional a favor do aborto e das pesquisas que previam uma vitória da frente favorável à liberalização da interrupção voluntária da gravidez, os cidadãos de Liechtenstein se opuseram por maioria.
Atualmente, no principado, o aborto está proibido e é castigado com uma pena que pode ir até um ano de prisão, ainda que seja praticado no exterior. Não há condenações por este motivo há anos.
O texto de lei do referendo propunha a despenalização da interrupção da gravidez nas 12 primeiras semanas, com uma modificação do código penal neste sentido.
Pedia também o direito a abortar depois desse prazo, se o feto apresentasse um grave risco de incapacidade física ou mental.
No Parlamento, só uma minoria havia aceitado a iniciativa para legalizar o aborto. Em agosto, o príncipe herdeiro Alois havia se manifestado contra a liberalização do aborto. Também o arcebispo de Vaduz, Dom Wolfang Haas, se negou a celebrar a Missa como sinal de protesto contra o aborto.
Agora que o referendo foi rejeitado, os dois partidos do governo, União Patriótica e Partido Burguês Progressista, anunciaram que proporão uma modificação do Código Penal. O aborto será proibido, mas não se castigará penalmente quem o praticar no exterior.
O Principado de Liechtenstein conta com mais de 35.446 habitantes (dados de 2008), com uma densidade demográfica de 209 pessoas por km², e tem uma renda per capita das mais altas da Europa.

Cresce fé dos católicos na Indonésia.


Pe. Buono relata sua visita ao arquipélago asiático
Por Antonio Gaspari
ROMA, quarta-feira, 21 de setembro de 2011 (ZENIT.org) – O Pe. Giuseppe Buono é um missionário do PIME (Pontifício Instituto para as Missões Estrangeiras) que desempenhou o cargo de secretário nacional da Obra Pontifícia da Infância Missionária, secretário nacional da União Pontifícia Missionária do clero, religiosos e religiosas, fundador do Movimento Juvenil das Pontifícias Obras Missionárias (POM), fundador da Comunidade Missionária João Paulo II, além de ter sido também superior geral do PIME, docente de Missiologia nas faculdades pontifícias teológicas na Itália e no exterior e atualmente é visitador das missões de todos os continentes.
Nesta entrevista concedida a ZENIT, ele relata uma das suas viagens à Indonésia.
A Indonésia é um arquipélago gigantesco, com mais de 13 mil ilhas, com grandes diferenças humanas e naturais. É a fronteira entre a Ásia e a Oceania – Austrália e a quarta nação mais populosa do mundo, com mais de 230 milhões de habitantes. Conta com 128 vulcões ativos, 12 deles somente em Java.
Grande parte da população vive nas cinco ilhas maiores. A capital é Jacarta, com mais de 12 milhões de habitantes. A maioria da população é de religião islâmico-sunita; na ilha de Bali, a religião majoritária é o hinduísmo. Os católicos são somente 3% da população, sendo mais numerosos os cristãos protestantes.
ZENIT: Quais são as razões desta visita?
Padre Buono: Estive na Indonésia de 10 a 23 de agosto, para uma série de encontros programados pela Comunidade Missionária João Paulo II, fundada por mim em 1995 e dirigida por Yohana Halimah, que trabalha na Direção Nacional das POM. O diretor nacional destas, Pe. Romanus Harjito, nos acolheu e escreveu o prefácio da tradução indonésia do livro sobre o magistério mariano-missionário de João Paulo II. Outro organizador muito importante foi o Pe. Giustino, um jovem sacerdote de Jacarta, que se licenciou em teologia em Roma e que é fundador de um movimento pró-vida, muito ativo e envolvido. Comigo estavam cinco amigos, a quem convidei para compartilhar esta experiência de graça missionária.
ZENIT: A Indonésia é grande. Quais foram as etapas da visita e das atividades?
Padre Buono: As etapas da experiência missionária foram: Jacarta, a capital ultramoderna, Yogyakarta (Java), a ilha que muitas vezes sofre erupções vulcânicas, terremotos e tsunamis, e Bali, a pérola do arquipélago indonésio. Em Jacarta, houve encontros e celebrações na belíssima igreja de St. Yakobus, depois no santuário de Nossa Senhora de Fátima, em São José Matraman, na comunidade dos Missionários Xaverianos, na paróquia de São Boaventura, em Pulomas, e na sede da conferência episcopal nacional.
Em Java, os encontros se deram no santuário mariano de Jatiningsih, onde participamos também das celebrações da festa nacional da independência da Indonésia, depois na Casa de Espiritualidade Wisma Pojok e na igreja da Sagrada Família. Em Bali, as celebrações e as reuniões foram realizadas na catedral, na sede dos Missionários Verbitas, muito presentes e ativos na ilha, na paróquia de São José.
Eu já havia estado na Indonésia há dois anos, em agosto de 2009, e fiquei impressionado pela fé pura dos católicos indonésios, mas o que o Senhor nos ofereceu desta vez foi um espetáculo, comovente, de uma fé heroica, porque se vive entre uma maioria muçulmana sunita, entre milhares de minaretes de Jacarta, que cantam versos do Alcorão das quatro da manhã até o pôr do sol... Uma fé que se expressa na alegria de rezar, de ser úteis aos outros, acolhedores, disponíveis, unidos.
ZENIT: É verdade que há uma grande devoção a Maria?
Padre Buono: A particularidade da experiência vivida desta vez foi marcada por uma impressionante fé em Maria, venerada com estátuas belíssimas, sobretudo com a reprodução da gruta de Lourdes, que se encontra na entrada de quase todas as igrejas que visitamos. Ver os católicos indonésios rezarem na frente das estátuas de Nossa Senhora, quase absortos, com os olhos fechados e as mãos unidas, convida verdadeiramente a revisar certas formas de devoção nas nossas igrejas e nas nossas casas de cristãos...
ZENIT: Também o Beato João Paulo II parece gozar de grande popularidade...
Padre Buono: Isso me chamou muito a atenção. Nos encontros sobre ele, advertia-se quase a presença física do grande Papa polonês que visitou a Indonésia em 1989, em seu incansável caminho para levar o Evangelho a todos os homens. Quando se falava de João Paulo II, os olhos dos católicos se iluminavam, os corações vibravam de amor, as mãos aplaudiam constantemente. Pude palpar e sentir com o coração o quanto amam João Paulo II; até essas ilhas distantes, com quase a totalidade da população sendo muçulmana, vibram com um sentimento de devoção a ele. Meu livro sobre ele – “Com Maria pelos caminhos do mundo” –, traduzido ao indonésio e do qual foram impressas duas mil cópias, esgotou-se em poucos dias.
A última visita antes de deixar a Indonésia foi ao diretor das POM, Pe. Romanus Harjito, e, naturalmente, ao núncio apostólico, Dom Antonio Guido Filipazzi, que está na Indonésia há apenas três meses.

AS QUINZE ORAÇÕES DE SANTA BRÍGIDA


Como já há muito tempo Santa Brígida desejasse saber o número de golpes que Jesus levara durante a Paixão, certo dia Ele lhe apareceu dizendo:

"Recebi em todo o Meu Corpo 5.480 golpes. Se desejais honras as chagas que eles ME produziram, mediante uma veneração particular, deveis recitar 15 Pai Nossos e 15 Ave-Marias, acrescentando as seguintes orações, durante um ano inteiro; quando o ano terminar, tereis prestado homenagem a cada uma das Minhas Chagas."

PRIMEIRA ORAÇÃO
1 Pai Nosso...
(Pai-nosso, que estais no Céu, santificado seja o vosso Nome; venha a nós o vosso reino; seja feita a vosso vontade assim na Terra como no Céu. O pão nosso de cada dia nos dai hoje; perdoai-nos as nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido; e não nos deixeis cair em tentação; mas livrai-nos do mal. Amém.)
1 Ave Maria...
(Ave Maria, cheia de graças, o Senhor é convosco, bendita sois vós entre as mulheres e bendito é o fruto do seu ventre, Jesus. Santa Maria Mãe de Deus rogai por nós pecadores agora e na hora de nossa morte. Amém.)

Ó JESUS CRISTO, doçura eterna para aqueles que vos amam, alegria que ultrapassa toda a alegria e todo o desejo, esperança de salvação dos pecadores, que declarastes não terdes maior contentamento do que estar entre os homens, até o ponto de assumir a nossa natureza, na plenitude dos tempos, por amor deles. Lembrai-Vos dos sofrimentos, desde o primeiro instante da Vossa Conceição e sobretudo durante a Vossa Santa Paixão, assim como havia sido decretado e estabelecido desde toda a eternidade na mente divina. Lembrai-Vos Senhor, que, celebrando a Ceia com os Vossos discípulos, depois de lhes haverdes lavado os pés, deste-lhes o Vosso Sagrado Corpo e precioso Sangue e, consolando-os docemente lhes predissestes a Vossa Paixão iminente. Lembrai-Vos da tristeza e da amargura que experimentastes em Vossa Alma como o testemunhastes Vós mesmo por estas palavras: "a Minha Alma está triste até a morte".

Lembrai-Vos, Senhor, dos temores, angústias e dores que suportastes em Vosso Corpo delicado, antes do suplício da Cruz, quando, depois de ter rezado por três vezes, derramado um suor de Sangue, fostes traído por Judas Vosso discípulo, preso pela nação que escolhestes, acusado por testemunhas falsas, injustamente julgado por três juízes, na flor da Vossa juventude e no tempo solene da Páscoa. Lembrai-Vos que fostes despojado de Vossas vestes e revestido com as vestes da irrisão, que Vos velaram os olhos e a face, que Vos deram bofetadas, que Vos coroaram de espinhos, que Vos puseram uma cana na mão e que, atado a uma coluna, fostes despedaçado por golpes e acabrunhado de afrontas e ultrajes. Em memória destas penas e dores que suportastes antes da Vossa Paixão sobre a Cruz, concedei-me, antes da morte, uma verdadeira contrição, a oportunidade de me confessar com pureza de intenção e sinceridade absoluta, uma adequada satisfação e a remissão de todos os meus pecados. Assim seja!

SEGUNDA ORAÇÃO
1 Pai Nosso...
1 Ave Maria...

Ó JESUS CRISTO, verdadeira liberdade dos Anjos, paraíso de delícias, lembrai-Vos do peso acabrunhador de tristezas que suportastes, quando Vossos inimigos, quais leões furiosos, Vos cercaram e, por meio de mil injúrias, escarros, bofetadas, arranhões e outros inauditos suplícios Vos atormentaram a porfia. Em consideração destes insultos e destes tormentos, eu Vos suplico, ó meu Salvador, que Vos digneis libertar-me dos meus inimigos, visíveis e invisíveis e fazer-me chegar, com o Vosso auxílio a perfeição da salvação eterna. Assim seja!

TERCEIRA ORAÇÃO
1 Pai Nosso...
1 Ave Maria...

Ó JESUS, Criador do Céu e da terra, a quem coisa alguma pode conter ou limitar, Vós que tudo abarcais e tendes tudo sob o Vosso poder, lembrai-Vos da dor, repleta de amargura, que experimentastes quando os soldados, pregando na Cruz Vossas Sagradas mãos e Vossos pés tão delicados, transpassaram-nos com grandes e rombudos cravos e não Vos encontrando no estado em que teriam desejado, para dar largas a sua cólera, dilataram as Vossas Chagas, exacerbando assim as Vossas dores. Depois, por uma crueldade inaudita, Vos estenderam sobre a Cruz e Vos viraram de todos os lados, deslocando, assim, os Vossos membros. Eu vos suplico, pela lembrança desta dor que suportastes na Cruz, com tanta santidade e mansidão, que Vos digneis conceder-me o Vosso Temor e o Vosso Amor. Assim seja!

QUARTA ORAÇÃO
1 Pai Nosso...
1 Ave Maria...

Ó JESUS, médico celeste, que fostes elevado na Cruz afim de curar as nossas chagas por meio das Vossas, lembrai-Vos do abatimento em que Vos encontrastes e das contusões que Vos infligiram em Vossos Sagrados membros, dos quais nenhum permaneceu em seu lugar, de tal modo que dor alguma poderia ser comparada a Vossa. Da planta dos pés até o alto da cabeça, nenhuma parte do Vosso Corpo esteve isenta de tormentos e, entretanto, esquecido dos Vossos sofrimentos, não Vos cansastes de suplicar a Vosso PAI, pelos inimigos que Vos cercavam, dizendo-LHE: "PAI, perdoai-lhes porque não sabem o que fazem". Por esta grande misericórdia e em memória desta dor, fazei com que a lembrança da Vossa Paixão, tão impregnada de amargura, opere em mim uma perfeita contrição e a remissão de todos os meus pecados. Assim seja!

QUINTA ORAÇÃO
1 Pai Nosso...
1 Ave Maria...

Ó JESUS, espelho do esplendor eterno. Lembrai-Vos da tristeza que sentistes, quando, contemplando a luz da Vossa Divindade a predestinação daqueles que deveriam ser salvos pelos méritos da Vossa santa paixão, contemplastes, ao mesmo tempo, a multidão dos réprobos, que deveriam ser condenados por causa de seus pecados e lastimastes, amargamente, a sorte destes infelizes pecadores, perdidos e desesperados. Por este abismo de compaixão e de piedade e, principalmente, pela bondade que manifestastes ao bom ladrão dizendo-lhe: "Hoje mesmo estarás Comigo no Paraíso", eu Vos suplico ó Doce Jesus, que na hora da minha morte useis de misericórdia para comigo. Assim seja!

SEXTA ORAÇÃO
1 Pai Nosso...
1 Ave Maria...

Ó JESUS, Rei amável e de todo desejável, lembrai-vos da dor que experimentastes quando, nu e como um miserável, pregado e levantado na Cruz, fostes abandonado por todos os vossos parentes e amigos, com exceção de Vossa mãe bem amada, que permaneceu, em companhia de São João, muito fielmente junto de Vós na agonia, lembrai-Vos que os entregastes um ao outro dizendo: "Mulher eis aí o teu filho"! e a João: "Eis aí a tua Mãe!" Eu vos suplico, ó meu Salvador, pela espada de dor que então transpassou a alma de, Vossa Santa Mãe, que tenhais compaixão de mim, em todas as minhas angústias e tribulações, tanto corporais como espirituais e que Vos digneis assistir-me nas provações que me sobrevierem, sobretudo na hora da minha morte. Assim seja!

SÉTIMA ORAÇÃO
1 Pai Nosso...
1 Ave Maria...

Ó JESUS, fonte inexaurível de piedade, que por uma profunda ternura de amor, dissestes sobre a Cruz: "Tenho sede!", mas sede de salvação do gênero humano. Eu Vos suplico, ó meu Salvador, que Vos digneis estimular o desejo que meu coração experimenta de tender a perfeição em todas as minhas obras e extinguir, por completo, em mim, a concupiscência carnal e o ardor dos desejos mundanos. Assim seja!

OITAVA ORAÇÃO
1 Pai Nosso...
1 Ave Maria...

Ó JESUS, doçura dos corações, suavidade dos espíritos, pelo amargo sabor do fel e do vinagre que provastes sobre a Cruz por amor de todos nós, concedei-me a graça de receber dignamente o Vosso Corpo e Vosso Preciosíssimo Sangue, durante toda a minha vida e, na hora da minha morte afim de que sirvam de remédio e de consolo para minha alma. Assim seja!

NONA ORAÇÃO
1 Pai Nosso...
1 Ave Maria...

Ó JESUS, virtude real, alegria do espírito, lembrai-Vos da dor que suportastes, quando, mergulhado na amargura, ao sentir aproximar-se a morte, insultado e ultrajado pelos homens, julgastes haver sido abandonado por Vosso PAI dizendo: "Meu DEUS, Meu DEUS, porque Me abandonastes?" Por esta angústia eu Vos suplico ó meu Salvador, que não me abandoneis nas aflições e nas dores da morte. Assim seja!

DÉCIMA ORAÇÃO
1 Pai Nosso...
1 Ave Maria...

Ó JESUS, que sois em todas as coisas começo e fim, vida e virtude, lembrai-Vos de que por nós fostes mergulhado num abismo de dores, da planta dos pés até o alto da cabeça. Em consideração da extensão das Vossas chagas, ensinai-me a guardar os Vossos Mandamentos, mediante uma sincera caridade, mandamentos estes que são caminhos espaçosos e agradáveis para aqueles que Vos amam. Assim seja!

DÉCIMA PRIMEIRA ORAÇÃO
1 Pai Nosso...
1 Ave Maria...

Ó JESUS, profundíssimo abismo de misericórdia, suplico-Vos, em memória de Vossas Chagas, que penetraram até a medula dos vossos ossos e atingiram até as vossas entranhas, que vos digneis afastar esse pobre pecador do lodaçal de ofensas em que está submerso conduzindo-o para longe do pecado. Suplico-Vos também, esconder-me de Vossa face irritada, ocultando-me dentro de Vossas chagas, até que a Vossa cólera e a Vossa justa indignação tenham passado. Assim seja!

DÉCIMA SEGUNDA ORAÇÃO
1 Pai Nosso...
1 Ave Maria...

Ó JESUS, espelho de verdade, sinal de unidade, laço de caridade, lembrai-Vos dos inumeráveis ferimentos que recebestes, desde a cabeça até os pés, ao ponto de ficardes dilacerado e coberto pela púrpura do Vosso Sangue adorável. Ó quão grande e universal foi a dor que sofrestes em Vossa Carne virginal por nosso amor! Ó Dulcíssimo JESUS, que poderíeis fazer por nós que não o houvésseis feito? Eu vos suplico, ó meu Salvador, que vos digneis imprimir, com o Vosso Precioso Sangue, todas as Vossas chagas em meu coração, afim de que eu relembre, sem cessar, as Vossas Dores e o Vosso Amor. Que pela fiel lembrança da Vossa Paixão, o fruto dos Vossos Sofrimentos seja renovado em mim, cada dia mais, até que eu me encontre, finalmente, Convosco, que sois o tesouro de todos os bens e a fonte de todas as alegrias. Ó Dulcíssimo JESUS, concedei-me poder gozar de semelhante ventura na vida eterna. Assim seja!

DÉCIMA TERCEIRA ORAÇÃO
1 Pai Nosso...
1 Ave Maria...

Ó JESUS, fortíssimo Leão, Rei imortal e invencível, lembrai-Vos da dor que vos acabrunhou quando sentistes esgotadas todas as vossas forças, tanto do Coração como do Corpo e inclinastes a cabeça dizendo: "Tudo está consumado!" Por esta angústia e por esta dor, eu Vos suplico, Senhor JESUS, que tenhais piedade de mim, quando soar a minha última hora e minha alma estiver amargurada e o meu espírito cheio de aflição. Assim seja!

DÉCIMA QUARTA ORAÇÃO
1 Pai Nosso...
1 Ave Maria...

Ó JESUS, Filho Único do PAI, esplendor e imagem da sua substância, lembrai-Vos da humilde recomendação que LHE dirigistes dizendo: "Meu PAI, em Vossas Mãos entrego o Meu Espírito!" Depois expirastes, estando Vosso Corpo despedaçado, Vosso Coração transpassado e as entranhas da Vossa Misericórdia abertas para nos resgatar. Por esta preciosa morte eu Vos suplico, ó Rei dos Santos, que me deis força e me socorrais, para resistir ao demônio, a carne a ao sangue, afim de que, estando morto para o mundo, eu possa viver somente para Vós. Na hora da morte, recebei, eu Vos peço, minha alma peregrina e exilada que retorna para Vós. Assim seja!

DÉCIMA QUINTA ORAÇÃO
1 Pai Nosso...
1 Ave Maria...

Ó JESUS, vide verdadeira e fecunda, lembrai-Vos da abundante efusão de Sangue, que tão generosamente derramastes de Vosso Sagrado Corpo, assim como a uva é triturada no lagar. Do Vosso lado aberto pela lança de um dos soldados, jorraram Sangue e água, de tal modo que não retivestes uma gota sequer. E, enfim, como um ramalhete de mirra elevado na Cruz, Vossa Carne delicada se aniquilou, feneceu o humor de Vossas entranhas e secou a medula dos Vossos ossos. Por esta tão amarga Paixão e pela efusão de Vosso precioso Sangue, eu vos suplico, ó Bom JESUS, que recebais minha alma quando eu estiver na agonia. Assim seja!

ORAÇÃO FINAL

Ó doce JESUS, vulnerai o meu coração, afim de que lágrimas de arrependimento, de compunção e de amor, noite e dia me sirvam de alimento. Convertei-me inteiramente a Vós. Que o meu coração Vos sirva de perpétua habitação; Que a minha conduta vos seja agradável e que o fim da minha vida seja de tal modo edificante que eu possa ser admitido no Vosso Paraíso, onde, com os vossos Santos, hei de vos louvar para sempre. Assim seja!

Santa Brígida.


MENSAGEM POR OCASIÃO DO VII CENTENÁRIO DO NASCIMENTO DE SANTA BRÍGIDA CO-PADROEIRA DA EUROPA

À Reverenda Madre Tekla FAMIGLIETTI

Abadessa-Geral da Ordem do Santíssimo Salvador de Santa Brígida

1. Ao aproximar-se o VII centenário do nascimento de Santa Brígida da Suécia, uno-me de bom grado à alegria desta Família religiosa. Ao desejar pleno êxito às celebrações jubilares previstas, sobretudo ao congresso comemorativo sobre o tema "O caminho da beleza para um mundo mais justo e digno", desejo que elas contribuam para realçar ulteriormente o valor da mensagem de Santa Brígida para o nosso tempo.

Saúdo-a cordialmente, Rev.da Madre Abadessa, e as suas Irmãs de hábito, renovando a minha gratidão pelo significativo trabalho apostólico desempenhado ao serviço da unidade dos cristãos, especialmente na Europa, seguindo o exemplo da Santa sueca. Setecentos anos depois do seu nascimento, desejais voltar de novo espiritualmente àquele acontecimento como ao luminoso ponto originário da vossa história, haurindo renovado entusiasmo da recordação daquele início providencial.

Voltando de novo com a mente e com o coração à sua experiência mística, totalmente centrada na Paixão do Redentor, vós comprometeis-vos em descobrir no rosto da Igreja os reflexos da santidade de Cristo, o Redentor do homem, que está definitivamente "revestido com um manto tinto de sangue" (Ap 19, 13), garantia perene e invicta da salvação universal.

2. Quando proclamei Santa Brígida co-Padroeira da Europa, desejei oferecer aos fiéis do Continente um singular modelo de "santidade feminina". Depois de ter vivido felizmente a experiência de esposa fiel, de mãe exemplar e de educadora sábia, Brígida passou através de uma santa viuvez, chegando por fim ao estado de vida consagrada. Em todas estas fases da sua vida, ela soube conjugar com sabedoria a contemplação com uma actividade de grande alcance, sempre apoiada pelo amor a Cristo e à Igreja. Deu à comunidade cristã do seu tempo os dons próprios da feminilidade e, como mulher plenamente realizada, pôs-se ao serviço dos irmãos.

O seu exemplo pode ser para as mulheres de hoje um estímulo eficaz para se tornarem protagonistas de uma sociedade em que seja respeitada plenamente a sua dignidade; uma sociedade que saiba considerar o homem e a mulher como protagonistas, em igual medida, do plano divino universal para a humanidade. É suficiente folhear a biografia desta mulher, que soube unir em si a contemplação mais elevada com a iniciativa apostólica mais corajosa, para nos apercebermos de que Brígida pode oferecer indicações úteis também às mulheres de hoje sobre os modos oportunos de enfrentar as problemáticas relativas à família, à comunidade cristã e à própria sociedade.

3. Na Carta Apostólica em forma de "Motu Proprio" Spes aedificandi, de 1 de Outubro de 1999, escrevi que a Santa "foi elogiada pelos seus dotes pedagógicos, que teve ocasião de pôr em prática no período em que se lhe pediu que servisse na Corte de Estocolmo. Desta experiência amadurecerão os conselhos que, em diversas ocasiões dará aos príncipes e soberanos para desempenharem correctamente as suas funções. É evidente, porém, que os primeiros a lucrar com isto foram os seus filhos, não constituindo um puro caso o facto de uma das suas filhas, Catarina, ser venerada como santa" (n. 4). Que exemplo precioso para os núcleos familiares da nossa época!

Santa Brígida é também mestra de vida consagrada. De facto, dedicou-se com grande empenho à formação de quem aceitava abraçar a regra da Ordem por ela fundada, respeitando sempre as indicações do Evangelho, em cuja escola orientava de maneira firme e delicada todos os que se uniam a ela no caminho de perfeição religiosa. A sua acção pedagógica baseava-se numa sólida maturidade moral e espiritual. Precisamente por isso, a relação de vida que nos transmitiu, ainda hoje se revela válida. Poderíamos resumi-la com estas palavras:  a educação é credível quando põe em prática a "pedagogia da virtude". Isto é, para educar é preciso ser não só virtuoso, mas também sábio e competente. Só a virtude habilita para o título de mestre.

4. A espiritualidade de Santa Brígida apresenta numerosas dimensões. Por conseguinte, pode constituir uma proposta interessante para todos. Nela admiramos um cristianismo baseado na imitação incondicionada de Cristo, e animado por escolhas coerentes com o Evangelho. Foi mestra ao aceitar a Cruz como experiência central da fé; discípula exemplar da Igreja, ao professar uma catolicidade plena; modelo de vida contemplativa e ao mesmo tempo activa; apóstola incansável na busca da unidade entre os cristãos; foi também dotada de intuição profética ao ler a história no Evangelho e o Evangelho na história.

No centro da espiritualidade brigidina situa-se a primazia absoluta de Deus, de quem "não se zomba" (Gl 6, 7). A dimensão missionária depende da mística. Em Brígida, o compromisso caritativo, missionário e até político surgia da paixão pela oração e pela contemplação. Porque teve tempo para Deus, também teve tempo para o homem.

Nas declarações do processo de canonização, a filha Catarina recordava que, "enquanto o pai era vivo, e depois quando a mãe ficou viúva, nunca se sentava à mesa sem ter dado de comer a doze pobres". Foi com razão que se lhe atribuiu o nome de "mãe dos   pobres".  Também   no   período da permanência em Roma se confirmou mãe cuidadosa dos últimos, imprimindo uma marca de autenticidade à forte experiência mística que a distinguia.

Todos os que desejam ocupar-se das pequenas e novas situações de mal-estar podem, portanto, encontrar um encorajamento válido no exemplo desta mística do Norte da Europa. A sua estratégia apostólica representa uma fórmula de eficácia certa para a "nova evangelização".

5. Merece ser realçado um aspecto especial da sua espiritualidade:  a dimensão mariana da sua consagração a Cristo. Santa Brígida convida a olhar para a Virgem de Nazaré como ícone feminino do cristianismo. Procurando imitar Maria, ela esforçou-se por ser esposa, mãe e religiosa fiel:  no seguimento da Virgem, tendia em qualquer circunstância a cumprir plenamente a vontade de Deus. Não foi sem razão que o meu Predecessor Bonifácio IX, na cerimónia de canonização, pôde afirmar que, em toda a sua vida, Brígida foi extremamente devota da Bem-Aventurada Virgem (cf. Bula Ab origine mundi, 23 de Julho de 1391).

Folheando o livro das Revelações, que constitui como que um diário da sua peregrinação interior, lê-se que muitas vezes compreendeu de Maria o significado dos mistérios de Cristo. Aprendeu a repetir, enquanto contemplava adorando o Verbo de Deus encarnado:  "Sede bendito, meu Deus, meu Senhor, meu Filho" (VII, 21), recordando-se das palavras de Jesus, que disse:  "Todo aquele que fizer a vontade de meu Pai que está nos céus, esse é meu irmão, minha irmã e minha mãe" (Mt12, 50).

6. Depois, como deixar de recordar a sua paixão pela unidade da Igreja? São conhecidas as suas orações e as suas iniciativas para manter íntegra a túnica inconsútil de Cristo, a santa comunidade dos discípulos do Redentor. Como mulher de unidade, ela propõe-se-nos, por conseguinte, como testemunha do ecumenismo. A sua personalidade harmoniosa inspira a vida da Ordem, que faz remontar a ela as próprias origens na direcção de um ecumenismo espiritual e ao mesmo tempo operativo, também devido ao decisivo impulso reformador que a Beata Isabel Hesselblad quis imprimir a esta Família religiosa. A unidade da Igreja é uma graça do Espírito, que deve ser implorada constantemente na oração.

Oxalá este ano jubilar seja para a Ordem do Santíssimo Salvador um estímulo a percorrer com alegria aquele a que o meu venerado Predecessor, Papa Paulo VI, gostava de chamar "o caminho  da  beleza",  ou  seja,  o  caminho da santidade que é a forma suprema da beleza, na plena fidelidade à vocação.

Com estes sentimentos, ao invocar sobre toda a comunidade das Brigidinas as abundantes graças de Deus pela intercessão da Mãe do Senhor, de Santa Brígida e da Beata Isabel Hesselblad, concedo-lhe, Reverenda Madre, assim como a cada uma das suas filhas, como penhor de afecto constante, uma especial Bênção apostólica.

Castelgandolfo, 21 de Setembro de 2002.

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

FARMACÊUTICOS SE NEGAM A VENDER PÍLULA DO DIA SEGUINTE.


Após caso de jovem que sofreu AVC depois de ingeri-la
JAÉN, segunda-feira, 19 de setembro de 2011 (ZENIT.org) – Após a divulgação, na mídia, do caso de uma jovem que sofreu um acidente vascular cerebral (AVC) depois de ingerir uma pílula do dia seguinte, farmacêuticos espanhóis exigiram medidas para amparar sua objeção a vender este medicamento.
A presidente da Asociación para la Defensa del Derecho a la Objeción de Conciencia (ANDOC), a farmacêutica comunitária María Dolores Gómez Armenteros, escreveu aos presidentes dos Colégios de Farmacêuticos pedindo-lhes apoio.
Na carta, datada de ontem, a ANDOC recorda aos Colégios de Farmacêuticos “a irresponsabilidade da distribuição da pílula abortiva de emergência”.
“Cabe imaginar que os efeitos negativos da política sanitária sobre a questão serão sentidos cada vez mais no futuro, já que se calcula que mais de 30% das consumidoras são menores de idade” afirma Armenteros.
Risco
A Unidade de Neurologia do Hospital La Paz, de Madri, alertou que a pílula do dia seguinte pode provocar infartos cerebrais, depois de atender uma jovem de 23 anos que sofreu um AVC horas depois de consumir o medicamento.
“Infelizmente, esse tipo de incidente não acontece pela primeira vez, como explicou o próprio chefe do departamento do hospital que atendeu a paciente”, destaca a presidente da ANDOC.
Armenteros recorda que um informe emitido em 7 de outubro de 2010 pela Agencia Española de Medicamentos y Productos Sanitarios reconhece este risco de acidentes tromboembólicos por consumo da pílula do dia seguinte.
Irregularidades
Diversas entidades profissionais, que recolhem o sentir de mais de 4 mil farmacêuticos espanhóis, denunciaram várias vezes perante o Ministério, o Conselho Geral de Colégios e Comunidades Autônomas, a propaganda oficial enganosa da pílula do dia seguinte.
Também denunciaram como se ordenou na Espanha a distribuição da pílula sem o preceptivo informe da Agência Espanhola do Medicamento, que se produziu muito depois da ordem.
A ANDOC lamenta que suas denúncias, sempre apoiadas em razões sanitárias, “tenham sido recebidas, em geral, com pouco interesse, quando não com manifesto desdém pelas administrações autônomas com responsabilidades no assunto”.
Desde que, em setembro de 2009, começou a venda em farmácias, sem receita e sem limite de idade, foram recolhidas numerosas denúncias e queixas de farmacêuticos.
As reclamações pela ausência de controle médico, a venda a menores, a solicitação da pílula por parte de homens e as respostas agressivas com ameaças de denúncia são habituais.
“Nestas condições – adverte a associação –, o farmacêutico, que deve ser um profissional do medicamento, dificilmente pode exercer essa função sem arriscar-se a denúncias ou a situações desagradáveis.”
O recente caso de AVC levou também a Asociación Estatal de Abogados Cristianos (AEAC) a pedir que se investigue as ministras Trinidad Jiménez e Bibiana Aído por negligência.
A AEAC considera que a aprovação da distribuição da pílula do dia seguinte sem receita médica foi realizada sem considerar os graves riscos dos fármacos Postinor y Norlevo para a saúde.
As ministras – advertiu a associação – ignoraram a ampla literatura médica que adverte sobre os riscos de tromboembolismo e AVC próprios desse tipo de fármacos, há 30 anos.

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Podcast com Bene Barbosa sobre desarmamento.

O Blog Conexão Conservadora, ligado à UCN - União Conservadora Nacional, traz uma entrevista com Bene Barbosa, um dos maiores nomes do movimento Anti-desarmamento e presidente do Movimento Viva Brasil.

Vale muito a pena ouvir argumentos que "nucanahistóriadessepaíz" se ouviu com tanta eloquência, até porque os jornais convencionais e comprados que são os famosos não dá voz nem vez a argumentos como esses. Argumentos que nos convencem e deixam o governo do PT em uma má situação, não costumam ser divulgados. É por tudo isso que vale a indicação e ouvir o podcast abaixo. Basta clicar no "play", não precisa nem sair desse blog.

terça-feira, 13 de setembro de 2011

Homilia de São João Crisóstomo; séc. IV


Em homenagem ao seu dia, publicamos a homilia de São João Crisóstomo, um dos maiores homiliastas das história.
______________________________

Para mim, viver é Cristo e morrer é lucro.

Muitas vagas e fortes tempestades nos ameaçam, mas não tememos ser submergidos, porque nos apoiamos na rocha firme. Por mais que se enfureça o mar, nunca poderá quebrar esta rocha; por mais que se levantem as ondas, nunca poderão afundar a nau de Jesus. Que havemos de temer? A morte? Para mim, viver é Cristo e morrer é lucro. O exílio? Do Senhor é a terra e tudo o que nela existe. A confiscação dos meus bens? Nada trouxemos para este mundo e também nada daqui podemos levar. Para mim, os perigos deste mundo só merecem desprezo, e os seus bens não passam do ridículo. Não temo a pobreza nem ambiciono riquezas; não receio a morte nem desejo viver, senão para vosso proveito. Por isso, ao recordar vos a situação presente, exorto a vossa caridade para que tenha confiança.

Não ouvis a palavra do Senhor: Onde dois ou três se reúnem em meu nome, Eu estou no meio deles? E não estará presente o Senhor no meio de um povo tão numeroso, unido pelos vínculos da caridade? Estarei eu porventura confiado nas minhas próprias forças? Não. Eu tenho a promessa do Senhor, tenho comigo a sua palavra escrita: este é o meu bordão, esta é a minha segurança, este o meu porto tranquilo. Ainda que todo o mundo se perturbe, eu tenho a sua resposta por escrito, leio a sua Escritura: esta é a minha muralha, esta é a minha fortaleza. Que diz a Escritura? Eu estou convosco todos os dias até ao fim do mundo.

Cristo está comigo; a quem hei de temer? Ainda que se lancem contra mim as ondas do mar ou o furor dos príncipes, tudo isto para mim é mais desprezível do que uma teia de aranha. E se a vossa caridade me não retivesse aqui, não recusaria partir hoje mesmo para onde quer que fosse. Porque sempre estou dizendo: Senhor, seja feita a vossa vontade; não o que quer este ou aquele, mas o que Vós quereis que eu faça. Esta é a torre que me abriga, esta é a pedra firme que me sustenta, este é o bordão que não me deixa vacilar. Seja o que Deus quiser. Se Ele quer que eu permaneça aqui, fico Lhe agradecido. Se me chama para qualquer outro lado, sempre Lhe darei graças.

Onde eu estiver, ali estareis vós também; e onde estiverdes vós, ali estarei também eu. Somos um só corpo; e nem o corpo se separa da cabeça, nem a cabeça do corpo. Ainda que estejamos em lugares distantes, ficamos sempre unidos pela caridade e nem a própria morte poderá separar nos. Porque o corpo morre, mas a alma sobrevive; e a minha alma sempre se recordará do meu povo.

Esta é a minha pátria e a minha família; vós sois os meus pais, meus irmãos e meus filhos; sois membros do mesmo corpo; sois a minha luz, uma luz mais amável que a luz do dia. Que brilho pode haver para mim mais agradável que a vossa caridade? O brilho da luz do dia é me útil na vida presente; mas a vossa caridade prepara me uma coroa para a vida futura.

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Filipinas: oposição a projeto de saúde reprodutiva


Ah se todas as Dioceses por meio de seus Bispos e cardinalatos pensassem e agissem prontamente contra esse tipo de atentando contra a fé e contra o ser humano, já que pra muitos a fé não vale de nada.
Entender que anticonceptivos químicos mais destroem do que ajudam não é pra nenhum gênio. Não precisa fazer pós graduação em nenhuma faculdade do mundo pra chegar a essa conclusão. Basta ter bom senso e estar aberto a entender. Mas quem disse que estamos?

Segue a reportagem de ZENIT sobre o assunto.

“A Igreja está muito unida nesta frente”, afirma coordenadora
MANILA, quarta-feira, 7 de setembro de 2011 (ZENIT.org) – O arcebispo de Cebu, Dom José Palma, chamou os católicos a manter oposição firme ao projeto de lei de saúde reprodutiva nas Filipinas.

Em uma procissão em Cebu para celebrar a natividade de Maria, o prelado destacou que a postura da Igreja contra esse projeto “não é negociável”, segundo informa a conferência episcopal das Filipinas.

O projeto de lei “promove e legaliza os anticonceptivos como um meio de controle de natalidade (anticonceptivos orais, preservativos, pílula abortiva, esterilização)”, explicaram os bispos em uma carta pastoral no dia 15 de maio.

Os bispos destacaram que esses instrumentos têm “graves consequências nas vidas humanas, especialmente nas mães, nas mães potenciais, e nas novas vidas humanas”.


Por outro lado, afirmaram que esse caminho ajuda a “estabelecer uma mentalidade e um sistema de valores baseado no secularismo, no materialismo, no hedonismo e no individualismo”.

Ruptura

O dever de “respeitar nossos princípios e valores” motivou há alguns meses a ruptura do diálogo entre a Igreja e o governo filipino para negociar sobre o documento oficial sobre a saúde reprodutiva.

“Temos de nos colocar do lado dos ensinamentos e princípios, como requer nossa missão”, explicaram os bispos em uma carta ao governo, firmada pelo presidente da Conferência Episcopal, Dom Nereo Odchimar.

Os críticos da nova lei se opõem ao uso de fundos públicos para oferecer anticonceptivos de forma gratuita para serem distribuídos em escolas públicas e privadas.

Segundo ativistas pró-vida, o governo filipino recebeu cerca de 900 milhões de dólares de organizações como UNFPA, USAID, AUSAID para aprovar o documento, disfarçado sob status de alcançar os objetivos do milênio e aliviar a pobreza.

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Turquia restituirá propriedades confiscadas

Decreto não inclui católicos latinos

Por Paul De Maeyer

ROMA, quinta-feira, 1° de setembro de 2011 (ZENIT.org) – Em discurso após a nova vitória do AKP (Partido pela Justiça e Desenvolvimento) nas eleições legislativas de 12 de junho, o primeiro-ministro turco Recep Tayyip Erdogan prometeu trabalhar por todos os cidadãos do país, de todas as religiões e estilos de vida. O governo Erdogan aprovou um decreto-lei para restituir a minorias cristãs e judaica as propriedades confiscadas desde 1936.

O novo decreto entrou em vigor neste 27 de agosto, após sua publicação na gazeta oficial de Ancara, noticiada poucas horas depois do jantar festivo do Iftar, o fim do jejum de Ramadã. O jantar, no domingo 28 de agosto, foi organizado pela primeira vez em homenagem a Erdogan pelo representante das minorias perante a Diretoria Geral das Fundações Religiosas, Lakis Vingas, da comunidade ortodoxa. No acontecimento, definido como um "novum" na história da Turquia pela revista alemã especializada em migração e integração MiGAZIN (29 de agosto), participaram representantes de 161 fundações não muçulmanas.

A nova normativa sanciona que todas as minorias reconhecidas no Tratado de Lausanne, assinado em julho de 1923 em Ancara pelo então novo governo de Mustafa Kemal Atatürk, têm um ano para pedir a restituição de todas as propriedades registradas como pertencentes às fundações religiosas no censo de 1936 e confiscadas sucessivamente pelo Estado turco. Dado que o tratado reconhecia oficialmente como “minorias” só as não muçulmanas historicamente presentes no território turco, ou seja, armênios, greco-ortodoxos e judeus, significa que o decreto não contempla a restituição dos bens imóveis desapropriados dos católicos latinos. Já os católicos caldeus poderão se beneficiar do decreto, segundo a Rádio Vaticano (29 de agosto).

O texto prevê não só a devolução dos edifícios, mas também dos cemitérios e até dos mananciais pertencentes às fundações não muçulmanas. Segundo a AsiaNews (29 de agosto), serão devolvidos também os bens imobiliários com títulos de propriedade não definidos, como os de mosteiros e paróquias, que não têm personalidade jurídica e portanto não existem para a lei turca. Estima-se que mil propriedades imobiliárias serão restituídas aos greco-ortodoxos e cerca de cem aos armênios. De acordo com informações do Today's Zaman (28 de agosto), ao menos 157 casas, 21 complexos de apartamentos, uma fábrica e três cemitérios voltarão à posse do Hospital Grego de Balikli, um bairro de Istambul. A normativa estabelece ainda que as fundações não muçulmanas serão ressarcidas se as propriedades confiscadas tiverem sido vendidas a terceiros. Segundo cálculos dos meios de comunicação locais, esta operação poderia custar ao Estado turco em torno de 700 milhões de euros (Domradio, 30 de agosto).

O próprio Erdogan explicou a decisão do governo, que a AsiaNews chamou de "coup de théâtre", como um passo na luta contra as injustiças do passado e contra a exclusão e a desigualdade na Turquia. "Os tempos em que os nossos cidadãos eram oprimidos por causa de sua fé, de sua etnia, de sua vestimenta ou estilo de vida, pertencem agora ao passado do nosso país" (MiGAZIN, 29 de agosto). “Os 74 milhões que vivem neste país são cidadãos de primeira classe, e, com todas as suas diferenças, são iguais aos nossos olhos", prosseguiu o político do AKP.

As declarações do primeiro-ministro suscitaram reações positivas, como as palavras do rabino chefe da Turquia, Ishak Haleva. "É extraordinário. Hoje é uma jornada histórica. A luz do Império Otomano continua brilhando", disse Haleva, que falou de “correção de uma injustiça”.

Um dos mais conhecidos empresários da Turquia, Ishak Alaton, qualificou a iniciativa do governo como “uma espécie de revolução”, que “aplana o caminho rumo à paz social". Segundo o expoente da comunidade judaica, "até hoje tínhamos falado sempre de cidadãos de primeira e de segunda classe. Agora deixamos esta discriminação para trás. Todos serão iguais”.

A advogada Kezban Hatemi, comprometida na defesa dos interesses das minorias, entre elas a católica, afirmou: “Este é um primeiro passo na história da República turca e um fato muito significativo. É o restabelecimento de um direito. Uma medida requerida pelo Tratado de Lausanne, que faz os cidadãos não muçulmanos da Turquia se sentirem cidadãos com a mesma igualdade”.

Para o diretor da Secretaria para os Direitos Humanos da organização católica alemã Missio, Otmar Oehring, que há anos segue de perto a situação das minorias religiosas na Turquia, o decreto será um passo “valente e surpreendente" se for ratificado (Domradio, 30 de agosto).

O presidente da Conferência Episcopal da Turquia, Dom Ruggero Franceschini, também afirmou acolher a notícia “com alegria" (Radio Vaticano, 29 de agosto), embora a comunidade dos católicos latinos fique de fora das disposições do decreto.

Para os analistas, a decisão deve ser lida à luz das recentes condenações infligidas à Turquia pelo Tribunal Europeu dos Direitos Humanos. Após batalha começada em 2007, o tribunal com sede em Estrasburgo condenou o país, em junho de 2010,  a devolver o orfanato de Büyükada, na homônima ilha do Mar de Mármara, ao patriarcado ecumênico de Constantinopla. A sentença foi considerada de “grandíssima importância" (AsiaNews, 16 de junho de 2010), porque reconhecia o status jurídico do Patriarcado.

Não há que excluir que Erdogan – datado de uma grande intuição política – tenha querido julgar antecipadamente e impedir um recurso ao Tribunal de Estrasburgo por parte de outras entidades cristãs, por exemplo os monges do mosteiro sírio-ortodoxo de Mor Gabriel. Além de perder uma parte de suas terras, o mosteiro, situado no sudeste de Anatolia, corre risco de ter de derrubar os poderosos muros que o protegem de ataques e ladrões. “Não queremos mais belas palavras, mas atos”, declarou o metropolita Mor Timotheus Samuel Aktas, após um decepcionante encontro com Erdogan, celebrado no mês de abril (Domradio, 2 de junho).

“Se o governo não tivesse tomado nenhuma iniciativa, a Turquia teria enfrentado severas sanções do Tribunal Europeu”, disse ao Today's Zaman o sociólogo Ayhan Aktar, autor de vários livros sobre as minorias em seu país. Além disso, se poderia considerar a negociação com Bruxelas sobre a entrada da Turquia na União Europeia. Em várias ocasiões, a UE pediu a Ancara passos para eliminar as discriminações pelas minorias. Em uma primeira reação, um porta-voz do Comissário para a ampliação da UE, Stefan Füle, falou de um passo “positivo e oportuno" (Domradio, 30 de agosto). "A Comissão europeia vigiará com atenção o cumprimento da nova lei, mantendo-se em contato tanto com as autoridades turcas como com as comunidades religiosas não muçulmanas”, acrescentou o porta-voz.

Um funcionário do governo grego mostrou-se mais cauteloso. “Houve ao menos cinco ocasiões em que se deram modificações na legislação atual desde que o AKP está no governo, mas não foram muito satisfatórias na prática”, disse o representante de Atenas, que preferiu se manter no anonimato (The New York Times, 28 de agosto). “Esperamos que desta vez as mudanças produzam verdadeiras transformações”, desejou.

No entanto, há rejeição da parte do presidente do Armenian National Committee of America (ANCA), Ken Hachikian. "96 anos depois do genocídio perpetrado contra os armênios, gregos e sírios, este decreto é uma cortina de fumaça para evitar consequências muito mais amplas desses atos brutais”, declarou (Asbarez Armenian News, 28 de agosto). Segundo Hachikian, com o decreto voltará de fato “menos de 1% das igrejas e propriedades eclesiásticas confiscadas durante o genocídio armênio e nas décadas que o seguiram”. Segundo especialistas da Igreja armênia, dos mais de 2.000 lugares de culto armênios antes de 1915, menos de 40 funcionam hoje como igrejas.